CONSTRUIR PODE SER UMA TAREFA LENTA E DIFÍCIL DE ANOS; DESTRUIR PODE SER UM ATO IMPULSIVO DE UM ÚNICO DIA.
A geladeira Frigidaire que havia em casa quando eu nasci tinha mais de 10 anos, mas continuou em uso até meados da década de 1970. Depois de trocar a borracha de vedação da porta e pintar o gabinete umas três ou quatro vezes, meu pai finalmente comprou um modelo de duas portas da Brastemp — que durou até a virada do século.
A relação entre pessoas e artefatos teve início em tempos imemoriais, mas a história do consumo remonta à Idade Média, quando a aquisição de produtos que até então visavam atender às necessidades da família ganhou um viés, digamos, hedonista. Com a Revolução Industrial, diversos artefatos que até então eram manufaturados passaram a ser produzidos em larga escala, estimulando um consumismo que se tornaria (como de fato se tornou) parte indissociável do comportamento humano.
Em outras palavras, os fabricantes dos assim chamados "bens duráveis" — porque eram feitos para durar — passaram a se valer da obsolescência programada para estimular o consumo repetitivo. Daí o lançamento de novos modelos ou versões em intervalos de tempo cada vez mais curtos, acompanhadas de campanhas de marketing que visam dar aos consumidores a ideia de que as novas funcionalidades (que por vezes não passam de inutilidades) justificam a substituição de algo em perfeitas condições de conservação e funcionamento por algo supostamente “superior”.
Em economias terceiro-mundistas, como é o caso da nossa, o poder aquisitivo das classes menos favorecidas não permite transformar em realidade o que se convencionou chamar de "sonho de consumo". Para contornar esse empecilho, a indústria reduz a "vida útil" de seus produtos, antecipando o momento da troca por um modelo estalando de novo.
Observação: Entende-se por "vida útil" o período de tempo ao cabo do qual o produto perde a validade ou deixa de apresentar o desempenho esperado, e por "bens duráveis" os produtos que só se deterioram ou perdem a utilidade com o uso persistente por um longo período, como no caso dos automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e afins.
Muitos "bens duráveis" parecem vir programados para "pifar" assim que a garantia termina, e como o conserto pode custar tanto quanto a troca por um modelo novo, o pagamento parcelado "sem juros" e os 12 meses de garantia contra defeitos de fabricação recomendam a substituição. No caso dos microcomputadores, desktops e notebooks de configuração razoável podem prestar bons serviços por mais de 5 anos, mas os smartphones tendem a ser substituídos em intervalos menores, seja porque estão mais sujeitos a quedas, furtos e roubos, seja porque os aparelhos deixam de receber atualizações do sistema (sobretudo os modelos baseados no Android) depois de 2 ou 3 anos.
Isso nos leva à seguinte pergunta: o que fazer com o aparelho usado quando compramos um novo? A resposta fica a próxima postagem.