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quinta-feira, 1 de março de 2018

SOBRE A DEMISSÃO DE FERNANDO SEGOVIA DA DIRETORIA-GERAL DA PF



A decisão de demitir Fernando Segovia, tomada por Raul Jungmann assim que foi empossado ministro extraordinário, sugere que a autonomia da Polícia Federal será preservada, a despeito das recorrentes tentativas de intervenção nas investigações sobre Michel Temer e seu bando.

Para chegar ao comando da PF, o ex-diretor, que foi apadrinhado por José Sarney e Eliseu Padilha, fez muitas promessas, mas não conseguiu cumprir nenhuma delas. Seu antecessor, Leandro Daiello, em mais de 10 anos no cargo, mudou a instituição e deu autonomia aos delegados. Quando  deixou o posto, sua equipe dizia que “se Segovia tentasse interferir em algum inquérito, sairia preso dali”. Não chegou a tanto, mas não faltou muito: o ministro Barroso, do STF, cobrou-lhe explicações por ele ter sugerido que as investigações contra Temer (que ainda estão em curso) seriam arquivadas, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Corte que o afastasse caso continuasse dando declarações desse tipo.

Observação: O ex-diretor chegou a afirmar até que poderia abrir investigação interna para apurar a conduta do delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito, devido aos questionamentos enviados a Temer no caso. Na ocasião, a defesa do presidente disse que as perguntas colocavam em dúvida a “honorabilidade e a dignidade pessoal” do presidente.

Jungmann começou a articular a troca do comando da PF antes mesmo de assumir a nova pasta. Segovia, bem relacionado com ícones da velha política tupiniquim, considerava-se “imexível”. Só que não. Além das entrevistas polêmicas, suas extravagâncias nos pouco mais de 3 meses à frente da PF contribuíram para o desfecho ― dentre outras bizarrices, ele pediu uma esteira ergométrica para o gabinete e decorou sua mesa com uma foto onde aparece trocando um beijo ardente com a esposa. As pressões para mantê-lo persistiram até a manhã da última terça-feira, mas Temer finalmente cedeu, até para não ficar a suspeita de que Jungmann seria um ministro enfraquecido ― e Jungmann em nada se parece com o colega da Justiça, Torquato Jardim, que engoliu a seco a nomeação de Segovia.

Ao saber da demissão por sua assessoria, Segovia ligou para interlocutores de Temer para confirmar a veracidade da informação. Estava incrédulo, porque tinha acabado de sair de uma reunião com Jungmann e nada havia sido suscitado a propósito. Temer já não estava satisfeito com as promessas não cumpridas, o que pesou em sua decisão de avalizar a troca. Além disso, as declarações sobre o inquérito dos portos jogaram luz sobre uma investigação da qual pouco se falava e quase arrastaram o presidente para uma nova investigação.

Segundo O ANTAGONISTA, a gota d’água para a demissão foi a revelação de que os delegados da PF seriam obrigados a fornecer o número de um inquérito toda vez que precisassem de reforços para uma operação. Segovia voltou atrás, mas o estrago já estava feito.

Rogério Galloro, que substituiu Segovia no comando da PF, deve trocar toda a cúpula nomeada pelo predecessor, aí incluída a diretoria executiva, que o próprio Galloro ocupou quando era o número 2 de Leandro Daiello.

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