Walter Delgatti Neto é um bilontra que aprendeu uns truques na Internet, tentou ganhar acesso às mensagens de meia República e conseguiu invadir o celular do procurador responsável pela Lava-Jato no Paraná, que não se preocupou com sua segurança digital. Assim, o hacker meia-boca precisou apenas de um número de telefone e de um vídeo no YouTube que mostrava o caminho das pedras.
Deltan, todo sisudo, Bíblia numa mão, PowerPoint na outra e todo o moralismo do planeta sobre os ombros, foi completamente irresponsável em sua atuação. Ter sido exposto por um cibercriminoso de araque sublinha o ridículo e ilumina a frouxidão dos métodos.
Delgatti foi ressuscitado na estridência do bolsonarismo. Quando a deputada Carla Zambelli começou a circular com o meliante a tiracolo, parecia dizer a todos que ele seria capaz de demonstrar quão frágil eram as urnas eletrônicas. Ela e outros bolsonaristas olharam para o bisbilhoteiro capiau e o confundiram com um hacker.
Delgatti disse que apresentou um plano para desacreditar o sistema eleitoral. A maracutaia consistia no uso de um aplicativo feito por ele, que seria instalado em urnas emprestadas pela OAB. Disse ainda que o plano foi aprovado por Bolsonaro, mas acabou sendo descartado após a divulgação da reunião pela imprensa.
Zambelli se tornou ré por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. Apenas o ministro Nunes Marques votou pela rejeição da denúncia contra a parlamentar (André Mendonça avaliou que não cabe ao Supremo analisar o caso). Delgatti foi condenado pela Justiça do DF a 20 anos e um mês de prisão.
Após contribuir para a ressurreição política de Lula, o escroque da Vaza-Jato gravou a marca do golpe nas bochechas do mito de fancaria, com que tomou um café da manhã no Alvorada (em 10 de agosto de 2022), e que lhe encomendou um lote de tarefas criminosas. O problema não é a presença de (mais) um criminoso no Palácio, mas, sim, o enredo sobre a encomenda de delitos soar crível por ornar com o modus operandi do então inquilino da residência oficial da Presidência.
Zambelli não é séria. Deltan não é sério. Bolsonaro não é sério. A Justiça não é seria. Um vigarista caipira passou a perna em todos eles, um por um. Isso diz tanto sobre um Brasil que anda se achando sério demais.
Com Pedro Doria e Josias de Souza