A volta da picanha à mesa dos brasileiros — uma das promessas de campanha de Lula — era mito: o preço da rainha dos churrascos continua tão indigesto quanto a terceira gestão do macróbio, cuja aprovação vem despencando até mesmo entre seus eleitores mais cativos.
Deixando de lado as costumeiras más escolhas dos eleitores (que repetem a cada pleito o que Pandora fez uma única vez), a picanha é cercada por mitos e controvérsias, seja no que tange à qualidade — que varia de um frigorífico para outro — seja em relação ao preparo — há quem prefira assá-la inteira, quem prefira grelhá-la em pedaços, cortada em bifes, enfim...
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Defender o indefensável não é tarefa fácil. Sem uma defesa crível, Bolsonaro et caterva tentam mover montanhas para atingir seus objetivos (não raro escusos).
Quando cobriu os ombros subservientes de Kássio Nunes Marques com a suprema toga, o aspirante a tiranete e futuro réu dispensou os pudores, chegando mesmo a dizer que escolheu o desembargador piauiense "com quem tomou muita tubaína") para ter "10% da corte", a despeito de os títulos de "pós-doutor" em Direito Constitucional pela Universidade de Messina e a pós-graduação em contratação pública pela Universidad de La Coruña serem, respectivamente, um ciclo um ciclo de palestras e um curso de extensão de cinco dias.
Ainda assim, em seu penúltimo voto, o ministro "10%" deixou o padrinho 100% insatisfeito ao integrar a maioria que indeferiu os pedidos de suspeição apresentados pelas defesas, visando afastar Moraes, Dino e Zanin do julgamento da denúncia. Como se viu, nem mesmo a toga que o capetão trata como "gorjeta" comprou a tese da defesa.
Na época em que indicou o "terrivelmente evangélico" André Mendonça para o Supremo, Bolsonaro refez as contas: "Agora são dois ministros que representam 20% daquilo que gostaríamos que fosse decidido e votado", disse. Errou na matemática — duas de onze togas correspondem a 18% —, mas logrou êxito parcial: o apadrinhado rejeitou o afastamento de Zanin, mas foi terrivelmente leal padrinho ao votar pela suspeição de Moraes e Dino, evitando, assim, a unanimidade.
Ex-ministro da Justiça e pastor evangélico, Mendonça credenciou-se à toga por serviços prestados previamente, mas Nunes Marques demonstrou que a fidelidade a posteriori é menos garantida.
É importante manter a capa de gordura enquanto a carne estiver assando — pode-se retirá-la antes de servir ou deixar essa decisão a critério de cada comensal. Vale lembrar que outros cortes, como o cupim e o bife ancho, possuem maiores quantidades de marmoreio (tipo de gordura que não dá para remover) e nem por isso são menos apreciados.
Picanha se tempera com sal grosso, lecionam os palpiteiros de plantão, mas o fato de esse corte dispensar outros temperos e marinadas não significa que você não os possa usar. Se preferir ficar com o sal grosso, aplique-o pouco antes de levar a carne à churrasqueira. Usar abacaxi como amaciante pode deixar a picanha molenga e menos saborosa; se for preparar uma marinada com abacaxi, não deixe a carne em contato com o líquido por mais de 30 minutos. E lembre-se: o jeito certo de cortar carne é no sentido contrário das fibras, que na picanha ficam do lado oposto ao da capa de gordura.
Assim como fazem os maus políticos, o bom churrasqueiro deve dourar a picanha por fora e "esconder" seu interior vermelho e sangrento. Selar a carne ajuda a criar uma crosta saborosa e preservar sua suculência, mas é preciso esperar que o braseiro atinja a temperatura adequada para alcançar o ponto desejado de maneira uniforme.
Por outro lado, muito tempo de grelha pode ressecar a carne, deixando-a sem sabor (o ideal é servi-la ao ponto ou malpassada).
A picanha é a queridinha do churrasco brasileiro, mas pode ser assada no forno, grelhada na frigideira em bifes, e até preparada na airfryer.
Bom apetite.
A picanha é a queridinha do churrasco brasileiro, mas pode ser assada no forno, grelhada na frigideira em bifes, e até preparada na airfryer.
Bom apetite.