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sábado, 20 de outubro de 2018

FALTAM 8 DIAS PARA AS ELEIÇÕES NO PAÍS DO CABEÇA PARA BAIXO




Era uma vez, numa terra muito distante, o País do Cabeça Para Baixo. Lá, tudo é ao contrário. A água, ao invés de descer, sobe pelas cachoeiras. As árvores crescem de ponta cabeça, com as raízes para cima e as copas enterradas no chão. Os carros andam de ré. A chuva brota do chão e cai para cima. As conversas começam com “adeus” e terminam em “oi”. Nesse país, tudo é o oposto do que a gente imagina. O que é feio é bonito e o que é bonito é feio. O que é velho é novo e o que é novo é velho.

Quando você mora no País do Cabeça Para Baixo, compreende que a vida pode ser muito mais fácil. Por exemplo, as leis são feitas para ser ignoradas; então você pode fazer o que bem entender. As regras existem para ser burladas, e sempre tem um jeitinho ou alguém que, por um trocado, resolve seu problema.

Quem mora no País do Cabeça Para Baixo aprende desde criança que estudar não é importante, porque não tem escola pra todo mundo. Nem esgoto, nem hospitais, nem segurança. Mas tudo bem, porque no País do Cabeça Para Baixo fartura é faltar.

No País do Cabeça Para Baixo, pensar no coletivo é investir no ego. Roubar não é grave. Principalmente se for político. Se alguém disser alguma coisa, eles respondem que tudo é feito pelo bem do povo. E o povo acredita.

No País do Cabeça Para Baixo, as pessoas acreditam em tudo. Em promessas, em boatos e até em mentiras deslavadas. E as verdades, aquelas óbvias e inquestionáveis, todos acham que são mentiras. Como é tudo ao contrário do que a gente imagina, quanto mais o tempo passa, menos se aprende sobre a vida, sobre as pessoas e sobre o mundo.

Este ano estão acontecendo eleições no País do Cabeça Para Baixo. Eleições são um período onde o País do Cabeça Para Baixo fica especialmente diferente de tudo que já se viu. Só o Carnaval é mais estranho que isso, com todo mundo andando pelado pelas ruas. As eleições, contando ninguém acredita.

Os dois candidatos que disputam a presidência, por exemplo, são os que mostram bem como pensa quem vive no País do Cabeça Para Baixo. O primeiro candidato nem é um candidato de verdade — está mais para um porta-voz, um candidato de mentira. É que, como o candidato para valer está preso, esse outro ocupa seu lugar.

Isso mesmo que você ouviu: preso. O tal candidato de verdade foi preso por corrupção, mas, mesmo preso, continua mandando e desmandando no que o candidato de mentira pode falar. Assim, antes de se pronunciar, o candidato de mentira tem de passar na cadeia para saber o que pode e o que não pode dizer. Porque, no País do Cabeça Para Baixo, preso é solto e solto é preso.

Você pode achar estranho, mas é só porque não vive nesse país. Muito mais estranho é que, quando a bola entra no gol, é escanteio. Quando vai fora, é gol. Vai entender.

E tem o outro candidato. Um sujeito que diz que é “a favor da tortura”, que “tem de fechar o Congresso”, que abertamente se posiciona contra gays, índios, negros, e por aí vai. Um monte de gente vibra com isso, porque no País do Cabeça Para Baixo o que é bom é ruim e o que é ruim é bom.

Um dos dois candidatos vai ganhar, e a vida vai seguir seu curso. Porque o correto, no País do Cabeça Para Baixo, é não ligar para nada. 

Em alguns meses, ninguém lembra nem em quem votou, porque no País do Cabeça Para Baixo quem sofre de amnésia é que lembra de tudo.

E olha, até hoje sempre deu certo. Que para nós, na verdade, é errado.

Texto de Mentor Neto.

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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

ELEIÇÕES — FALTANDO 9 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO...




Antes de qualquer outra coisa, cumpre esclarecer que a charge que ilustra esta postagem nada tem a ver com o texto, mas eu simplesmente não resisti. Dito isso, vamos em frente.

Um amigo meu diz que está com a “síndrome do macaco” (vide imagem autoexplicativa no final desta postagem). Vai ver esse troço é contagioso, pois também pra mim está ficando cada vez mais difícil aturar as baixarias dessa campanha eleitoral, assistir aos debates e não perder a paciência diante da avalanche de fake news espalhadas pelos adeptos de ambos os postulantes e replicadas pelos sem-noção de plantão. Mas mais difícil ainda é escrever sobre política num momento como esse. E não por falta de assunto.

Torno a insistir que não concordo com tudo que Bolsonaro diz, mas sou totalmente avesso à volta do PT ao poder, sobretudo quando isso significaria ter no Planalto um fantoche que não é capaz de dar um arroto sem pedir autorização a um criminoso condenado e encarcerado por ter rapinado o Erário a pretexto de levar adiante seu espúrio projeto de poder. Em suma, é exatamente isso que uma eventual vitória de Haddad representaria, digam o que disserem os 30% do eleitorado que apoiam esse total desatino. Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. A dicotomia começou por culpa vocês sabem de quem, com aquela história do nós contra eles, cresceu em progressão geométrica e contaminou inexoravelmente a sociedade como um todo e todas as esferas do poder — haja vista a cizânia que se instalou entre os membros da nossa mais alta Corte de Justiça. Daí não ter sido exatamente surpreendente o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, no qual candidatos “mais de centro” e muito mais preparados foram preteridos pelo eleitorado. Agora é tarde, Inês é morta, e o que temos de aturar até o dia 28 é a campanha do “votem em mim não por mim mesmo, mas contra meu adversário”.

Ao PT, mergulhado até os beiços em esquemas de corrupção, resta apontar os defeitos do deputado-capitão, já que as próprias qualidades do partido caíram em descrédito — aliás, guardadas as devidas proporções, em idêntica situação se viram os advogados do ex-presidente petralha, que, sem elementos para refutar as acusações, passaram a atacar o Judiciário, mas isso é outra conversa. Sem demonstrar qualquer arrependimento de seus atos espúrios — e olha que não foram poucos —, os petistas ficaram sem o suporte de um aliado certo — o PDT de Ciro Gomes — e não conseguiram o esperado apoio de Fernando Henrique (aliás, só mesmo se o grão-tucano tivesse sangue de barata, depois de 15 anos sendo duramente criticado e responsabilizado por uma falaciosa “herança maldita” que jamais existiu fora do imaginário dar corja vermelha).

No outro canto do ringue, Bolsonaro, com uma imodéstia, digamos, desbragada, diz que já está “com uma mão na faixa”. Convém não contar com o ovo na cloaca da galinha nem cantar vitória antes da hora, mas o fato é que, a julgar pelas pesquisas e, principalmente, pelo resultado do primeiro turno (e aí não há que se falar em margem de erro, embora estejamos no Brasil, e no Brasil nem o passado é previsível), tudo indica que o prato da balança penderá para o lado do Capitão Caverna.

