Mostrando postagens classificadas por data para a consulta seta do tempo. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta seta do tempo. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

LUZ E TREVAS (CONTINUAÇÃO)

A MEMÓRIA SELETIVA É UM DOS GRANDES PECADOS DA VELHICE.

Em 1704, Newton forneceu explicações consistentes para fenômenos como a reflexão e a refração da luz, mas deixou de fora a difração e a interferência, que mais tarde seriam associadas à natureza ondulatória da luz.
 
Em 1861-1862, James C. Maxwell unificou os conceitos de eletricidade e magnetismo, demonstrando que a luz é uma onda eletromagnética que se propaga sem a necessidade de um meio material.


Em 1905, ao introduzir o conceito de fóton e teorizar que a luz possui "natureza "dual" — capacidade de se comportar tanto como partícula quanto como onda —, Einstein fincou um dos pilares fundamentais da mecânica quântica.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Donald Trump não é bom exemplo para ninguém, mas, ao chegar ao Dia D empatado com Kamala Harris (e com chances reais de vitória), virou um aviso fabuloso para Lula. E mesmo que seja derrotada, fica a percepção de que um governo apenas mediano — como o de Biden — não basta para afastar o risco da volta do grotesco ao Poder. 
Há quatro anos, Trump se negou a reconhecer a derrota e incitou o ataque ao Capitólio. De lá para cá, colecionou processos judiciais e margou condenações. Ainda assim, metade dos americanos o veem como um político de imagem inoxidável. 
Apenas a margem de erro separa o índice de aprovação de Biden dos dos 36% de ótimo ou bom atribuídos a Lula pelo Datafolha. A diferença é que, no Brasil, o grotesco está inelegível e enfrenta um cerco judicial que deve consolidar seu banimento das urnas, enquanto o xamã petista — que errou ao passar primeira metade de sua gestão estimulando a polarização e acabou engolfado pela onda conservadora que varreu a disputa municipal — ainda tem 26 meses para desestimular o encantamento de parte do eleitorado com eventuais opções de viés bolsonarista.
torcida de Lula pela vitória de Kamala soa desnecessária (porque ninguém ignora a aversão que ele nutre por Trump), inútil (porque seu poderio como cabo eleitoral tornou-se discutível até no Brasil) e ilógica (se Trump vencer e converter a Casa Branca em sucursal do inferno na Terra, o governo brasileiro terá que dialogar com o capeta). 
Sob Bolsonaro, a submissão do Planalto à Casa Branca roçou a idolatria. Lula parece ignorar que países como os EUA raciocinam em termos de interesses, não de afinidades ideológicas, e que o exercício da Presidência pede profissionalismo, não torcida.

 

À luz da Teoria da Relatividade (sem trocadilho), a massa efetiva de um objeto que se move a uma velocidade próxima à da luz (299.792,5 km/s) tende ao infinito, exigindo uma quantidade igualmente infinita de energia para o objeto continuar acelerando. Como a velocidade da luz é o limite universal na física moderna, nada que tenha massa pode se mover mais rápido que ela — com a possível exceção dos táquions, que "nascem" superluminais e ganham velocidade conforme perdem energia. 

 

A existência dos táquions ainda não foi comprovada, quando mais não seja porque a tecnologia atual não é capaz de detectar nada que se mova tão rápido. Mas ausência de evidência não é evidência de ausência, como escreveu Carl Sagan sobre a vida extraterrestre. 


Os buracos negros foram teorizados por Einstein em 1916, mas sua existência só foi comprovada no final da década passada, quando o Telescópio do Horizonte de Eventos capturou a imagem do M87*


Observação: Nunca é demais lembrar que diversos cientistas — como o descobridor do sistema heliocêntrico, o pai da desinfecção, o criador da imunoterapia e o proponente da deriva continental — foram ridicularizados por seus pares até que o tempo provasse a validade de suas ideias.

 

De acordo com as equações de Einstein, tudo é relativo no Universo, com exceção da velocidade da luz — que, para ser absoluta, exige o tempo e o espaço sejam relativos. E eles o são: quanto maior a velocidade de um observador, mais devagar o tempo passa para ele (dilatação temporal), e menor a dimensão dos objetos na direção do movimento (contração espacial). 


