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quinta-feira, 3 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 34ª PARTE

SOMOS APENAS UMA ESTIRPE AVANÇADA DE MACACOS EM UM PLANETA MENOR DE UMA ESTRELA MUITO COMUM, MAS TEMOS NOCÃO DO UNIVERSO, MAS TER NOÇÃO DISSO NOS TORNA ESPECIAIS.

A ciência que estuda o tempo é chamada de cronologia em homenagem a Chronos — o deus do tempo da mitologia grega que devorava os próprios filhos —, mas ainda não se sabe se o tempo realmente existe ou se não passa de uma convenção criada para explicar fenômenos como o dia e a noite, as fases da Lua e as estações. 


Enquanto os físicos buscam decifrar esse mistério, escritores e roteiristas de ficção científica, inspirados no clássico A Máquina do Tempo, usam e abusam das viagens no tempo em produções como Interestelar, Feitiço do Tempo e De Volta para o Futuro, entre tantas outras.


Viajamos para o futuro desde o momento em que nascemos, e vislumbramos o passado quando observamos o céu noturno e vemos a luz que as estrelas emitiram há milhões ou bilhões de anos. Talvez não seja tão emocionante quanto o antigo seriado televisivo O Tunel de Tempo, mas é real. Como também é real a possibilidade de o tempo pode não ter uma direção preferencial no mundo microscópico — regido pela mecânica quântica — onde as partículas podem se mover livremente para frente ou para trás, como sustenta um estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade de Surrey.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Desde 1889, quando o primeiro de muitos golpes de Estado substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano — houve um breve período de parlamentarismo após a renúncia de Jânio, mas isso é outra conversa —, 37 brasileiros ocuparam a Presidência da República, e o mais próximo de um estadista que tivemos desde a redemocratização foi Fernando Henrique. No entanto, como bem observou Lord Acton, o poder corrompe. 

Picado pela mosca azul, FHC comprou a PEC da reeleição. E como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte, é burro ou não em arte, disputou e conquistou seu segundo mandato. No entanto, faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula derrotou José Serra em 2002, dado azo à tomada do poder pelos petralhas, que desgovernaram esta banânia até maio de 2016. 

Roberto Jefferson denunciou o mensalão petista em 2005, mas Lula não só foi reeleito no ano seguinte como elegeu um poste em 2010 — que deveria retribuir-lhe o favor em 2014, mas fez o diabo para se reeleger e acabou impichada. Em 2018, surfando no antipetismo, um mix de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para golpista foi guindado ao Planalto. Em 2022, para livrar o país dessa excrescência, a minoria pensante do eleitorado se uniu à patuleia ignara para devolver a poltrona presidencial a Lula — que fora libertado da prisão, descondenado e reabilitado politicamente por togas companheiras. 

Hoje, a pouco mais de um ano das eleições, o xamã petista amarga índices de rejeição jamais registrados momento algum de sua trajetória política. Ao recorrer ao STF contra a derrubada do reajuste do IOF no Congresso, ele sinaliza aos rivais que não se deixará fritar. Mas a revogação do aumento do imposto — com votos de partidos que controlam ministérios — deixou-o bem passado, e a adição de fermento na articulação pró-Tarcísio inflou um bololô que reúne a direita patrimonialista e as viúvas de Bolsonaro. 

Com a impopularidade a pino, o macróbio vermelho faz uma guinada à esquerda e requenta o velho ramerrão do “nós contra eles”. “Acabará governando contra todos”, ironizou o presidente da Câmara durante um jantar na casa de João Doria, com mais de cinquenta empresários. 

No gogó, o ministro da Fazenda diz apostar num entendimento com o Congresso para aprovar medidas que ajudem a fechar as contas de 2025 e 2026. Na real, o que há na praça é uma campanha eleitoral prematura, não um ajuste fiscal tardio — e a única certeza disponível é que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de gerenciar um orçamento federal inviável. 

A dúvida é se o apagão orçamentário virá antes ou depois da posse. Façam suas apostas.

 

O conceito de seta do tempo foi baseado na 2ª Lei da Termodinâmica, mais exatamente na entropia (desordem), que, num sistema fechado, sempre tende a aumentar. Mas as equações de campo de Einstein demonstraram que o tempo passa mais devagar para quem se move do que para quem está parado (princípio da dilatação temporal). Na visão do físico alemão, a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão teimosamente persistente, e viajar para o futuro é viável, ainda que voltar ao passado seja extremamente improvável. No entanto, essa possibilidade ganhou força com o avanço das pesquisas e experimentos no âmbito da mecânica quântica.

