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quinta-feira, 20 de junho de 2019

A IDEIA É BOA. SÓ FALTA EXECUTAR



Antes do texto do iluminado jornalista J.R. Guzzo, seguem algumas considerações sobre o quiproquó criado pelo site "cumpanhêro" The Intercept Brasil, que vem vazando material criminoso, obtido ilicitamente, visando enxovalhar a reputação do ex-juiz Sérgio Moro, dos procuradores da Lava-Jato e da própria operação anticorrupção que, dentre outros benefícios notórios, levou à prisão o sumo pontífice da seita do inferno.

De dezembro a esta parte, três fatos produzidos no arraial lulista e no STF comprovam por si só que o hackeamento dos celulares de agentes da lei foi idealizado, encomendado e pago por suspeitos, acusados, processados e condenados na Lava-Jato e suas derivações. Dois são spoilers: O primeiro, do ministro Gilmar Mendes, que pediu vista do recurso da defesa de Lula e devolveu para julgamento assim que o Intercept publicou sua imunda obra de desconstrução. O segundo, ainda mais suspeito, do próprio Lula, que, na entrevista dada em abril à Folha e a El Pais, garantiu que Moro “seria desmascarado”. O terceiro é Lula e seus advogados acrescentaram aos argumentos apresentados no recurso o material criminoso divulgado pelo tal site ímprobo.

Sobre a interminável sessão na CCJ do Senado, durante a qual, por todo o dia de ontem, o ministro Sérgio Moro foi submetido a uma edição revista e atualizada da Santa Inquisição, falarei numa próxima oportunidade. Passemos sem mais delongas ao artigo de Guzzo:

A mais rica cidade do Brasil é atravessada de ponta a ponta, ao longo de quase 25 quilômetros, por um dos mais extensos, perigosos e sinistros esgotos a céu aberto do planeta: o Rio Tietê. Essa fossa, riquíssima em tudo o que pode haver em matéria de coisa podre, de lixo e de tóxicos em seus estados mais agressivos, é confinada entre avenidas gigantes dos dois lados, as célebres “Marginais”, pelas quais passam diariamente cerca de 2 milhões de veículos com toda a emissão de gás carbônico a que têm direito. Um sujeito que cair ali dentro pode perfeitamente não ter tempo de se afogar corre o risco real de morrer envenenado antes, no meio da pasta química mortal que substitui há décadas a água corrente do rio.

Nenhuma forma conhecida de vida sobrevive dentro desse horror, mas isso é só uma parte do problema. Pouco antes de sair do município de São Paulo, em direção à sua foz 1.100 quilômetros adiante, o Tietê encontra o canal do Rio Pinheiros outro sério concorrente ao título de Oitava Maravilha da Poluição Urbana do Mundo, negro de imundície e igualmente ladeado por duas avenidas de tráfego insano. Sua única vantagem: é um pouco mais curto que a cloaca irmã. 

Parece claro que existe aí um problema ambiental monstruoso, desses que teriam de ser resolvidos antes de quaisquer outros pelas autoridades e defensores da natureza em qualquer país mais ou menos civilizado do mundo até porque prejudica diretamente os 21 milhões de brasileiros que moram na área metropolitana de São Paulo. Parece, mas não é. Não apenas não é: não passa pela cabeça de ninguém que possa ser assim, entre os milhares de ambientalistas, ecologistas, engenheiros ambientais, naturalistas, indigenistas, procuradores, fiscais e o resto dos burocratas que infestam as repartições de defesa do meio ambiente nos três níveis da administração.

Isso sem contar, naturalmente, com as ONGs “do verde”; para essas, então, falar em poluição urbana é praticamente um crime. A única questão ambiental válida, em tal mundo, é o pacote que engloba florestas, cerrados, mangues, ilhas perdidas, fauna, flora, bagres de rio tudo, em suma, que não inclua o ser humano, salvo se ele for índio. O Rio Tietê que se dane. O que interessa é pegar o cidadão que cortou um pé de gabiroba num sítio perdido em algum fim de mundo, ou exigir prisão inafiançável para o infeliz que matou um macaco-prego no sertão do Ceará.

O verdadeiro desastre ambiental do Brasil do século XXI não está no meio do mato, e sim na cara de todo o mundo, todos os dias; não afeta sapos ou papagaios, mas mata gente de carne e osso. Centenas de cidades brasileiras com mais de 50.000 habitantes são envenenadas por rios mortos como o Tietê e o Pinheiros. Não menos que 50% da população, ou 100 milhões de pessoas, não dispõem de esgotos. Uns outros 40 milhões, possivelmente, não têm acesso a água tratada de boa qualidade. Há 3.000 lixões em pleno funcionamento em 1.600 cidades por todo o país aterros ao ar livre onde lixo e todo tipo de detritos são jogados e abandonados, sem qualquer tratamento. Desde 2014 não deveria mais existir nenhum lixão aberto no Brasil, por exigência da lei; só que há mais lixões hoje do que havia cinco anos atrás. Essas cordilheiras de dejetos contaminam a água, poluem o ar e envenenam o solo. Cerca de 95 milhões de cidadãos, segundo cálculos das empresas de limpeza pública, têm sua saúde e qualidade de vida diretamente prejudicadas pelo descarte no lixo no meio da população em geral.

Mas quem é que está ligando para isso, entre os autocratas ambientais? Suas paixões são outras. Entre os surtos que vivem tendo, tornou-se conhecido, recentemente, o bloqueio que o Ministério Publico comanda há oito anos contra a construção da linha mestra de transmissão de energia elétrica em Roraima. Como os 350 índios Waimiri isso mesmo, 350 que vivem nos 225.000 quilômetros quadrados de Roraima têm objeções ao linhão, o MP vem vetando sistematicamente as obras, desde sua aprovação em 2011. Com isso, a maior parte do território do Estado e seus 500.000 habitantes não recebem um único watt de eletricidade brasileira. São obrigados a depender de fornecimento importado da Venezuela que hoje não consegue produzir nem papel higiênico, e vive falhando na entrega. Há, agora, um esboço de solução. A população de Roraima reza.

O universo ecológico diz que o Brasil deveria, ao mesmo tempo, eliminar seus problemas ambientais urbanos, permitir o progresso e preservar a natureza. Grande ideia. É só executar.

Texto de J.R. Guzzo

Mudando de pato pra ganso, assista a este vídeo: