sábado, 13 de outubro de 2018

FALTAM 15 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — CÉUS E TERRAS, TREMEI!





Nunca antes na história deste país um candidato a presidente recebeu tantos votos no primeiro turno quanto Jair Messias Bolsonaro — foram mais de 49 milhões, superando os recordes precedentes de Lula, em 2006, e de seu ignóbil poste, em 2010.

Pelo andar da carruagem, o mesmo deve ocorrer no próximo dia 28, não porque o deputado-capitão é o candidato ideal, mas por ser a única alternativa à mescla de alter ego e mico amestrado do presidiário de Curitiba — a menos que a eleição do último dia 7 seja anulada, como deseja o manequim de camisa-de-força que ficou em sexto lugar.  

Essa aberração — que, como Pelé, fala de si na terceira pessoa — afirma que “Deus assegurou ao Cabo Daciolo a vitória no primeiro turno” e, portanto, quer que o TSE anule o pleito e convoque novas eleições. Não sei onde ele tem seus momentos de epifania, mas imagino que a flora local seja bem sortida de... enfim, o fato é que esse lunático ter sido mais votado que Henrique Meirelles, Marina Silva ou Álvaro Dias é no mínimo preocupante.

Na opinião de William Waak, a “onda” do fim de semana passado sugere desdobramentos de alcance maior do que a capacidade de se construir maiorias para votações no Legislativo e desenha uma oportunidade que pode ser ampliada com o “capital político” — como gostam de dizer os economistas — que Bolsonaro está acumulando. Se isso é motivo de comemoração, só o tempo dirá.

O “fenômeno político Bolsonaro” atraiu enorme atenção fora do Brasil — e dificuldades de interpretação idem. O mínimo denominador comum encontrado entre publicações normalmente divergentes entre si (como The Guardian ou The Economist) foi o de ressaltar perigos severos à democracia. A palavra “fascista” aparece em publicações como Der Spiegel, e mesmo o Financial Times, que provavelmente tem a melhor cobertura do Brasil na grande imprensa internacional, vê na figura do candidato o prenúncio de tempos duros — a inversão de uma tendência, segundo o FT, que o Brasil também simbolizara ao sair do regime militar há mais de 30 anos.

Para comediantes da telinha americana, a eleição brasileira virou piada pronta, com a exibição das aberrações de propaganda eleitoral produzida por candidatos a deputado, passando por Lula na cadeia (lá fora se acha mesmo piada que um presidiário surgisse como favorito nas pesquisas eleitorais) e chegando até algumas das frases mais contundentes do deputado-capitão. Tanto lá como cá, porém, suas declarações polêmicas costumam ser criticadas fora do contexto. Além disso, Bolsonaro pode não ser exatamente um bibliófilo, mas vale lembrar que um semianalfabeto — que se orgulhava de jamais ter lido um livro na vida — comandou esta Nau dos Insensatos por mais de 13 anos, aí incluído o período em que seu “poste” exerceu o papel de gerentona de araque.

Eu teria mais uma porção de considerações a respeito, mas tecê-las num final de semana prolongado seria gastar boa vela com mau defunto — não só porque os índices de audiência caem a patamares abissais, mas também porque boa parte dos leitores já não suporta mais ouvir falar de política (como eu já não aguento mais escrever sobre o tema). Portanto, reproduzo a seguir um texto magistral do jornalista J.R. Guzzo, que resume perfeitamente o que eu penso sobre o assunto:

Está finalmente explicado o motivo pelo qual o deputado Jair Bolsonaro venceu o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Não é nada do que você pensa. A população nativa, na sua ignorância de sempre, estava achando que Bolsonaro ganhou porque teve 18 milhões de votos a mais que o segundo colocado. Imagine. Acreditar numa bobagem como essa só acontece mesmo com brasileiro, esse infeliz que vive longe dos bons centros do pensamento civilizado, progressista e moderno da humanidade, na Europa e nos Estados Unidos. Obviamente, não temos o nível mental necessário para entender o que entendem os jornalistas, cientistas políticos, sociólogos, filósofos e outros cérebros que habitam o bioma superior de Nova York, ou Paris, e dão a si próprios a incumbência de explicar o mundo às mentes menos desenvolvidas. Tome-se, por exemplo, a televisão francesa. Ali eles sabem exatamente o que aconteceu no dia 7 de outubro no Brasil: Bolsonaro ficou em primeiro lugar na eleição por causa do racismo brasileiro.

Racismo? Como assim ─ que diabo uma coisa tem a ver com a outra? Os peritos da TV francesa explicam. A esquerda e o PT, nos governos do ex-presidente Lula e de Dilma Rousseff, favoreceram a “inclusão dos negros” no Brasil, e isso provocou a ascensão do ódio racial. Revoltados contra os “progressos” que o PT deu para os negros, os racistas brasileiros foram para o lado de Bolsonaro ─ e com isso aumentaram tanto os seus votos que ele acabou ficando em primeiro. Além disso, o “oficial do Exército” (coisa que o candidato deixou de ser há 30 anos) recebeu o apoio da elite rica. Aí fechou o esquema, resumem os comunicadores franceses: somando brancos, racistas e milionários, Bolsonaro acabou com aquela votação toda.

Nada disso faz o menor sentido, mas nenhum mesmo — a começar pelo fato de que nem uma investigação do FBI seria capaz de descobrir o que, na prática, Lula e Dilma teriam feito de bom, algum dia, para algum negro de carne e osso. Como seria possível, num país onde apenas 40% da população se declara branca, a matemática eleitoral favorecer quem não gosta de preto? Seria a maioria de pardos e negros, então, que estaria promovendo a ascensão do ódio racional contra si própria? Também é um mistério de onde saíram 50 milhões de racistas para votar em Bolsonaro — ou porque o candidato Hélio Lopes, conhecido como “Hélio Negão” e deputado federal mais votado do Rio de Janeiro com 350 mil votos, foi um dos seus maiores aliados na campanha eleitoral. Para piorar, além de negro retinto “Helio Negão” é subtenente do Exército, pobre e da Baixada fluminense. Elite branca?

O Brasil seria um fenômeno mundial se houvesse por aqui uma quantidade de ricos e milionários tão grande que conseguisse definir o resultado de uma eleição presidencial. Não dá para entender, igualmente, porque raios o candidato das elites faria a sua campanha de carro e a pé, enquanto o candidato das massas populares, Fernando Haddad, anda de cima para baixo num jatinho Citation Sovereign — um dos mais luxuosos do mundo, pertencente ao dono bilionário das Casas Bahia através de sua empresa de táxi aéreo. (Se Haddad paga pelo aluguel já é ruim — de onde está saindo a fortuna necessária para isso? Se não paga é pior ainda.)

Não dá para entender por que Bolsonaro não teve um tostão para a sua campanha e o “reformador social” Haddad, homem dos pobres, das massas miseráveis, dos sem-terra e sem-teto, das “comunidades” e das minorias, da resistência ao capitalismo, passou a eleição inteira nadando em dinheiro. Não dá para entender como seria possível existir no Brasil dezenas de milhões de “fascistas”, e “nazistas”, e exploradores do “trabalho escravo”, sem que ninguém tivesse conseguido perceber isso até hoje. Não, não dá para entender nada. Mas não esquente sua cabeça; não é mesmo para você pensar em coisa complicada. A imprensa internacional, que tudo vê e tudo sabe, está aí justamente para explicar.

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