Voltando aos táquions, alguns físicos sustentam que eles se movem no sentido inverso ao da seta do tempo (lembrando que os ponteiros do relógio param na velocidade da luz e passam a andar para trás a partir daí, caso a velocidade continue crescendo). Se a existência dessas partículas exóticas for comprovada, talvez um dia consigamos viajar no tempo como nos livros e filmes de ficção científica.
 
Observação: Para que viagens no tempo como as da ficção sejam possíveis é preciso descobrir como alcançar a velocidade da luz e contornar os efeitos relativísticos que impactam o tempo, o espaço e a massa. Sem falar voltar ao passado cria conflitos lógicos, como o célebre Paradoxo do Avô.

Por enquanto, o jeito é nos contentarmos com a "viagem para o futuro" que iniciamos ao nascer e observar o passado olhando para as estrelas, pois o que vemos no céu é a luz que elas emitiram séculos ou milênios atrás. Como o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário, talvez as viagens no tempo sejam apenas uma questão... de tempo. 

Continua...

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

BURACOS DE MINHOCA ATRAVESSÁVEIS (CONTINUAÇÃO)

MELHOR UM FIM HORROROSO AINDA DO QUE UM HORROR SEM FIM.

No filme Superman, o protagonista volta ao passado voando no sentido oposto ao da rotação da Terra a uma velocidade superior à da luz. Em tese, isso poderia funcionar no mundo real, mas na prática a teoria é outra.

Nada com matéria pode se mover mais rápido que a luz no vácuo (299.792.458 m/s), lembrando que os fótons são partículas sem massa e sem peso. Mas ir além da velocidade da luz talvez não baste para voltarmos ao passado, já que, em nível macroscópico, a seta do tempo aponta sempre para o futuro. Mas isso não quer dizer que jamais poderemos assistir ao desembarque de Cabral e sua trupe em Pindorama, por exemplo.

Buracos de minhoca são distorções no espaço-tempo causadas por objetos supermassivos. Acredita-se que eles possam funcionar como atalhos cósmicos, encurtando a distância entre dois pontos, neste ou em outro universo, no presente ou em outro momento da linha do tempo.

Observação: Para entender isso melhor, imagine uma folha de papel com um X na margem superior um Y na inferior. Se a folha for dobrada ao meio, os pontos X e Y podem ser trespassados por um alfinete. Assim, um buraco de minhoca permitiria ir de um ponto a outro no espaço-tempo em questão de segundos, mesmo que, numa linha reta, a distância entre eles fosse de milhares de anos-luz.

Ao contrário dos buracos negros, que já foram avistados e fotografados, os buracos de minhoca ainda são uma projeção teórica. Mas Carl Sagan ensinou que "ausência de evidência não é necessariamente evidência de ausência", e vários cientistas — incluindo o descobridor do sistema heliocêntrico, o pai da desinfecção, o criador da imunoterapia e o proponente da deriva continental — foram alvo de chacota até o tempo provar que eles estavam certos. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA 

Escorado numa decisão do STF, o presidente Lula disse que o avanço do Congresso Nacional sobre o Orçamento da União é "uma loucura" — e com razão, já que as emendas parlamentares representarem quase 24% do bolo orçamentário. Igualmente fora de esquadro foi a demora do Lula presidente em constatar o que o Lula candidato externou ao apontar o absurdo da sistemática no manejo daqueles recursos. Na época, o palanque ambulante prometeu dar um jeito na desordem mediante tratativas com o Parlamento, mas em um ano e meio de governo fez vista grossa à continuidade da metodologia repaginada do orçamento secreto vetado pelo STF em 2022.

A desvantagem na correlação de forças entre Executivo e Legislativo explica a atitude do xamã petista, mas a justifica num político tido, havido e autoproclamado ás no exercício do convencimento e o mais experiente dos governantes desde Tomé de Souza.

A impressão que se tem é de que o presidente tem medo de um Parlamento diante do qual suas celebradas qualidades de articulador são insuficientes. E ele não é o único a pisar em ovos. Em recente entrevista, o presidente do TCU, Bruno Dantas, qualificou os abusos como um "descuido" do Congresso (o que não se justifica, pois ali há distração, o foco é total nos interesses de suas excelências).

O uso do Supremo como muro de arrimo ocorreu também no caso da desoneração das folhas de pagamento, quando o Planalto se escorou em liminar do ministro Cristiano Zanin para obter um trunfo na mesa de negociações com os congressistas. 

