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quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O TEMPO DE TRÁS PARA FRENTE

O PROBLEMA DO MUNDO DE HOJE É QUE AS PESSOAS INTELIGENTES ESTÃO CHEIAS DE DÚVIDAS E AS IDIOTAS, CHEIAS DE CERTEZAS. 

Por que nos lembramos do passado, mas não do futuro? Por que um ovo quebrado nunca volta a ser inteiro? Essas perguntas intrigaram o astrônomo britânico Arthur Eddington, que foi buscar a explicação no conceito de entropia — previsto na Segunda Lei da Termodinâmica — que mede a desordem ou aleatoriedade de um sistema. Em um sistema isolado (como o Universo), a desordem permanece a mesma ou aumenta, mas jamais diminui espontaneamente. 


Um vaso de porcelana, por exemplo, é uma estrutura altamente ordenada até cair e se espatifar em centenas de cacos, quando então ele se move de um estado de baixa entropia (ordem) para um estado de alta entropia (desordem). Como o processo inverso jamais acontece sozinho, ou seja, os cacos não se juntam espontaneamente, a "seta termodinâmica do tempo" é a seta da entropia e, portanto, unidirecional.


O "passado" é o estado em que as coisas eram mais ordenadas e o "futuro", a direção para onde a desordem é maior. Como o universo está preso nessa jornada inevitável da ordem para a desordem, o tempo como o conhecemos só pode avançar, e assim o passado molda o presente e o presente constrói o futuro.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Moraes rejeitou o pedido de avaliação médica feito pelo governo do DF para determinar se Bolsonaro tem condições de cumprir pena no complexo prisional da Papuda, onde José Dirceu, Sérgio Cabral e Valdemar Costa Neto, entre outros políticos famosos, já estiveram presos. A expectativa é que o pedido volte a ser analisado depois que o cumprimento da pena for decretado.

Outros seis réus condenados no mesmo processo também podem ter o cumprimento de pena decretado em breve, inclusive três ex-generais do Exército que foram ministros no governo Bolsonaro: Augusto Heleno, Walter Braga Netto, e Paulo Sérgio Nogueira. Como benefício do acordo de colaboração premiada, Mauro Cid foi condenado a apenas dois anos de reclusão em regime aberto. Os demais devem ficar detidos em presídios comuns, como o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, ou em salas especiais dentro de quartéis do Exército e da Marinha em Brasília e no Rio de Janeiro.


Diz o ditado que o diabo mora nos detalhes, e o detalhe é que o mundo que vemos — o microcosmo — obedece às regras da física clássica (como as leis de Newton e a relatividade de Einstein). Nesse universo, tudo é intuitivo e determinístico, mas basta mergulhar no microuniverso das partículas subatômicas para essas regras deixarem de funcionar. Nos domínios da física quântica, regidos por leis completamente diferentes e anti-intuitivas, lida-se com possibilidades, não com certezas.


Uma partícula pode existir em múltiplos estados ao mesmo tempo (ou seja, estar em vários lugares simultaneamente) até o momento em que a medimos. Além disso, duas partículas podem estar conectadas de forma que, ao medir uma, sabemos o estado da outra, não importa a distância que as separa. Essa divisão entre o mundo clássico e o quântico é um dos maiores mistérios da física moderna, e a busca por uma Teoria de Tudo é, em essência, a tentativa de encontrar um conjunto único de leis que unifique essas duas realidades.


Segundo o físico Yakir Aharonov, da Universidade de Chapman, na Califórnia, há indícios de que as escolhas feitas agora (ou seja, no presente) podem influenciar o estado de uma partícula no passado. Conhecida como retrocausalidade quântica, essa hipótese sustenta que a relação tradicional de causa e efeito pode se inverter em certas condições, o que desafia o senso comum sobre o fluxo do tempo.


Para compreender isso, é preciso revisitar a dualidade onda-partícula — conceito segundo o qual elétrons e fótons podem se comportar ora como ondas, espalhando-se em várias direções ao mesmo tempo, ora como partículas, seguindo um caminho definido. Note, porém, que esse comportamento não depende apenas da partícula em si, mas da forma como ela é observada — em outras palavras, é o ato de medição que decide se veremos um padrão de interferência (onda) ou um ponto localizado (partícula). 


