QUEM DIZ QUE
FUTEBOL NÃO TEM LÓGICA OU NÃO ENTENDE DE FUTEBOL OU NÃO SABE O QUE É LÓGICA.
Lembra do
tempo em que você fazia uma cópia da chave do carro por 2 mirréis? Então esquece! Com a popularização das chaves
codificadas eletronicamente, todo o cuidado é pouco, já que uma cópia pode
custar os olhos da cara, tanto nas concessionárias quanto nos chaveiros
independentes.
O preço
varia conforme o tipo de chave. As mais comuns saem mais em conta,
naturalmente, mas as do tipo “canivete” ― que geralmente ativam/desativam o
alarme, travam/destravam as portas, etc. ― e, pior, as “presenciais” ― que o usuário
nem precisa tirar do bolso ou da bolsa para abrir o carro e dar a partida no motor
― custam pequenas fortunas.
Um
levantamento publicado pela revista Quatro
Rodas deste mês dá conta de que, em 3 concessionárias pesquisadas (duas em
São Paulo e uma no Rio de Janeiro), uma cópia da chave do Cruze LTZ, que é presencial e capaz de ligar o motor a distância,
varia de R$ 860 a R$ 1.529, e o prazo para entrega pode
chegar a 10 dias úteis (esses valores englobam a peça e a mão de obra para
codificação). Mesmo fora da rede Chevrolet o preço assusta e a variação, idem:
de R$ 780 a R$ 2.000. A vantagem é que, nesse caso, o serviço é feito na hora.
Note que os
preços não são muito diferentes para veículos de outras marcas, inclusive
modelos ditos “populares”, embora paulada costume ser maior nos de topo de
linha. Por uma cópia da chave de uma Audi
A3, por exemplo, as concessionárias consultadas (uma em Brasília, outra em
Ribeirão Preto e uma terceira no ABC paulista) pediram de R$ 3.000 a R$ 3.900, e o
prazo de entrega chegou a ― pasmem! ― 30 dias úteis! Já o chaveiro independente
consultado pela reportagem fornecia a chave pronta para uso por “módicos” R$ 2.700 (menos do que as autorizadas
pediram somente pela peça, sem o serviço de codificação).
É mole?
Diz um velho ditado
que “a incerteza que esvoaça desgraça mais que a própria desgraça”. E incerteza
é o que não falta no cenário político tupiniquim, notadamente de quinta-feira
para cá, depois que o Beechcraft C90GT King Air prefixo PR-SOM,
da Emiliano Empreendimentos e Participações Hoteleiras, caiu na costa
verde fluminense, a apenas 2 km do campo de pouso de destino, em Paraty, causando
a morte dos 5 ocupantes, dentre os quais o ministro Teori Zavascki.
Muito se vem
especulando sobre esse “pavoroso acidente” e sua repercussão no futuro da
Lava-Jato, mas pouco do que se diz reflete os fatos. As informações são
desencontradas, o que é dito passa a não dito em questão de horas e, como que
para adensar ainda mais essa bruma, o juiz Raffaele Felice Pirro, da Justiça Federal no Rio, colocou as
investigações sob sigilo, jogando mais lenha na fogueira das teorias
conspiratórias, já fartamente alimentada pela denúncia de Francisco Zavascki, filho do ministro, de supostos “movimentos para
frear a Lava-Jato” e ameaças contra seu pai e sua família (que a PF teria investigado e descartado); por
relatos que dão conta de um rastro de fumaça branca durante a queda do avião ―
que estava com as revisões em dia e era pilotado por um comandante com larga
experiência em pousos na pista de Paraty, inclusive sob condições
meteorológicas adversas; do aumento inusitado nos acessos a informações sobre a
aeronave no site Jet Photos ―
quase 2.000 no último dia 3, quando a média dos dias anteriores era quase zero ―,
e por aí segue a procissão.
No que concerne à Delação
do Fim do Mundo, o ministro Zavascki
não interrompeu totalmente os trabalhos durante o recesso, já que encarregou
juízes auxiliares de analisar os mais de 800 depoimentos dos 77 ex-funcionários
do alto escalão da Odebrecht,
inclusive o próprio Emílio e seu
filho Marcelo. Até a tarde da última
quinta-feira, tudo indicava que as delações seriam homologadas já no início de
fevereiro, e a partir daí seu conteúdo seria divulgado ― e isso vinha tirando o
sono de gente graúda, como Lula, Dilma, políticos dos mais diversos
partidos, governadores, ministros de Estado e o próprio Michel Temer, cujo nome teria sido suscitado dezenas de vezes pelos
delatores (confira mais detalhes neste vídeo).