Observação: Para qualquer náufrago, jacaré é tronco: enquanto o fantoche do presidiário de Curitiba fez o diabo para disseminar nas redes sociais as imagens de um menino apontando e atirando contra o pai — como forma de pregar o direito à vida e exaltar o risco da morte se a política do adversário for para valer —, Bolsonaro não precisou fazer o menor esforço para impulsionar o vídeo em que Cid Gomes chama a atenção para “os babacas” do PT (se você ainda não viu, clique aqui para acessar o post onde eu o incluí; são pouco mais de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Para encerrar esta postagem (afinal, a “síndrome do macaco” é inclemente), transcrevo mais um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo, cuja leitura recomendo enfaticamente:

As últimas pesquisas de “intenção de votos” que estão circulando na praça dizem, em números redondos, que Jair Bolsonaro está com cerca de 60% das preferências do eleitorado, contra 40% de Fernando Haddad. Mas esperem um momento: deve haver alguma coisa errada aí. Até às vésperas da votação do primeiro turno, todas as pesquisas (e a mídia insistia muito nesse ponto: todas as pesquisas) garantiam que Bolsonaro perderia de qualquer dos outros candidatos no segundo turno. Repetindo: de qualquer candidato

Nove em cada dez análises se fixavam na importância terminal desta informação vinda da ciência estatística. Podia se contar com diversos cenários, mas uma coisa pelo menos estava certa, acima de toda e qualquer dúvida: o candidato da direita iria perder a eleição no segundo turno, seja lá o adversário que sobrasse para a disputa com ele. Até o Meirelles? Aparentemente, não chegaram a medir a coisa nesses detalhes, mas as manchetes diziam que Bolsonaro perderia de todos os candidatos no segundo turno, e como Meirelles (ou o cabo Daciolo, ou o Boulos, ou o Amoedo, ou o Álvaro Dias etc.) eram candidatos, sempre dá para dizer, tecnicamente, que até essas nulidades ganhariam dele. Não aconteceu nada de extraordinário de lá para cá. Porque, então, as pesquisas preveem agora exatamente o oposto do que previam cinco minutos atrás?

Os institutos de pesquisa fariam uma especial gentileza ao público se explicassem, em umas poucas palavras compreensíveis, por que seus números devem ser levados a sério no segundo turno, se mostram agora o contrário do que mostravam no primeiro. Não conseguindo fazer isso, talvez ficasse mais simples dizer o seguinte às pessoas: “Esqueçam o que a gente deu no primeiro turno. Era tudo chute”. Chute ou torcida, tanto faz, porque uma coisa é tão ruim quanto a outra e, no fim das contas, nenhuma das duas será cobrada. Como sempre acontece, se Bolsonaro ganhar mesmo as eleições, os autores das pesquisas dirão que ficou provado o quanto eles acertaram — pois o resultado que costuma sobrar na memória é o último. 

Daqui a pouco, contando com esquecimento geral por parte do público, estarão propondo novas profecias para quem estiver interessado. E em 2022, ou já em 2021, prepare-se para ler que Lula está na frente de todo mundo com 50%, que Marina está subindo e Ciro Gomes começa a crescer. Bolsonaro, se for eleito agora e se candidatar à reeleição, estará com 0%. Na reta final os números serão ajustados de novo (“ocorreram mudanças no processo decisório”) e tudo continuará como sempre foi.

As pesquisas eleitorais de 2018 deixaram claro, mais que em qualquer eleição anterior, o quanto elas são incapazes de medir aquilo que está realmente na cabeça do eleitor. Foi um desastre. Dilma Rousseff foi garantida como a senadora mais votada do Brasil e ficou num quarto lugar em Minas Gerais. O senador de São Paulo Eduardo Suplicy, outro “eleito” pelas pesquisas, foi exterminado após 27 anos de Senado. Houve erros grotescos nas pesquisas para governador de Minas e Rio de Janeiro — os que acabaram colocados em primeiro lugar tinham 1% dos votos, ou nada muito diferente disso, até poucos dias antes da eleição. Geraldo Alckmin ficou com menos de 5% dos votos. Marina Silva ficou com 1%. No Nordeste, que foi citado durante seis meses seguidos como o grande celeiro de onde Lula poderia operar a sua “volta”, o PT teve 10 milhões de votos a menos que em 2014. Das sete capitais da região, perdeu em cinco.

Erros deste tamanho, por mais que os institutos neguem, são sintoma de alguma coisa profundamente errada no sistema todo. Como escrito acima, tudo isso tende a cair rapidamente no esquecimento, sobretudo porque não há paciência para ficar discutindo um assunto que não interessa mais até a próxima eleição. Mas o problema não vai sumir só porque não se falará mais nele.

As pesquisas, com certeza, não conseguiram captar as correntes que se movimentam no oceano da internet e do mundo digital como um todo. Não entenderam nada sobre o peso que as redes sociais tiveram no processo eleitoral. Seus questionários podem não estar fazendo as perguntas certas, na maneira certa, na hora e no lugar certos. Na disputa nacional, o papel da propaganda obrigatória na televisão, tido como algo sagrado, mostrou que está valendo zero — e as pesquisas não estavam preparadas para isso, nem para o efeito nulo dos “debates” entre candidatos na TV, das opiniões dos comentaristas políticos e da orientação geral da mídia.

Está surgindo um mundo novo por aí. Não será fácil para ninguém começar a entender como ele vai funcionar. Uma boa razão, portanto, para começar já o esforço.

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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

FALTAM 10 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — QUEM CONVERSA COM POSTE É BÊBADO!


Depois do resultado do primeiro turno, o criminoso de Curitiba concitou seu esbirro a ser “mais Haddad”. A estratégia é descolar sua imagem puída da do poste e se eximir da culpa por uma eventual derrota, para a qual terão contribuído a demora e a relutância na definição do “plano B” do PT.

Lula, que de bobo não tem nada, não esqueceu o fiasco do PT nas eleições municipais de 2016, quando seu poste perdeu a prefeitura de São Paulo para Doria no primeiro turno, mesmo tendo a tiracolo o sumo pontífice da seita do inferno. Mesmo assim, ele atribui sua crescente impopularidade no estado à derrota humilhante de Haddad, quando na verdade dá-se o inverso: a impopularidade do demiurgo é que foi determinante para a derrota de seu protegido — embora este tenha contribuído com uma péssima gestão — muitos paulistanos consideram-no o pior prefeito de todos os temos, embora Celso Pitta, Luiza Erundina, Marta Suplicy e Gilberto Kassab sejam concorrentes de peso ao título.

Observação: Do alto de sua megalomania, o deus pai da Petelândia não se vê como um criminoso condenado e réu em mais meia dúzia de processos. De tanto repetir a narrativa de que é um preso político, um perseguido, uma espécie de mártir, ele parece acreditar nas próprias mentiras.

Falando no poste, um bate-boca entre o dito-cujo e o capitão caverna viralizou nas redes sociais. Tudo começou quando o candidato do PSL tuitou uma mensagem chamando o petista de “fantoche de corrupto” — referindo-se a um comentário do adversário sobre os erros cometidos nos os governos de Lula e Dilma (no tuíte, o deputado disse que narrativa do petista não passava de uma “conversa para boi dormir”).

Essa história de o fantoche de corrupto admitir erros do seu partido é pra boi dormir. A corrupção nos governos Lula/Dilma não era caso isolado, era regra para governar. Por isso estão presos presidente, tesoureiros, ministros, marqueteiros, etc., além de tantos outros investigados”, disse Bolsonaro em sua postagem. E Haddad respondeu: “Tuitar e fazer live é fácil, deputado. Vamos debater frente a frente, com educação, em uma enfermaria se precisar. O povo quer ver você aparecer na entrevista de emprego”.

