Coisa que não falta no Brasil é palpiteiro. De futebol,
então, todo mundo entende. Mas daí a aparecer alguém competente para treinar a
seleção vai uma longa distância.
Na política, a coisa é ainda pior. Talvez porque o quadro
político seja mais dramático que o futebolístico. Mas o que tem de gente que
confunde alhos com bugalhos, defende quem não presta, presta vassalagem a quem não
merece e polui as redes sociais com o que um amigo meu classifica como “bostagens”
não está no gibi.
No âmbito da economia, então, a coisa é gritante. Gente que
está com a corda no pescoço, com o cheque especial estourado e o cartão de
crédito bloqueado ousa ensinar o padre-nosso ao vigário. E como economia e
política se fundiram (leia direito antes de pensar bobagem) numa crise sem
precedentes, gerada e parida pela mulher
sapiens -- também conhecida por “Janete”, como nossa cara ex-presidanta se identifica ao atender ligações de telemarketing ―, o que não
falta é ex-ministro da Fazenda, do Planejamento, da Economia ― ou seja lá que
nome tivesse a pasta quando o palpiteiro a comandou ― dando pitacos. Resolver
os problemas do país, que é bom, nenhum deles resolveu (ou até resolveu, se pensarmos no Plano Real de FHC, mas isso é outra história).
Seja como for, alguns pitacos merecem cuidadosa reflexão,
como o de Maílson da Nóbrega,
ex-ministro da Fazenda no governo Sarney.
(Lembra do Plano Cruzado? Pois é! Só
que o “pai” desse desatino foi Dilson
Funaro; Maílson sucedeu a Bresser e sob seu comando amargamos o
igualmente desditoso Plano Verão,
que cortou três zeros da nossa moeda e a rebatizou de Cruzado Novo, mas isso também é outra história).
Em seu artigo na edição de Veja desta semana, Maílson
pondera que, mesmo sem ter intenção, a ex-grande-chefa-toura-sentada-ora-impichada
acabou prestando ― com enormes custos, ressalva o economista paraibano ― dois
favores ao Brasil. Primeiro, ela provou que ideias fracassadas de política
econômica não se tornaram virtuosas sob gestão petista. Segundo, ela acelerou o
encontro com uma dura realidade fiscal, o que antecipou uma agenda da qual o
país não escaparia, talvez quando as contas estivessem mais fragilizadas.
Confira um excerto do texto:
“Em seu tempo, Dilma ressuscitou ações cuja época havia passado ou que
foram malsucedidas em outros momentos. Na verdade, a adoção de medidas ‘desenvolvimentistas’
equivocadas teve início com Lula. Foi ele quem degradou a autonomia e a
qualidade profissional das agências reguladoras. A desastrosa lei sobre a
exploração do petróleo do pré-sal foi obra essencialmente lulista. Isso nos fez
perder tempo e oportunidades, e, ao obrigar a Petrobras a assumir as
respectivas obrigações, impôs à estatal um insano endividamento. A corrupção
institucionalizada na empresa começou no governo dele”.
Outro trecho lapidar:
“Dilma continuou a marcha da insensatez.
Restabeleceu a regra de conteúdo nacional mínimo, em especial na exploração do
pré-sal. Desprezou lições da história, as quais haviam provado que o
protecionismo inconsequente inibe a adoção de tecnologias avançadas, o que
prejudica a produtividade e o potencial do crescimento. Ela reintroduziu o
controle de preços de combustíveis, causando enorme prejuízo à Petrobras e aos
produtores de etanol (...) e desarticulou o setor elétrico, com efeitos
negativos ainda não de todo absorvidos” (...) Em seu período, a economia teve o
pior desempenho em mais de 100 anos. Doze milhões de brasileiros estão sem
emprego (...) a renda per capita voltará ao nível de 2013 somente em 2024”.
E mais outro:
“A síntese dos equívocos de Dilma foi a Nova
Matriz Econômica, fonte básica de enormes disfunções. Essa matriz abandonou uma
política econômica sensata que nos havia assegurado estabilidade econômica e
previsibilidade. (...) A gestão de Dilma acarretou uma combinação fatídica de
queda do PIB, desemprego, redução de receitas tributárias, inflação e elevação
da dívida pública. (...) Dilma levou o Brasil à beira do precipício, mas, como
no velho ditado, há males que vêm para o bem (...) Ao levar ao extremo a
insensatez de políticas fiscais suicidas, a ex-presidente retroagiu à
irresponsabilidade inaugurada com a Constituição de 1988. Isso nos pôs diante
da hora da verdade. Desse modo, ainda que por vias tortas, ela terminou por prestar
favores ao país.
Como se vê, no fundo, beeeeeeeem no fundo, tudo sempre tem um lado bom. Mas daí a ter saudades dessa sacripanta vai uma boa distância. Vade retro, Satanás!
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