terça-feira, 14 de maio de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE — PARTE III

DIPLOMACIA É A ARTE DE MANDAR ALGUÉM À MERDA FAZENDO COM QUE ESSE ALGUÉM FIQUE ANSIOSO PELA VIAGEM.

 

Como sói acontecer diante de calamidades, o país se uniu para acudir as vítimas do drama gaúcho. Mas alguns políticos preferem surfar na onda da polarização. A desavença que opõe o prefeito bolsonarista de Farroupilha e o ministro petista da Secom é a penúltima evidência de que nenhuma borrasca é capaz de pôr termo à dicotomia nesta banânia. Num momento delicado, em que a população está abrigada precariamente, sem água e passando frio, era de esperar uma união de forças para aliviar esse sofrimento, mas bolsonaristas têm usado as redes sociais para disseminar fake news, espetacularizar a tragédia e jogar lenha na fogueira da cizânia. A postagem de Eduardo Bolsonaro é um exemplo de oportunismo e hipocrisia. A exemplo do pai negacionista e golpista, o filho pacóvio insulta a ciência ao troçar do extremo climático — que é um fenômeno mundial e vem sendo negligenciado em âmbito geral. Quantos ainda terão de morrer para a questão tratada da maneira adequada? Na hora do desastre, a consciência brota, mas, nas eleições, ela se recolhe a sua insignificância. Triste Brasil.


Evidências são indícios que apontam para a ocorrência de fatos; fatos são os acontecimentos propriamente ditos; e provas são os meios usados para demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram. Na percepção distorcida e limitada dos que padecem de cegueira mentalEQMs (detalhes no capítulo anterior) não são evidências de coisa alguma; os céticos as veem como um fato, mas não como provas da existência da "alma imortal" ou de que a consciência sobrevive à morte clínica; para os que têm a mente aberta e cultivam o saudável hábito de raciocinar, esse fenômeno dá o que pensar. 

 

As experiências de quase morte que acontecem quando não há atividade no córtex frontal (morte clínica) são documentadas a partir de relatos feitos pelos próprios pacientes após a reanimação. Se não há registros de EQMs em casos de morte encefálica, é porque a irreversibilidade dessa condição exclui a possibilidade de reanimação. Em outras palavras, se o paciente já atravessou a via de mão única que leva ao "lado de lá", não há como colher seu depoimento — a não ser que ele compareça a uma sessão de mesa branca ou reencarne e preserve lembranças da vida anterior.

 

O "roteiro" da maioria das EQMs documentadas é quase sempre o mesmo: a pessoa "trazida de volta" relata que viu próprio corpo morto, foi "sugada" para um túnel de luz, reviu a própria vida como num filme e reencontrou parentes já falecidos, mas, por algum motivo, sentiu que precisava retornar ao corpo. Algumas descrevem um profundo sentimento de paz e um estando ampliado de consciência, mas os relatos mais impressionante são os que incluem detalhes do que aconteceu enquanto elas estavam clinicamente mortas, e esses detalhes são confirmados por médicos, parentes e outras pessoas que assistiram aos procedimentos de reanimação. 

 

Isso nos leva à seguinte pergunta: se a consciência é produzida pelo cérebro, como ela pode continuar existindo depois que o cérebro parou de funcionar? Não há uma resposta fácil, a não ser para quem se escora em dogmas meramente impositivos — se Deus quis assim, então é assim e ponto final. À luz da ciência, o buraco é mais embaixo (a propósito, sugiro ler o livro "Experiências de Quase Morte – Ciência, mente e cérebro", do neurocirurgião Edson Amâncio).

 
EQMs e vida após a morte são coisas diferentes, mas correlacionadas. Tudo se resume — se é que podemos "resumir" conceitos tão complexos — à incerteza sobre o que acontece "depois" (ou se existe um "depois"). Os religiosos acreditam na imortalidade da alma, mas o que é a religião senão a evolução do misticismo que levou nossos ancestrais a endeusarem o Sol, a Lua, os raios, os trovões, os eclipses e tantos outros fenômenos que hoje sabemos serem naturais? 
 
Os católicos não acreditam em reencarnação. Para eles, a alma é única e eterna, e a morte carimba o passaporte que autoriza os "bons" a ingressarem no Reino dos Céus — depois de uma escala no Purgatório — e despacha os "maus" para as profundezas da Inferno, onde serão cozidos em óleo fervente ou assados em espetos por toda a eternidade (qui caberia abrir um parêntese para discutir o conceito de eternidade, mas vou deixar para fazê-lo em outra ocasião. Quanto ao inferno, recomento a leitura desta anedota sobre o "inferno brasileiro").
 