Bolsonaro tem dito que, mesmo se for liberado pelos médicos para participar dos debates televisivos, só confirmará presença se achar que deve. Em outra publicação, ele chamou o petista de “Andrade”, disse que “quem conversa com poste é bêbado” e insinuou que Haddad pode ser o próximo a cumprir pena na sede da Polícia Federal.

Como se vê, o nível da campanha é "o melhor possível". Mas esses bate-bocas até que são interessantes. Já que o troço virou circo, vamos às palhaçadas.

Piada do dia:


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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 11 DIAS...



A oportunidade de escolher um candidato “mais ao centro do espectro político-partidário” se perdeu no último dia 7. Agora não adianta chorar. Resta-nos o Capitão Caverna ou o fantoche do presidiário de Curitiba — o pior dos cenários, sem dúvida, mas previsível à luz da crescente polarização do eleitorado.

Não sei o que esperar de Bolsonaro na presidência, mas sei como foi ter o PT no poder. No mais das vezes, é melhor ficarmos com o diabo que conhecemos, mas toda regra tem exceção, e a eleição do próximo dia 28 me parece ser uma situação excepcional.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, todas as pesquisas indicam a vitória de Bolsonaro por uma vantagem considerável, embora ele seja o candidato dos sonhos somente para os bolsomínions — mais ou menos como Lula em relação aos sectários do lulopetismo. Isso significa que seu favoritismo se deve a um repúdio maciço ao PT, ou por outra, ao medo de o demiurgo de Garanhuns voltar ao poder, ainda que encarnado no fantoche que se empenha mais a cada dia em desconstruir sua própria imagem para se travestir no mestre e conquistar a simpatia da patuleia.

A pesquisa mais recente do Ibope não só reafirmou o favoritismo do capitão como também o declínio de sua rejeição, que às vésperas do primeiro turno era de 43% e agora caiu para 35%. Já o repúdio a Haddad cresceu de 36% para 47%, superando o do adversário pela primeira vez desde o início da campanha.

Sondados pelo staff petista, Joaquim Barbosa e Fernando Henrique não demonstraram grande entusiasmo em apoiar Luladdad. Jaques Wagner — que era o primeiro da lista no “plano B” do PT, mas preferiu (sabiamente) disputar uma vaga no Senado — chegou mesmo a reconhecer que o partido deveria ter desistido da candidatura própria e apoiado Ciro Gomes. Aliás, Lula atuou nos bastidores para minar as chances de Ciro chegar ao segundo turno, e agora está colhendo o que plantou: o cangaceiro de araque (Ciro é paulista de Pindamonhangaba) viajou para a Europa e seu irmão Cid, durante um ato de campanha petista no Ceará, disse à patuleia que o PT deveria ter pedido desculpas pelas “besteiras que fizeram”, por “aparelharem as repartições públicas” e por “acharem que eram os donos de um país que não aceita ter dono”. O circo pegou fogo, como se pode conferir no vídeo que eu inseri na postagem anterior (são cerca de 4 minutos, mas que valem cada segundo).

Observação: Para não perder a liderança da esquerda, o presidiário de Curitiba barrou de todas as maneiras a aliança com o PDT, inclusive ameaçando o PSB de lançar candidato em Pernambuco se o partido apoiasse Ciro. Agora, quando tudo indica que Inês é morta, surgem dentro do próprio PT sugestões de lançar a candidatura de Ciro em 2022.

A pouco mais de uma semana do segundo turno, combater Bolsonaro com um discurso genérico sobre valores e democracia, direcionado a um eleitorado eminentemente antipetista, me parece perda de tempo. Mesmo que atraísse para si todos os votos brancos e nulos, o fantoche de Lula não conseguiria vencer o adversário, e roubar seus eleitores é uma missão quase impossível, pois quem vota no capitão não vota no PT. Além disso, a ideia de formar uma aliança pluripartidária “a favor da democracia” não só não deu certo como foi desmentida (ou talvez por não ter dado certo é que foi desmentida) pelo próprio Jaques Wagner.

Bolsonaro tenta se mostrar menos radical e vem evitando os debates (que decididamente não são a sua praia). Pode ser uma boa estratégia: com ou sem debates, os que votaram nele não mudarão seu seu votos, assim como os seguidores da seita do inferno também não o farão. Se o candidato do PSL conseguir controlar seus verdadeiros adversários — que são ele próprio, seu vice e seu staff, que nem sempre cantam em coro e não raro cometem erros primários em seus pronunciamentos —, sua vitória está praticamente assegurada.

Observação: Bolsonaro deve passar por nova avaliação médica nesta quinta-feira, 18, quando será liberado (ou não) para participar de debates televisivos. Desde que teve alta, ele gravou transmissões ao vivo quase que diárias nas redes sociais, deu entrevistas a rádios e emissoras de TV e participou de alguns atos públicos, mas não dos debates programados pela Band, Gazeta e Rede TV. E o mesmo deve ocorrer no do SBT, que estava previsto para esta quarta-feira. E ainda que seja liberado pelos médicos, ele pode não participar dos debates da Record e da Globo, programados respectivamente para os próximos dias 21 e 26. Segundo o UOL, o capitão só irá aos debates “se achar que deve; se achar que não, não vai participar”. A Band remarcou seu para a próxima sexta-feira, “a depender da decisão que os médicos tomarão na quinta e que o próprio Bolsonaro tomará na sequência”, segundo o jornalista Ricardo Boechat, escalado para mediar o debate.

Os próximos anos não serão fáceis, independentemente de quem for o presidente da vez, pois sua popularidade irá evaporar tanto se ele se empenhar nas reformas necessárias ao combate do desequilíbrio fiscal quanto se não as levar adiante. Todavia, considerando os presidenciáveis que disputarão o segundo turno, o Brasil sairá do pleito mais dividido do que nunca. 

Com bem salientou Mario Vitor Rodrigues na Gazeta do Povo, “se somarmos à inabilidade política do grupo que tende a assumir o poder o seu voluntarismo para ferir estruturas básicas no senso comum e o fato de que não há função mais talhada para a esquerda do que jogar pedra na vidraça, talvez o bolsonarismo encontre a sua verdadeira vocação em poucos anos, qual seja reavivar uma esquerda que tinha tudo para passar um bom tempo no ostracismo, não fosse ela convidada para uma festa em que sempre soube muito bem como se comportar”.

Para relembrar, veja como age o candidato que se diz pronto para debater com quem for e em qualquer lugar:


E para encerrar, uma foto que traduz com rara sensibilidade como a maioria de nós se sente em relação ao cenário político:


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terça-feira, 16 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 12 DIAS




Quem acompanha minhas despretensiosas postagens sabe o que eu penso sobre as pesquisas de intenção de voto. Aliás, estatísticas devem ser tratadas com muito cuidado — basta lembrar a história dos cientistas que colocaram um sujeito com a cabeça no freezer e os pés no forno e não entendiam por que ele berrava tanto, já que, na média, deveria se sentir confortável.

Acho difícil acreditar que a opinião de 2.000 entrevistados em cento e poucos municípios traduz o que pensam mais de 140 milhões de eleitores em quase 5.600 cidades brasileiras. A propósito, basta relembrar a eleição de Doria no primeiro turno do pleito de 2016 e do retumbante fiasco de Dilma no da semana passada — embora fosse tida e havida como favorita por todos os institutos de pesquisa, a anta vermelha não chegou nem perto de se eleger.

