segunda-feira, 27 de novembro de 2023

ACREDITE QUEM QUISER (PARTE 5)

NÃO É TANTO POR ESTAR CONFIANTE DE QUE OS CIENTISTAS TÊM RAZÃO, MAS MAIS POR ESTAR CONFIANTE DE QUE OS QUE NÃO-CIENTISTAS ESTÃO ERRADOS.

Ainda restam 109 réus do 8 de janeiro presos na Papuda. Um deles, Cleriston Pereira da Cunha, que era cardiopata, hipertenso e diabético, morreu no último dia 20, durante o banho de sol. Curiosamente, seus problemas de saúde não o impediram de participar do quebra-quebra. Igualmente curioso e o fato de a caterva bolsonarista culpar Alexandre de Moraes pela morte do baderneiro. Segundo eles, o ministro "ignorou o laudo, a petição da defesa e a solicitação do MP" pedindo a soltura do dito-cujo, para que ele pudesse receber "cuidados médicos de emergência". 
Há no rol de detidos e sentenciados um hediondo déficit de fardas, embora seja impossível elucidar os atos terroristas sem incluir no roteiro o papel desempenhado pelos militares. Oficiais bolsonaristas contribuíram — por ação ou omissão — com a formação da conjuntura que produziu a tentativa de golpe, mas nenhum deles foi punido a sério.
Dias atrás, o coronel do Exército Adriano Camargo Testoni surgiu como o primeiro militar hipoteticamente "condenado". Nada a ver com os rigores do ministro Alexandre: a "condenação" foi decretada pela Justiça Militar, e o crime do sentenciado foi xingar generais e o alto comando do Exército  na sua percepção, as tropas deveriam ter sido mobilizadas para proteger os "patriotas" que se insurgiram contra o resultado das urnas.
O militar divulgou nas redes sociais um vídeo em que disparou ofensas contra 5 generais. Numa delas, chamou seus superiores de filhos da puta; noutra, mandou-os  se foder. Por mal dos pecados, o ofensor postou o vídeo em grupos de WhatsApp frequentados pelos ofendidos.
No dia dos ataques, Testoni prestava serviços no Hospital das Forças Armadas de Brasília. Foi exonerado em janeiro e condenado na semana passada a um mês e dezoito dias de prisão em regime aberto. Ainda cabe recurso ao Superior Tribunal Militar, e a condenação não o impede de continuar recebendo aposentadoria de cerca de R$ 25 mil mensais.
Ironicamente, a Justiça Militar não enxergou problemas na presença de um coronel do Exército no cenário do surto antidemocrático. Ao contrário. A sentença anota que "o réu agiu como cidadão no seu livre direito de se manifestar (pacificamente, por óbvio)." O problema foi ele ter direcionado "suas descrenças e dissabores a superiores hierárquicos, olvidando a sua condição inafastável de militar, ainda que da reserva remunerada." 
Concluiu-se que "a perda de controle emocional do acusado, naquelas circunstâncias, se distancia em muito do que era esperado de um oficial superior, pertencente à Arma de Combate (Infantaria) do Exército Brasileiro, não servindo como escudo a presença de sua esposa naquela manifestação popular".
Observada isoladamente, a "condenação" é ridícula; analisada num contexto em que nenhum outro militar foi lançado no rol dos culpados pelo 8 de janeiro, é constrangedora e aviltante. 
Constrange porque são abundantes as evidências de que integrantes da cúpula das FFAA foram cúmplices de Bolsonaro na incitação à tentativa de golpe. Avilta porque ficou entendido que é mais fácil simular a punição à ofensa a um grupo de generais do que condenar o desacato de oficiais à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.