 

Diversas leis da física precisariam ser violadas para uma viagem ao passado se concretizar, mas um pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, sustenta que o espaço-tempo poderia se adaptar para evitar paradoxos, e que loops temporais podem existir juntamente com o livre-arbítrio e os princípios da física clássica. Assim, mesmo que voltar ao passado implique mudar o futuro, a liberdade de ação impede o surgimento de paradoxos. No entanto, o fato de as equações mostrarem que sistemas quânticos abertos não privilegiam o passado ou o futuro não significa que estamos em via de viajar no tempo como nos filmes de ficção científica

 

Resumo da ópera: a irreversibilidade da passagem do tempo fica evidente quando um copo cai e se espatifa — já que os cacos não se rejuntam espontaneamente —, mas alguns fenômenos parecem não distinguir claramente uma direção nesse fluxo temporal. Se no mundo quântico o tempo pode realmente fluir em ambas as direções sem violar a relatividade, talvez ele não seja uma linha reta, mas um labirinto de possibilidades onde cada descoberta acrescenta novas bifurcações e atalhos. 


Não faltam exemplos de cientistas que foram ridicularizados por suas ideias heterodoxas — como Copérnico, que desafiou o geocentrismo, Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e Wegener, que propôs a teoria da deriva continental — até que o tempo provasse que eles estavam certos. Einstein previu em 1915 a existência de objetos celestes com gravidade tão intensa que nem a luz poderia escapar (o termo "buraco negro" só seria cunhado 52 anos depois), e morreu achando que tudo não passava de teoria, já que foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope fotografou o M87*, a 55 milhões de anos-luz da Terra.

 

Continua...

segunda-feira, 14 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 17ª PARTE

AOS 40, VOCÊ ESPERA PELOS 50, E AOS 50, PELOS 60. 30 É O FIM DA JUVENTUDE. 40 É QUANDO VOCÊ PARA DE SE ENGANAR.

As viagens no tempo são matematicamente possíveis, até porque os fenômenos da dilatação temporal e do tempo negativo já foram comprovados experimentalmente. No entanto, nada que contenha matéria pode alcançar e muito menos ultrapassar a velocidade da luz, que é o limite máximo universal. 


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José Saramago escreveu que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram". No Brasil, a eleição recorrente de criminosos e a paixão nacional por bandidos de estimação não deixam dúvidas de que o Nobel português sabia exatamente do que estava falando.
Em dezembro de 2022, quando deveria transferir a faixa presidencial a seu sucessor, Bolsonaro preferiu se homiziar na cueca do Pateta e avaliar, de uma distância segura, as consequências dos atos de vandalismo cometidos por "inocentes úteis" que ele cooptou defendendo a ruptura democrática ao longo de toda sua gestão e durante todo o processo eleitoral. 
O plano era pressionar as FFAA a darem aquele empurrãozinho democrático, tipo estado de sítio com toque de recolher seletivo e AI-5 gourmet, mas faltou combinar com os comandantes do Exército de da Aeronáutica. Graças à leniência do Judiciário — palco de encenações morais e pirotecnias processuais quando se trata de "expoentes" da política nacional, o Messias que não miracula segue livre, leve e solto, promovendo manifestações em defesa dos "pobres coitados" que, vejam só!, foram condenados por crimes que eles realmente cometeram. 
A prisão do "mito" dos apedeutas descerebrados e seus comparsas golpistas são favas contadas, mas o aparente recuo estratégico do STF em alguns casos e o arquivamento do inquérito sobre a fraude no cartão de vacina são no mínimo preocupantes. Lula, réu em mais de 20 processos e condenado em dois deles a mais de 24 anos de reclusão, deixou a carceragem da PF em Curitiba depois de míseros 580 dias e voltou ao Planalto, imbuído da nobre missão de derrotar o espantalho autoritário.
Como Charles De Gaulle não disse: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux.” 