Essa curiosa dependência entre observação e realidade levou os físicos a questionarem até onde vai a relação entre causa e efeito. Na década de 1970, o físico John Wheeler propôs o Experimento da Escolha Atrasada, sugerindo que a decisão do observador — feita após a partícula atravessar um aparato — pode influenciar como ela havia se comportado antes. Décadas depois, o Apagador Quântico de Escolha Retardada reforçou essa ideia ao mostrar que, no caso de duas partículas entrelaçadas, mesmo separadas por grandes distâncias, a medição de uma parece definir instantaneamente o estado da outra, como se a “ligação” entre as duas transcendesse o espaço e o tempo.


Por estar restrita ao mundo subatômico, onde as leis da natureza parecem seguir uma lógica própria — ou talvez várias lógicas simultâneas — essa “retrocausalidade” não significa necessariamente que seja possível viajar no tempo, reencontrar o passado e alterar grandes eventos, apenas que o estado de uma partícula depende não só das condições iniciais, mas também do resultado final da medição. Em outras palavras, o passado e o futuro estariam entrelaçados em uma mesma estrutura, e a realidade surgiria desse elo duplo.


Alguns físicos consideram essa hipótese uma alternativa elegante às interpretações mais ousadas da mecânica quântica, como a dos “muitos mundos” ou do “colapso aleatório da função de onda”. Se a retrocausalidade estiver correta, talvez não haja necessidade de múltiplos universos se ramificando — basta uma teia quântica onde causas e efeitos se estendem em duas direções temporais.


Sob a lente da filosofia, se o futuro pode influenciar o passado, o que dizer do livre-arbítrio? E se nossas escolhas já estivessem “escritas” nas condições futuras que ainda não aconteceram? Seríamos autores de nossas decisões ou apenas personagens de uma história que se ajusta em ambas as pontas do tempo?


Para tentar responder a essas perguntas, é preciso ter em mente que a retrocausalidade não viola a causalidade clássica nem permite enviar informações instantaneamente. O fenômeno respeita as restrições da relatividade e não contradiz o fato de que, no mundo macroscópico, o tempo segue sua marcha adiante. Por outro lado, ele demonstra que o tempo, no nível quântico, não é tão rígido quanto costumamos imaginar.


Talvez o universo funcione como um roteirista que escreve o enredo, assiste ao desfecho e, insatisfeito com o resultado, reescreve as cenas iniciais para que tudo faça sentido. A diferença é que, nesse caso, nós somos os personagens — e o roteiro, por mais estranho que pareça, ainda está sendo editado em tempo real… ou quase.


No fim das contas, talvez o tempo não seja uma estrada que percorremos, mas uma tapeçaria tecida em duas direções, com o futuro puxando os fios do passado enquanto o presente tenta dar sentido ao desenho. Se for assim, cada escolha nossa seria não o início de algo novo, mas o eco de um resultado que já estava lá, esperando para acontecer.


Um pensamento desconfortável, é verdade… mas quem disse que o universo está preocupado com nosso conforto?


sexta-feira, 31 de outubro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 51ª PARTE — SOBRE A SETA DO TEMPO

FUGIT IRREPARABILE TEMPUS.

A expressão arrow of time (flecha do tempo, numa tradução direta) foi cunhada pelo astrofísico britânico Arthur Eddington no final da década de 1920, mas a ideia de que o tempo é unidirecional remonta à Segunda Lei da Termodinâmica, proposta no século XIX, que trata da entropia — medida de desordem e aleatoriedade.

 

Em um sistema fechado, a entropia tende a aumentar com o passar do tempo. Quando um copo se quebra, por exemplo, seus cacos não se juntam espontaneamente. No entanto, a ideia de que a seta do tempo está intrinsecamente ligada à seta entrópica não é unanimidade entre físicos e cosmólogos. 


Alguns cientistas argumentam que, embora a entropia descreva fenômenos macroscópicos, em escalas microscópicas as interações fundamentais da física (como as equações da mecânica quântica e da relatividade geral) são majoritariamente simétricas no tempo. E mais: se pudéssemos reverter as velocidades de todas as partículas em um sistema, ele retornaria ao seu estado anterior. A unidirecionalidade do tempo emergiria apenas em sistemas complexos, com grande número de partículas. 


O fato de o Universo ter surgido de um estado de baixa entropia (Big Bang) pode explicar o aumento contínuo da desordem que observamos hoje e, consequentemente, a flecha do tempo. Mas o "porquê" dessa condição inicial permanece um mistério.

