terça-feira, 12 de março de 2024

SÃO AS ÁGUAS DE MARÇO FECHANDO O VERÃO...

É A PROMESSA DE VIDA NO TEU CORAÇÃO.

Tarcísio de Freitas é mineiro de Três Corações, mas foi eleito governador de São Paulo pela extrema-direita bolsonarista. No último dia 25, ao discursar na mais paulista das avenidas ao lado do padrinho inelegível e prestes a ver o Sol nascer quadrado, o afilhado se uniu a uma boçalidade. Semanas depois, ao enviar ao legislativo estadual um projeto que cria uma centena de escolas cívico-militares, bateu continência para uma temeridade. As tais escolas serão tocadas pelas secretarias da Educação e de Segurança Pública, comandadas, respectivamente, por Renato Feder, cuja iniciativa mais relevante foi desistir da ideia de tirar São Paulo do programa de livros didáticos do MEC, e pelo capitão Guilherme Derrite, ideólogo da estratégia da matança implementada pela PM na Baixada Santista. Ao afirmar que escolas militares agregam ao ensino "civismo, brasilidade e disciplina", o governador finge não notar que foi justamente esse tipo de pedagogia que resultou na intentona do 8 de janeiro. Ao ecoar no Palácio dos Bandeirantes os mesmos ruídos que Bolsonaro produzia no Planalto, Tarcísio parece não perceber que o tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro, e que esse "vazio" resultou na derrota do "mito" em 2022.

A canção "Águas de Março", composta por Tom Jobim em 1972, fala que a chegada do outono traz a promessa de renovação e esperança, talvez porque as consequências trágicas das tempestades de verão se repetem ano após ano. Os telejornais exibem cenas surreais (e alguns parecem se comprazer em exibi-las, diga-se), com botes atravessando ruas e avenidas, carros submersos ou sendo arrastados pela correnteza, árvores caídas, imóveis inundados, moradores reclamando da falta de energia elétrica, e por aí vai. Embora as "tempestades de verão" sejam chamadas assim porque são comuns na estação mais quente do ano, temporais precedidos ou acompanhadas de relâmpagos, rajadas de vento e granizo podem ocorrer em qualquer estação. 

O Brasil é o pais com maior incidência de raios no mundo. O "raio" é uma descarga elétrica atmosférica caracterizada pela emissão de luz e calor. Já o "trovão" (que pode alcançar 120 dB) é o som resultante do aquecimento do ar pela corrente elétrica, e o "relâmpago", a luz emitida quando o raio flui entre nuvens, entre uma nuvem e o solo ou entre o solo e uma nuvem. A tensão varia de 100 mil volts a 1 milhão de volts, a amperagem vai de 20 mil a 200 mil ampères, e a temperatura pode superar em 5 vezes a temperatura da superfície do Sol. O potencial energético de uma tempestade elétrica equivale ao de uma bomba atômica; a diferença é que o artefato libera tudo numa fração de segundo e o corisco a distribui por vários minutos a algumas horas.

 

Observação: É mito que os raios não caem duas vezes no mesmo lugar. O Cristo Redentor, por exemplo, que fica no alto do Corcovado (RJ), é atingido seis vezes ao ano, em média.

 

Quando atingem a rede elétrica, os raios causam sobretensões que podem torrar (literalmente) a fiação dos imóveis e danificar aparelhos elétricos e eletroeletrônicos num raio (sem trocadilho) de muitos quarteirões (daí a importância do aterramento e do uso de tomadas de três pontos). Em caso de falta de energia, recomenda-se desconectar os aparelhos das tomadas e tornar a ligar somente quando o fornecimento for estabilizado. Quando a energia volta, podem ocorrer picos de tensão que chegam facilmente a 500V. Apagões intermitentes (quando a luz acaba, volta e torna a acabar) podem causar quedas de fase (situação em que as lâmpadas acendem, mas ficam fraquinhas) e danos a eletroeletrônicos sensíveis (como modem, roteador, decoder de TV etc.). 

 

Algumas regiões do país vêm sendo castigadas por chuvas bem acima da média para esta época do ano. Num mundo ideal, bastaria consultar a previsão do tempo para evitar compromissos nos horários críticos, mas não vivemos num mundo ideal, e a despeito do avanço da tecnologia nas últimas décadas, continua chovendo em piquenique de meteorologista (Narciso Vernizzi, o "Homem do Tempo" da Jovem Pan, tornava quase infalíveis seus boletins estimando em 50% as possibilidades de "chuvas em pontos isolados"). 


Observação: Se você mora num dos 645 municípios paulistas, envie um SMS com CEP da sua rua para o número 40199 e a Defesa Civil lhe enviará um alerta (também por SMS) sempre que houver previsão de temporais para sua região. 

