sábado, 20 de outubro de 2018

FALTAM 8 DIAS PARA AS ELEIÇÕES NO PAÍS DO CABEÇA PARA BAIXO




Era uma vez, numa terra muito distante, o País do Cabeça Para Baixo. Lá, tudo é ao contrário. A água, ao invés de descer, sobe pelas cachoeiras. As árvores crescem de ponta cabeça, com as raízes para cima e as copas enterradas no chão. Os carros andam de ré. A chuva brota do chão e cai para cima. As conversas começam com “adeus” e terminam em “oi”. Nesse país, tudo é o oposto do que a gente imagina. O que é feio é bonito e o que é bonito é feio. O que é velho é novo e o que é novo é velho.

Quando você mora no País do Cabeça Para Baixo, compreende que a vida pode ser muito mais fácil. Por exemplo, as leis são feitas para ser ignoradas; então você pode fazer o que bem entender. As regras existem para ser burladas, e sempre tem um jeitinho ou alguém que, por um trocado, resolve seu problema.

Quem mora no País do Cabeça Para Baixo aprende desde criança que estudar não é importante, porque não tem escola pra todo mundo. Nem esgoto, nem hospitais, nem segurança. Mas tudo bem, porque no País do Cabeça Para Baixo fartura é faltar.

No País do Cabeça Para Baixo, pensar no coletivo é investir no ego. Roubar não é grave. Principalmente se for político. Se alguém disser alguma coisa, eles respondem que tudo é feito pelo bem do povo. E o povo acredita.

No País do Cabeça Para Baixo, as pessoas acreditam em tudo. Em promessas, em boatos e até em mentiras deslavadas. E as verdades, aquelas óbvias e inquestionáveis, todos acham que são mentiras. Como é tudo ao contrário do que a gente imagina, quanto mais o tempo passa, menos se aprende sobre a vida, sobre as pessoas e sobre o mundo.

Este ano estão acontecendo eleições no País do Cabeça Para Baixo. Eleições são um período onde o País do Cabeça Para Baixo fica especialmente diferente de tudo que já se viu. Só o Carnaval é mais estranho que isso, com todo mundo andando pelado pelas ruas. As eleições, contando ninguém acredita.

Os dois candidatos que disputam a presidência, por exemplo, são os que mostram bem como pensa quem vive no País do Cabeça Para Baixo. O primeiro candidato nem é um candidato de verdade — está mais para um porta-voz, um candidato de mentira. É que, como o candidato para valer está preso, esse outro ocupa seu lugar.

Isso mesmo que você ouviu: preso. O tal candidato de verdade foi preso por corrupção, mas, mesmo preso, continua mandando e desmandando no que o candidato de mentira pode falar. Assim, antes de se pronunciar, o candidato de mentira tem de passar na cadeia para saber o que pode e o que não pode dizer. Porque, no País do Cabeça Para Baixo, preso é solto e solto é preso.

Você pode achar estranho, mas é só porque não vive nesse país. Muito mais estranho é que, quando a bola entra no gol, é escanteio. Quando vai fora, é gol. Vai entender.

E tem o outro candidato. Um sujeito que diz que é “a favor da tortura”, que “tem de fechar o Congresso”, que abertamente se posiciona contra gays, índios, negros, e por aí vai. Um monte de gente vibra com isso, porque no País do Cabeça Para Baixo o que é bom é ruim e o que é ruim é bom.

Um dos dois candidatos vai ganhar, e a vida vai seguir seu curso. Porque o correto, no País do Cabeça Para Baixo, é não ligar para nada. 

Em alguns meses, ninguém lembra nem em quem votou, porque no País do Cabeça Para Baixo quem sofre de amnésia é que lembra de tudo.

E olha, até hoje sempre deu certo. Que para nós, na verdade, é errado.

Texto de Mentor Neto.

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