terça-feira, 18 de novembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 54ª PARTE

NÃO SABENDO QUE ERA IMPOSSÍVEL, FOI LÁ E FEZ.

Os hipotéticos buracos de minhoca — também conhecidos como pontes Einstein-Rosen — são tidos como "atalhos cósmicos" que surgem nas proximidades ou no fundo dos buracos negros e interligam dois pontos distantes do Universo, inclusive em galáxias diferentes ou em outros momentos da linha do tempo.

 

Mais de um século antes de os buracos negros emergirem das soluções de Schwarzschild para as equações relativísticas de Einstein, o cientista inglês John Michell propôs a existência de "estrelas escuras" (em 1783) e o astrônomo francês Pierre-Simon de Laplace publicou conclusão similar em seu livro Exposition du Système du Monde (1796). O primeiro exemplar foi fotografado pelo Horizon Telescope em 2019, mas os buracos de minhoca seguem envoltos nas brumas da especulação.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A investigação sobre o assalto de R$6 bilhões contra os velhinhos aposentados ainda nem terminou e já surge no noticiário outra perversão: o endividamento de crianças. Adultos contraíram cerca de R$12 bilhões em empréstimos consignados em nome de menores que deveriam proteger. 

Portadora da Síndrome de Down, a menina Clara, de sete anos, recebe auxílio de um salário mínimo e está pendurada no consignado com uma dívida de R$38 mil, contraída por uma tia materna que detinha sua guarda legal.

A contratação de empréstimos por pais, curadores, tutores ou procuradores das crianças foi autorizada pelo INSS em 2022, sob Bolsonaro. As instituições financeiras poderiam ter soado o alarme, mas não costumam mexer no time que está perdendo no INSS. Assim, a aberração sobreviveu à chegada de Lula e só foi interrompida há quatro meses — não por opção do governo, mas por ordem da Justiça. 

A melhor maneira de prever o futuro de um país é observando o modo como trata seus velhos e suas crianças. Não é à toa que o Brasil se tornou o mais antigo país do futuro do mundo.

 

Como já aconteceu várias vezes na astrofísica, o que vale hoje pode ser refutada amanhã. A fusão nuclear, por exemplo,  foi considerada uma reação exclusiva do Sol até a detonação da primeira bomba de hidrogênio liberar energia equivalente a 10 megatons de TNT. Einstein revolucionou a física ao mostrar que o espaço e o tempo formam uma estrutura única e indissociável (espaço-tempo), que tudo é relativo no Universo (com exceção da velocidade da luz) e que o tempo desacelera à medida que a velocidade do observador aumenta — como bem ilustra o paradoxo dos gêmeos. 

 

Se os fótons viajam no vácuo a cerca de 300.000 km/s, é porque são partículas de luz e, portanto, não possuem massa. Já partículas com massa exigem quantidades crescentes de energia para acelerar, tendendo ao infinito ao se aproximarem da velocidade da luz. Mas esqueceram de combinar com os táquions — partículas hipotéticas que nascem superluminais, ganham velocidade à medida que perdem energia e se movem no sentido inverso ao da seta do tempo. 

 

Na formulação matemática da relatividade, quando os táquions se movem — e eles sempre se movem mais rápido que a luz —, sua energia e seu momento seriam reais e positivos, mesmo que sua massa de repouso seja imaginária. Isso é matematicamente possível porque as transformações relativísticas envolvem fatores que "cancelam" a natureza imaginária da massa quando a velocidade excede a da luz. 

 

Essas partículas hipotéticas nunca foram observadas experimentalmente, mas sua descrição é matemática viável. Pesquisadores da Universidade de Varsóvia chegaram a propor uma extensão da teoria relatividade especial para explorar sua possível existência. Se confirmados, eles violariam o Princípio da Causalidade daria azo a paradoxos tão complexos quanto o do Avô — exigindo, inclusive, a reformulação das Transformações de Lorentz. Mas essa é uma outra história e fica para uma outra vez.

 

A sonda espacial mais rápida já lançada atingiu 692 mil km/h em dezembro do ano passado. Essa velocidade equivale a 0,064% da velocidade da luz, e é suficiente para ir da Terra à Lua em menos de uma hora e ao Sol em cerca de 10 dias. Mas uma viagem até Gaia BH1 — o buraco negro mais próximo da Terra — levaria cerca de 2,5 milhões de anos. Talvez haja um buraco de minhoca por lá, mas não temos como enviar uma missão tripulada para conferir. Os efeitos da dilatação temporal só são significativos em velocidades próximas à da luz, e nossa hipotética precisaria se mover a 99,9% da velocidade da luz para que a viagem de quase dois milhões e meio de anos (pelo tempo terrestre) parecesse durar alguns minutos para os astronautas. 

 

Supondo que essa viagem fosse possível e que existisse um buraco de minhoca em Gaia BH1, seria necessária uma quantidade imensa de matéria exótica (com densidade de energia negativa) para mantê-lo atravessável. Além disso, não se sabe se esses "túneis" atraem matéria por uma boca e a devolvem pela outra ou se ambas as bocas apenas "engolem" — hipótese em que a matéria ficaria presa num loop insano até ser destruída no ponto central.

 

"Matéria exótica" é um termo usado na física teórica para descrever substâncias com propriedades incomuns, como densidade de energia negativa ou massa negativa — capazes de gerar efeitos gravitacionais repulsivos. Já a "matéria escura" é uma forma invisível de matéria que interage gravitacionalmente, mas não emite luz nem possui, até onde se sabe, propriedades exóticas. Um exemplo clássico de energia negativa é o Efeito Casimir, descoberto em 1948, segundo o qual a densidade de energia em certas regiões do espaço pode ser menor que a do vácuo. 

 

Alguns cientistas acreditam que, devido aos efeitos gravitacionais extremos e à geometria complexa do espaço-tempo no interior dos buracos de minhoca, uma nave poderia levar mais tempo para atravessar o túnel do que se viajasse diretamente pelo espaço. Embora conceitualmente representem "atalhos" entre pontos distantes no espaço-tempo, esses túneis podem ser tão instáveis ou tortuosos que, numa viagem a Marte, por exemplo — que a sonda Mars Insight fez em menos de 6 meses —, o trajeto poderia levar mais de 50 anos. 

 

Não é de hoje que se tenta harmonizar buracos de minhoca e física quântica. Uma proposta intrigante sugere que esses túneis hipotéticos e o emaranhamento quântico estão ligados pela equação ER=EPR — em que ER se refere às pontes de Einstein-Rosen e EPR, ao paradoxo de Einstein-Podolsky-Rosen. A ideia central é que o emaranhamento quântico e os supostos atalhos cósmicos seriam, na verdade, duas manifestações distintas de um mesmo fenômeno físico fundamental. 

 

Tudo isso pode parecer roteiro de filme de ficção científica, mas vale lembrar que inúmeras teorias revolucionárias — como o heliocentrismo, a desinfecção, a imunoterapia e a deriva continental — foram vistas como delírios até que o tempo provasse que estavam certas.

Continua...