Os espíritas acreditam que a alma sobrevive à morte física e passa para um novo plano astral, que Deus nos criou simples e ignorantes, sem discernimento do mal e do bem, e que quem pratica o mal reencarna várias vezes, até evoluir espiritualmente, e quem pratica a caridade, o bem e o amor só reencarna se quiser. Segundo o Espiritismo, os espíritos desencarnados possuem a capacidade de se ligar a outros espíritos, encarnados ou não, de acordo com a sintonia e a afinidade dessas almas 
— o que explicaria a existência de lugares com diferentes níveis vibratórios, uns mais sofredores e infelizes, outros mais plenos e felizes.
 
O Judaísmo dá margem a múltiplas interpretações. Os judeus acreditam na sobrevivência da alma, mas não têm um roteiro definido sobre o que acontece depois da morte 
— ou mesmo se existe vida após a morte. Segundo a Cabala, a alma é imortal, e as provações que cada um enfrenta em vida levam a seu aperfeiçoamento. Segundo eles, existem 3 tipos de almas, e o desligamento do corpo não é imediato (podendo levar de 30 dias a 1 ano). Enquanto a alma está ligada ao corpo, não há possibilidade de reencarnação, daí os familiares do finado cobrirem os espelhos da casa e rezarem o Kadish.
 
A exemplo dos católicos, os evangélicos acreditam no juízo final e na existência de Céu, Inferno e Purgatório. A diferença é que, segundo eles, as almas ficarão adormecidas até Jesus voltar à Terra e decidir quem irá com ele para o Reino dos Céus e quem passará a eternidade num lago de enxofre e fogo. Já os protestantes descartam a reencarnação, mas não a existência de Céu e Inferno. Segundo eles, o julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que ela teve na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor. 
 
Os budistas acreditam que o espírito reencarna, podendo voltar como gente ou como animal, dependendo de sua conduta durante a vida (esse ciclo se repete até que o espírito se liberte de seu carma). No Japão, além de flores no caixão, uma tigela com arroz cozido, água, um vaso com flores, velas e incenso são colocados sobre uma mesa, para que nada falte ao morto. Para os islâmicos, a vida é uma preparação para outra existência. A morte dá início ao primeiro dia na eternidade, onde as almas dos muçulmanos ficarão aguardando o juízo final. Quem seguiu as leis de Alá e as tradições dos profetas é enviado para o Paraíso; quem foi desviado por Cheitã é despachado para o Inferno.
 
Segundo o Candomblé, as pessoas são formadas por elementos constitutivos perecíveis (corpo) e imperecíveis (ori), e a vida continua por meio da força vital (o ori retorna em outro corpo, mas dentro da mesma família. Não há punição eterna nem ideia preconcebida de Céu e Inferno; a morte é considerada uma passagem para outra dimensão, onde os espíritos se reunirão aos guias e orixás. Já na visão dos umbandistas, o universo é formado por sete linhas, cada qual regida por um orixá, e a morte é considerada uma etapa evolutiva (clique aqui para mais detalhes sobre as religiões afro-brasileiras).
 
No Hinduísmo, a pessoa é a alma, não o corpo físico. Após a morte, a alma se separa do corpo e parte rumo a outra dimensão. Almas evoluídas voltam em altas castas, como a dos brâmanes, composta por filósofos e sacerdotes. Guerreiros e políticos pertencem à casta dos xátrias, e os menos evoluídos reencarnam como comerciantes (casta dos vaishas) ou trabalhadores (casta dos sudras). Quem consegue se desapegar do mundo material e atingir um patamar elevado não está obrigado a reencarnar.
 
Para os batistas, quem aceitar Jesus terá uma vida de paz e felicidade no Paraíso, e quem não aceitar, uma vida de dor, angústias e sofrimento no inferno. Já os adventistas acreditam que os mortos dormirão até o momento da ressurreição, quando então os que cumpriram seu papel na Terra ganharão a vida eterna e os demais desaparecerão. Para os sectários da Cientologia — como John Travolta e Tom Cruise — o thetan (espírito) sai em busca do novo corpo no qual retornará à vida. 
 
Observação: Fundada em 1952 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard, a Cientologia se define como "o estudo e manejo do espírito em relação a si mesmo, universos, e outras formas de vida". Segundo seus sectários, 75 milhões de anos atrás existiam dezenas de planetas governados como uma confederação por Xenu, um líder maligno que enviou bilhões de espíritos para a Terra. Assim, os terráqueos são reencarnações desses extraterrestres — que são imortais e continuam reencarnando ad aeternum.

Continua...