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Quando se trata da idade do Universo, estima-se que tudo começou com o Big Bang há 13,7 bilhões de anos — lembrando que um estudo publicado recentemente no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society aumentou essa estimativa para 26,7 bilhões de anos.  
Aplicado ao cosmos, o Teorema CPT (de carga, paridade e tempo) admite a possibilidade de um universo simétrico ter sido criado junto com o nosso e se expandido na direção oposta. Em ambos esses universos, o tempo se afasta do Big Bang, mas em direções opostos — num deles, a seta aponta para a direita, e no outro, para a esquerda.
 
Segundo o princípio da simetria, qualquer processo físico permanece o mesmo, ainda que o tempo retroceda, o espaço fique invertido e as partículas sejam substituídas por antipartículas. Já se conseguiu identificar um conjunto de simetrias fundamentais na natureza, sendo as mais importantes a carga (se você inverte as cargas de todas as partículas envolvidas numa interação para a carga oposta, você obtém a mesma interação), a paridade (se você observa a imagem espelhada de uma interação, você obtém o mesmo resultado) e o tempo (se você faz uma interação voltar no tempo, ela tem a mesma aparência da original).
 
Acredita-se que o Big Bang produziu quantidades idênticas de matéria e antimatéria 
— segundo a Teoria das Partículas Elementares, sempre que surge uma partícula de matéria, outra de antimatéria (idêntica, mas com carga elétrica oposta) é criada. Como as interações físicas obedecem a maioria dessas simetrias durante a maior parte do tempo, mas não durante todo o tempo, pode haver violações, porém os físicos jamais observaram uma violação da combinação dessas três simetrias ao mesmo tempo.
 
Observação: Vivemos num universo em expansão, que se move para frente no tempo. Mas basta estendermos o conceito da simetria CTP para todo o cosmos para nos deparamos com a possibilidade de existir um universo espelho, onde todas as cargas opostas às que temos estariam "espelhadas" e o tempo correria para trás.

Acredita que o "antiverso" seja uma imagem do nosso universo refletida no tempo, e que lá exista um "anti-eu" de cada um de nós. De acordo com ele, se comermos ovos no café da manhã, nossa versão no antiverso não poderá optar por bacon — ou seja, terá de comer anti-ovos. Cada lado do universo acredita que é perfeitamente normal, e que seu tempo está avançando. Do nosso ponto de vista, o tempo no antiverso retrocede, mas nossos "anti-eus" acham que nós é que estamos na contramão. 
 
Experimentos em busca das ondas gravitacionais primordiais, geradas durante a chamada fase inflacionária cosmológica vêm sendo realizados. Pesquisadores do BICEP2 anunciaram recentemente que as teriam detectado, mas a comunidade científica recomenda esperar os resultados de outros estudos similares, como os do satélite Planck, uma vez que essas ondas não existiriam num universo de simetria CTP, e uma eventual não-confirmação da existência delas seria mais uma evidência da existência do antiverso.
 
Mesmo que o antiverso exista, visitá-lo exigiria retornar pelo espaço-tempo até a singularidade do Big Bang e sair do outro lado. Ainda assim, vários estudos oferecem soluções para questões cosmológicas como a da matéria escura,
 que os astrofísicos afirmam compor cerca de 80% do universo (o percentual varia conforme a fonte), mas não sabem o que é — acredita-se que seja feita de "neutrinos destros" (neutrinos que não fazem parte do modelo padrão e cuja existência ainda depende de comprovação).
 
Observação: Os neutrinos são considerados "canhotos" devido ao sentido em que eles giram. Num universo simétrico, os "antineutrinos" seriam "destros", já que girariam no sentido inverso. A exemplo dos canhotos, eles seriam praticamente invisíveis e sua presença só poderia ser detectada pela gravidade — o físico Joseph Formaggio, que investiga o papel dos neutrinos na cosmologia, acha interessante a proposta de Boyle para explicar a matéria escura. 

Quanto à existência da inflação cósmica e das ondas gravitacionais primordiais, a matéria no universo pode ter se expandido com menos força; se não houve inflação, também não houve "ondas gravitacionais primordiais".