Dias atrás, um novo levantamento feito pelo Datafolha apurou que Bolsonaro está 16 pontos percentuais à frente de Luladdad na contagem de votos válidos (58% a 42%). Para superar o capitão, o dublê de fantoche e alter ego do presidiário de Curitiba precisaria conquistar todos os votos nulos, em branco ou de indecisos.

A pesquisa FSB/BTG Pactual, cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira, diz que o candidato do PSL está 18 pontos percentuais à frente do  petista nas intenções de voto, e que sua rejeição é de 38%, enquanto a do adversário chega a 53%. Já os números publicados pelo Instituto Paraná Pesquisas — também nesta segunda-feira — dão conta de que Bolsonaro tem 59,1% das intenções de voto, contra 25,5% de Haddad (mais detalhes na figura abaixo).


Por essas e outras — mais um gripe que ninguém merece —, vou ficando por aqui, não sem antes relembrar que não concordo 100% com tudo que Bolsonaro diz, mas sou 1.000% contrário à volta do PT ao poder.

Falando no diabo, digo, nos petistas, vale a pena assistir ao vídeo abaixo até o final. São cerca de quatro minutos, mas que valem cada segundo:

   

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domingo, 14 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — FALTAM 14 DIAS


Uma vitória de Haddad no segundo turno seria mudar em 15 dias tudo o que o eleitorado brasileiro fez no primeiro, ao varrer medalhões da política e alguns próceres petistas. Não por acaso a imagem do presidiário de Curitiba desapareceu da campanha de seu fantoche e a cor vermelha, tradicional do PT, foi substituída pelo verde e amarelo.

Observação: Curiosamente, nas manifestações populares que eclodiram em 2013 e apoiaram o impeachment da anta vermelha, quem vestia camisa verde e amarela, sobretudo da Seleção, era ridiculamente acusado de “coxinha” pela turma da mortadela. Agora são os cartazes do PT que exibem militontos ostentando as cores da pátria, com a mão no peito e o olhar perdido no horizonte. Uma pantomima digna do socialismo dos tempos de Stalin.

Lula continua sendo “o grande líder” do PT e de seus satélites, mas sua rejeição cresceu a tal ponto que, na opinião do diretor do Ibope, o petralha teria sido derrotado se disputasse pessoalmente o pleito, como queriam ele e seu partido  — daí sua abjeta figura e a cor vermelha terem saído de cena na propaganda de Haddad.

Décadas se passarão até que o eleitorado tupiniquim aprender a votar. Mesmo assim, contrariando as expectativas, as urnas foram inclementes com clãs da velha política e candidatos envolvidos em corrupção. O hoje senador e presidente do Congresso não se reelegeu — e já disse que vai se retirar da vida pública. Como nada é perfeito, seu antecessor conquistou mais um mandato, e seu rebento, Renan Filho, foi reeleito governador (vale lembrar que Alagoas é o reduto de Collor, e que o ex-presidente, mesmo depois de impichado e privado dos direitos políticos, voltou ao cenário, tão logo a suspensão terminou, como o senador mais votado pelos alagoanos). Desta vez, porém, o folclórico caçador de marajás ameaçou disputar a presidência, mudou o foco para o governo do Estado e acabou se resignando a continuar no Senado até 2022 (vale lembrar que o mandato de senador é de 8 anos, e a cada 4 anos são renovados 1/3 ou 2/3 da composição da Casa). 

Os pimpolhos do imortal José Sarney também foram penalizados: nem Zequinha se reelegeu deputado, nem Roseana — que governou o Maranhão por quatro legislaturas desde 1995 — conseguiu desbancar o pecedebista Flavio Dino, que foi reeleito governador com 59,29% dos votos válidos.

Observação: Para quem não se lembra, Sarney, o velho, ingressou na política em 1954, sobreviveu à ditadura como político da ARENA (que ele chegou a presidir durante os anos de chumbo, já que sempre foi puxa saco dos poderosos da vez). Mais adiante, o partido passou a se chamar PDS, depois PFL e finalmente DEM. Em algum momento dessa sopa de letras, articulações políticas lideradas por Tancredo Neves e Ulysses Guimarães resultaram na formação da Aliança Democrática, que uniu a Frente Liberal com o PMDB e elegeu Tancredo o primeiro presidente civil desde o golpe de 1964. O resto é história recente. Sarney, que era vice na chapa do político mineiro, ascendeu à presidência com a morte do titular, e a despeito de ter feito um governo de merda, conseguiu se abancar no Senado — primeiro por seu estado natal, depois pelo Amapá — e de lá não desgrudou até 2013, quando deixou a vida pública a pretexto de se dedicar integralmente à literatura. Conta-se que certa vez um dilúvio assolou o Maranhão, e Sarney, ao ser informado pela filha Roseana — então governadora — que metade do estado estava debaixo d’água, perguntou: — A sua metade ou a minha?  

Nas alas do PT, Lindbergh Farias, Jorge Viana, Eduardo Suplicy e Gleisi Hoffmann ficarão de fora Senado na próxima legislatura. “Coxa”, que é presidente nacional do PT mas não é trouxa, baixou o facho, mirou na Câmara Federal e conseguiu uma cadeira, junto com — pasmem! — Zeca Dirceu. Mas a cereja do bolo foi o fiasco de Dilma, cuja eleição para o Senado era tida e havida como certa em todas as pesquisas. No computo geral, dos 513 deputados federais eleitos no último dia 7, 102 vão assumir um mandato na Câmara pela primeira vez. Se isso é um bom sinal, ou não, só o tempo dirá.

A duas semanas do segundo turno, o acirramento da política em meio à disputa eleitoral tem desembocado em episódios de violência física e até em assassinato. Nos últimos dias foram registrados no país diversos casos de agressão por motivação política. Entrementes, Bolsonaro resolveu não participar de debates na TV, menos por questões de saúde e mais por estratégia. Mas segue dando entrevistas para emissoras de rádio e TV — Haddad chiou, mas o TSE não viu irregularidades nas entrevistas. Aliás, para os petistas, vale tudo na busca por apoio: além de tentar conquistar os católicos — depois que os evangélicos “fecharam” com o capitão —, o fantoche de Lula está namorando o ex-candidato a candidato e ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa, que era presidente da Corte à época do julgamento do Mensalão. Como se vê, na guerra e no amor vale tudo.

Sob a coordenação de Jaques Wagner — que declinou do convite para ser o bobo da corte de Lula e disputar a presidência em seu lugar, caso a candidatura do molusco fosse rejeitada —, o PT arma mais uma tramoia contra o povo brasileiro, tentando vender a imagem de “bastião da democracia” ante o avanço da candidatura de Bolsonaro. Ninguém ameaçou mais a democracia do que o PT, como relembra, em editorial, o Estadão. Quando Lula ocupava a Presidência e desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa com o mensalão, e jamais pediu desculpas à população por ter desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo — sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares. 

Como se não bastasse, a quadrilha vermelha gestou e pariu o petrolão, visando à apropriação de todo o aparato do Estado em prol de sua causa político-partidária. Mais recentemente, instituiu uma verdadeira cruzada contra o Judiciário, já que várias instâncias da Justiça entenderam que a lei vale também para seu eterno presidente de honra. Na visão dessa corja, todo o Estado Democrático de Direito deveria se curvar ao grande líder — como nos regimes admirados pelos petistas, onde o Judiciário não tem “a audácia” de condenar líderes populares por corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula e seus seguidores fizeram de tudo para desrespeitar as regras eleitorais, pregando que, se o presidiário não pudesse se candidatar, a eleição seria uma fraude. “Eleição sem Lula é golpe”, repetiram por todo o País. Sem nenhum apreço pelo princípio da igualdade de todos perante a lei, a fantasiosa argumentação era um descarado pedido de privilégio para o sumo sacerdote da Petelândia, a quem a Lei da Ficha-Limpa não se aplicava. E para que não pairassem dúvidas, o programa de governo de Luladdad foi talhado à imagem e semelhança do modelo bolivariano, com vistas a subverter a democracia representativa. 

