segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

CANTILENA PARA DORMITAR BOVINOS

 

Quem não aprende com os erros do passado tende a repeti-los indefinidamente. O ditado é antigo, mas se encaixa perfeitamente na récua de muares que viram na eleição do ex-presidiário mais famoso do Brasil a única opção para despejar do Planalto o aspirante a tiranete que — suprema ironia! — havia sido eleito 4 anos antes justamente para obstar a volta do lulopetismo corrupto ao poder. 

Karl Marx ensinou que a história sempre se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa. No Brasil, ela costuma reproduzir fielmente o passado, e está cada vez mais difícil saber o que é tragédia e o que é farsa.

Recorrente em converter seus erros em novas edições revistas e pioradas, Lula e o PT saboreiam outro desses gloriosos momentos, dando de ombros para os interesses da população que, com o suado dinheiro dos impostos, promove a prosperidade dos gatos gordos da máquina estatal. Ou não é isso que se vê agora, com a guerra que as lideranças do partido declararam ao projeto de déficit zero do "companheiro" Fernando Haddad?
 
O Brasil amargou no funesto desgoverno Dilma os efeitos da hostilidade ao equilíbrio fiscal sob a forma de recordes de desemprego, retrocesso e recessão. Agora, Lula et caterva esgrimem o bordão "Déficit é vida
 pode até ser para os banqueiros, mas para o cidadão comum é garantia de mais desemprego, mais inflação, mais recessão, juros mais altos e menos consumo. 
 
A falácia de que o dinheiro da dívida constrói casas para os pobres e blá, blá, blá não passa de cantilena para dormitar bovinos. Lula anuncia que vai gastar com o PAC e outras miragens, e seus miquinhos amestrados aplaudem, mas o dinheiro vai direto para o bolso dos barões da máquina estatal — refiro-me àqueles que recebem salários de mais de R$ 30 mil reais por mês e acham uma miséria. Desordem fiscal é juro alto na veia; quanto mais o governo deve, mais caro os donos do dinheiro cobram para "rolar" a dívida.
 
Haddad afirma que o Brasil acumulou R$ 1,7 trilhão em déficit nos últimos 10 anos e não cresceu, não gerou mais empregos nem criou mais obras, e que os pobres continuam tão pobres como sempre foram. Lula disse que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil (segundo o FGV Social, são 77 milhões de pessoas com algum nível de insegurança alimentar no país), mas arrancou do Congresso o aval para gastar R$ 170 bilhões além do que estava previsto no orçamento de 2023. E o que fez com essa dinheirama toda? Torrou em viagens pelo mundo, hospedando-se em suítes de 500 m2 com a primeira-dama, que ajudou a esbanjar dinheiro do contribuinte em lençóis, roupões de banho, camas e sofás.

Segundo o Poder 360, o gasto médio do primeiro-casal em turismo internacional ficou em R$ 100 mil por dia. Nas palavras de J.R. Guzzo, "as viagens do presidente são um espetáculo ridículo, onde a personagem que mais se exibe é a sua mulher". Mas não é só.

Lula quer um avião maior e melhor. O Airbus A-319-ACJ comprado durante sua primeira passagem pelo Planalto dispõe de quarto separado para o primeiro-casal, sala particular e outros mimos, e sua vida útil é estimada em mais 10 anos. Mas já não satisfaz as exigências de conforto do presidente  cuja fixação por aviões Freud certamente atribuiria ao trauma causado pelos 13 dias que ele, a mãe e os irmãos amargaram num "pau de arara" em 1952, quando "retiraram" para São Paulo.
 
Segundo o departamento de propaganda do governo, as viagens de Lula já renderam mais de US$ 100 bi em investimentos. Trata-se de mais uma inequívoca ofensa à inteligência da população, seja porque investimento estrangeiro não sai nos comunicados oficiais do Planalto, seja porque ninguém no Banco Central — ou em qualquer outro lugar da administração — tem a menor ideia de que bilhões são esses. O que se sabe é que as diárias e passagens de seguranças do petista e seu clã já custaram aos "contribuintes" mais de R$ 4,2 milhões. 
 
