terça-feira, 14 de novembro de 2023

QUEM NÃO APRENDE COM OS ERROS DO PASSADO...


Rejeitado nas urnas e inelegível, Bolsonaro continua vazando inverdades como um cano furando esbanja água em esguichos perdulários. Seu penúltimo jorro despejou a versão segundo a qual foi graças à sua interferência que Israel finalmente autorizou os brasileiros a deixarem a Faixa de Gaza. Nem bem a notícia foi divulgada, a milícia digital bolsonarista inundou as redes com mensagens parabenizando o "mito" pelo feito alheio. A autorização tardia também soltou a língua de Lula, que, depois de perder o nexo e o bonde ao igualar o agressor ao agredido, procura frequentar o debate com um discurso mais calibrado e cogita injetar a guerra na agenda de sua próxima incursão internacional. Parlamentares petistas, aliados do governo, ministros e até a primeira-dama (como não poderia deixar de fazer) correram às redes para enaltecer os esforços do estadista de fancaria e do chanceler Mauro Vieira. Instado a comentar a hipotética interferência do capetão junto ao embaixador, Vieira foi seco: "Não falo com o embaixador, falo com o chefe dele, que é o ministro das Relações Exteriores de Israel". A conversão do drama humanitário em matéria-prima para a polarização é o cúmulo da indignidade. A exploração política da lista de Gaza é a falência da decência.

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Em matéria de democracia, o Brasil ficou só na foto. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, começando pelo voto obrigatório, seguindo pelo horário eleitoral "gratuito" e por inúmeras deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões com menor número de eleitores. Os resultados são um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Até o desmantelamento da Lava-Jato, quase metade dos deputados federais e um terço dos senadores respondiam a algum tipo de procedimento penal. Fora das penitenciárias, era a maior concentração de criminosos em potencial por metro quadrado.
 
Maus políticos não brotam nos gabinetes por geração expontânea, mas pelo voto de eleitores ignorantes, desinformados e desinteressados. Graças a essa récua de muares, o PT desgovernou esta banânia por 13 anos, 4 meses e 12 dias. Em 2018, visando evitar a volta do presidiário mais famoso do Brasil, então encarnado num patético bonifrate, a maioria dos eleitores apoiou um ex-capitão bronco, despreparado e de pendor golpista, que protagonizou o governo civil mais militar desde o fim da ditadura. Em 2022, era fundamental defenestrar o imbrochável incomível e insuportável, mas conceder um terceiro mandato ao ex-presidiário descondenado era opcional. E deu no que está dando.

A Justiça Eleitoral existe (e custa uma fábula) para garantir eleições exemplares, mas permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos três dúzias de partidos políticos, alguns dos quais não têm um único deputado ou senador no Congresso — servem apenas para meter a mão nas verbas dos vergonhosos fundos partidário e eleitoral bancados pelos contribuintes e para rifar sua cota de tempo no horário político obrigatório durante as campanhas eleitorais. Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre nossa democracia e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. Como se não bastasse, há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. 

Como instituições, a Presidência da República, o Congresso e o STF merecem nosso mais profundo respeito. Mas daí a achar que os políticos eleitos desde a redemocratização para chefiar o Executivo, os 513 deputados federais, os 81 senadores e as 11 supremas togas merecem o mesmo tratamento é confundir alhos com bugalhos

Para encerrar, segue um texto do jornalista Paulo Polzonoff Jr.:

Será que consigo "defender" Reinaldo Azevedo em apenas quatro parágrafos? Outra dúvida: por que me dou ao trabalho, se não o conheço? Para a primeira pergunta a resposta está na própria existência deste texto. Se você estiver lendo é porque consegui. Para a segunda, a resposta é um pouco mais complicada, e tem a ver até com o “escândalo das joias".

 

Sou melhor defendendo do que atacando. Passando pano do que acusando. Zombando do que reverenciando. Porque em tudo e todos que vejo me espantam a fragilidade e o desespero. Daí o instinto de compreender (essa é a palavra!) Reinaldo Azevedo


Reveja a entrevista dele com Lula. Não há ali admiração; o que há é a angústia de um homem que caiu na areia movediça e não tem ninguém para salvá-lo. Está sozinho, ainda que pareça cercado pelos aliados de ocasião. Dele gostaria de ouvir uma explicação clara sobre a mudança de postura. Como e por que virou discípulo do babalorixá de banânia? Que caminhos o levaram à conclusão de que estava errado em seus outrora divertidos ataques ao PT


Histórias de conversão me interessam. E a lealdade de Reinaldo a Lula equivale a uma queda do cavalo, ainda que para vislumbrar e adorar as trevas do petismo. Não? A mim me custa acreditar que a motivação tenha sido pecuniária. Vai ver é porque sou um privilegiado. Não vivo ao redor de pessoas venais. Pessoas só mudam assim porque emocionalmente lhes convém. 


De qualquer modo, e para além da decepção dos que celebrávamos o furor antipetista de Reinaldo, não vejo problema no fato de ele petistar despudoradamente. Que se embriague na admiração pouco sincera dos novos amigos. E seja "feliz".