Além de instalar conselhos populares, o PT quer “expandir para o presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos”, fala abertamente em “instituir medidas para estimular a participação e o controle social em todos os Poderes da União e no Ministério Público”, e para coroar suas pretensões autoritárias menciona a necessidade de um “novo marco regulatório da comunicação social eletrônica”. 

Quando o PT pede votos em seu “campeão da defesa democrática do País”, falta-lhe credibilidade, já que passado e presente o desmentem. Depois dessa, só mesmo acendendo velas, muitas velas, para a Padroeira do Brasil.


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sábado, 13 de outubro de 2018

FALTAM 15 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — CÉUS E TERRAS, TREMEI!





Nunca antes na história deste país um candidato a presidente recebeu tantos votos no primeiro turno quanto Jair Messias Bolsonaro — foram mais de 49 milhões, superando os recordes precedentes de Lula, em 2006, e de seu ignóbil poste, em 2010.

Pelo andar da carruagem, o mesmo deve ocorrer no próximo dia 28, não porque o deputado-capitão é o candidato ideal, mas por ser a única alternativa à mescla de alter ego e mico amestrado do presidiário de Curitiba — a menos que a eleição do último dia 7 seja anulada, como deseja o manequim de camisa-de-força que ficou em sexto lugar.  

Essa aberração — que, como Pelé, fala de si na terceira pessoa — afirma que “Deus assegurou ao Cabo Daciolo a vitória no primeiro turno” e, portanto, quer que o TSE anule o pleito e convoque novas eleições. Não sei onde ele tem seus momentos de epifania, mas imagino que a flora local seja bem sortida de... enfim, o fato é que esse lunático ter sido mais votado que Henrique Meirelles, Marina Silva ou Álvaro Dias é no mínimo preocupante.

Na opinião de William Waak, a “onda” do fim de semana passado sugere desdobramentos de alcance maior do que a capacidade de se construir maiorias para votações no Legislativo e desenha uma oportunidade que pode ser ampliada com o “capital político” — como gostam de dizer os economistas — que Bolsonaro está acumulando. Se isso é motivo de comemoração, só o tempo dirá.

O “fenômeno político Bolsonaro” atraiu enorme atenção fora do Brasil — e dificuldades de interpretação idem. O mínimo denominador comum encontrado entre publicações normalmente divergentes entre si (como The Guardian ou The Economist) foi o de ressaltar perigos severos à democracia. A palavra “fascista” aparece em publicações como Der Spiegel, e mesmo o Financial Times, que provavelmente tem a melhor cobertura do Brasil na grande imprensa internacional, vê na figura do candidato o prenúncio de tempos duros — a inversão de uma tendência, segundo o FT, que o Brasil também simbolizara ao sair do regime militar há mais de 30 anos.

Para comediantes da telinha americana, a eleição brasileira virou piada pronta, com a exibição das aberrações de propaganda eleitoral produzida por candidatos a deputado, passando por Lula na cadeia (lá fora se acha mesmo piada que um presidiário surgisse como favorito nas pesquisas eleitorais) e chegando até algumas das frases mais contundentes do deputado-capitão. Tanto lá como cá, porém, suas declarações polêmicas costumam ser criticadas fora do contexto. Além disso, Bolsonaro pode não ser exatamente um bibliófilo, mas vale lembrar que um semianalfabeto — que se orgulhava de jamais ter lido um livro na vida — comandou esta Nau dos Insensatos por mais de 13 anos, aí incluído o período em que seu “poste” exerceu o papel de gerentona de araque.

Eu teria mais uma porção de considerações a respeito, mas tecê-las num final de semana prolongado seria gastar boa vela com mau defunto — não só porque os índices de audiência caem a patamares abissais, mas também porque boa parte dos leitores já não suporta mais ouvir falar de política (como eu já não aguento mais escrever sobre o tema). Portanto, reproduzo a seguir um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo, que resume perfeitamente o que eu penso sobre o assunto:

Está finalmente explicado o motivo pelo qual o deputado Jair Bolsonaro venceu o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Não é nada do que você pensa. A população nativa, na sua ignorância de sempre, estava achando que Bolsonaro ganhou porque teve 18 milhões de votos a mais que o segundo colocado. Imagine. Acreditar numa bobagem como essa só acontece mesmo com brasileiro, esse infeliz que vive longe dos bons centros do pensamento civilizado, progressista e moderno da humanidade, na Europa e nos Estados Unidos. Obviamente, não temos o nível mental necessário para entender o que entendem os jornalistas, cientistas políticos, sociólogos, filósofos e outros cérebros que habitam o bioma superior de Nova York, ou Paris, e dão a si próprios a incumbência de explicar o mundo às mentes menos desenvolvidas. Tome-se, por exemplo, a televisão francesa. Ali eles sabem exatamente o que aconteceu no dia 7 de outubro no Brasil: Bolsonaro ficou em primeiro lugar na eleição por causa do racismo brasileiro.

Racismo? Como assim ─ que diabo uma coisa tem a ver com a outra? Os peritos da TV francesa explicam. A esquerda e o PT, nos governos do ex-presidente Lula e de Dilma Rousseff, favoreceram a “inclusão dos negros” no Brasil, e isso provocou a ascensão do ódio racial. Revoltados contra os “progressos” que o PT deu para os negros, os racistas brasileiros foram para o lado de Bolsonaro ─ e com isso aumentaram tanto os seus votos que ele acabou ficando em primeiro. Além disso, o “oficial do Exército” (coisa que o candidato deixou de ser há 30 anos) recebeu o apoio da elite rica. Aí fechou o esquema, resumem os comunicadores franceses: somando brancos, racistas e milionários, Bolsonaro acabou com aquela votação toda.

Nada disso faz o menor sentido, mas nenhum mesmo — a começar pelo fato de que nem uma investigação do FBI seria capaz de descobrir o que, na prática, Lula e Dilma teriam feito de bom, algum dia, para algum negro de carne e osso. Como seria possível, num país onde apenas 40% da população se declara branca, a matemática eleitoral favorecer quem não gosta de preto? Seria a maioria de pardos e negros, então, que estaria promovendo a ascensão do ódio racional contra si própria? Também é um mistério de onde saíram 50 milhões de racistas para votar em Bolsonaro — ou porque o candidato Hélio Lopes, conhecido como “Hélio Negão” e deputado federal mais votado do Rio de Janeiro com 350 mil votos, foi um dos seus maiores aliados na campanha eleitoral. Para piorar, além de negro retinto “Helio Negão” é subtenente do Exército, pobre e da Baixada fluminense. Elite branca?

O Brasil seria um fenômeno mundial se houvesse por aqui uma quantidade de ricos e milionários tão grande que conseguisse definir o resultado de uma eleição presidencial. Não dá para entender, igualmente, porque raios o candidato das elites faria a sua campanha de carro e a pé, enquanto o candidato das massas populares, Fernando Haddad, anda de cima para baixo num jatinho Citation Sovereign — um dos mais luxuosos do mundo, pertencente ao dono bilionário das Casas Bahia através de sua empresa de táxi aéreo. (Se Haddad paga pelo aluguel já é ruim — de onde está saindo a fortuna necessária para isso? Se não paga é pior ainda.)

