domingo, 19 de maio de 2024

AZEITE, MANTEIGA OU MARGARINA? (CONTINUAÇÃO)

UM BOM MENTIROSO PODE ATÉ SE ATRAPALHAR COM A VERDADE, MAS JAMAIS MUDA SUA VERSÃO DOS FATOS.


A demissão de Jean Paul Prates era esperada, mas a confirmação, na última terça-feira, causou um prejuízo de R$ 34 bilhões à Petrobras e uma queda de 0,38% no Ibovespa. Trata-se de mais um desserviço prestado ao país pelo macróbio xamã do PT, que, acompanhado da inevitável cuidadora e de uma dezena de ministros, converteu em comício a solenidade em que anunciou novas medidas em socorro dos flagelados gaúchos. 
A alturas tantas da autolouvação, o mandatário disse que pretende chegar aos 120 anos (que Deus nos livre e guarde!) e disputar "mais umas dez eleições". Parecendo não se dar conta de que Bolsonaro se tornou um bode expiatório gasto, afirmou que o país "foi desprezado por causa de um incivilizado que chegou à Presidência", e que "esse tipo de gente, mais dia menos dia, vai ser banida da política brasileira". 
Coroando a politização do dilúvio, o aspirante a Matusalém assinou o ato de nomeação do petista Paulo Pimenta, atual chefe da Secom e virtual candidato ao governo do RS em 2026, para a função de ministro extraordinário da reconstrução do Rio Grande do Sul, federalizando, por assim dizer, a crise estadual e, de quebra, constrangendo o governador, que planeja concorrer a um segundo mandato.
Lula demora a perceber que, pela lógica, os dividendos eleitorais viriam por gravidade; a politização não só foi desnecessária como também desrespeitosa.

Com o preço do azeite nas alturas, os "óleos compostos" tornaram-se uma opção natural para a combalida classe média tupiniquim. No entanto, apesar de a denominação sugerir que a tal composição seja 50% azeite e 50% óleos vegetais (de soja, girassol, amendoim etc.), a azeitona geralmente passa longe. Como se não bastasse, maus fabricantes adicionam lampante (gordura obtida das azeitonas sãs, mas com graus de acidez acima de 2,% e diversos defeitos sensoriais) a suas misturebas, o que as torna inadequadas ao consumo humano. 
 
Notícias de que a gordura saturada presente (não só, mas também) na manteiga é nociva à saúde levou muita gente a substituí-la pela gordura poli-insaturada das margarinas. A diferença está na origem e na estrutura molecular das gorduras: a saturada é de origem animal e a insaturada — que se divide em monoinsaturada, quando suas moléculas têm uma única dupla ligação de carbono, e polinsaturada, quando as moléculas têm duas ou mais ligações de carbono —, de origem vegetal, embora seja encontrada também em peixes como atum, salmão, cavala e truta. 

Mas o mundo gira, a Lusitana roda, a terra plana capota e não há nada como o tempo para passar. Café, pão branco, ovos, chocolate e vários outros alimentos já foram de vilões a heróis e vice-versa uma porção de vezes. A pergunta que se coloca é: o que é melhor (ou menos pior?) para a saúde? Manteiga ou margarina? Responder a isso não é fácil. Toda gordura era "ruim" até alguém dividir o colesterol em "bom" e "mau" e as gorduras, em saturadas e insaturadas. Embora haja consenso sobre os malefícios causados à saúde pela gorduras saturadas, os benefícios proporcionados pelas gorduras poli-insaturadas dividem os pesquisadores

De acordo com um estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology, o HDL (vulgo "colesterol bom") pode não ser tão bom assim: a despeito de os riscos de doenças cardíacas estarem relacionados a baixos níveis desse colesterol em adultos brancos, o mesmo acontece com a população negra, e altos níveis de HDL não foram associados à redução dos riscos em nenhum dos grupos estudados.