 

Nossa percepção é que o tempo flui do passado para o futuro. Nesse contexto, nossas lembranças pertencem ao passado, e nossas expectativas, ao futuro. Mas algumas teorias cosmológicas especulam sobre universos cíclicos, em que períodos de contração (grande colapso) sucedem à grande expansão. Nesses cenários, a seta do tempo poderia se inverter durante a fase de contração, o que significaria uma diminuição da entropia — lembrando que essas hipóteses são meramente teóricas.

 

Embora a Segunda Lei da Termodinâmica forneça uma explicação robusta para a direção observada do tempo, o debate em torno da natureza fundamental da seta do tempo e suas implicações cosmológicas continua sendo uma área vibrante de pesquisa — e um dos grandes mistérios da física. Uma equipe internacional liderada por físicos brasileiros demonstrou experimentalmente que o desenrolar contínuo do tempo do passado rumo ao futuro é um conceito relativo. Em seu artigo — ainda em revisão para publicação — os pesquisadores descrevem o experimento, detalham os resultados e explicam por que suas descobertas não violam a lei retromencionada.

 

A ideia de partículas emaranhadas (ou entrelaçadas) tornou-se conhecida graças aos esforços para transformá-las em qubits para computadores quânticos. Mas outra propriedade menos famosa das partículas subatômicas é o correlacionamento: quando correlacionadas, elas se ligam de modos que não ocorrem no mundo macroscópico. Os pesquisadores usaram esse correlacionamento para alterar a direção da seta do tempo. Após modificarem a temperatura dos núcleos em dois átomos de uma molécula de triclorometano (hidrogênio e carbono), deixando o núcleo de hidrogênio mais quente do que o de carbono, eles observaram que, quando os núcleos não estavam correlacionados, o calor fluía como esperado — do núcleo mais quente para o mais frio. No entanto, quando os núcleos estavam correlacionados, o núcleo quente ficou ainda mais quente, e o frio, ainda mais frio.


Como é a própria assimetria do fluxo de calor (ou seja, a entropia) que define a direção do tempo, a equipe concluiu que o experimento inverteu a seta do tempo — isto é, fez o tempo "correr para trás". Segundo os pesquisadores, esse resultado abre a possibilidade de controlar ou até mesmo inverter a seta do tempo, dependendo das condições iniciais. E não há violação da Segunda Lei da Termodinâmica porque ela pressupõe a ausência de correlações entre as partículas — exatamente o fator que permitiu a reversão observada.

 

Outros experimentos já demonstraram a reversão do fluxo temporal, alimentando novas discussões sobre a existência de uma fronteira a partir da qual o tempo deixa de fluir para o futuro. Embora não vejamos copos quebrados se desquebrando por aí, as leis fundamentais da física não pressupõem necessariamente uma única direção, já que as equações permanecem as mesmas, independentemente de o tempo avançar ou recuar.

 

Resumo da ópera: a seta do tempo é um conceito relativo, e se setas opostas podem emergir de sistemas quânticos abertos, então também seria possível — ao menos em tese — viajar para o futuro ou para o passado.


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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 45ª PARTE — SETAS DO TEMPO: DA SIMETRIA QUÂNTICA À DESORDEM CÓSMICA

SE NÃO FOSSE A LUZ, NÃO EXISTIRIA SOMBRA.

Nossos antepassados começaram a contar o tempo quando perceberam padrões no amanhecer, no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Há cerca de 5.000 anos, os egípcios criaram um calendário baseado na observação da estrela Sirius. Mais ou menos na mesma época, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias. Em 1582, o papa Gregório XIII substituiu o calendário solar que Júlio César implementou em 46 a.C. pelo modelo hoje adotado oficialmente por 189 dos 193 países-membros da ONU.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Pelo andar da carruagem, Bolsonaro e outros 7 integrantes do núcleo crucial do golpe conhecerão suas penas na próxima sexta-feira. Até lá, haja antiácido, plasil e pantoprazol, pois o assunto continuará em destaque nos telejornais, assim como as manobras dos parlamentares bolsonaristas para pautar uma proposta de anistia que contemple também — e principalmente — o ex-presidente e seus asseclas de alto coturno.

Se a anistia fosse um filme, ele se chamaria "O Exterminador do Futuro". Na saga original, Schwarzenegger é enviado ao passado para matar a mãe de um líder revolucionário que incomoda o governo no presente — se o inimigo não nascer no passado, o problema deixa de existir no futuro. A proposta de anistia dos bolsonaristas segue a mesma lógica: enviar para o arquivo morto os inquéritos sobre fake news e milícias digitais, usados por Xandão como incubadoras, daria cabo de todos os problemas criminais de Bolsonaro et caterva. 