Não dá para entender por que Bolsonaro não teve um tostão para a sua campanha e o “reformador social” Haddad, homem dos pobres, das massas miseráveis, dos sem-terra e sem-teto, das “comunidades” e das minorias, da resistência ao capitalismo, passou a eleição inteira nadando em dinheiro. Não dá para entender como seria possível existir no Brasil dezenas de milhões de “fascistas”, e “nazistas”, e exploradores do “trabalho escravo”, sem que ninguém tivesse conseguido perceber isso até hoje. Não, não dá para entender nada. Mas não esquente sua cabeça; não é mesmo para você pensar em coisa complicada. A imprensa internacional, que tudo vê e tudo sabe, está aí justamente para explicar.

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terça-feira, 9 de outubro de 2018

FALTAM 19 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — E AGORA, JOSÉ?



Devido à morte de Tancredo Neves, o maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como José Sarney, presidiu o Brasil de 22 de abril de 1985 a 15 de março de 1990, tornando-se o primeiro presidente civil pós-ditadura. 

Sarney foi sucedido pelo Caçador de Marajás de araque, que venceu o demiurgo de Garanhuns no segundo turno do pleito de 1989 e sagrou-se o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde Jânio Quadros (em 1960). Foi durante seu governo — de Sarney, não de Collor — que a “Constituição Cidadã” (sobre a qual falarei mais adiante) foi promulgada. 

Foi somente em 1997, com as bênçãos do então presidente Fernando Henrique, que nossa Carta Magna deixou de proibir o chefe do Executivo e respectivo vice de disputar a reeleição para mandatos consecutivos (mandatos não consecutivos não são considerados como reeleição, daí porque Lula, de olho nas eleições de 2014, fez Dilma sua sucessora em 2010, mas a anta pegou gosto pelo poder e a mula caiu do jegue). Aprovada a emenda da reeleição, FHC tornou a vencer Lula no primeiro turno, em 1998, e conquistou seu ambicionado segundo mandato (durante o qual fez um governo de merda, mas isso é outra conversa). 

Importa dizer é que devemos ao grão-tucano a situação em que nos encontramos atualmente. Se a ideia era copiar a Constituição norte-americana, que copiassem direito: segundo a 22ª Emenda (Amendment XXII, no original em inglês), aprovada pelo Congresso dos EUA em 1947 e ratificada em 1951, nenhuma pessoa poderá ser eleita mais de duas vezes para o cargo de presidente. Nesses termos, Lula, que esgoto os dois mandatos a que tinha direito, poderia gozar alegremente sua estada na carceragem da PF em Curitiba (ou no Complexo Médico-Penal de Pinhais, ou em outro presídio qualquer) sem se preocupar com questões inerentes à sucessão presidencial.

Costuma haver diferenças entre como as coisas são e como deveriam ser. É por isso que teremos de amargar mais três longas semanas — com direito à volta dos debates e do horário político obrigatório — até que, se não houver surpresas e Bolsonaro mantiver a liderança, o esbirro do criminoso de Garanhuns seja devidamente despachado para o buraco de onde jamais deveria ter saído. 

Entrementes, divirtamo-nos com as pesquisas. Aliás, chegou a ser hilária (para não dizer irritante) a insistência dos âncoras da Globo (e de outras emissoras que acompanharam em tempo real a apuração dos votos) em exibir o percentual de votos de Amoedo, Boulos, Daciolo, Eymael, Vera Lucia e companhia, quando o que interessava mesmo era a possibilidade de o candidato do PSL liquidar a fatura já no primeiro turno (e faltou bem pouco!).

Sobre Bolsonaro, segue trecho de uma postagem publicada ontem no Blog do Gabeira:

Não é uma simples segunda-feira de primavera. Neste momento, já se sabe quem venceu o primeiro turno das eleições e mais ainda: como se compõe o novo Congresso. [...] Imagino que comece hoje uma discussão sobre as causas que levaram Bolsonaro a vencer o primeiro turno. E também a ampla distribuição de culpa entre seus adversários. [...] Bolsonaro foi o deputado mais votado no Rio, em 2014. Ele teve 464 mil votos, cerca de 6% do total, um feito extraordinário em eleições proporcionais. Naquele momento, ele já estava em ascensão batendo, principalmente, em duas teclas: corrupção e segurança pública. Sua proposta em segurança tem uma vantagem sobre todas as outras. Reconhece a limitação do Estado e envolve o indivíduo, que teria sua própria arma. [...] Ainda vou escrever muito sobre Bolsonaro, inclusive sobre os 16 anos em que estivemos juntos em algumas comissões da Câmara, divergindo nos costumes e concordando na denúncia da corrupção. A grande dificuldade com Bolsonaro é que, essencialmente, é anticomunista e tende a combater todas as lutas lideradas pela esquerda, como se tivessem sido inventadas por ela. Ele tem dificuldade em distinguir direitos humanos e exploração ideológica, movimento das mulheres das visões radicais, meio ambiente e ameaça à propriedade privada e, no caso amazônico, cobiça internacional. [...] Pessoalmente, sempre conversei com Bolsonaro ao longo de 16 anos. Nos seus primeiros discursos na Câmara, ele pedia minha prisão porque eu era um sequestrador do embaixador americano. Ele queria reproduzir o debate sobre a luta armada. Os tempos eram outros, tínhamos um novo país para construir. A esquerda me considera um traidor que ocupa um espaço na lata de lixo da história. Sou aquele jogador que já foi do time e a torcida vaia sempre que toca na bola. Mas esquerda e direita são forças missionárias que tentam universalizar seu conceito de boa vida. Numa sociedade complexa como a nossa, precisamos reconhecer as diferenças e navegar com cuidado, administrando os problemas recorrentes. A ideia de um país dominado pela Bíblia ou pelo “Capital” de Marx não deixa de ser legítima. Apesar da importância que ambos dão aos seus textos, eles são apenas um modesto guia. O mundo ultrapassa os velhos esquemas mentais. Ou, em linguagem bem brasileira: o buraco é mais embaixo.

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sábado, 6 de outubro de 2018

FALTANDO 17 HORAS PARA O INÍCIO DO PRIMEIRO TURNO...



Amanhã, por motivos óbvios, não postarei sobre política aqui no Blog, mas resolvi publicar uma segunda postagem neste sábado, véspera do primeiro turno das eleições 2018.

Falando em obviedades, George Orwell — cujo verdadeiro nome era Eric Arthur Blair (clique aqui para saber mais sobre esse prócer da literatura inglesa) — disse que “algumas vezes o primeiro dever dos homens inteligentes é reafirmar o óbvio”. E o óbvio a ser reafirmado é que o perigo autoritário está na eleição do poste lulista, por mais improvável que ela pareça neste momento.

A operação para abafar o autoritarismo de Lula, PT et caterva, afirma Mario Sabino em mais um brilhante artigo publicado na revista digital Crusoé, sustenta-se na gritar sobre um elogio de Jair Bolsonaro ao regime militar de 1964 (ou “movimento”, como prefere o petista Dias Toffoli) e suas declarações idiotas ou abjetas a respeito de minorias.