 

Mesmo que assim não fosse, o recorde de velocidade batido pela Parker Solar Probe em dezembro do ano passado (692 mil km/h) corresponde a míseros 0,064% da velocidade da luz. Para complicar, ainda que a tecnologia nos permitisse superar a velocidade da luz e retornar ao passado, teríamos de lidar com os paradoxos temporais


conjectura de proteção cronológica obsta qualquer retorno a um ponto do passado e impede a continuidade de uma curva fechada do tipo tempo alcançar novamente o ponto de partida. Além disso, o princípio de autoconsistência sugere que qualquer evento capaz de gerar um paradoxo ou criar inconsistências no Universo tem probabilidade zero de ocorrer. Em outras palavras, uma viagem ao passado só poderia acontecer se ela não alterasse o presente.

 

No filme O Som do Trovão, alguém pisa em uma borboleta e desencadeia uma série de mudanças drásticas, como a ascensão de um líder fascista. Fora da ficção, o matemático e meteorologista Edward Lorenz percebeu que arredondamentos em dados como temperatura, umidade e pressão podem alterar drasticamente a previsão do tempo. Já a franquia De volta para o futuro explora os paradoxos temporais — ou seja, a possibilidade de o viajante alterar o passado de forma a interferir no presente — levando-nos a crer que voltar ao passado é impossível, mesmo sendo uma possibilidade matematicamente admissível. 


Na física clássica, conhecer as condições iniciais permite calcular com precisão a trajetória de uma bala ou o movimento dos planetas, mas a teoria do caos, aplicada ao estudo de sistemas dinâmicos, mostra que pequenas perturbações podem crescer exponencialmente, tornando previsões de longo prazo inviáveis — fenômeno conhecido como efeito borboletaPor outro lado, estudos demonstram que um viajante do tempo que entrasse numa curva rumo ao passado poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações, pois qualquer tentativa de mudar o que já aconteceu criaria um linha de tempo alternativa à linha original a partir do ponto de mudança. E como a própria chegada ao passado já seria uma mudança, esse viajante se materializaria numa nova linha do tempo, onde nada que ele fizesse mudaria o curso da história em sua linha do tempo original.

 
Se cada decisão que tomamos cria uma linha do tempo alternativa, é possível voltar ao passado sem dar azo a paradoxos como o do Avô. Mas essa é apenas mais uma entre muitas teorias que, apesar de matematicamente plausíveis, carecem de comprovação experimental. E sem múltiplos universos e linhas do tempo alternativas, um loop infinito de causas e efeitos seria criado, da mesma forma que uma pedra jogada num lago cria ondas concêntricas em direção à margem.

 

Em 2020, ao anunciar sua demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich assinalou que "a vida é feita de escolhas". E com efeito: basta dobrarmos à direita em vez de à esquerda numa encruzilhada da vida para que uma porção de consequências se materializem no futuro. A ideia básica (sintetizada magistralmente pelo Conselheiro Acácio como "as consequências vêm sempre depois") é que eventos no presente decorrem de eventos do passado e dão margem aos eventos que ocorrerão no futuro. 

 

Tudo parece se acomodar numa inexorável linha do tempo, mas uma das muitas esquisitices da mecânica quântica é a possibilidade de uma mesma partícula poder estar em dois lugares simultaneamente e causa e efeito coexistirem. Assim, o "evento A" pode ser a causa do "evento B" e, ao mesmo tempo, consequência do evento que ele próprio causou. Esse fenômeno — chamado de superposição e ilustrado pelo experimento conhecido como Gato de Schrödinger — ressalta a estranheza do comportamento das partículas em nível quântico, onde a realidade só "se define" quando é observada. 


ObservaçãoNo sistema binário, um bit só pode valer 0 ou 1, mas um qubit (bit quântico) pode existir com diferentes probabilidades para cada valor, permanecendo em superposição até que seja medido.

 Além da superposição, uma propriedade chamada emaranhamento permite que o estado de um qubit esteja diretamente ligado ao estado de outro, independentemente da distância entre eles, dando azo a cálculos extremamente eficientes e rápidos quando comparados com os do sistema binário tradicional.

 

Da feita que a natureza não está obrigada a obedecer aos postulados da teoria que tenta explicá-la, uma seta do tempo que aponta sempre na mesma direção não passa de um pressuposto. Assim, é preciso deixar a prancheta de lado e buscar na natureza algum indício de uma superposição de eventos que revogue o princípio da causalidade (o Conselheiro Acácio que coloque as barbichas de molho).

