Três amigos jogavam conversa fora. A alturas tantas, um deles comentou que a velocidade da luz representa a velocidade do próprio tecido do espaço-tempo (*) e, portanto, é a maior velocidade possível no Universo conhecido. Um dos outros dois argumentou que o pensamento é virtualmente instantâneo (**), mas o vencedor da discussão foi o último a se pronunciar. Segundo ele, "nada é mais rápido que uma caganeira, já que não dá nem tempo de pensar em acender a luz".
A paixão por velocidade remonta aos primórdios da civilização, e a busca por quebrar recordes tem uma história tão extensa quanto fascinante. Na Roma antiga, organizavam-se corridas de bigas. Na Idade Média, torneios equestres incluíam competições de velocidade entre cavaleiros. Com a Revolução Industrial e o advento das máquinas a vapor no século XIX, as ferrovias se tornaram o novo campo de competição, com locomotivas cada vez mais rápidas competindo entre si.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
O STF não descriminalizou nem liberou o uso da maconha, apenas decidiu que não é crime portar o entorpecente para consumo próprio, e ficou de fixa uma quantidade máxima para diferenciar usuários de traficantes. A decisão tampouco pode ser confundida como intromissão do Supremo nas prerrogativas dos outros Poderes. Uma lei aprovada pelo Legislativo em 2006 já havia estabelecido que o usuário de drogas não se confunde com o traficante, mas os parlamentares se abstiveram de estabelecer critérios para diferenciar um do outro. Os parâmetros fixados pela Corte valerão até que o Congresso ou o Executivo esclareçam a questão.
Ao votar pela descriminalização do consumo, a ministra Cármen Lúcia foi ao ponto. Disse que a ausência de critérios "criou um espaço de arbítrio." Nesse vácuo, um usuário negro apanhado com pequena quantidade de maconha na periferia de grandes cidades é preso como traficante. Um jovem branco abordado pela polícia com a mesma quantidade num bairro chique é liberado como usuário.
Inconformado, o presidente do Senado estrilou: "Eu discordo da decisão do STF; considero que uma descriminalização só pode se dar através do processo legislativo. A discussão pode ser feita, mas há caminhos próprios para isso."
Rodrigo Pacheco é autor de proposta de emenda constitucional sobre o tema, cujo texto, pendente de apreciação da Câmara, limita-se a empurrar para dentro da Constituição o texto da lei aprovada em 2006. Novamente, o Legislativo se esquiva de definir critérios para diferenciar consumo de tráfico. Quer dizer: Para exercitar a contrariedade em sua plenitude, o nobre senador precisa trocar a valentia retórica por providências práticas que ornem com as atribuições constitucionais do cargo que ocupa.
Vale lembrar que o poder abomina o vácuo. Foi graças à leniência, pusilanimidade, inoperância ou incompetência do poder público que traficantes e organizações criminosas tomaram conta dos morros cariocas, e as milícias, da Baixada Fluminense.
Triste Brasil.
Ao votar pela descriminalização do consumo, a ministra Cármen Lúcia foi ao ponto. Disse que a ausência de critérios "criou um espaço de arbítrio." Nesse vácuo, um usuário negro apanhado com pequena quantidade de maconha na periferia de grandes cidades é preso como traficante. Um jovem branco abordado pela polícia com a mesma quantidade num bairro chique é liberado como usuário.
Inconformado, o presidente do Senado estrilou: "Eu discordo da decisão do STF; considero que uma descriminalização só pode se dar através do processo legislativo. A discussão pode ser feita, mas há caminhos próprios para isso."
Rodrigo Pacheco é autor de proposta de emenda constitucional sobre o tema, cujo texto, pendente de apreciação da Câmara, limita-se a empurrar para dentro da Constituição o texto da lei aprovada em 2006. Novamente, o Legislativo se esquiva de definir critérios para diferenciar consumo de tráfico. Quer dizer: Para exercitar a contrariedade em sua plenitude, o nobre senador precisa trocar a valentia retórica por providências práticas que ornem com as atribuições constitucionais do cargo que ocupa.
Vale lembrar que o poder abomina o vácuo. Foi graças à leniência, pusilanimidade, inoperância ou incompetência do poder público que traficantes e organizações criminosas tomaram conta dos morros cariocas, e as milícias, da Baixada Fluminense.
Triste Brasil.
No alvorecer do século XX, Henry Ford e seus concorrentes disputavam corridas para ver quem construía o automóvel mais veloz, enquanto os pioneiros da aviação competiam para descobrir quem voava mais rápido e mais alto. A disputa pela quebra da barreira do som nos anos 40 e 50 foi um dos marcos mais significativos nessa busca incessante, que atualmente é representado pela Fórmula 1 e outras competições de velocidade em terra, água e ar.