Discutir 1964, hoje, faz tanto sentido quando discutir 1910 em 1964 ou 2018 em 2072. Quanto às minorias, vale lembrar que Lula foi acusado de ser racista pela mãe de sua filha, em 1989, exibe comportamentos sexistas e, até que o politicamente correto se impusesse, fazia piadas sobre “veados” em público. Presidentes com compostura e desprovidos de preconceitos são recomendáveis, mas a falta de tais atributos não implica que tenham poder para perseguir minorias no Brasil, porque isso atentaria contra a Constituição e o ordenamento jurídico e causaria a repulsa imediata da sociedade.

É a mais rematada estupidez acreditar que Bolsonaro vá criar milícias para bater em gays e humilhar negros, ou que venha a legalizar a tortura de presos ou diminuir ainda mais os salários das mulheres. A obviedade é que, sob a batuta dos governos corruptos e incompetentes do PT, a criminalidade explodiu — e se continuou a bater em gays, humilhar negros, torturar presos e a pagar salários menores a mulheres.

Outra obviedade é que, em matéria de política pública, a prioridade para maioria e minorias é diminuir drasticamente o número de homicídios, assaltos e furtos no país — e não vitimizar os criminosos e criminalizar as vítimas. Alguém precisa calcular o valor do que é roubado de pobres a cada dia — estimo que seja, ao longo de um ano, o equivalente a um terço do PIB do Paraguai. Essa, sim, é uma abordagem social do problema. A proteção da vida e do patrimônio de todos os cidadãos está na base dos direitos adquiridos e daqueles a serem conquistados em quaisquer campos.

Ditas essas obviedades, passemos ao autoritarismo do plano de governo do PT. O texto está disponível na internet, mas pouca gente o leu, e nunca a falta do hábito de leitura dos brasileiros foi tão perigosa. Portanto, leia. O condenado José Dirceu causou espanto ao afirmar que se deveria tirar o poder de investigação do Ministério Público e todos os poderes do Supremo Tribunal Federal, mas consta do plano de governo “impedir abusos” do Judiciário.

Os petistas também explicitam a intenção de amordaçar a imprensa por meio do que chamam de “novo marco regulatório” nas comunicações. Na economia, o projeto é destruir qualquer possibilidade de diminuir o tamanho do Estado sustentado pelos pagadores de impostos. Pelo contrário, desejam aumentá-lo com “desprivatizações” e, assim, gastar mais o nosso dinheiro. Até o tabelamento de juros está previsto, de forma oblíqua, dentro da proposta geral de repetir tudo aquilo que já mostrou dar muito errado.

O general Mourão, vice de Bolsonaro, sugeriu uma nova Constituição sem Assembleia Constituinte, feita por “notáveis” e aprovada por plebiscito. Foi massacrado com razão. Lula e seu bando de seguidores querem, no papel, fragilizar as instituições com plebiscitos, assembleísmos e a criação de mais conselhos ideológicos. O plano de governo do PT fala “em reforma política com participação popular” e a “elaboração de um amplo roteiro de debates sobre os grandes temas nacionais e sobre o formato da Constituinte”. Ou seja, o PT quer uma nova Constituição. Eu também, mas não a deles, que pretende promover a apropriação indébita e completa das estruturas institucionais. O autoritarismo petista só não foi adiante entre 2003 e 2016 porque houve resistência de parte da imprensa e dos cidadãos — e, não menos importante, a roubalheira da tigrada revolucionária foi descoberta a tempo de impedir a concretização do projeto de o partido perpetuar-se no poder, fraudando eleições com dinheiro sujo. Mas, se o poste Haddad for eleito, Lula se sentirá legitimado a tentar colocá-lo em prática de novo. Solto, na condição de ministro ou eminência parda, o seu primeiro objetivo será vingar-se de todos os que investigaram, denunciaram e condenaram os crimes que cometeu — e tratar de anular a possibilidade de que a Justiça volte a funcionar contra ele e a sua turma.

No plano de governo, o PT não tem vergonha de mentir que o impeachment de Dilma, autora de uma gigantesca fraude fiscal para maquiar contas públicas, foi “o golpe de 2016”, seguido da “perseguição judicial” a Lula, daí a necessidade de “refundação democrática”. Mostra de que a organização assumiu abertamente a vigarice de que a democracia é um valor estratégico, como sempre pensou a esquerda da esquerda petista, e não um valor universal. José Dirceu foi didático nesse sentido, ao afirmar que, reinstalados no Planalto, eles tomarão o poder. Esqueçam, portanto, o “Lulinha Paz e Amor”. Se os eleitores colocarem seu fantoche no Planalto, os petistas virão com força contra quem se opuser, já que a única forma de sobreviverem é matando a democracia. Para isso, terão a cumplicidade de oportunistas que a eles se aliaram na gatunagem dos mandatos passados. A vanguarda e a retaguarda do atraso se unirão, com consequências imprevisíveis.

Karl Marx, o sapo barbudo alemão que continua a ser usado para doutrinação nas escolas e universidades nacionais, escreveu que “a história se repete primeiro como tragédia e, depois, como farsa”. A tentativa de Lula fugir para a presidência da República por interposta pessoa inverte a frase. Ele é uma farsa que poderá se repetir como tragédia. Ulule-se, pois, a obviedade.

Votem com sabedoria. Se isso for pedir demais, façam-no, ao menos, de forma consciente. Tenham em mente que situações desesperadoras pedem medidas extremas, e que é preciso primeiro apagar o incêndio para depois cuidar do rescaldo.

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ELEIÇÕES 2018 NA RETA FINAL — QUE DEUS NOS ACUDA!



Da campanha presidencial de 2018 sobrará, como dado mais revelante e toque de surrealismo, que o duelo decisivo se travou entre uma cela de prisioneiro e um quarto de hospital, cujos ocupantes compartilham a bizarria de ao mesmo tempo terem dominado o centro da trama e permanecido desaparecidos da vista pública.”

Assim Roberto Pompeu de Toledo inicia sua coluna na edição nº 2602 da revista Veja. Antes de conferir o restante do texto (magistral, como de costume), leia o que escreveu J.R. Guzzo  em sua coluna desta semana:

As eleições para eleger o novo presidente colocam o eleitor brasileiro numa situação que nunca aconteceu antes. Eleições, normalmente, são uma das ferramentas mais importantes da democracia — mas, na eleição deste fim de semana, um dos lados tem como objetivo, caso vença o pleito, acabar com o regime democrático no Brasil.

É uma droga de democracia, como todo mundo está cansado de saber, mas, por pior que seja, ainda é menos ruim que uma droga de ditadura — e é justamente isso que o consórcio formado pelo ex-presidente Lula, o PT e sua vizinhança quer fazer no país. Não falam assim, é claro. Mas os atos concretos que prometem praticar depois de assumir o governo vão deformar de tal maneira o poder público, os direitos individuais e a máquina do Estado que o resultado prático vai ser a construção de um regime de força no Brasil.

Não se trata apenas, como já aconteceu tantas outras vezes, de eleger um presidente ruim. O problema, agora, é que um dos possíveis finalistas, pelo que dizem há meses as “pesquisas de opinião”, tem um projeto público de ditadura para o país.

Acabar com o Poder Judiciário, por exemplo, anulando o seu tribunal mais elevado e interferindo nas decisões dos juízes e desembargadores — isso é ou não é uma providência básica que toda ditadura, sem exceção, julga indispensável tomar? Sim, é. Então: o candidato a presidente do PT promete que se for eleito vai criar um negócio chamado “controle social na administração da Justiça”. Isso quer dizer que as sentenças dos magistrados estarão sujeitas, no mundo real, a comitês externos ao Poder Judiciário, com membros nomeados pelo governo.