A proposta perdoaria todos aqueles que "tenham sido ou estejam sendo ou, ainda, eventualmente, possam vir a ser investigados, processados ou condenados" por crimes variados, inclui desde o complô golpista de Bolsonaro ao atentado à soberania nacional do filho Eduardo, passando pelo custeio de acampamentos de quartel e pelo quebra-quebra de 8 de janeiro.

A falta de limites do bolsonarismo ultrapassou todos os limites. Inclusive os do Centrão, pois o projeto apaga "todas as inelegibilidades já declaradas ou que venham a ser declaradas pela Justiça Eleitoral contra os anistiados. Bolsonaro, dodói e entristecido, voltaria a ser um presidenciável "imbrochável", estalando de novo. Tarcísio de Freitas, afilhado político do xamã golpista, estendeu a mão para a facção pró-anistia, mas descobriu que o bolsonarismo quer o braço, o tronco, a alma... 

A sorte é que o absurdo deve ser barrado — sob pena de todos os malfeitores se reunirem e mandarem um novo Schwarzenegger voltar 525 anos no tempo, aguardar na praia pela chegada da primeira caravela e exterminar Cabral e sua trupe.

Embora os relógios de sol e clepsidras tenham evoluído para sofisticados modelos atômicos, a ciência ainda não consegue explicar plenamente o que é o tempo. No século XVII, Isaac Newton comparou-o a uma flecha disparada de um arco, viajando em linha reta e velocidade constante. No  seu entender, a velocidade da luz podia variar, mas o tempo era constante e imutável em qualquer ponto do Universo.

Em 1905, Albert Einstein propôs que o tempo e o espaço são partes de uma única estrutura — o espaço-tempo. Segundo ele, com exceção da velocidade da luz, tudo é relativo no Universo, e a passagem do tempo varia conforme a velocidade do observador e a intensidade do campo gravitacional ao qual ele está submetido. Isso foi comprovado experimentalmente nos anos 1970, quando pesquisadores colocaram quatro relógios atômicos a bordo de aviões que deram a volta ao mundo, primeiro para o leste, depois para o oeste, e observaram um atraso de 59 nanossegundos e um avanço de 273 nanossegundos, respectivamente, em comparação com o padrão do Observatório Naval dos EUA.

De acordo com o astrônomo britânico Arthur Eddington, a "seta do tempo" aponta para o futuro quando a entropia aumenta e para o passado quando ela diminui. Até onde se sabe, a entropia só aumenta — ou seja, estruturas ordenadas perdem sua ordem, vasos de porcelana viram cacos e, por aí vai —, exceto nos sistemas quânticos, onde ela permanece constante quando tudo é deixado ao acaso. 

ObservaçãoOutra teoria sugere que o Universo “puxa” o tempo conforme se expande, e como o tempo e o espaço formam uma estrutura única, eventual reversão da expansão cósmica faria com que o espaço se contraísse e o tempo retrocedesse.

Ainda que as leis da física clássica sejam simétricas no tempo, os fenômenos termodinâmicos que observamos no cotidiano não são. Mas essa aparente contradição é resolvida quando se considera que o Universo começou num estado de entropia extremamente baixa, mas que vem aumentando sua desordem desde então. Mais que as próprias leis da física, esse ponto de partida incomum pode ser o verdadeiro responsável por termos uma seta do tempo. E como ninguém jamais viu os cacos de um vaso quebrado se rearranjarem espontaneamente, a experiência cotidiana reforça a ideia de que essa seta aponta somente para o futuro.

Se a seta do tempo aponta sempre da entropia menor (passado) para a maior (futuro), mesmo nos sistemas quânticos inicialmente ordenados, conclui-se que a entropia cresce até atingir um estado total de desordem. No entanto, segundo o físico John von Neumanna entropia de um sistema quântico não pode mudar, e se ela permanece sempre a mesma, não é possível saber se o tempo está correndo para frente ou para trás.


Essas considerações são irrelevantes ao lidar com sistemas quânticos elementares — como o átomo de hidrogênio, com um único elétron —, mas tornam-se cruciais quando se estuda sistemas com muitas partículas. Nestes casos, é preciso conciliar a teoria quântica com a termodinâmica, o que pode ser tão complicado quanto unificar a Relatividade e a Mecânica Quântica e combinar a gravidade com as outras três forças fundamentais da natureza. Por outro lado, talvez isso também seja apenas uma questão de tempo. 


