Predizer o futuro é fácil, acertar é que são elas — que o digam os meteorologistas: ontem, enquanto o céu desabava, a Alexa repetia que não havia previsão de chuva. Mas vamos ao que interessa.
Em 1830, o cientista irlandês Dionysius Lardner afirmou que seria impossível viajar em alta velocidade sobre trilhos sem que os passageiros morressem asfixiados. Três décadas depois, o rei da Prússia disse que ninguém pagaria "um bom dinheiro" para ir de trem de Berlim à Potsdam em uma hora quando poderia cavalgar até lá, de graça, em cerca de 12 horas. Em 1876, durante uma apresentação do telefone, o prefeito de uma pequena cidade dos EUA previu que um dia haveria um aparelho daqueles em cada cidade.
Em 1893, perguntado se a metralhadora não tornaria as guerras mais terríveis, Richard Gatling respondeu que sua invenção tornaria as guerras impossíveis. Em 1899, Thomas Edison — propositor do sistema de corrente direta (DC) — disse que brincar com a corrente alternada (AC) era perda de tempo, pois ninguém nunca iria usar nada daquilo. Em 1901, o escritor britânico H.G. Wells desdenhou dos (então incipientes) submarinos. Segundo ele, a geringonça não serviria para nada além de sufocar sua tripulação e afundar no mar.
Observação: Edison ficou conhecido como o "pai" da lâmpada incandescente, mas sua invenção só foi possível depois que o italiano Alessandro Volta criou a "pilha voltaica", o inglês Humpry Davy exibiu a primeira lâmpada em arco elétrico, o escocês James Lindsay provou que a luz elétrica constante era possível com filamento de cobre e Joseph Swan desenvolveu um modelo com filamento de algodão embebido em ácido e selado a vácuo (que foi um fiasco). Edison, que vinha se debruçando sobre os mesmos problemas, levou a fama por criar uma lâmpada com filamento de platina que funcionava por 40 minutos antes de queimar.
Em 1903, perguntado sobre o Ford T, o presidente do Michigan Savings Bank disse: "o cavalo está aí para ficar, o automóvel não passa de um modismo". Mais ou menos na mesma época, Einstein errou feio prever que o domínio da energia nuclear jamais seria alcançado. Charlie Chaplin — uma das figuras mais importantes da era do cinema mudo — disse que cinema era "drama enlatado" e que a plateia queria mesmo era ver "carne e sangue nos palcos". Trinta anos depois, um produtor de filmes da 20th Century Fox classificou a televisão de moda passageira — segundo ele, "as pessoas logo se cansariam de ficar assistindo uma caixinha todas as noites".
Em 1920, o New York Times publicou que nenhum foguete conseguiria sair da atmosfera da Terra e que os responsáveis pelo projeto "desconheciam a lei da ação reação" (os editores não sabiam que, reagindo com a estrutura da própria espaçonave, os propulsores conseguiam produzir aceleração no vácuo). Em 1943, um engenheiro da Boeing vaticinou que um avião maior que o 247 (que tinha capacidade para 10 pessoas) jamais seria construído.
"O mercado mundial tem potencial para umas 5 mil máquinas de cópias", lecionaram os executivos da IBM aos fundadores da Xerox, reiterando a falta de visão do presidente da Big Blue, que, na década de 1940, previu que "haveria mercado para talvez 5 computadores". Em 1984, o colunista de tecnologia do San Francisco Examiner se referiu ao mouse como "um dispositivo experimental que o Macintosh usava, mas que as pessoas dificilmente iriam querer usar". Quinze anos depois, falando sobre o iPad, um consultor de TI da InfoWorld disse que acreditar no sucesso da Apple onde todos falharam era "ignorar uma realidade fundamental da computação móvel".
Numa edição de 1939 da revista Vogue, o designer Gilbert Rhode previu que em 2020 não haveria mais botões, bolsos, colarinhos e gravatas, que as meias seriam descartáveis, que os homens parariam de se barbear e que os bonés teriam antenas para captar sinais de rádio em qualquer lugar. Em 1951, a revista Mecânica Popular publicou que todas as famílias no século 21 teriam pelo menos um helicóptero na garagem — "um veículo prático, simples, grande o bastante para carregar duas pessoas e pequeno o bastante para parar no quintal", segundo a reportagem.
Observação: Seis anos depois, a mesma revista profetizou que as ruas e estradas seriam substituídas por uma rede de tubos — os veículos só precisariam de combustível para chegar ao tubo mais próximo; dali para frente, eles seriam "carregados automaticamente para o próximo destino".
Em 1950, o cientista Waldemar Kaempffert disse que ninguém mais cozinharia em 2020, pois a comida seria entregue às pessoas na forma de pequenos tijolos congelados. Em 1966, a Time preconizou que as economias mundiais estariam vivendo o auge da prosperidade no século 21, e que o americano médio ganharia cerca de US$ 300 mil por ano sem precisar trabalhar.
Arthur C. Clarke — um dos autores do roteiro de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) — achava que teríamos casas voadoras em 2020, e que comunidades inteiras poderiam migrar para diferentes regiões, mas o mais perto que chegamos disso foi o desenho animado Up - Altas Aventuras. No livro The Singularity Is Near: When Humans Transcend Biology, lançado em 2005, o autor profetizou que nanorobôs entrariam na corrente sanguínea dos seres humanos para alimentá-los e eliminar os dejetos.