Eu pretendia tecer alguns comentários sobre o “drama” da
prisão após condenação em segunda instância, mas fatos novos me fizeram mudar
o foco desta postagem para o naufrágio da quimérica candidatura de Temer à reeleição. Então, passo ao assunto sem mais delongas.
Nas interceptações telefônicas da Operação Patmos,
a PF flagrou uma articulação entre Rodrigo Rocha Loures
― o “homem da mala” de Temer,
lembram-se? ― e um executivo da Rodrimar,
visando à publicação de um decreto presidencial que poderia favorecer a empresa concessionária de
áreas no Porto de Santos (litoral
paulista). Além disso, em maio do ano passado, os investigadores flagraram uma conversa em que Temer e Loures
falavam sobre a ampliação do período para as empresas explorarem áreas portuárias
de 25 para 35 anos, prorrogáveis até 70 anos (mais detalhes em O
GLOBO).
Na manhã de ontem, a Polícia Federal prendeu 6 pessoas envolvidas no caso, que vem sendo investigado a partir da delação da JBS. Dentre eles estão José Yunes, advogado e amigo do presidente
há mais de 50 anos, o coronel João
Batista Lima Filho, também amigo de Temer
(há mais de 3 décadas), e Wagner
Rossi, ex-ministro da agricultura (os demais detidos são Antonio Celso Grecco, dono da Rodrimar, e Milton Ortolan, auxiliar de Rossi).
As prisões são temporárias e foram autorizadas por Luis Roberto Barroso, do STF,
a pedido da PGR (o ministro Barroso é relator do inquérito que
apura a MP dos Portos, na qual Temer é suspeito de ter recebido propina em troca de
benefícios a empresas do setor portuário, dentre as quais Rodrimar).
Ricardo Saud, ex-diretor
de relações institucionais do grupo J&F,
afirmou em sua delação que Rocha
Loures mantinha uma parceria com a Rodrimar,
e que essa parceria seria tão sólida que o então assessor de Michel Temer chegou a indicar um diretor da empresa para receber, em seu nome, propinas da J&F.
Tudo isso nos leva às seguintes considerações:
1) As flechadas
de Janot contra Temer, escudadas pelas marafonas da Câmara (em troca de cargos e
bilhões de reais em verbas parlamentares), não foram meros “delírios” do ex-procurador-geral Rodrigo Janot,
nem tampouco uma retaliação contra o presidente ― que foi o grande
articulador e maior beneficiário do impeachment
da anta vermelha). Afinal, quem comanda a PGR desde setembro do ano passado é Raquel Dodge, e por indicação direta do próprio Michel Temer.
2) O inquérito pode até se limitar aos envolvidos que foram
presos na manhã de ontem, mas é provável que chegue ao próprio presidente, na
forma de uma terceira denúncia contra ele no Congresso. No entanto, faltando 7
meses para as eleições e 9 para a troca de comando, dificilmente teremos outro
processo de impeachment.
3) Por outro lado, a prisão de pessoas tão próximas ao presidente terá
consequências desastrosas sobre seu projeto de concorrer à reeleição ― o que, para alguém
com a popularidade de Michel Temer,
mesmo antes desse incidente já era uma possibilidade tão remota quanto a de um
burro voar.
Observação: Disse o jornalista Valdo Cruz, do G1, que “o cenário inviabilizaria completamente
qualquer pretensão de [Temer]
disputar a reeleição”, e que "a notícia pegou de surpresa o governo, que,
até a noite da última quarta-feira, estava totalmente voltado para as
negociações da reforma ministerial e reorganização da base".
Outros detalhes sobre o caso não foram revelados porque as
investigações correm em segredo de Justiça, mas deverão vir à público na
semana que vem, depois que o Congresso e o Judiciário retornarem ao trabalho. Vamos continuar acompanhado.
E viva o povo brasileiro, majoritariamente composto por apedeutas,
analfabetos e ignorantes, que, supostamente capacitados a votar, não perdem uma única chance de fazer as piores escolhas.
Bom feriadão e uma excelente Páscoa a todos.
EM TEMPO: A IMAGEM A SEGUIR NÃO TEM NADA A VER COM O TEMA DESTA POSTAGEM, MAS COMO HÁ MESES QUE EU DEIXEI DE PUBLICAR O TRADICIONAL HUMOR DE SEXTA-FEIRA, VÁ LÁ QUE SEJA:
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