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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 44ª PARTE — QUANDO O FUTURO TAMBÉM APONTA PARA TRÁS

O MAIOR CASTIGO DO MENTIROSO NÃO É OS OUTROS NÃO ACREDITAREM NELE, MAS ELE NÃO PODER ACREDITAR NOS OUTROS.

A viagem no tempo sempre fascinou a humanidade, mas um dos maiores obstáculos para sua realização está na própria natureza do tempo e na manipulação da entropia — a medida da desordem de um sistema físico. 


Para compreender essa complexidade, imagine um vaso sobre uma mesa: sua entropia é baixa, mas aumentaria drasticamente se ele caísse e se quebrasse. Os cacos não se reorganizariam sozinhos, ilustrando perfeitamente a irreversibilidade que governa nosso mundo cotidiano.

 

Em escala cósmica, porém a passagem do tempo parece estar conectada à expansão contínua do universo em todas as direções — um fenômeno que nos fornece uma orientação temporal clara desde o Big Bang.


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No segundo dia do julgamento do século, o advogado de Bolsonaro afirmou que “não há uma única prova” que ligue o ex-presidente ao 8 de janeiro, que seu cliente não atentou contra o estado democrático de direito e que a delação de Mauro Cid “não é confiável”. Para o advogado Braga Netto, Cid "mente descaradamente", e para o patrono do general Augusto Heleno "um juiz não pode se tornar protagonista do processo”.

A condenação dos réus são favas contada e as penas máximas previstas para os cinco crimes  somam mais de 40 anos de prisão. Resta saber onde Bolsonaro gozará suas  férias compulsórias. Lula  passou 580 dias hospedado numa cela VIP da Superintendência da PF em Curitiba. Na condição de oficial do Exército, o "mito" pode ficar numa cela no Comando Militar do Planalto — ou não, já que a condenação criminal resulta em perda de patente.

As próximas sessões do julgamento estão marcadas para os dias 9, 10 e 12. A previsão é que o resultado do julgamento seja conhecido na sexta-feira, 12. Além de votarem pela condenação ou absolvição de cada um deles, os ministros precisam definir a dosimetria da pena – quanto tempo eles ficarão presosCogita-se que o ex-presidente e seus cúmplices cumpram as penas no Complexo Penitenciário da Papuda, que abriga mais de 16 mil detentos, mas possui uma ala separada dos presos de maior periculosidade para abrigar os assim chamados "vulneráveis"Mas não seria surpresa se, a exemplo de Collor, o "mito" cavasse uma prisão domiciliar por "razões humanitárias". Afinal, isto aqui é Brasil. 

Bolsonaro aposta suas fichas no Congresso, mas, mesmo se aprovada nas duas Casas, a anistia será vetada por Lula. Deputados e senadores poderiam derrubar o veto, mas nesse caso a aberração seria barrada no STF, que vê as articulações como inócuas. Nos bastidores, as togas afirmam que a proposta é inconstitucional e dificilmente passaria no plenário da Corte. Eles lembraram ainda da tentativa do próprio Bolsonaro de conceder um indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, considerado inconstitucional por não poder ser aplicado a crimes contra o Estado Democrático de Direito. 

Mesmo considerando que o PL da anistia não teria efeitos práticos, ministros avaliam que sua aprovação no Congresso representaria uma afronta à Corte, e admitem que poderiam contra-atacar votando pelo fim das emendas impositivas — o tema já está em análise em diversas ações sob relatoria do ministro Flávio Dino. 

Em qualquer hipótese, a ressurreição extemporânea do projeto que passa uma borracha no complô do golpe favorece a estratégia política de Lula. Depois de ser presenteado por Trump com o mote da defesa da soberania, o macróbio ganha do Centrão o material para restaurar o arco democrático que lhe deu a vitória (apertada, mas enfim) em 2022.


Durante séculos, os físicos consideraram a irreversibilidade da "seta do tempo" um princípio fundamental da natureza, mas essa visão vem sendo desafiada pelas descobertas da física quântica, onde as interações são probabilísticas e, em certos contextos, reversíveis através da matéria exótica em estruturas como os buracos de minhoca — lembrando que tanto a existência da matéria exótica quanto dos buracos de minhoca ainda carecem de confirmação observacional direta.

