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sábado, 23 de junho de 2018

TEMER E A COPA DO MUNDO


Antes do assunto do dia, uma boa notícia: 

O ministro Luiz Edson Fachin julgou prejudicado o pedido de liberdade feito pela defesa do ex-presidente Lula e determinou a retirada do processo da pauta da 2ª turma (ele seria julgado terça-feira, 26). 

Em sua decisão (acesse a íntegra clicando aqui), Fachin explicou que o recurso extraordinário estava pendente de juízo de admissibilidade quando a petição foi apresentada, mas agora ele foi inadmitido pela vice-presidência do TRF da 4.ª região, o que altera o quadro processual. 

Caberá à defesa apresentar agravo contra a decisão que inadmitiu a subida do RE ao Supremo.

Futebol só rende votos para candidaturas individuais, como no caso do senador Romário, do deputado Bebeto e outros mais. Nenhum governo foi reconhecido como responsável por derrotas ou vitórias da seleção brasileira de futebol.

Para corroborar essa assertiva, o jornalista Merval Pereira lembra que em 2002 o Brasil foi campeão mundial, e o então candidato governista, José Serra, perdeu a eleição; que em 2014 fomos desclassificados pela Alemanha, e Dilma foi reeleita. Assim, a Copa na Rússia não deverá mudar os índices de aprovação do governo Temer, pois ninguém irá associar o presidente nem com a derrota nem com a vitória do time brasileiro, a despeito de sua excelência tentar se capitalizar gravando um pronunciamento totalmente inócuo, na televisão, sobre o campeonato mundial.

No caso de Putin, todavia a história é um pouco diferente. Os russos sonham em voltar a ser protagonistas no cenário mundial, e nem é preciso que a seleção vá muito longe — se passar da fase de grupos, já estará de bom tamanho. Para uma autocracia que não passa de um simulacro de democracia representativa, Putin ter  sido aplaudido em grande estilo no jogo de abertura da Copa foi uma vitória relevante, pois demonstra que sua política de dar dimensão global a eventos que a Rússia protagoniza, pelo menos como organização, reflete positivamente na sua popularidade.

Para quem não se lembra, Dilma foi sonoramente vaiada na abertura da Copa passada, sediada pelo Brasil por obra e graça do molusco abjeto e sua quadrilha. Pesa a favor do Brasil, porém, o fato de sermos uma nação democrática, onde ninguém pensou em punir quem vaiou a presidente — como na Rússia de hoje, onde vaiar Putin — e até falar mal da seleção — pode resultar em multa pecuniária e outras sanções. Mas ninguém foi obrigado a aplaudir o presidente russo ou agitar orgulhosamente a bandeira do país, até porque a autocracia de Putin não chega ao extremo da ditadura da Coréia do Norte, que obriga os cidadãos a chorar em público a morte do ditador da vez — como aconteceu quando morreu o pai do “homem do foguete”.

Até Gianni Infantino teve seus quinze minutos de glória. Ao contrário de seu antecessor, Joseph Blatter, que foi vaiado ao reprovar a atitude da torcida verde-amarela em relação a Dilma, o atual presidente da FIFA foi aplaudido ao proferir meia dúzia de palavras em russo — uma coincidência: tanto Dilma quanto Blatter perderam seus cargos após a Copa de 2014.

Causa espécie o fato de os resultados do futebol no Brasil servirem para eleger jogadores como (os já citados) Romário e Bebeto, mas não ajudarem o presidente da vez. Durante a ditadura militar, alguns dos presidentes da vez tentaram tirar proveito da seleção — Médici, que gostava de futebol, intercedeu para que Dario fosse convocado e Saldanha deixasse de ser o técnico do escrete vitorioso em 1970, e Geisel, que não gostava, tentou convencer Pelé a voltar à seleção em 1974. 

Na redemocratização, as vitórias e derrotas da seleção jamais influíram nos resultados eleitorais. Em 1994, o Plano Real teve mais a ver com a eleição de Fernando Henrique do que a conquista da Copa nos Estados Unidos. Em 1998, mesmo com a derrota da seleção canarinho, o Real voltou a impulsionar a reeleição de FHC. Em 2002, o time de Felipão trouxe o pentacampeonato, com direito a cambalhota de Vampeta na rampa do Palácio do Planalto e o beijo do presidente tucano na taça. Mesmo assim, o então candidato governista a presidente, José Serra, perdeu a eleição para Lula.

Nem mesmo a derrota em casa em 2014 — pelo humilhante placar de 7 a 1 nas oitavas de final — impediu que Dilma fosse reeleita. Aliás, Lula se reelegeu em 2006 e fez Dilma sua sucessora, em 2010, a despeito das derrotas da seleção brasileira.

O banco de investimentos Goldman Sachs — que, em todas as copas, realiza uma pesquisa global sobre as chances de cada seleção — aponta o Brasil como franco favorito por ter jogadores talentosos, um bom balanço entre perdas e ganhos e o melhor índice Elo (medição utilizada em vários esportes para calcular a força relativa entre os jogadores). A GS prevê que a final será disputada entre o Brasil e a Alemanha, mas admite que a graça do futebol está justamente na imprevisibilidade, nos elementos aleatórios que não podem ser colocados dentro de um programa de computação.

Como se vê, até mesmo os algoritmos sabem que o Brasil é franco favorito, mas também que não há elementos randômicos capazes de fazer com que Temer recupere sua popularidade.

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