sexta-feira, 28 de junho de 2024

VOTEM NELAS... (FINAL)

 

Misturar religião com política sempre foi má ideia em qualquer lugar do mundo, mas é ainda pior num país onde a "bancada evangélica" se locupleta com propina em ouro, via bíblia e no pneu. O projeto de lei do deputado-pastor Sóstenes Cavalcante — visando penalizar vítimas de estupro que abortam com o dobro da cana prevista para os estupradores — teve a urgência aprovada numa votação simbólica que demorou cerca de 20 segundos. 

Arthur Lira, o imperador da Câmara, aliou-se à banda fundamentalista, mas, mastigado no asfalto e nas redes sociais, achou por bem deixar a análise do mérito da proposta indecente para depois das eleições, quando os parlamentares estarão menos suscetíveis às pressões da opinião pública. Sob Lira, a Câmara sempre operou como uma espécie de monarquia onde reina a esculhambação. Surpreendido pelo desgaste, o imperador da Câmara se converteu num humilde servo da coletividade: "Somos uma Casa de 513 parlamentares. Qualquer decisão é colegiada." Pausa para as gargalhadas.

ObservaçãoLira enfrentou várias acusações ao longo de sua carreira política, mas deixou de ser réu no STF depois que a 1ª Turma acolheu um parecer da PGR favorável à anulação de uma denúncia de corrupção passiva contra ele​, mas o deputado continua enrolado com uma denúncia de sua ex-esposa, que o acusou de estupro. Gente fina é outra coisa.
 
O que marca as decisões dos pseudo-representantes do povo são seus interesses pessoais. Ideologia é história da Carochinha. Contam-se nos dedos os congressistas que mantêm sua posição apesar da pressão dos "formadores de opinião" eleitos por nichos da população. Os que não seguem a manada para não ficar isolados fazem-no por interesses cruzados — como a troca de favores entre grupos no momento em que se definem os candidatos à sucessão do presidente da Casa. Aliás, a enxurrada de projetos de lei que o chefão da Câmara desengavetou neste final de primeiro semestre é tão flagrantemente eleitoreira que desmente a postura de "grande líder" político que ele pretende transmitir. 

Fez o "L" esperando picanha? Prepare-se para a pica. Lula quer isentar de impostos o frango — que "é a carne que o povo consome" — e sobretaxar os cortes "nobres", consumidos por pessoas de "alto padrão". Escorar-se no consumo para equalizar a desigualdade social não é uma ideia brilhante, mas, vindo de quem vem, isso não causa espécie. 
A decisão foi criticada por setores do agronegócio e supermercados, que defendem uma cesta básica nacional mais ampla e foram surpreendidos pela ausência da proteína animal na lista — que inclui desde o tradicional arroz e feijão até farinha. Como se vê, além "dirigir" os olhos no retrovisor, Lula parece enxergar o Brasil como um imenso sertão nordestino.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, não é possível segregar os tipos de carne para reduzir a zero os cortes mais consumidos pela população de baixa renda, já que o boi é dividido em quarto dianteiro e quarto traseiro. 
Tampouco faz sentido discriminar a população com mais poder aquisitivo nem empurrar-lhe goela abaixo delícias como jabá e farinha de macaxeira.
 
A leniência com que tratam os
 próprios interesses demonstra a que vieram nossos deputados e senadores. Anistias dos mais variados graus, desde a multas partidárias por desrespeito à legislação eleitoral até a quem participou da tentativa golpista na Praça dos Três Poderes. Políticos dessa laia, que não se dão ao respeito como representantes do povo, ajudam a desacreditar as instituições. São parasitas que vivem à custa dos cidadãos comuns. Seu apetite é pantagruélico e sempre cabem mais verbas e regalias em suas gargantas sem fundo.

Ulysses Guimarães e Michel Temer dominaram a Câmara por anos a fio, mesmo quando fora da presidência, mas os atuais presidentes submergem assim que perdem o poder, razão pela qual a paga pelos favores tem de ser feita de imediato. 

A busca desesperada de Lira para se manter acima da linha-d’água provoca uma crise institucional que mina sua atuação e desgasta mais ainda a imagem do Congresso. Talvez estena na hora de votar nas putas. Está visto que votando nos filhos delas esta banânia dificilmente reencontrará seu norte.