sábado, 25 de novembro de 2023

O VERDADEIRO VILÃO DA HISTÓRIA — CONCLUSÃO

QUANDO UMA MENTIRA NÃO DÁ CONTA DO RECADO, O JEITO É APELAR PARA A VERDADE.

O excesso de poder econômico e político dá a Arthur Lira a aparência de um centauro. Mantém a cabeça lá em cima, na formação de um patrimônio limpinho e na defesa dos mais altos valores da economia de mercado, e os pés bem lá embaixo, enfiados no lodo do fisiologismo parlamentar. 
Muitos imaginam que os negócios do agro empresário não ornam com as negociatas do congressista. Mas há harmonia na combinação. No agro universo, o deputado é um próspero fazendeiro, criador de gado geneticamente evoluído. Tem raízes plantadas em Alagoas. Mas sua prosperidade transborda para outros estados. Não precisou de escritura para desalojar uma família de posseiros do Engenho Proteção, na cidade pernambucana de Quipapá. Bastou um reles compromisso de compra e venda firmado há 15 anos. 
Em Brasília, sua excelência troca de figurino e vira posseiro. Ocupa o Orçamento federal como se dispusesse de direito à posse por usucapião. 
No momento, Lira esvazia uma iniciativa do relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, Danilo Forte, na qual enxergou uma transferência de poder do seu gabinete para as salas dos líderes dos partidos. E o deputado Forte descobriu-se fraco. O imperador da Câmara convence os líderes de que é melhor turbinar as emendas já existentes, que somam R$ 35,8 bilhões no Orçamento deste ano. 
De emenda em emenda, o Lira posseiro vai tornando mais próspero o Lira fazendeiro. O Engenho Proteção, cuja posse foi obtida judicialmente, não foi declarado à Justiça Eleitoral. Mas, para quem já gerenciou o orçamento secreto, uma propriedade oculta é mero asterisco. 

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As montadoras coletam dados para "aprimorar seus produtos e serviços", mas também se valem deles para incrementar seus ganhos. Companhias de seguros compram informações sobre os hábitos de dirigir dos motoristas para prever com mais precisão a probabilidade de acidentes e ajustar os custos do seguro, e empresas de marketing, para direcionar a publicidade com base na renda, no estado civil e no status social do proprietário.

Em 2020, 62% dos veículos vinham de fábrica com essa função controversa — e esse número deve aumentar para 91% até 2025. Mas há outros cenários de monetização desagradáveis, como ativar ou desativar funções adicionais do carro por meio de assinaturas (como a BMW tentou sem sucesso fazer com assentos aquecidos) e bloquear um veículo financiado em caso de não pagamento.

 

Observação: De olho em empresas que cedem veículos aos funcionários, marcas como Volkswagen e BMW oferecem recursos que permitem rastrear a localização e definir limites geográficos, de velocidade e tempo de direção — e até mesmo controlar o volume do sistema de áudio! 

 

Os fabricantes coletam informações dos usuários dos veículos e as armazenam permanentemente, mas nem sempre as protegem como deveriam. Entre outras marcas que foram vítimas de ataques cibernéticos, a Toyota admitiu o vazamento de 10 anos de dados coletados de milhões de modelos habilitados para a nuvem, e a Audi, de informações de mais de 3 milhões de clientes. 

 

Em 2014, após se debruçar sobre o furto de veículos por meio de funções de nuvem, a empresa de cibersegurança russa Kaspersky concluiu que a possibilidade de criminosos controlarem remotamente um carro não é mais uma simples fantasia futurista. No mais das vezes, a bandidagem se vale da transmissão remota de sinais de um chaveiro legítimo, mas vale destacar que a epidemia de "sequestros de TikTok” da Kia e da Hyundai foi baseada nas funções inteligentes do veículo — e exigia apenas que o ladrão as inserisse uma unidade USB.

 

"Paranóicos" com segurança que não querem trocar o carro pela bicicleta ou pelo transporte público podem minimizar os riscos optando por veículos fabricados até 2012, nos quais a transmissão de dados é mais limitada. Algumas montadoras oferecem configurações básicas — e a ausência do módulo de comunicação dedicado (GSM/3G/4G) é um sinal confiável —, mas a maioria vem incluindo uma batelada de sensores também nas versões de entrada de linha. 

 

Outra dica é não instalar o aplicativo móvel do veículo no celular nem ativar as funções de emparelhamento com o iOS Car Play ou o Android Auto — quando essas funções são ativadas, a Apple e a Google, conforme o caso, obtêm todos os tipos de informações do carro, que, de quebra, recupera os dados do telefone.

 

Não conectar o celular ao sistema do veículo via Bluetooth ou Wi-Fi impede o acesso a diversas funcionalidades, mas também evita que informações sensíveis (como o catálogo de endereços e outros dados pessoais) sejam enviadas ao fabricante. Se você não abre mão de ouvir pelos alto-falantes do carro as musicas armazenadas no seu smartphone, estabeleça uma conexão Bluetooth somente para os protocolos "headset" e "fones de ouvido" — assim, a transmissão de outros tipos de dados não estará disponível.

 

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém...