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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O MUI SUSPEITO E INESPERADO AMOR FRATERNO ENTRE LULA E VAVÁ


Recapitulando: Terça-feira, 29, Genival Inácio da Silva bate a caçoleta e Lula, diante da chance de fazer um necromício na chácara do vigário, pede permissão pra comparecer ao funeral. O pedido é negado em primeira e segunda instâncias. Quarta-feira, 30, faltando meia hora para o enterro, Dias Toffoli — ex-advogado de Lula promovido por ele a ministro supremo — concede a permissão, mas desde que o ex-chefe se reúna com familiares numa base militar, sem imprensa militantes, apoiadores e celulares. Sem palanque, sem comício e sem uma plateia para comover com suas lágrimas de crocodilo, Lula rejeita a oferta e passa a capitalizar politicamente “a desumana decisão” que o impediu de se despedir do “irmão querido”.

Lula foi bem representado no funeral: Gleisi Hoffmann, a lunática presidente nacional do PT, e Fernando Haddad, o incorrigível fantoche do presidiário, se não chegaram a sapatear sobre o caixão do morto — como fez Lula no enterro da mulher, em 2017 —, também não pouparam críticas a Sérgio Moro (que não teve nada com o peixe) e aos “juízes desumanos” que, segundo a narrativa petista, perseguem seu amado chefe.

Durante uma audiência, o juiz do Trabalho José Augusto Segundo Neto, da 21.ª Vara de Recife conquistou seus 15 minutos de fama ao pedir licença às partes para “manifestar suas condolências ao ex presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, pela morte de seu irmão Genival Inácio da Silva aos 79 anos, ao tempo (sic) em que lamenta não possa sua excelência ter participado das homenagens fúnebres ao seu irmão mais velho, ato humanitário, deferido ao (sic) todos os homens, inclusive aqueles eventualmente presos”. Depois dessa tocante homenagem, o magistrado determinou o encaminhamento de cópia da ata ao Instituto Lula (talvez imaginando que, a exemplo do que ocorre na Venezuela, falte papel higiênico em São Paulo).  

Ricardo Noblat, um dos jornalistas mais petistas do país, publicou um comentário que fez jus à “nova” revista Veja, onde vem destilando seu besteirol depois que deixou O Globo: “Rasgaram a lei. E é um escárnio um dos motivos alegados pela PF para subtrair a Lula o direito de ir ao velório do irmão: seus helicópteros estão em Brumadinho. O PT se ofereceu para fretar um avião que transportaria Lula e os agentes federais, mas a oferta sequer foi nem considerada”.

Segundo os fala-merda de plantão, Lula ficou inconsolável por não poder se despedir do irmão Vavá. Mas será mesmo? Em 1978, Aristides Inácio da Silva, pai de Lula e alcoólatra inveterado, foi sepultado como indigente no cemitério de Vicente de Carvalho. Nenhuma mulher, ex-mulher ou filho se dignou de lhe conceder um túmulo.

Dois anos depois, quando era líder sindical e havia sido preso pela ditadura militar, Lula foi autorizado a comparecer ao velório da mãe, dona Lindu, onde sindicalistas e outros puxa-sacos bradavam Lula Livre e o cantor Agnaldo Timóteo pedia a prisão dos corruptos (?!). Em 2002, em plena campanha, chorou copiosamente para as câmeras de Duda Mendonça ao relembrar a morte da primeira mulher, 30 anos antes, embora não tenha esperado nem dois anos para engatilhar nova família ao lado de Marisa Letícia.

Entre 2003 e 2010, o então presidente perdeu dois irmãos — João Inácio morreu de câncer em 2004 e Odair Inácio, de enfarto em 2005 —, mas não compareceu ao enterro de nenhum deles. Segundo o Conexão Política, enquanto o corpo do primeiro era velado, o pulha jantava com ministros e assessores na Granja do Torto.

Não se sabe exatamente quantos irmãos teve Lula. Segundo um deles, Roberto Ferreira de Góes, o pai teve 17 filhos; pelas contas de Frei Chico, eles eram em 19; para Jackson Inácio da Silva, 25. Denise Paraná, na biografia de Lula, contabiliza 22. Mas o fato é que Lula nunca foi próximo da maioria deles sobretudo os irmãos por parte de pai. Após a separação dos pais, Lula e os irmãos Vavá e Frei Chico foram criados por dona Lindu, enquanto Aristides buscou outros relacionamentos e teve mais uma penca de filhos — com os quais Lula nunca teve grande ligação.

Em 2017, já em pré-campanha, Lula transformou o velório da ex-primeira dama em comício e o cadáver em arma contra seus adversários políticos: ‘Na verdade, Marisa morreu triste. Porque a canalhice que fizeram com ela… E a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela… Eu vou dedicar… Eu tenho 71 anos, não sei quando Deus me levará, acho que vou viver muito porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandade com a Marisa tenham, um dia, a humildade de pedir desculpas a ela’. Em 2018, transformou sua prisão num espetáculo de circo mambembe, com direito a missa campal, showmício e utilização de sindicalistas como escudos humanos. Agora, em sua indefectível aldrabice, apregoa um suspeito e inesperado amor fraternal pelo irmão Vavá.

O PT sempre consegue surpreender e baixar ainda mais o nível. É um escárnio com os vivos e os mortos que um necromício seja aventado em público, que jornalistas de Veja o defendam sem sofrer uma chuva de e-mails exigindo sua demissão e que o Brasil ainda suporte gente que transforme defunto em arma política.