 

Por outro lado, viajar para o passado só faz sentido quando admitimos a existência do tempo e o comparamos a uma estrada pela qual se pode avançar em velocidade constante, acelerar, desacelerar e até mesmo parar. Talvez a causalidade não seja tão absoluta quanto imaginamos, e se a realidade for uma tapeçaria tecida com fios de múltiplas possibilidades, como fica o observador nesse bordado quântico? 


The answer, my friend, is blowing in the wind.

 

Continua...

sábado, 5 de abril de 2025

SOBRE O "SENTIDO HORÁRIO" DOS PONTEIROS DOS RELÓGIO

NÃO EXISTE TEMPO ABSOLUTO ÚNICO; CADA INDIVÍDUO TEM SUA PRÓPRIA MEDIDA DE TEMPO, QUE DEPENDE DE ONDE ELE SE ENCONTRA E DE COMO ELE ESTÁ SE MOVENDO.

Quando pensamos em tempo, costumamos imaginar uma linha que se estende do passado para o futuro. No entanto, como eu mencionei várias vezes na sequência sobre viagens no tempo, a "flecha do tempo" (ou "seta termodinâmica do tempo") aponta do passado para o futuro porque a tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flua nesse sentido. Mas nem as equações de Einstein definem um sentido único para ela, nem as leis da física embasam tal interpretação.


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A avaliação geral é de que a denúncia da PGR contra Bolsonaro é robusta, embora a divergência de Fux do voto do relator sugira que a condenação possa não ser unânime. Mas mesmo que o STF tenha o entendimento de que decisões das Turmas possam ser levados ao plenário se dois ministros defenderem absolvição, nada indica haja um clima de divergência ou que alguém mais entenda que o processo deva ir ao plenário. O próprio Fux compôs a unanimidade que transformou em ação penal a denúncia da PGR e enalteceu a qualidade do voto ácido de Moraes, que "não deixou pedra sobre pedra". Não são, salvo melhor juízo, palavras de quem pretende inocentar culpados.

Bolsonaro e seus apoiadores continuarão tentando obter apoio popular, constranger o STF, tumultuar a instrução processual, visando procrastinar a sentença condenatória. No entanto, aínda que o acordo de delação de Cid fosse anulado, o prejuízo seria do delator, já que as provas obtidas a partir da colaboração permaneceriam válidas. Além disso, salta aos olhos que, não fossem alguns militares e políticos cientes de seus deveres e tementes à lei, talvez estivéssemos sob um regime de exceção ou em plena guerra civil. 

Reduzir a participação de Débora Santos à pichação da estátua da Justiça é negar óbvio, uma vez que a moça estava ciente do objetivo golpista de seus atos contra o Estado Democrático de Direito — se isso justifica ou não uma pena de 14 anos de prisão é outra conversa. 

O próprio Bolsonaro, encalacrado até o pescoço por provas materiais e testemunhais, o "mito" insiste que tudo não passa de narrativa, de "pesca probatória" dos "ditadores" que o perseguem.

Para desmontar essa falácia, bastaria perguntar ao ex-presidente se ele foi ou não ameaçado de prisão pelo então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, e se foi, por quê?


Num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana."

 

Não se sabe exatamente onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. Os princípios da termodinâmica, formulados no século XIX com base em máquinas a vapor, não se aplicam ao Universo, onde o que define a passagem do tempo é a expansão do cosmos em todas as direções. Mas o assunto deste post não tem a ver com a seta do tempo propriamente dita, e sim com os ponteiros dos relógios, que se movimentam sempre da esquerda para a direita. E a pergunta que se coloca é: por quê? 


A resposta simples é que se trata de uma convenção, e o princípio filosófico conhecido como Navalha de Occam sugere que, em havendo diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, a mais simples deve ser a correta. No entanto, o assim chamado "sentido horário" não é ditado pelas leis da física ou da matemática, nem tampouco pela nossa percepção do tempo. A explicação mais simples é que a origem desse movimento remonta aos antigos relógios de sol. 


Os instrumentos criados pelos antigos egípcios para medir a passagem do tempo eram baseados na sombra produzida pela luz solar em uma haste. Mais adiante, modelos que usavam a água — como as clepsidras — e areia — como as ampulhetas — foram largamente utilizados por diversas civilizações antigas, mas isso é outra conversa.