A despeito de atingirem 372 km/h, os carros de F1 não são páreo para a Kawasaki Ninja H2R (400 km/h). Nem para o Bugatti Veyron, cujo motor de 8.0 litros, quatro turbos e 987 cv de potência o levaram a 408,4 km/h no circuito oval de Ehra-Lessien. O Chiron Super Sport 300+, também da Bugatti e equipado com um motor quadriturbo de 8 litros e 1578 cv, foi o primeiro a superar as 300 milhas horárias (482,8 km/h), cravando 490,3 km/h no circuito de Ehra-Lessien.
Em 1976, o jato Lockheed SR-71 Blackbird, atingiu o recorde de velocidade Mach 3.3 (3.540 km/h), mas isso é pinto para a aeronave hipersônica não tripulada X-43 (11.854 km/h), desenvolvida pela Nasa, que, por sua vez, não chega nem perto das naves espaciais (30 mil km/h), que perdem longe para sondas como a Parker Solar Probe, que atingiu 246.9 mil km/h em 29 de outubro de 2018, seguiu quebrando seus próprios recordes até alcançar inacreditáveis 635 mil km/h e se tornar o objeto mais rápido já feito pelo homem.
Nenhum desses bólidos chegou nem perto da maior velocidade possível no Universo conhecido — que, como vimos, é a velocidade com que a luz se propaga no vácuo (cerca de 300 mil km/s). Nenhum objeto com massa consegue atingir essa velocidade; se conseguisse, esse objeto poderia produzir distorções no tecido do espaço-tempo que causariam efeitos imprevisíveis. Umas das peculiaridades da luz é seu "comportamento dual" (como onda e partícula).Vale destacar que essas partículas (fótons) não têm massa, mas, mesmo assim, elas perdem velocidade quando adentram a atmosfera terrestre.
Segundo o físico de partículas Justin Vandenbroucke, da Universidade de Wisconsin-Madison, os neutrinos (partículas subatômicas com quase nenhuma massa) são a "coisa" mais rápida da Terra. Em um experimento realizado no Polo Sul, um grupo de cientistas detectou neutrinos de alta energia dentro do gelo que conseguiam viajar mais rápido que a própria luz. Em 2011, pesquisadores lançaram neutrinos do CERN, na Suíça, em direção ao laboratório subterrâneo de Gran Sasso, na Itália, e descobriram que eles percorreram os 730 quilômetros em 2,43 milissegundos, 60 bilionésimos de segundo mais rápido do que a própria luz — numa corrida tradicional, eles teriam cruzado a linha de chegada com 20 metros de vantagem. Em 2022, cientistas do CERN conseguiram acelerar fótons além da velocidade da luz, mas, de novo, fótons não têm massa.
A pergunta que se coloca é: se nada pode se mover mais rápido que a luz, como pode o o próprio espaço-tempo se expandir a uma velocidade superior à da luz? A resposta é: porque ele pode. Veja que o art. 5º da nossa Constituição explicita que "todos são iguais perante a lei e blá, blá, blá, mas, mesmo assim, algumas pessoas são "mais iguais "que as outras. Ou seja, "quem pode mais chora menos". Explicando melhor: de acordo com as equações de Einstein, a velocidade da luz é a velocidade-limite do cosmos, mas essa regra não se aplica ao próprio cosmos, apenas ao movimento das coisas que estão no espaço (e não ao espaço em si).
Para entender melhor, imagine o Universo como um panetone no forno e as galáxias como as uvas-passas, que se afastam umas das outras conforme a massa cresce. Quando o panetone dobra de tamanho, duas passas que estavam a 5 cm uma da outra ficam a 10 cm, e outras que estavam a 10 cm ficam a 20 cm. Isso acontece porque a velocidade é relativa. Do ponto de vista de uma uva-passa, suas irmãs mais próximas se afastam mais devagar do que as que estão mais distantes. Se o panetone dobra de tamanho 20 minutos depois de ser colocado no forno, a uva-passa que estava a 5 cm se afastou a 1 cm/min, e a que estava ao dobro da distância (10 cm), com o dobro dessa velocidade (2 cm/min). Se o panetone fosse do tamanho da Terra, a velocidade de afastamento entre uma uva-passa no Brasil e outra no Japão seria de milhares de quilômetros por minuto.
No Universo, as distâncias são astronômicas (sem trocadilho). A distância que separa as galáxias é de milhares ou milhões de anos-luz (lembrando que um ano-luz corresponde à distância que a luz percorre no vácuo em ano, que é de cerca de 9,5 trilhões de quilômetros), e elas se afastam umas das outras a velocidades superiores à da luz. Se uma hipotética espaçonave alcançasse a velocidade da luz, seus ocupantes veriam o Universo como um borrão e simplesmente "parariam no tempo". Se a humanidade durar o bastante, talvez uma dia isso venha a ser comprovado ao vivo e em cores.
(*) Acredita-se que partículas de alta energia, como os neutrinos, possam superar a velocidade da luz no vácuo.
(**) O tempo de reação a um estímulo qualquer varia conforme a distância, o tipo de neurônio e a complexidade, mas, em média, a informação viaja através dos neurônios a 360 km/h.