O que se tem de concreto até agora é que o sucessor de Zavascki não herdará a relatoria da
Lava-Jato, pois Temer já decidiu que
só fará a indicação depois que a Corte resolver internamente essa questão,
dando um recado de confiabilidade, firmeza e compromisso com a justiça, e, ao
mesmo tempo, evitando afrontar o Supremo (nem é preciso dizer que o vácuo
criado na relatoria dos processos da Lava-Jato coloca o governo à beira de mais
uma crise institucional, inclusive porque o novo ministro será indicado por um
presidente cujo nome foi suscitado por delatores, e chancelado pelo plenário do
Senado, composto por dezenas de parlamentares investigados/denunciados no
âmbito da Operação e presidido por ninguém menos que Renan Calheiros ― pelo menos até o final deste mês, já que o
Cangaceiro das Alagoas deve trocar de posto com Eunício de Oliveira a partir de fevereiro).
A ministra Carmen
Lucia aventou a possibilidade de avocar para si a homologação das delações
da Odebrecht, mas ainda não se sabe se ela o fará de ofício (exercendo
as prerrogativas que a presidência do Supremo lhe confere), se designará o novo
relator ou se determinará a realização de um sorteio ― caso em que também não
se sabe se apenas os 4 ministros da 2a Turma ― que, além de Zavascki,
contava com Gilmar Mendes, Celso de Mello, Dias Toffoli e Ricardo
Lewandowski ― ou se todos os integrantes da Corte participarão (com exceção
da presidente Carmen Lucia, naturalmente). A boa notícia é que ela autorizou
os assessores de Teori a dar andamento aos trabalhos (que estavam
suspensos desde a última quinta-feira), mas a má notícia é que a janela de
oportunidade que lhe permite definir de ofício o novo relator se fecha no
próximo dia 31, quando termina o recesso do Judiciário.
Observação: Três juízes auxiliares que foram convocados
para atuar no gabinete de Teori devem tomar depoimentos dos delatores e reiterar
os termos dos acordos ― multa a ser
paga, benefícios e compromissos assumidos. Os depoimentos das delações em si,
que detalham esquemas de corrupção e implicam centenas de políticos dos
principais partidos, ficam para a próxima fase.
O presidente da OAB,
Claudio Lamachia, elogiou a decisão da presidente do STF. Segundo ele, “a
sociedade precisa de respostas e, por isso, é necessário dar celeridade aos
processos da Lava-Jato, que exigem definição imediata, de modo a diminuir a
insegurança e destravar o país”.
Para concluir, segue
um rápido apanhado do que nos reserva a definição desse imbróglio (na minha
opinião, naturalmente):
Gilmar Mendes
é midiático, fala mais que locutor esportivo e não raro se estranha com o MPF. Dias
Toffoli, o ministro menos preparado (do ponto de vista
técnico), já foi advogado da CUT e do PT, e sua simpatia por Lula e
pelos petralhas é notória (vale lembrar que seu nome foi suscitado na delação
de Leo Pinheiro, que, inexplicavelmente, continua suspensa). Lewandowski
dispensa apresentações, a julgar por sua atuação no processo do mensalão e,
mais recentemente, no impeachment da anta vermelha, quando apoiou Renan
Calheiros na criação da jabuticaba jurídica que depôs a presidanta, mas não
a inabilitou ao exercício de cargos públicos (isso sem mencionar que articulou
com Dilma e o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
uma tramoia para frear a Lava-Jato ― para a qual Zavascki foi chamado a
participar, mas, sabiamente, declinou do convite). Edson Fachin foi
indicado por Dilma, e chegou-se a dizer que para ajudar numa “operação
abafa” e coisa e tal, mas deu a volta por cima com decisões que, se não foram
unânimes no plenário, não tiveram contestação óbvia (demais disso, ele se deu
por impedido de julgar um caso envolvendo Lula, por ser padrinho da
filha de um dos advogados do petralha). Luiz Fux e Marco Aurélio
são duas incógnitas (este último, aliás, é useiro e vezeiro em tomar decisões
que não são seguidas por seus pares). Rosa Weber tem pouca experiência
na área criminal ― e votou contra a prisão de condenados já em segunda instância.
Barroso é vaidoso, mas competente, e já deu mostras de que simpatiza com
a Lava-Jato. Celso de Mello, decano da Corte, é respeitado dentro e fora
do tribunal, mas pesa contra ele aquela palhaçada que afastou Renan
Calheiros da linha sucessória presidencial e, ao mesmo tempo, preservou-lhe
o mandato e o manteve na presidência do Senado ― claro que foi um caso
excepcionalíssimo, mas ainda assim...
Segundo O Antagonista,
a solução ideal seria Carmen Lucia costurar um acordo com os demais
ministros e entregar a relatoria da Lava-Jato a Edson Fachin. Eu assino
embaixo, mas ressalvo que Celso de Mello também seria uma alternativa
interessante. Enfim, a roda está girando. Façam suas apostas.
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