Países não têm amigos, têm interesses. Mutatis mutandis, o mesmo vale para Bolsonaro — menos em relação a filhos, parentes e afins, naturalmente —, como
se pode inferir da troca de farpas entre o capitão e seu ministro da Justiça, que, juntamente
com o Posto Ipiranga que comanda a pasta da Economia, representa o alicerce do atual governo.
Quer outro exemplo? Então vamos lá. Durante a campanha, Bolsonaro e João Doria pareciam cantar
no mesmo coral. Passados 11 meses das eleições, a impressão que se tem é de que
ambos estão em plena disputa presidencial.
Pelo Facebook, o presidente acusou o governador de São Paulo de “mamar nas tetas” dos governos petistas ao comprar um jatinho financiado a juros subsidiados pelo BNDES. Dória, que já havia criticado o Bolsonaro dias atrás, por conta de suas posições em relação às queimadas na floresta Amazônica, deu o troco no mesmo dia: “Quero Lula e Dilma distantes, se possível do Brasil, até. Que fiquem onde estão, Lula na prisão e Dilma no ostracismo.”
Pelo Facebook, o presidente acusou o governador de São Paulo de “mamar nas tetas” dos governos petistas ao comprar um jatinho financiado a juros subsidiados pelo BNDES. Dória, que já havia criticado o Bolsonaro dias atrás, por conta de suas posições em relação às queimadas na floresta Amazônica, deu o troco no mesmo dia: “Quero Lula e Dilma distantes, se possível do Brasil, até. Que fiquem onde estão, Lula na prisão e Dilma no ostracismo.”
Alexandre Frota,
que recentemente trocou o PSL pelo PSDB, tomou as dores do padrinho: “É mais honesto e coerente empresários
buscarem financiamento no BNDES do
que [Bolsonaro] buscar dinheiro no Queiroz Investimento”, disse,
referindo-se a Fabrício Queiroz,
ex-assessor de zero um e amigo do presidente
desde os tempos de antanho. O deputado também acusou o presidente de brigar sozinho, “como
já brigou com o Rodrigo Maia, com o Davi Alcolumbre e comigo”. “Se tem alguém que está errado é quem
trabalha para mudar a direção da Polícia
Federal e da Receita Federal,
quem mudou o Coaf, para segurar as
investigações sobre o Flávio Bolsonaro.”
E cá entre nós, não dá para discordar, talkey?
Nas últimas semanas, muito se falou que Bolsonaro estaria fritando seu ministro da Justiça — houve até quem
atribuísse a essa fritura a fumaça que escureceu os céus de Sampa na
segunda-feira 19. Para os palpiteiros de plantão, o presidente quer a demissão de Moro, mas este não quer sair.
Ainda.
Observação: O problema tem a ver com a popularidade do
ex-juiz da Lava-Jato; político nenhum
que se preze deixa brotar no terreno do vizinho uma arvorezinha com potencial
de fazer sombra no seu próprio quintal.
Doria acompanha atento o desenrolar dos acontecimentos. Segundo aliados, a vice-presidência numa
chapa encabeçada pelo governador em
2022 pode ser a isca para fisgar Moro à sua equipe, quebrar um alicerce do
bolsonarismo e formar o que os mais empolgados chamam de "dupla
matadora". Ainda não houve convite formal ao ministro, mas diversos
recados vêm sendo dados por interlocutores comuns dos dois. Na última terça-feira,
ao ser questionado se gostaria de Moro
em sua equipe, o governador respondeu com outra pergunta: "Quem não gostaria?". E completou: "Foi um grande juiz, é um grande
ministro. Não há convite, há admiração".
Os ânimos entre o presidente e o ministro serenaram, mas o armistício
pode ter data de validade. Moro
manteve Maurício Valeixo como
diretor-geral da PF; Bolsonaro defenestrou Ricardo Saadi da superintendência do órgão
no Rio — onde zero um está em apuros —, e vem articulando a nomeação de um delegado,
digamos, mais maleável. Se sua vontade prevalecer — e ele já deixou claro que
está aí para interferir, ou seria um presidente-banana —, Valeixo não terá como continuar comandando a PF.
Sabe Deus até quando Sérgio
Moro fabricará saídas honrosas em meio
a essa torrente de desonras. Se Bolsonaro
sancionar sem vetos a lei de abuso de autoridade, ignorando as recomendações do
ministro, este terá de avaliar com quantos batráquios se faz a indigestão de um
"patrimônio nacional", como o chefe se referiu a ele na última
quinta-feira.