A corte também procura amenizar os efeitos de suas decisões, defendendo negociação em torno da exigência de nitidez no trato das emendas. É de se perguntar como poderia o conceito de transparência abrigar o sentido de meio-termo.

 
Um novo estudo sugere que uma compreensão mais aprimorada da gravidade pode comprovar a existência desses "túneis cósmicos", mas daí a usá-los para cortar caminho vai uma longa distância (sem trocadilho). Mesmo que a força gravitacional do horizonte de eventos do buraco negro que hospeda o buraco de minhoca não fechasse a passagem antes que qualquer objeto conseguisse transpô-la, a radiação Hawking certamente causaria sua destruição.
 
Num artigo baseado teoria da gravidade híbrida  que permite maior flexibilidade nas relações entre matéria/energia e espaço/tempo  o físico João Luís Rosa sustentou a possibilidade de criar um buraco de minhoca estável e atravessável usando 
algum tipo de matéria exótica. Segundo ele, a energia negativa da matéria escura poderia estabilizar o túnel pelo tempo suficiente para a travessia, mas o problema é que a existência de matéria exótica no universo ainda é mera suposição.

Ocorre que a matemática usada para teorizar os buraco de minhoca é baseada na Relatividade Geral, que não é compatível com a física quântica — o que não quer dizer que as equações de Einstein estejam erradas, mas que alguma coisa está faltando —, e a suposta existência de matéria exótica é limitada à escala quântica. 

Ainda assim, o cosmólogo lusitano acredita que os efeitos gravitacionais necessários para garantir a atravessabilidade do atalho cósmico aconteçam naturalmente com a modificação da gravidade, dispensando as propriedades gravitacionais repulsivas da matéria exótica. "Modifique a gravidade e você poderá viajar com segurança por um buraco de minhoca para o que quer que esteja do outro lado", ele afirmou em entrevista ao site UFO

Ainda segundo Rosa, a teoria da gravidade modificada será comprovada pelo estudo das estrelas próximas de Sagitário A* — buraco negro supermassivo com cerca de 35 milhões de quilômetros de diâmetro que foi descoberto em 1974 no centro da Via Láctea

Como disse Einstein, "o impossível só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário".

terça-feira, 6 de agosto de 2024

DE VOLTA À VELOCIDADE DA LUZ E AS VIAGENS NO TEMPO (PARTE VIII)

vivemos tempos estranhos quando os fatos se calam par não ofender as versões, e os sábios silenciam para não constranger a estupidez.

Sabe-se que a história da maçã é pura gentileza 
— o Adão comeu a Eva e a maçã de sobremesa —, mas não se sabe o que o arcebispo irlandês James Ussher teria bebido, fumado ou cheirado quando anotou em "The Annals of the World" que Deus criou o mundo às 9h00 do dia 23 de outubro de 4004 a.C.

Seria mais fácil desvendar esses e outros mistérios se as viagens no tempo fossem tão corriqueiras quanto os voos internacionais — que eram inconcebíveis até o início do século passado. Talvez seja apenas uma questão de tempo, pois não há nada como o tempo para passar (isso se ele existir, naturalmente).

A contagem do tempo começou quando nossos ancestrais perceberam padrões no amanhecer e no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 


Os primeiro calendários foram desenvolvidos sumérios — que habitavam a região que hoje corresponde ao sul do Iraque —, milênios antes da era cristã. Mais ou menos na mesma época, os egípcios criaram um calendário baseado na estrela Sirius, que só era avistada nas madrugadas durante o inicio da enchente do rio Nilo, que não acontecia todos os anos e, quando acontecia, não começava sempre no mesmo dia. 


