segunda-feira, 12 de junho de 2023

LULA LÁ... PARTE 4

Até ser desmantelada por Bolsonaro, a Lava-Jato foi a mais bem-sucedida operação anticorrupção da história deste país. Quando disputou o Planalto pela terceira vez, Lula prometeu picanha e cerveja para todos, passagens aéreas a R$ 200 e outras falácias, mas sua prioridade, para além de mostrar o mundo para a primeira-dama, é se vingar de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.

Durante suas férias compulsórias em Curitiba, Lula só pensava em vingança. Ao portal UAI, ele afirmou que só sossega quando "foder com o Moro". Essa entrevista "coincidiu" com a prisão de nove membros do PCC que planejavam realizar ataques contra o ex-juiz, seus familiares e outras autoridades.

Dallagnol, autor do tosco powerpoint com o chefe do mensalão no centro das incriminações da Lava-Jato, tonou-se alvo da vingança de Lula. Mas sua cassação impacta negativamente a imagem do TSE, seja por reformar uma decisão unânime do TRE-PR, seja por contrariar sua própria jurisprudência — dando a impressão de que processos judiciais são decididos com base no nome envolvido, e não conforme as leis.

O "Efeito Orloffdeve levar o (ainda) senador Moro a pôr suas barbas de molho, já que a aversão dos parlamentares a ele é ainda maior (daí ele ter se reunido com o ministro Alexandre de Moraes e vir tomando cuidado com as palavras nas manifestações públicas em defesa do ex-deputado).
 
Moro foi o primeiro juiz a condenar Lula, mas não foi o único. As decisões de primeira instância foram mantidas  por unanimidade — tanto pela 8ª turma do TRF-4 quanto pela 5ª Turma do STJEm março de 2018, seis ministros do STF negaram um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do petista. 
A defesa apresentou 400 recursos até a ação envolvendo o tríplex transitar em julgado. Pode-se argumentar que a composição da corte mudou e a maioria dos togados acompanhou a decisão teratológica do ministro Fachin de anular as condenações.  
 
A farsa da reconstrução da democracia ao estilo petista afundará o país na mesma fossa negra em que foram sepultados os sonhos do combate à corrupção. Prova disso é a indicação de Cristiano Zanin para a vaga de Ricardo Lewandowski no Supremo. Em artigo publicado na revista eletrônica Crusoé, o jornalista, poeta e escritor pernambucano José Nêumanne lembra que Zanin é genro de Roberto Teixeira, que é compadre de Lula e responsável pelas teses jurídicas que reabilitaram o ex-corrupto politicamente após sua prisão. Por conta de desentendimentos acerca da divisão de honorários milionários, o genro desfez a sociedade com o sogro e fundou seu próprio escritório com a mulher, Valeska Teixeira Martins

Observação: Talvez Lula preferisse Teixeira a Zanin, mas uma tentativa de substituir um velho amigo por outro não resistiria a polêmicas que certamente azedariam a champanhota da festa da indicação com lembranças dos escândalos que inauguraram a saga petista. Difícil mesmo é compreender o que motiva um advogado que fatura milhões em honorários a trocar sua banca por um salário de R$ 37 mil por mês (mais mordomias, que não são poucas, mas até aí...).

O Sistema não se contenta com o fim da Lava-Jato. Quer castigar quem cumpriu a lei. Na Itália, os corruptos vitoriosos da Operação Mãos Limpas se contentaram com a restauração do direito de delinquir em paz; aqui, essa caterva quer também se vingar dos procuradores e dos juízes que ousaram enfrentá-la, para que ninguém nunca mais tenha a coragem de fazê-lo. 

No Brasil de hoje, temos criminosos que não querem ser punidos — o que é um sentimento humano e compreensível —, mas um lote ainda maior gostaria que tudo continuasse como sempre foi.

Com José Nêumanne e J.R. Guzzo