 

Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi idealizado pelo Papa Silvestre II, no século IX da nossa era, e que o primeiro "relógio-pulseira" foi encomendado pela irmã do imperador Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet (embora alguns historiadores atribuam sua criação a Antoni Patek e Adrien Philippe, fundadores da conceituada marca Patek-Phillipe). Já o primeiro modelo masculino teria sido criado por Louis Cartier a pedido do inventor mineiro Alberto Santos Dumont (na verdade, o que o joalheiro fez foi adaptar uma correia de couro ao maior relógio de pulso feminino de sua coleção). 

 

No final dos anos 1960, o mecanismo da maioria dos relógios de pulso continha uma mola — para gerar energia —, uma espécie de massa oscilatória — para oferecer referência de tempo —, dois ou três ponteiros, um mostrador enumerado e diversas engrenagens. Tempos depois, a Bulova substituiu a roda de balanço por um transistor oscilador que, alimentado por uma bateria, mantinha um diapasão vibrando a algumas centenas de hertz, e mais adiante o cristal de quartzo — cujas propriedades já eram conhecidas e usadas para proporcionar a frequência exata em aparelhos de rádio e computadores — substituiu o diapasão, agregando maior precisão ao mecanismo. Mas isso também é outra conversa.

 

Os ponteiros dos relógios se movem da esquerda para a direita porque foram inspirados nos relógios de sol, e estes foram criados por civilizações que habitavam o hemisfério norte, onde as sombras projetadas pela luz solar se movem da esquerda para a direita ao longo do dia. Em última análise, o sentido dos ponteiros é uma questão cultural — se os relógios tivessem surgido no hemisfério sul, o sentido horário seria o que hoje chamamos de sentido anti-horário. 

 

Com exceção de Vênus e Urano, os planetas do Sistema Solar giram no sentido "anti-horário". O movimento de rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que é essencial para a alternância entre dias e noites, além de influenciar marés, circulação dos ventos e diversos outros processos naturais. Cada rotação completa leva aproximadamente 24 horas, e cada translação — volta completa que o planeta dá em torno do Sol —, 365 dias e 6 horas (esse acréscimo gradual de tempo resulta em um dia extra a cada quatro anos, nos assim chamados "anos bissextos").


Observação: Na Roma Antiga, o dia 24 de fevereiro era chamado de "sexto die ante calendas martias" (sexto dia antes das calendas de março). Quando Júlio César reformou o calendário para resolver problemas de desalinhamento com as estações, ficou decidido que a cada quatro anos seria adicionado um dia extra após esse "sexto dia",  ou "bis sexto die" (literalmente "o sexto dia repetido" ou "duas vezes o sexto dia"), daí o termo "bissexto". 

 

A Terra dá uma volta competa em torno do próprio eixo em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, mas também se move em torno do Sol, e a posição do Sol mo céu varia conforme a estação do ano. Assim, estabeleceu-se que a duração dia solar médio em 24 horas. Todavia, as variações que a Terra sofre devido a fatores como a interação gravitacional com a Lua e o Sol e a distribuição de massas no planeta exigem que um ajuste de segundos bissextos seja feito de tempos em tempos, para manter a sincronia entre os relógios atômicos e a rotação real da Terra. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 13ª PARTE

TALVEZ O TEMPO NÃO EXISTA, MAS OS AMANHÃS CERTAMENTE NÃO SÃO INFINITOS.

 

Se o tempo desacelera à medida que a velocidade do observador aumenta (dilatação temporal), viajar para o futuro é uma possiblidade matematicamente plausível, embora seja inexequível com a tecnologia de que dispomos atualmente. 

Avançar dezenas, centenas, milhares de anos exigiria viajar a uma velocidade próxima à da luz (1,08 bilhão de km/h), e o objeto mais veloz construído pelo homem até hoje mal chegou a 700 mil km/h. Isso sem falar que a massa relativística de qualquer objeto — seja uma simples partícula ou um nave espacial — tende ao infinito na velocidade da luz, exigindo energia igualmente infinita para continuar acelerando.