 

Através de simulações matemáticas e experimentos com sistemas fotônicos, pesquisadores da Universidade de Surrey, no Reino Unido, descobriram evidências de que duas setas do tempo opostas podem emergir de certos sistemas quânticos — ou seja, que a reversibilidade pode coexistir com a irreversibilidade, dependendo das condições iniciais e da interação com o ambiente. Essa descoberta desafia a concepção tradicional de causalidade e evolução temporal, e uma eventual confirmação leva a crer que nosso conceito linear do tempo não passa de uma ilusão emergente da realidade macroscópica.


Um aspecto crucial dessa pesquisa é o papel da decoerência e do observador — a decoerência é o processo pelo qual um sistema quântico perde sua coerência, ou seja, deixa de exibir superposição de estados e passa a se comportar como um sistema clássico. Isso significa que o ato de medir ou observar não apenas perturba o sistema, mas pode determinar a direção temporal que ele seguirá. 


Os cientistas propõem a existência de duas setas temporais distintas: a termodinâmica, associada ao aumento da entropia, e a informacional, relacionada ao fluxo de informações nos sistemas quânticos. A questão que permanece é qual das duas experimentamos em nossa realidade cotidiana e se ambas podem coexistir — uma predominando em escalas macroscópicas e a outra restrita ao domínio quântico.

 

Alguns físicos teóricos sugerem que tanto o espaço quanto o tempo podem surgir de propriedades mais fundamentais da informação e da termodinâmica. Se isso estiver correto, o tempo seria mais uma "ilusão útil" do que um componente básico da realidade. Em ambientes extremos — como nas proximidades de buracos negros, onde as singularidades fazem com que as leis conhecidas da física não se apliquem —, ele pode literalmente "andar para trás" ou seguir direções não convencionais. 


Isso levanta questões fascinantes sobre como múltiplas setas temporais poderiam se manifestar em escalas cosmológicas, já que conceitos como "passado" e "futuro" podem ser apenas produtos de nossa percepção limitada. Nesse cenário, talvez o futuro não seja tão predefinido quanto imaginamos, e o livre-arbítrio poderia existir em um nível mais profundo, onde nossas escolhas não apenas moldam o presente, mas influenciam a própria direção temporal. 


Atribui-se ao filósofo grego Sócrates máxima "só sei que nada sei", que, a despeito da origem incerta, aplica-se perfeitamente a nosso entendimento atual do tempo: quanto mais os cientistas se aprofundam na exploração do tempo quântico, mais claro fica que eles estão apenas no início de uma jornada emocionante e complexa.

 

A possibilidade de navegar pelo tempo como um barco por um rio — avançando e retrocedendo — pode parecer ficção científica, mas os avanços da ciência sugerem que a realidade pode ser muito mais maleável e surpreendente do que nossa experiência cotidiana nos leva a crer.


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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL — ENTRE MITOS E REALIDADES

HÁ MAIS RIQUEZA NOS LIVROS DO QUE NA ARCA QUE LONG JOHN SILVER ENTERROU NA ILHA DO TESOURO. 

 

Troncos caídos, pedras redondas e que tais eram abundantes na natureza, mas transformar a simples observação de que “coisas redondas rolam” em algo funcional — com eixo, encaixe e aplicação sistemática — foi um salto conceitual gigantesco.


A roda surgiu como tecnologia quando alguém teve a ideia de fazer um furo no centro de um objeto circular, enfiar uma vareta e colocar para rodar. Os barcos a remo só ganharam velas quando alguém pensou em usar grandes rios — como o Nilo — para escoar o excedente da produção agrícola. Já as caravelas, naus e demais embarcações à vela surgiram na “Era das Grandes Navegações” e continuaram em uso até o início dos anos 1800, quando apareceram os primeiros barcos a vapor. O motor a diesel, desenvolvido pelo engenheiro mecânico Rudolf Diesel, só começou a se popularizar no início do século XX. 


Do ponto de vista da tecnologia, o mundo evoluiu mais nos últimos 200 anos do que nos 500 séculos que separam a invenção da roda da Revolução IndustrialA IA despontou nos anos 1950, e as décadas seguintes trouxeram avanços em áreas como processamento de linguagem natural, games e redes neurais artificiais. O advento da Internet impulsionou a computação em nuvem e o deep learning, que hoje estão presentes em setores tão diversos quanto saúde, finanças, transporte e manufatura, mas ainda enfrentam desafios como interpretabilidade, viés algorítmico e questões éticas.