Mais adiante, os babilônios criaram um calendário lunissolar, combinando meses lunares com ajustes periódicos baseados no ciclo solar e um mês adicional em alguns anos, visando corrigir a discrepância entre o ano lunar e o solar. Já os maias tinham um calendário com múltiplos ciclos, incluindo o Tzolk'in (calendário sagrado de 260 dias) e o Haab' (calendário civil de 365 dias), além do "Calendário de Contagem Longa," que mapeava períodos muito mais longos.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Há quem fale em "estratégia" diplomática ao mencionar o histórico do Itamaraty para analisar a postura de Lula e de seu assessor Celso Amorim na questão, mas isso não faz sentido. Carlos Graieb escreveu em Lula, sócio majoritário da tragédia venezuelana, assim como Ricardo Kertzman em Celso Amorim é mais que “observador” da farsa eleitoral de Maduro o mesmo que Rodolfo Borges escreveu n'O Antagonista: "o governo Lula faz parte da tragédia venezuelana não como mediador, mas como cúmplice."
O Palácio do Planalto não reconhece a vitória de Urrutia — como fizeram Estados Unidos, Argentina e Uruguai, entre outros — não por conta de uma estratégia para a saída da crise, mas por fazer parte da crise. No momento em que admitir que Maduro fraudou a eleição, o governo brasileiro reconhecerá automaticamente o que já deveria ter reconhecido há meses: não há democracia na Venezuela, e não é de hoje.
Faz bem mais de uma década que a Venezuela não sabe o que é democracia, mas Lula recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em maio de 2023 e lhe deu uma dica pública de como lidar com o que ele considerava críticas injustas aos desmandos do regime: "Companheiro Maduro, é preciso que você saiba a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocracia, do autoritarismo. É preciso que você construa sua narrativa. E eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor."
A narrativa que Maduro encontrou para explicar a fraude eleitoral é que o "Golias Elon Musk" foi responsável pelo "primeiro golpe de Estado cibernético na história da humanidade". Será que cola, Lula?
É constrangedor ver o chanceler paralelo Celso Amorim manter um discurso de confiança nas instituições venezuelanas, dominadas há décadas pelo chavismo. Qualquer benefício da alegada mediação brasileira na crise venezuelana ocorrerá por fruto de golpes de sorte. O governo Lula não está nessa condição por se comportar de forma imparcial ou fazer cálculos diplomáticos, mas por ter um lado bem claro nessa história. É por isso que o Brasil toma conta hoje das embaixadas da Argentina e do Peru, cujos representantes foram expulsos com outros que ousaram questionar de fato a "vitória" de Maduro. 
Não é uma questão de solidariedade, mas de responsabilidade pelo que está acontecendo na Venezuela neste momento.
 
Consideramos o tempo como o plano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade (e a sabedoria do Conselheiro Acácio), as causas sempre precedem as consequências, razão pela qual o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que acontecerá amanhã. 

Se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se esse fluxo de eventos rumo ao futuro depende do presente que virou passado, o tempo sempre imporá limites ao que pode acontecer. Mas será mesmo que a seta do tempo aponta sempre para o futuro?
 
Como eu mencionei nos capítulos anteriores — mas repito em atenção a quem não acompanhou esta sequência desde o começo —, todos viajamos rumo ao futuro do momento em que nascemos até o momento em que morremos (o que existe depois — se é que existe — já foi discutido em outra sequência. Isso filosoficamente falando, já que, cientificamente falando, Einstein definiu o universo como um bloco quadridimensional estático que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um “agora” especial. 
 
Para o físico Julian Barbour, o universo tem "dois lados" e o tempo "corre nos dois sentidos ao mesmo tempo". Cada direção é uma seta cuja origem é zero. À medida que a seta da direita aumenta até o infinito, a seta da esquerda aponta para o infinito negativo. 
Em outras palavras, existe um universo onde o tempo corre do que chamamos de passado para o que chamamos de futuro e outro em que ele se move do futuro para o passado. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, já que "tempo é mudança". 

Mas se o que vemos acontecer não for o tempo, e sim a mudança, o tempo não existe. E ainda que ele exista, o universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido o tempo se mover numa única direção. Isso parece coisa de ficção científica, mas é uma teoria séria. 

Escorado no princípio da entropia e nas leis da termodinâmica, Barbour sustenta que a própria natureza do Big Bang fez o tempo fluir em direções opostas. Isso faz sentido, já que a física associa o tempo ao aumento da entropia num sistema fechado, que sempre evolui para um estado mais caótico. A questão é que as leis da termodinâmica foram criadas em 1824, com base em cilindros e máquinas em que a energia e o calor passam de um lugar para outro e se dissipam parcialmente durante o processo. 

Em 1865, o físico Rudolf Clausius descobriu que o calor só pode passar de um corpo frio para um corpo quente se ocorrer alguma mudança em torno desses corpos. Assim, a entropia pode aumentar, mas não pode diminuir. Só que nem tudo que se aplica a um espaço delimitado também se aplica a um universo infinito. 