Estudos clínicos realizados com 59 mil voluntários que mudaram a dieta por pelo menos dois anos não comprovaram de forma cabal que a troca da gordura saturada por carboidratos ou proteínas reduza significativamente os riscos de enfarte e outros problemas cardíacos. Por outro lado, um estudo conduzido pela Universidade de Cambridge concluiu que "não há evidências irrefutáveis" que justifiquem a supressão da gordura saturada da alimentação, e que "a manteiga faz parte de uma dieta saudável". A reboque da publicação dessas conclusões, o consumo de manteiga voltou a crescer — e só não cresceu mais devido à alta no preço dos laticínios (detalhes no capítulo anterior).

A manteiga é produzida a partir da gordura do leite de vaca, cabra, ovelha. Na indústria, o processo começa com a separação e pasteurização da nata, que é agitada e batida em cubas industriais. Essa batedura libera resíduos de leitelho, que são removidos pela lavagem com água fria. Na sequência, os fabricantes acrescentam sal (o percentual varia de 2% a 6% da receita) e misturam bem a massa, para que ela fique homogênea. 
 
Ao saber que a manteiga é rica em gordura saturada e colesterol, muita gente passou a usar margarina, que é produzida a partir da batedura de óleo com água e acrescida de adicionados emulsificantes, corantes etc. O problema é que o hidrogênio usado para converter os óleos líquidos em gorduras sólidas e conferir a "cremosidade" que facilita o espalhamento do produto enseja a formação de "gorduras hidrogenadas" — ou "trans" —, que são tão (ou mais) prejudiciais à saúde do que a gordura da manteiga. 

A ideia de que uma alimentação pobre em gordura contribui para a redução de doenças cardíacas vem sendo questionada nas últimas décadas. Diversos experimentos demonstraram que uma dieta que incluiu alimentos ricos em gordura poli-insaturada, como nozes e azeite de oliva extravirgem, é benéfica à saúde. Segundo alguns especialistas, o importante é limitar o consumo de gordura saturada a no máximo 10% das calorias diárias (Isso é equivalente a 22 gramas desse tipo de gordura em uma dieta de 2.000 calorias, o que representa cerca de duas colheres de sopa de manteiga).

A manteiga é considerada um ingrediente culinário processado, ao passo que a margarina integra o rol dos alimentos ultraprocessados, que são associados ao diabetes tipo 2 e a doenças cardíacas. Por não haver evidências de longo prazo que comparem especificamente os efeitos nocivos causados à saúde pela manteiga e pela margarina, o consumidor está no mato sem cachorro, ou melhor, peca por ter cachorro e peca por não ter.


O embate entre defensores da manteiga e da margarina parece estar longe de terminar. Se alguns estudos desaconselham dietas com alto teor de alimentos ultraprocessados, outros afirmam que eles são ricos em vitaminas e outros nutrientes benéficos. O pão integral industrializado e os cereais matinais são alimentos ultraprocessados, mas também são ótimas fontes de fibras. No fim das contas, tudo depende da quantidade de gordura que cada um ingere no dia a dia. Até porque julgar alimentos e nutrientes isoladamente não basta, é preciso levar em conta a quantidade e a frequência com que eles são consumidor, o padrão alimentar seguido, a presença de doenças e/ou comorbidades e o estilo de vida de cada indivíduo.

 

Quem segue uma dieta balanceada e saudável dificilmente terá problemas se espalhar manteiga de alto sabor sobre uma torrada uma vez por semana, mas é essa parcimônia não é observada pela maioria das pessoas. Mal comparando, seria como alguém ir a uma festa, "tomar todas" e culpar a azeitona da empadinha pela ressaca da manhã seguinte. A meu ver, a única vantagem da margarina é poder tirá-la da geladeira e espalhar facilmente sobre o pão — no caso das manteigas com alto teor de gordura, precisamos usar martelo e talhadeira, e mesmo assim acabamos com enorme pedaços do produto no pão.


Continua...