 

Novidades sempre geraram incertezas, e incertezas, insegurança. No tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos incompreensíveis à luz do conhecimento de então deram origem ao misticismo, que evoluiu para as religiões. Na Idade Média, a Igreja receava que a invenção da Prensa de Gutemberg ameaçaria seu controle sobre o "rebanho". No século XVIII, os Luditas destruíram fábricas e queimaram teares mecanizados, mas, no fim das contas, o aumento da produtividade gerou novos empregos e melhorou a qualidade de vida. 


Pessoas esclarecidas não só se adaptam às novas tecnologias como percebem os benefícios que elas proporcionam, ao passo que as ignorantes… A ignorância a mãe de todos os males, e a estupidez humana, infinita como o Universo. Prova disso é que, em pleno século XXI, ainda há quem acredite que os chatbots dominarão o mundo e escravizarão a humanidade.

 

Filmes como 2001: Uma Odisseia no EspaçoExterminador do Futuro e Superinteligência não são profecias, mas obras de ficção científica. Hollywood não é o Oráculo de Delfos, assim como textos bíblicos não são relatos jornalísticos baseados em evidências empíricas. É preciso desmistificar mitos, destacar os benefícios potenciais da IA e garantir que ela seja usada de forma responsável. Entusiasmo exagerado e temores infundados devem ser evitados — embora a linha entre ficção científica e planejamento responsável seja, às vezes, mais tênue do que aparenta.

 

Seguindo as pegadas da OpenAI, criadora do ChatGPT, gigantes como Microsoft e Google desenvolveram suas próprias inteligências artificiais. A Meta lançou a sua no final de 2023 e a incorporou ao WhatsApp, Facebook e Instagram. Embora a ferramenta ofereça desde sugestões para o jantar até respostas para questões científicas complexas — além de criar conteúdo visual —, a novidade dividiu os usuários.

 

A empresa admite coletar dados para aprimorar sua IA, mas garante estar em conformidade com a LGPD. Afirma também que o WhatsApp e o Messenger contam com criptografia de ponta a ponta em todas as formas de comunicação, e que o treinamento do modelo se restringe às informações coletadas durante interações com o chatbot.

 

Observação: A mim me causa espécie ver pessoas escancararem a própria intimidade nas redes sociais e, ao mesmo tempo, se dizerem incomodadas por não haver como desativar a MetaAI no WhatsApp — até porque basta manter pressionada a conversa por alguns segundos e tocar no ícone de lixeira (ou tocar na seta para baixo para arquivar).

 

Mas deixemos de lado essas questões “filosóficas” e passemos ao mote desta postagem: a criação de imagens com a ajuda da MetaAI. Tecnicamente, isso é possível graças ao recurso “Imaginar”, que permite gerar ilustrações, artes ou até fotos realistas em poucos segundos, a partir de descrições enviadas por texto. Os resultados podem ser enviados nos chats do WhatsApp e/ou salvos na galeria do celular para uso posterior.

 

Para usar, abra o mensageiro, acesse um chat, toque no ícone de adição (“+”) na parte inferior esquerda da tela e selecione “Imagens de IA”. Para aproveitar imagens pré-disponibilizadas pelo mensageiro, escolha uma categoria, selecione a foto desejada e toque no botão verde (Enviar) no canto direito para enviá-la ao contato.

 

Para criar suas próprias imagens com o recurso “Imaginar”, volte à seção “Imagens de IA”, toque em “Descreva uma imagem”, digite as características desejadas, pressione Enter, escolha o resultado que melhor corresponda ao que você imaginou e toque no botão verde para enviar. Se quiser fazer o download, abra a imagem, toque no ícone de compartilhamento (quadrado com seta para cima) e selecione “Salvar”.

 

Em tempoUma atualização recente do WhatsApp trouxe um recurso destinado a proteger a privacidade dos usuários em chats individuais ou em grupo. Para ativá-lo, abra o chat desejado, toque no nome do contato ou grupo (na parte superior da tela) e acesse a opção Privacidade avançada de conversas. A partir de então, os participantes não poderão exportar conversas, baixar arquivos automaticamente para seus dispositivos nem usar a IA nas mensagens. Segundo a Meta, novas atualizações estão sendo desenvolvidas para aprimorar ainda mais os níveis de proteção.