segunda-feira, 22 de julho de 2024

BUG DO MILÊNIO EM EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA

VIVA CADA DIA COMO SE FOSSE O ÚLTIMO; UMA HORA VOCÊ ACERTA.


Em meados da década de 1950, quando os primeiros mainframes foram criados, o hardware custava caríssimo e cada byte contava. Os programadores precisavam espremer seus códigos no menor espaço possível, e escrever o ano com dois dígitos em vez de quatro proporcionava uma economia colossal. 

A possiblidade de as máquinas enlouquecerem quando os relógios saltassem de 23h59 em 31/12/99 para 00h00 de 01/01/00 foi relativizada, já que os programas de então estariam mortos e sepultados no ano 2000. No entanto, era preciso manter a compatibilidade dos novos softwares com os antigos, e o jeito foi continuar registrando o ano com dois dígitos. Conforme a "virada" se aproximava, a expectativa de que o "00" fosse interpretado como uma volta a janeiro de 1900 aumentava. Centenas de bilhões de dólares foram gastos com medidas preventivas. Na França, o Crédit Agricole gastou quase € 140 milhões e a France Telecom, € 160 milhões. A empresa de trens francesa SNCF parou seus trens entre 23h55 e 00h15. Mas acabou que o temido bug do milênio foi muito peido e pouca bosta. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Cresce a pressão no Partido Democrata para que Biden desista de concorrer à reeleição. Depois de dizer que só retiraria sua candidatura se sua saúde o exigisse, o macróbio foi diagnosticado com Covid e cancelou um comício que faria em Las Vegas. Trump, por sua vez, renovou o entusiasmo num discurso de mais de uma hora em Milwaukee. Começou emotivo, pregando união e prometendo "um amanhã rico e maravilhoso” para cidadãos de todas as raças, religiões, cores e credos", mas o tom ameno foi abandonado. Quando parou de ler o teleprompter, o peruquento voltou a atacar democratas e a chamar imigrantes de criminosos, a falar em fraude eleitoral, referir-se à Covid como "vírus chinês", a mentir sobre dados da inflação e a desenhar um país à beira do apocalipse. Repetiu o mote "drill, baby, drill" — espécie de grito de guerra pró-exploração de petróleo e gás — e afirmou não ser "inimigo da democracia", mas seu "salvador". Como se costuma dizer, o lobo perde o pelo, mas não abandona o vício. Entrementes, aliados da vice-presidente Kamala Harris vêm se movimentando nos bastidores para garantir que ela seja a escolhida como líder da chapa caso Biden se afaste. A ver o que vai dar.

Não se sabe se o dinheiro investido ajudou a evitar o desastre, já que as falhas foram igualmente pontuais na Itália, na Coreia do Sul e em outros países que não investiram em prevenção. No Brasil, o governo federal montou uma "sala de situação" do setor elétrico. O governador de São Paulo criou um site para acompanhar os efeitos da "catástrofe" no Estado e o prefeito da capital, antevendo a possibilidade de panes em semáforos causarem congestionamentos monstruosos, colocou 2.700 funcionários da CET de prontidão. Mas os relógios deram meia-noite e nada de incomum aconteceu. Não no réveillon de 2000, pelo menos.
 
Na última sexta-feira (19), um "apagão cibernético" levou ao cancelamento de milhares de voos, causou problemas de comunicação em várias partes do mundo e paralisou sistemas bancários e serviços de emergência. Os impactos foram mais sentidos nos EUA, na Austrália e em alguns países europeus, mas aplicativos do Bradesco, Pan, Neon e Next e fintechs amanheceram com problemas também no Brasil. Nas redes sociais, memes com os dizeres"o bug do milênio chegou 24 anos atrasado" e que "deveria ser rebatizado de Bug Rubens Barrichello" começaram a pipocar já no início da manhã.
 
Pivôs do imbróglio, Microsoft e CrowdStrike se apressaram a identificar e corrigir o "problema subjacente", mas reconheceram que intermitências pontuais poderiam persistir por horas ou dias a fio, já que a natureza do problema exigia a reinicialização manual dos sistemas afetados. 
Em entrevista à imprensa, o CEO da CrowdStrike — empresa de segurança cibernética reconhecida mundialmente por seu sistema de detecção e resposta a ameaças — reconheceu que um bug numa atualização do Falcon Sensor foi o responsável pelas falhas do Azure da Microsoft e pediu desculpas pelo transtorno (nem o Linux nem MacOS apresentaram instabilidades).  
 
Mais de 29 mil clientes CrowdStrike utilizam o Falcon, incluindo empresas dos setores de varejo, saúde, serviços financeiros. A ferramenta inspeciona tudo que acontece nas máquinas para prevenir e neutralizar ataques, mas a falha na atualização de sexta-feira foi fatal para o Windows 
— que, ironicamente, é useiro e vezeiro em brindar os usuários com atualizações problemáticas

Menos de 1% dos computadores corporativos com o sistema da Microsoft foram afetados pela falha (pior seria o problema tivesse sido causado um ataque hacker, já que isso abalaria seriamente a credibilidade do Falcon, que serve justamente detectar e prevenir ataques cibernéticos). Como os criminosos se valem de casos de grande repercussão para disparar mensagens com instruções enganosas e ludibriar suas vítimas, recomenda-se aos usuários domésticos do Windows redobrar os cuidados com mensagens que usem a CrowdStrike como gancho. 

ObservaçãoUma reedição revista e atualizada do "bug do milênio" deve ocorrer às 3h1min7 de 19 de janeiro de 2038, quando os processadores de 32 bits, que contam o tempo desde 1970, chegarão ao limite de segundos e pararão de funcionar, continuarão funcionando com a data errada ou iniciarão uma contagem regressiva de  2.147.483.647 até zero. Atualmente, a maioria dos chips é de 64 bits, mas alguns sistemas usados na operação de servidores ainda são baseados na arquitetura de 32 bits. Enfim, quem viver verá.

Barbas de molho, pessoal.