terça-feira, 24 de outubro de 2023

QUEM FOI QUE INVENTOU O BRASIL? FOI SEU CABRAL! FOI SEU CABRAL!

 
Nem a derrota foi capaz de restituir à família Bolsonaro o senso de ridículo — talvez porque não é possível recuperar algo que nunca se teve. Autoconvertido em cabo eleitoral do aloprado Javier Milei, Zero três defendeu a liberalização do comércio de armas na Argentina, talvez achando que estava na mesa de almoço da família ou discursava para um grupo de CACs, quando na verdade ele perorava para uma sociedade crivada de problemas como superinflação, recessão, déficit fiscal e social, que não se revolvem na bala. 
Os entrevistadores apresentaram o entrevistado ao ridículo: "Quão generosos são os argentinos, para receber este tipo de gente", disse um deles, enquanto outra lembrou que foi por isso que os brasileiros defenestraram do poder o pai do entrevistado. Resta saber se o deputado fritador de hambúrguer passou vergonha entre os portenhos por conta própria ou à expensas do contribuinte brasileiro. Se as despesas forem bancadas pela Câmara, o ridículo se converte num escárnio digno de ação por improbidade.


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O título desta postagem remete a uma marchinha carnavalesca que fez muito sucesso durante o reinado de Momo de1934 (para relembrá-la, clique aqui). Lamartine Babo usou o verbo "inventar" de forma jocosa, mas a história do "descobrimento", como é contada nos livros didáticos, é tão fantasiosa quanto a "fábula da maçã" — que inspirou outra marchinha para o Carnaval de 1954. 
 
Consta que o f
idalgo, comandante militar, navegador e explorador português Pedro Álvares Cabral zarpou do porto de Lisboa em 9 de março de 1.500, que seu destino era a cidade indiana de Calicute, e que, em meio ao Mar Tenebroso (como o Oceano Atlântico era chamado pelos intrépidos navegantes de então), sua esquadra foi tirada da rota original 
— por uma borrasca, segundo alguns, ou por uma calmaria, segundo outros  e deu com os costados no que hoje é o litoral da Bahia.
 
A "Relação do Piloto Anônimo" — que, ao lado das cartas de Caminha e de Mestre João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento que sobreviveram ao tempo —, relata que a nau comandada por Vasco de Ataíde se perdeu em 23 de março, embora não houvesse vento forte nem contrário para que tal acontecesse. Mas o
utros mistérios cercam o desaparecimento da embarcação e, de certo modo, o "descobrimento" que ocorreria dali a um mês. A começar pelo identidade do capitão da nau tragada pelo mar. 

Cronistas como Fernão Lopes de Castanheda, Damião de GóisJoão de Barros e Gaspar Correia se dividem entre Luís Pires e Pero de Ataíde, e afirmam que a embarcação conseguiu retornar a Lisboa. Caminha, do alto da autoridade de escrivão oficial da armada, anotou que o capitão da São José era Vasco de Ataíde: "Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau sem haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser". O próprio D. Manuel, em carta escrita em 1502, confirma o escriba e assegura que não se teve mais notícias da embarcação.

Escrevendo mais de uma década depois dos acontecimentos, Castanheda, Góis, Barros e Correia foram unânimes em afirmar que o Brasil foi descoberto por acaso, agasalhando a tese do desvio de rota provocado pela tormenta... que simplesmente não ocorreu. Mas a questão que se destaca é: se não houve tempestade, o que teria causado o desaparecimento da embarcação? 


De acordo com o historiador naval e almirante brasileiro Max Justo Guedes, a incidência de cerrações e nevoeiros é comum na região do arquipélago de Cabo Verde, e que, ao tresmalhar-se da frota, a nau comandada por Ataíde se chocou contra os recifes de João Leitão, a 17 milhas ao sul da Ilha de Boa Vista. Mas as circunstâncias que envolveram o naufrágio reforçam a tese de que o descobrimento do Brasil não foi casual


O historiador português Jaime Cortesão — defensor da tese da intencionalidade — faz outra leitura do episódio: "Caminha, que em breve iria dedicar páginas e páginas inteiras à descrição do aborígine, menciona o naufrágio sem uma palavra de lástima", embora 150 homens tivessem engolidos pelo mar, contribuindo para a longa história trágico-marítima de Portugal.


ObservaçãoNo Brasil de hoje, "caraveladesigna qualquer embarcação a vela, mas somente três dos navios da frota de Cabral mereciam ser chamados como tal. Os outros dez era "naus" (incluindo uma "naveta" que transportava mantimentos extras). As caravelas propriamente ditas eram embarcações menores  elas mediam 22 m de comprimento, tinham apenas dois mastros, um pequeno castelo à popa e velas triangulares ou quadradas — e transportavam até 80 tripulantes. Já as naus eram maiores (até 35 m), tinha vários conveses, três mastros, dois castelos e capacidade para transportar até 150 tripulantes. 
 
Continua...