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Em entrevista à Folha, Bolsonaro reconheceu que a derrota nas urnas o "pegou de surpresa" e que buscou alternativas "dentro das quatro linhas". Chamou a Constituição de "Bíblia", disse que "discutir sobre alternativas" não caracteriza tentativa de golpe, e que a trama, da maneira como foi revelada, "é uma história contada por aquela parte da PF vinculada ao Sr. Alexandre de Moraes", soando como se desejasse reescrever o livro de Gênesis do regime democrático. 
Gleisi Hoffmann postou no X que "na estranha entrevista do réu Jair Bolsonaro, o que ressalta é a confissão de que ele nunca aceitou o resultado das eleições. É espantoso admitir que tentou impor estado de sítio, estado de defesa, aplicação indevida do artigo 142, intervenção militar e outras ‘alternativas’ para não entregar o poder. A entrevista é uma confissão de culpa que deveria ser tomada como agravante em seu julgamento". 
A decisão de não passar a faixa para alguém sem sua imagem e semelhança gerou elucubrações sobre a hipótese do Messias que não miracula proclamar "haja luz" a partir de uma "intervenção" baseada no artigo 142. Mas os comandantes do Exército e da Aeronáutica notaram que a luz não era boa e resolveram passar. 
O "mito" avalia que a ação penal sobre a trama golpista deveria ser extinta — pois não fez senão "discutir dispositivos constitucionais que não saíram do âmbito de palavras"—, e que sua provável prisão será "completamente injusta". 
E Deus viu que eram todos democratas.
 
Mais complicado ainda seria retroceder no tempo. Primeiro, porque seria preciso ultrapassar a velocidade da luz, e reza a física moderna que nada pode se mover mais rápido que a luz — cuja velocidade (denotada pela letra "c") é o limite máximo universal. Segundo, porque inverter a seta do tempo é uma possibilidade meramente teórica, ainda que o "tempo negativo" tenha deixado de ser um conceito especulativo depois qeu pesquisadores da Universidade de Toronto demonstraram sua existência através de experimentos com ondas quânticas. 

 

Voltar ao passado produziria eventos que afrontam a causalidade (gerando paradoxos temporais como o do Avô e o dos Gêmeos, que ocorrem quando uma ação no passado interfere no presente de uma forma que contradiga a linha do tempo original), mas várias soluções para contornar obstáculo foram propostas, como a do Multiverso, sustentada por diversas teorias que descrevem vários cenários possíveis partindo da premissa de que o e espaço-tempo observável não é a única realidade. 

 

A teoria da cosmologia inflacionária sugere que o Big Bang criou universos paralelos com propriedades semelhantes ou diferentes das dos nosso. A Interpretação dos Muitos-Mundos prevê a presença de linhas de tempo ramificadas (ou realidades alternativas) onde as decisões que tomamos produzem resultados diferentes. 

Talvez existam inúmeras versões de cada um de nós vivendo em universos muito semelhantes ou completamente diferentes do nosso, que viram à esquerda quando viramos à direita (ou vice-versa) em algum universo paralelo. 
 
Nem todas as teorias com foco em outros universos sugerem a existência de versões-clones de cada um de nós — até porque as propostas emanam de diferentes correntes científicas —, mas todas apontam para a existência de um multiverso. 

No famoso experimento do gato de Schröedinger, um gato é trancado numa caixa e um único átomo decide se ele vai morrer ou sobreviver. Segundo a interpretação de Copenhague, o felino está em um estado de sobreposição quântica — vivo e morto ao mesmo tempo —, e seu futuro será decidido quando a caixa for aberta. 

Já na interpretação de Everett o universo se separa em dois, num dos quais o gato está vivo e no outro, morto; no Multiverso de Nível 3, tudo que pode acontecer de fato acontece — em vez de entrar em colapso, a partícula quântica ocupa todos os lugares, dando origem a múltiplas realidades diferentes a cada segundo no Espaço Hilbert. 
 
Na visão míope dos céticos, a teoria do multiverso não é empiricamente testável, uma vez que, por definição, os universos paralelos seriam independentes do nosso e impossíveis de acessar. Mas o fato de ainda não termos descoberto o teste certo não significa que não venhamos a descobri-lo mais adiante. 

A existência dos universos paralelos parece menos irreal se levarmos em conta que, diferentemente dos bits da computação tradicional, que assumem apenas um valor por vez (0 ou 1), os qubits (bits quânticos) podem assumir os valores 0, 1 ou 0 e 1 ao mesmo tempo. 

Em última análise, tudo que observamos é esquisito e confuso, mas Richard Feynman não disse que ninguém realmente compreende a mecânica quântica?
 
Continua...

sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
Continua...