Promete-se, também, “repensar” os conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público. Todo mundo sabe muito bem o que significa “repensar” alguma coisa neste país — é virar a mesa. No caso, querem criar “ouvidorias”, compostas por pessoas que representem a “sociedade”, para vigiar juízes e MP. Querem, também, criar algum sistema de cotas para a escolha de juízes, de forma a “favorecer o ingresso e ascensão” de “todos os segmentos da população” nas carreiras do Judiciário, sobretudo as “vítimas históricas de desigualdades”. A coisa vai por aí afora, de mal a pior, mas o ex-deputado José Dirceu achou uma boa ideia acrescentar um plus a mais: segundo disse, deveriam ser tirados “todos os poderes do Supremo Tribunal Federal”. Segundo o pensador-chefe do PT, o “Judiciário não é um poder da República”. Quem manda, diz ele, é o povo, através do voto. Além do mais, afirmou, o que interessa é “tomar o poder”. Eleição é outra coisa.

O futuro governo Lula também promete criar oficialmente a censura à imprensa no Brasil. (Isso mesmo, governo Lula: o ex-presidente está na cadeia, condenado como ladrão em primeira e segunda instâncias, mas toda a estratégia do PT é provar que quem vai mandar de verdade no país é ele, e não seu preposto nas eleições.) Como acontece em relação à democracia, não se utiliza a palavra “censura”, assim abertamente; o que anunciam é o “controle social dos meios de comunicação”. É exatamente a mesma coisa. Esse “controle” não vai ser exercido pelo Espírito Santo. Quem vai “controlar” são pessoas de carne e osso nomeadas pelo governo, e “controlar” significa decidir o que a mídia pode ou não pode publicar. Isso é censura — e o resto é conversa, sobretudo os desmentidos de que haverá censura. A partir daí, só fica pior. Falam em “fortalecer” a prodigiosa TV Brasil, que eles mesmos inventaram, consegue gastar 1 bilhão de reais por ano de dinheiro público e até hoje tem audiência próxima ao zero. Falam em dar concessões de tevês e de rádios para sindicatos, “coletivos” e “movimentos sociais” — e mais do mesmo.

O projeto do PT inclui também uma “Assembleia Constituinte” paralela ao Congresso, como se fez na Venezuela, para criar um novo regime político e social no país. O que será isso? Nada fica dito em português claro, mas nem é preciso — basta ouvir o que dizem todos os dias as lideranças do partido. Propõe-se orientação “política” para o ensino básico, a parceria com governos criminosos, como os da Venezuela e Nicarágua, e com ditaduras africanas, e um governo dos “povos do campo, das águas e das florestas”, seja lá isso o que for. Mais que tudo, a candidatura do PT quer a volta dos governos Lula-Dilma — que acabam de ser acusados pelo ex-ministro Antonio Palocci de gastar 800 milhões de reais em dinheiro basicamente sujo para se manter no poder na última campanha presidencial. Francamente, não é preciso mais nada.

Voltando ao texto de Pompeu:

O roteiro tem um tanto de drama e outro de comédia. De seguro, pode-se avançar que, vença Jair Bolsonaro, o enfermo de São Paulo, vença Fernando Haddad, preposto e alter ego do prisioneiro de Curitiba, conforme indicam as pesquisas, no dia seguinte o Brasil não terá sossego. Quis a desditosa trama que a disputa se estreitasse entre representantes de tribos irredutíveis. Para uma ou para a outra, a luta continuará.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria. Bolsonaro é o "mito", para os seguidores. Lula, depois da prisão, virou um pouco mais que humano. É o demiurgo que de sua cela de prisioneiro, transubstanciada em caverna de anacoreta, ou santuário de oráculo, transmite a mensagem divina.

Como sói acontecer quando a disputa é entre duas partes irredutíveis, a democracia treme nas bases. Da parte de Bolsonaro a ameaça é explícita, e vem embalada para os dois casos — o de derrota e o de vitória. "O PT descobriu o caminho para o poder: o voto eletrônico", disse ele, numa de suas falas no hospital. Se vencido, denunciará o sistema eleitoral. Em caso de vitória, os últimos ataques à democracia têm ficado por conta do candidato a vice, general Hamilton Mourão, autor da hipótese de "autogolpe" - aquele em que o presidente derruba as instituições em proveito próprio. Getúlio desferiu-o ao proclamar o Estado Novo, em 1937. Costa e Silva o repetiu em 1968, ao baixar o AI-5. Alberto Fujimori o perpetrou no Peru, em 1992.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria

A ameaça do PT à democracia não é explícita, nem vem de seu candidato. Haddad é um intelectual com visão aberta e afeito ao diálogo. Mesmo Lula tem credenciais de democrata; governou em parceria com diferentes correntes e não se deixou levar pela tentação do terceiro mandato. A questão é o resíduo bolchevista que habita o núcleo duro do PT. Entre suas crenças permanece, herdada dos antigos partidos comunistas, a de que é detentor da chave da história. Ora, quem detém a chave da história não entra em eleição para cumprir mandato; entra para fazer a história andar, tarefa de sua exclusiva competência. Acresce que o duplo castigo do impeachment e da prisão aguçou no PT a sede de vingança.

A campanha impôs encargos opostos aos dois candidatos. Ao tosco Bolsonaro, impôs mostrar-se mais preparado do que é. Ele foi parcialmente salvo pelo recolhimento que o poupou dos debates e entrevistas. Ao preparado Haddad, impôs mostrar-se o tosco intérprete do impedido Lula. A ignorância de Bolsonaro teve seu espelho nos gravames que sufocam a inteligência de Haddad.

"Il peggio non è mai morto", o pior nunca está morto, dizem os italianos. Quem se aflige com a campanha, imagine o dia seguinte à vitória de um e outro candidato. Não será fácil para Haddad desfazer-se da máscara de Lula, tão afivelada lhe ficou no rosto. Haverá visitas comemorativas à cela em Curitiba e consultas para a formação do ministério. O candidato foi apenas o bastante procurador do verdadeiro vencedor, essa é a realidade dos fatos. Haddad enfrentará o desafio de recuperar a identidade em meio a um frenesi de atenções ao prisioneiro e pressões por sua libertação. De quebra, terá a amarrar-lhe os passos a bola de ferro da militância e da estrutura do PT.

Enquanto Haddad terá amparo de mais, Bolsonaro o terá de menos. Nem com o Posto Ipiranga, como ele chama o economista Paulo Guedes, é certo que poderá contar. "Em todas as nossas conversas, ameaçou abandonar o barco", escreveu a jornalista Malu Gaspar, no revelador perfil de Guedes que publicou na revista Piauí. Numa dessas ocasiões, o economista disse que vê-lo abandonar a campanha é "o sonho de todos" que querem a desgraça de Bolsonaro, mas que "esse prazer" não lhes dará. E acrescentou: "Só depois que ele for eleito". Tradução: no dia seguinte, o candidato poderá encontrar o Posto Ipiranga fechado.

Nas poucas horas que faltam para a eleição, ainda haverá chance para um candidato de centro? O problema do centro é sua invencível falta de charme. E o colunista nem está se referindo a Alckmin. É o centro mesmo, em si.