Desta vez as urnas confirmaram o que as pesquisas indicavam
e a gente achava que aconteceria, embora o receio de uma reviravolta causasse certa inquietação — nunca é demais lembrar que estamos no Brasil, e no Brasil nem o passado é
previsível.
Ao final de uma disputa sui generis, que começou com
mais de 20 pré-candidatos, transcorreu em grande medida com um criminoso
condenado e preso figurando como o queridinho do eleitorado, foi travada no
primeiro turno por 13 postulantes e levou ao segundo justamente os
representantes dos dois extremos do espectro político-eleitoral, o PT foi derrotado e, pela primeira vez
desde a redemocratização, um candidato com orientação política claramente de
direita foi ungido presidente (com 57,5 milhões de votos, ou seja, com uma
vantagem de 10,8 milhões de votos em relação a seu adversário).
Houve comemorações Brasil afora; em São Paulo, de onde vos escreve
este humilde articulista, gritos, fogos, panelaços e buzinaços se fizeram ouvir
a partir do momento em que a virada prometida ao sectários da seita do inferno
por Haddad, sua vice e a camarilha
petista (até mesmo como “um presente ” para Lula, que comemorou em sua cela seu 73º aniversário) já se tornara
matematicamente impossível. Desde o início da noite, milhares de pessoas se
apinhavam defronte ao MASP, na mais paulista das avenidas, aí incluídos defensores e detratores do futuro presidente. Como nas manifestações à época do
impeachment da anta vermelha, muitos manifestantes se vestiram de verde e
amarelo e gritaram palavras de ordem como “Fora
PT!” e “Mito!”.
Devido à “síndrome do macaco” (a ilustração à direita é
autoexplicativa), não acompanhei o noticiário durante todo o dia de ontem. Só liguei a TV quando associei o ribombar dos fogos ao término da apuração. Confirmada a eleição de Bolsonaro
para presidente e de João Doria para governador (esta foi mais apertada; o tucano obteve 51,75% dos votos válidos contra 48,25%
do peessedebista Márcio França) e ouvidos os discursos dos envolvidos,
mudei para a Netflix e esqueci o assunto.
Vale frisar que, a
exemplo da nefelibata da mandioca em 2014, Bolsonaro não mencionou Haddad
em seu primeiro discurso como presidente eleito, e o petista tampouco o citou
ou cumprimentou pela vitória ao se pronunciar no início da noite. No mínimo,
isso sugere que a polarização suicida e a falta de diálogo que contaminaram o
país nos últimos tempos não terminarão com o encerramento do pleito presidencial.
Por hoje é só. Amanhã voltaremos ao ritmo normal.