Combinada com o processo investigativo que busca desvendar o conjunto da obra destrutiva erigida num governo que, segundo a PF, abrigou uma "organização criminosa", a delação de Mauro Cid fecha o cerco em torno do núcleo bolsonarista, e a ofensiva golpista reiterada verbalmente pelo "mito" e materializada por seus seguidores no 8 de Janeiro pode acabar em prisão. Quando, porém, só Deus sabe.
O ministro Barroso assumiu a presidência do STF e do CNJ num momento em que o conservadorismo, majoritário no Congresso, reagiu contra derrubada do marco temporal, a descriminalização do aborto e o consumo de maconha. Lula se fingiu de morto, mas Arthur Lira — o condestável do Centrão que preside a Câmara — quer porque quer o cumprimento do "acordo" que prevê a entrega da CEF de "porteira fechada".
Ao soltar os demônios que se escondiam nos fundões de supremas gavetas, a ora ex-minstra Rosa trouxe a lume divergências que haviam sido engolfadas pelo tsunami do 8 de janeiro, e o fez num instante em que ganhavam o noticiário as primeiras condenações dos executores do quebra-quebra e a delação do ex-ajudante de ordens do capetão.
Observação: Um dia depois que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defendeu que os togados tenham mandatos, o decano da Corte (e verdadeira "herança maldita" de FHC) postou nas redes sociais que "ressuscitaram a ideia"; que "a proposta se fará acompanhar do loteamento das vagas, em proveito de certos órgãos" e que a pergunta essencial, que continua a não ser formulada, e: "após vivenciarmos uma tentativa de golpe de Estado, por que os pensamentos supostamente reformistas se dirigem apenas ao Supremo?". Atualmente, os ministros podem permanecer no cargo até completarem 75 anos de idade, quando então a aposentadoria é compulsória.
Para o novo presidente da suprema corte, julgamentos que envolvem "direitos fundamentais" podem legitimar um "comportamento mais ativista" das togas (a essência do pensamento de sua excelência foi borrifada nas 271 páginas do livro Sem Data Venia). Mas a postura de Barroso provoca em seus pares reações que podem retardar a conclusão de julgamentos que o ministro gostaria de apressar.
Inúmeras decisões da alta cúpula do STF têm deixado claro que vivemos num sistema de selvageria institucional, onde não existe um ordenamento jurídico de verdade, e sim uma sociedade limitada e um país dividido em duas províncias. Lula só voltou ao Planalto porque teve como cabo eleitoral a tragicômica gestão de seu antecessor, e agora depende do Judiciário para continuar fazendo o que bem entende e prestando vassalagem aos togados enquanto excursiona mundo afora com a patroa.