 

Via de regra, os temporais desabam do meio para o final da tarde, após a temperatura atingir a máxima do dia. Céu escuro, nuvens negras, formigamento na pele e pelos eriçados nos braços são indícios de tempestade elétrica. Se você estiver andando pela rua quando São Pedro abrir as comportas do céu, procure abrigo numa padaria, farmácia, mercado ou outro estabelecimento qualquer. Se estiver de moto ou bicicleta, pare num posto de combustíveis e espere a chuva passar. Ne carro, reduza a velocidade, aumente a distância do veículo da frente, acenda os faróis baixos, acione o limpador de para-brisa e o desembaçador traseiro, ligue o ar-condicionado, regule a ventilação forçada para a velocidade máxima e direcione os defletores para o para-brisa. 


Observação: Se seu carro não tem ar-condicionado nem ventilação forçada, Sr. Flintstone, não há como não se molhar, pois será preciso deixar uma fresta de dois dedos nas janelas para minimizar o embaçamento. Se necessário (e costuma ser necessário), limpe o para-brisas de tempos em tempos com um pano seco  jamais passe a mão no vidro, ou a gordura da pele irá agravar o problema). Substitua as palhetas dos limpadores regularmente e mantenha-as sempre limpas. Verifique se os orifícios do lavador estão desobstruídos e se há água no reservatório.

 

Caso a visibilidade fique muito prejudicada, pare num estacionamento (coberto) de shopping ou supermercado e espere a chuva amainar. Se o local costuma alagar, suba a primeira ladeira e só retome o trajeto original depois que o nível da água baixar. Na estrada, pare num posto; na impossibilidade, pare no acostamento, ligue o pisca-alerta, feche os vidros e permaneça dentro do carro (ele é um abrigo seguro contra raios não por estar isolado pelos pneus, mas porque as descargas são dissipadas pela superfície metálica e absorvidas pelo solo sem causar danos aos ocupantes). 

 

Alagamentos são sempre perigosos. A enxurrada pode arrastar veículos de grande porte, e a lâmina de água pode encobrir pedras, buracos, bueiros sem tampa e que tais. Se for inevitável passar por um trecho alagado, observe o comportamento do veículo à sua frente — mas não se baseie em ônibus ou caminhões, que, por serem mais altos, atravessam alagamentos que carros de passeio não conseguem transpor. Costuma-se dizer que um trecho inundado é "atravessável" quando o nível da água não ultrapassa o meio das rodas, mas não convém arriscar.


Se realmente não houver alternativa, procure seguir pelo meio da rua — onde o acúmulo de água costuma ser menor do que próximo ao meio-fio. Inicie sua travessia depois que o carro da frente concluir a dele e somente se não vier outro veículo no sentido contrário, já que as "marolas" elevam temporária, mas significativamente o nível da água. Engrene a primeira marcha, use a embreagem para manter o giro do motor em aproximadamente 2.000 RPM, mantenha a velocidade constante e não mude de marcha até alcançar o outro lado. Se o carro tiver câmbio automático ou automatizado, coloque a alavanca seletora na posição 1 (para impedir mudanças de marcha) e dose a aceleração cuidadosamente  sem o auxílio da embreagem, elevar o giro do motor faz as rodas motrizes responderem na mesma medida.

 

Evite parar durante o trajeto. Se isso acontecer e o motor "morrer", tentar religá-lo pode resultar em dados por calço hidráulico. Coloque a transmissão em ponto morto (ou na posição N) e empurre o carro para fora da água. Se tiver um mínimo de habilidade manual e as ferramentas necessárias, retire as velas de ignição e dê a partida (o movimento dos pistões expulsará a água do interior dos cilindros). A menos que os componentes do sistema eletrônico de injeção (como a sonda lambda) tenham sido afetados, basta recolocar as velas, religar os cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Mas o procedimento recomendável é chamar um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará um exame mais detalhado.

 

Aquaplanagem é o nome que se dá à perda de contato dos pneus com o solo quando o veículo trafega sobre uma lâmina de água. Se o volante lhe parecer "muito leve", evite virá-lo bruscamente — se os pneus recuperarem a tração repentinamente, pode não haver tempo de corrigir a trajetória. Se sentir o carro "flutuar", tire o pé do acelerador, mas só pise no pedal do freio (levemente) se houver ABS. Quando os pneus retomarem o contato com o asfalto e você recuperar o controle da direção, siga o "rastro" do carro da frente, mas mantenha distância e esteja preparado para tirar o pé do acelerador e segurar firmemente o volante ao primeiro sinal de aquaplanagem.

 

Ainda que seja mais comum em altas velocidades e/ou com pneus carecas, a aquaplanagem pode ocorrer com pneus em ordem e velocidades inferiores a 60 km/h. E o perigo aumenta em vias sinuosas (dependendo da velocidade e do traçado da pista, pode não haver tempo para recuperar o controle da direção e fazer a curva). Ao menor sinal de água na pista, diminua a velocidade e use uma marcha inferior àquela que você usaria com tempo seco, pois manter o giro do motor mais elevado aumenta a tração das rodas motrizes e favorece a aderência dos pneus.

 

Boa sorte.