Durante seu primeiro mandato, Lula aposentou o Boeing 707 usado por todos os presidentes desde 1986 e mandou comprar um Airbus A319CJ, que custou aos cofres públicos US$ 56,7 milhões mais US$ 13,5 milhões para a inclusão de uma suíte presidencial.
No início da atual gestão, o petista manifestou o desejo de adquirir uma aeronave com maior autonomia de voo. A FAB aventou duas opções para o Aerojanja: equipar um dos Airbus A330-200 comprados durante o governo Bolsonaro com uma suíte com chuveiro, escritório, sala de reuniões e 100 poltronas para acomodar a comitiva presidencial e jornalistas ou adquirir um novo avião, já com as configurações prontas.
A ideia foi engavetada para não comprometer o equilíbrio das contas públicas, mas voltou à baila no inicio deste mês, devido a pane no Aerolula quando sua majestade e seu séquito retornavam da Cidade do México para Brasília.
MAIS DO MESMO
Restavam quatro debates até o segundo turno: o do UOL/RedeTV, nesta manhã, o da TV Record, às 21h do sábado 19, o do UOL/Folha, às 10h da segunda-feira 21, e o da TV Globo, às 22h da sexta-feira 25.
Com 22 pontos de desvantagem e 58% de rejeição no penúltimo Datafolha, Boulos precisava de um resultado épico no debate da Band, mas obteve um placar magro. Nunes perdeu o debate para o apagão, mas conseguiu evitar uma goleada com jeito de virada a menos de duas semanas da eleição.
Boulos exagerou ao trazer para o segundo tempo esqueletos já bem sacudidos no primeiro e grudar no oponente as pechas de fraco e corrupto. O prefeito, que havia colado sua imagem em Bolsonaro para deter Pablo Marçal, busca agora se decolar do capitão para fugir de sua alta rejeição, mas mete os pés pelas mãos ao pensar com as pernas.
Nunes marcou uma reunião extraordinária para o exato instante do debate desta manhã. "Urgências da prefeitura surgidas desde a tempestade de sexta-feira passada", justificou. E outros eventos serão cancelados "por conta das mudanças climáticas previstas para sexta-feira", anotou no comunicado, evidenciando que não só foge do temporal da semana passada, mas também vive a síndrome das tempestades que estão por vir.
Candidatos confessam de bom grado suas virtudes, mas nunca as covardias. O prefeito pode fugir do adversário, da ansiedade, do imponderável, de São Pedro e do raio que o parta, mas não pode escapar de si mesmo. Um candidato que descrê do próprio favoritismo corre o risco de perder a eleição não para o oponente, mas para o espelho.
No último dia 6, em entrevista à rádio O Povo/CBN, Lula informou que comprará não um, mas dois novos aviões para uso dele, de seus ministros e de outros integrantes do primeiro escalão do governo. Com a tranquilidade de quem fala em comprar um novo par de sapatos, disse que encarregou o ministro da Defesa, José Múcio, de avaliar propostas de aviões. Declarou que um presidente da República não pode "correr riscos". Que "é uma vergonha o Brasil não se respeitar". Antecipando-se às críticas, afirmou que "a ignorância não pode prevalecer", pois a nova aeronave "não é para o Lula, Bolsonaro ou Fernando Henrique, é para a instituição, quem quer que seja eleito". Em suas palavras, "não se governa" um país como o Brasil "com ministro coçando em Brasília".
Lula acertou na mosca ao dizer que "a ignorância não pode prevalecer". Alguém que decide renovar a frota sem oferecer explicações razoáveis ao contribuinte corre o risco de ignorar sua própria ignorância. Em nações desenvolvidas, onde os responsáveis pelo cofre não precisam ralar para obter o equilíbrio de caixa, ministros carregam a própria bagagem e entram na fila do check-in ao lado dos cidadãos que pagam a conta.
Observação: Conta-se que general Golbery do Couto e Silva (que era conhecido como "O Bruxo" nos tempos da ditadura militar) teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de comunista, que não passava de um bon vivant, que deixou de ser operário quando fundou o PT e que trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100 no momento em que encontrou quem pagasse a conta (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo).
O desempenho do Aerolula é semelhante ao das aeronaves usadas pelos líderes do G20. Sua autonomia de 11.000 km está dentro da média (11.641 km) e supera em muito a do Airbus A318-112 usado pelo presidente da Turquia, que é de 5.741 km. Com vida útil é estimada em 30 anos, a aeronave poderia continuar operando até 2035, mas Lula quer porque quer novos aviões para a Presidência.
O modelo da FAB cogitado anteriormente era o Airbus A330-200, que é usado pelo primeiro-ministro do Canadá e pelo presidente da França, cuja autonomia é de 15.094 km. A aquisição precisa do aval do Congresso, mas acreditar na lisura de parlamentares que aprovaram um fundo eleitoral de quase R$ 5 bilhões (dinheiro dos contribuintes) é o mesmo que acreditar em Papai Noel ou no coelhinho da Páscoa.
O avião presidencial mais famoso é o Air Force One — conhecido como "Casa Branca flutuante" em razão da estrutura para despachos e reuniões presidenciais —, que foi comprado em 1990 e será substituída em 2027 por um Boeing 747-8i, igual ao usado pelo presidente sul-coreano e o maior dentre os aviões de chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo (noves fora o México, que não tem um avião presidencial; a pretexto de uma política de austeridade fiscal, as autoridades usam somente voos comerciais).
Triste Brasil.
Triste Brasil.