De acordo com José
Saramago, Nobel de Literatura em 1998, “a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que
nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito”.
Trata-se de uma
alusão a um tipo de cegueira
mental, na qual o escritor português joga com a diferença entre as palavras
ver e olhar. O olhar aparece como a própria visão, o ato de enxergar, ao passo
que o ver aparece como a capacidade de observar, de analisar uma situação. Para
ele, a dificuldade em conseguir enxergar além do superficial pode ser encarada
como a alienação do homem em relação a si mesmo.
Dito isso, passemos a Gleisi
Hoffmann ― codinome “coxa” na
planilha de propinas da Odebrecht. Ícone
do panteão petista, a lourinha vermelha se tornou ré por ter recebido R$ 1
milhão em propina para sua campanha em 2010, e é investigada por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro (segundo a PF,
ela recebeu R$ 4 milhões em propina da Odebrecht,
em 2014, disfarçada de doação eleitoral). No entanto, esse currículo exemplar não impediu sua escolha para substituir o insosso
Rui Goethe da Costa Falcão na
presidência do PT. Antes pelo
contrário: ninguém melhor do que um criminoso para comandar uma quadrilha.
Demais disso, o exemplo vem de cima: o eterno presidente de honra do PT e principal articulador da promoção
de Gleisi foi condenado a 9 anos e 6
meses de prisão no processo que envolve o notório triplex no Guarujá e é
investigado em mais cinco ações penais, duas das quais sob a pena do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba.
Gleisi fez por
merecer o posto. Durante o impeachment de Dilma, ela liderou a tropa de choque
da imprestável, e após o desfecho norteou sua atividade parlamentar pela política
do quanto pior melhor, além de vir promovendo uma oposição inconsequente que em
nada contribui para o avanço do país. Semanas atrás, por orientação do
ex-guerrilheiro de araque e ora presidiário José Dirceu e do mui suspeito presidente da CUT, ela e mais quatro “companheiras de ideologia” ocuparam por
mais de 6 horas a mesa diretora do Senado, como forma de obstruir a votação da
reforma trabalhista (que acabou sendo aprovada mesmo assim). Para um país que mal superou o trauma de
ter como primeira presidente mulher uma besta teleguiada pelo padrinho, esse protesto feminista com controle remoto
masculino foi algo lamentável.
Ao assumir a presidência do partido, Gleisi declarou que o PT
não faria autocrítica de seus atos escabrosos para não fortalecer o discurso
dos adversários: “não somos organização
religiosa, não fazemos profissão de culpa, tampouco nos açoitamos. Não vamos
ficar enumerando nossos erros para que a direita e a burguesia explorem nossa
imagem”. Demais disso, vem enaltecendo a ditadura venezuelana. Ao abrir o
23º encontro do Foro de São Paulo,
na Nicarágua, a senadora prestou solidariedade ao PSUV ― vítima, segundo o PT,
de violenta ofensiva da direita pelo poder na Venezuela. “Temos a expectativa de que a Assembleia Constituinte possa contribuir
para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana e que as
divergência políticas se resolvam de forma pacífica”, disse a desqualificada,
a despeito de aquele país amargar a segunda maior taxa de homicídios do mundo,
conviver com uma taxa de inflação de 2.200% e um índice de desnutrição infantil
que já alcança 20% das crianças com menos de 5 anos, além de contabilizar mais
de 100 mortos na “quase guerra civil” em que se encontra já há algumas semanas.
E Gleisi, com a cara mais deslavada
do mundo, atribui as denúncias contra o governo de Nicolás Maduro a uma
campanha da CIA e da “imprensa golpista”.
O que mais me causa espécie é a “valorosa militância vermelha”
continuar endeusando líderes imprestáveis e apoiando incondicionalmente gente
da pior espécie. Talvez a tal cegueira mental impeça essa gente de ver o que salta
aos olhos das pessoas normais. Por que, então, Gleisi não faz a trouxa, pega sua turma e se muda para a Venezuela
ou para Cuba? Ou será que ela acredita mesmo que conseguir driblar eternamente
a justiça escondendo-se debaixo do manto pútrido do foro privilegiado?
Vamos ver o que vai dar no próximo dia 28, quando Gleisi e o
marido, o ex-ministro petralha Paulo
Bernardo, deverão prestar depoimento no STF. Cadeia
neles! E Lula Lá!
Confira minhas atualizações diárias sobre
política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/