Lúcio Vaz escreveu em seu blog que 40 viagens dos
 primeiros-filhos Lurian CordeiroLuís Claudio e Marcos Lula da Silva somaram R$ 180 mil no primeiro semestre. Os dados foram postos sob sigilo a partir de então, mas estima-se que o total das despesas rivalize com os R$ 4,6 milhões gastos nas missões oficiais do vice-presidente. Até junho, os périplos custaram "módicos" R$ 326 mil, mas os gastos cresceram nos meses seguintes — R$ 1,1 milhão em julho, R$ 950 mil em agosto, R$ 734 mil em setembro e R$ 1 milhão em outubro (os dados de novembro não estão fechados).
 
Um artigo que Alexandre Garcia publicou na Gazeta do Povo no dia 12 dá conta de que Lula já visitou 26 países e ficou 62 dias fora do Brasil (não que sua presença faça falta, longe disso). No balanço geral, essa política externa viajante gerou mais desgaste que ganhos. Em Buenos Aires, em entrevista à Rádio Mitre, Bolsonaro (vade retro!) disse que quando voltar a ser presidente vai nomear o rival ministro do Turismo. E Lula teve de engolir a ironia, sobretudo porque sua preferência por países onde o autoritarismo abafou a democracia e os objetivos no mínimo polêmicos das viagens não produziram resultados práticos 
— pelo contrário: o investimento estrangeiro em setores produtivos caiu 40% até setembro.
 
Com dois meses de governo, Lula criou tensão com os EUA ao autorizar que dois navios de guerra iranianos aportassem no Rio de Janeiro. Os americanos reconheceram a soberania brasileira, mas alertaram tratar-se de embarcações ligadas ao terrorismo que já haviam sofrido sanções da ONU. Mas o petista não só as recebeu às vésperas de visita oficial a Washington como defendeu abertamente os regimes de Cuba, Nicarágua e Venezuela.
 
Em maio, Lula passou pano para Nicolás Maduro na reunião de presidentes sul-americanos. Falou em "democracia relativa" e qualificou o tirante de defensor dos direitos humanos — irritando o presidente socialista do Chile. Um mês antes, ele havia sugerido que a Ucrânia abrisse mão da Crimeia para acabar com a guerra no Leste Europeu, e defendido uma governança global para cuidar da Amazônia, alegando que os acordos e tratados têm sido anulados pelos congressos nacionais. 
 
Depois do ataque terrorista do Hamas, o Itamaraty mostrou a mesma hesitação do presidente ante as ameaças à Guiana. A Europa já se deu conta de que Lula não condena agressores, e que o acordo Mercosul-União Europeia desceu pelo ralo. O petista mandou marqueteiros para tentar evitar a vitória de Milei — coisa que o argentino dificilmente irá esquecer. E tampouco terá amigos no Paraguai e no Uruguai, que esperavam dele uma ação incisiva para impedir as fanfarronices do autocrata venezuelano.
 
Os áulicos da Petelândia anunciaram as quatro ventos que Lula poderia mediar o conflito Rússia-Ucrânia, negociar a liberação dos reféns com o Hamas e resolver a questão no Oriente Médio — tudo geograficamente longe dos brasileiros e fácil de esquecer sem cobrar. Agora a questão está aqui, bem debaixo de suas barbas, e, em vez de ir pessoalmente a São Vicente e Granadinas tentar alguma coisa, sua excelência manda Celso Amorim como observador. 
 
Em 2007, o rei Juan Carlos perguntou a Chávez ¿Por qué no te callas? Resta saber quando Lula perguntará a Maduro¿Por que no paras?

Em tempo: A última pesquisa do Ipec (ex-Ibope) apontou que a desaprovação do governo Lula aumentou para 43%Uma das causas da polarização que divide os brasileiros em lulopetistas e bolsonaristas é o apedeutismo. No resultado do PISA que foi divulgado no início do mês o Brasil figura entre os 20 piores países do mundo num ranking de 81 nações. Sete em cada 10 estudantes na faixa dos 15 anos não sabem fazer contas básicas, metade tem dificuldade para entender o que lê e outros tantos não compreendem conceitos elementares de ciência. No início de 2019, a piada que dirigia o MEC atribuiu os maus resultados à "doutrinação esquerdófila" do PT. Mas o novo levantamento revela que tampouco as "teorias direitófilas" de Bolsonaro produziram bons resultados. Até porque o excesso de ideologia empurrou o ministério para seção de política, e os assaltos praticados por pastores lobistas e prepostos do Centrão levaram o MEC às páginas policiais. A cada triênio, o PISA expõe a raiz do atraso brasileiro, evidenciando a vocação nacional para a mediocridade.