O que diferencia os objetos quentes dos frios é agitação de suas moléculas. Uma bola pode rolar montanha abaixo ou ser chutada de volta para o pico, mas o calor não pode fluir do frio para o quente. Quando uma molécula de água colide com outra, a flecha do tempo desaparece, já que a entropia é um conceito equivalente ao caos, e o caos é irreversível. 

ObservaçãoQuanto mais o tempo passa, mais a entropia do Universo aumenta. O que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço. Segundo Rovelli, a entropia é a única lei básica da física que distingue o passado do futuro. 

Como a entropia só pode aumentar, a conclusão é de que o tempo só pode avançar na mesma direção em que a entropia aumenta, mas Barbour esclarece que esses conceitos foram observados em um contexto "normal" e, portanto, se aplicam ao planeta, à matéria, às moléculas e a tudo mais. Ao colapsarem, as partículas que compõem os objetos viajam em diferentes direções e se unem a outras partículas, formando novas estruturas mais complexas.

Ao fazer a matéria e o tempo se moverem em duas direções opostas, o Big Bang criou um "universo espelho" onde tudo acontece ao contrário de como acontece no nosso, e tudo que lá existe é o progresso retrocedendo em direção ao ano zero. 

Conclui no próximo capítulo.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

ALÔ? HELLO? PRONTO? ESTÁ LÁ?

SE TODO MUNDO FALASSE SOMENTE DO QUE REALMENTE ENTENDE, O SILÊNCIO SERIA INSUPORTÁVEL.

Sabe-se que índios usavam tambores e sinais de fumaça para se comunicar, que Alexander Graham Bell registrou a primeira patente de um aparelho telefônico em 14 de março de 1876, e que D. Pedro II ficou tão encantado com a novidade que o Brasil se tornou o segundo país do mundo a ter telefone.

 

O que muitos não sabem (ou não se lembram) é que até o final dos anos 1990, quando FHC sepultou o abominável Sistema Telebras (criado pelos militares em 1972), as linhas telefônicas custavam os olhos da cara e demoravam anos para ser instaladas. No município paraense de Cachoeira do Arari, a espera era tamanha (15 anos) que alguns aderentes do famigerado "Plano de Expansão" da Telepará morreram antes de terem o gostinho de dar um telefonema


Até o final dos anos 1970, quando o DDD e o DDI foram implantados nacionalmente, fazer uma chamada interurbanas ou internacional exigia passar pela telefonista e esperar horas até a ligação ser completada, sem falar que as tarifas eram caríssimas. Mas não há nada como o tempo para passar. 

 

A telefonia móvel celular começou a ser testada experimentalmente no início do século passado, e os primeiros aparelhos para automóveis surgiram nos anos 1940. O Mobilie Telephony A, lançado pela sueca Ericsson na década seguinte, pesava 40 kg e era tão grande que precisava ser acomodado no porta-malas. Em 1973, a americana Motorola lançou o DynaTAC 8000X, que media 25 cm x 7 cm e pesava cerca de 1 kg. A "nova" tecnologia entrou em operação no Japão e na Suécia em 1979, mas o tamanho avantajado do hardware, a autonomia medíocre da bateria e o longo tempo de recarga desestimularam as vendas.

 

O primeiro celular vendido no Brasil foi Motorola PT-550 (um "tijolão" de 800 g). Os demais modelos dos anos 1990 eram igualmente grandes, desajeitados e caros. Habilitar uma linha era trabalhoso e custava os olhos da cara. A insuficiência de células (antenas) restringia o sinal às capitais e grandes centros urbanos, e a profusão de "áreas de sombra" limitava ainda mais o uso dos aparelhos. O preço das ligações era proibitivo e, para piorar o que já era ruim, pagava-se tanto pelas chamadas efetuadas quanto pelas recebidas. Mas, de novo, não há nada como o tempo para passar.

 

A privatização das Teles estimulou a concorrência entre as operadoras, que passaram a oferecer aparelhos subsidiados e planos com chamadas ilimitadas para qualquer parte do país e franquias de dados (nem sempre generosas) para acessar a Internet através de suas redes móveis. Assim, com mais celulares do que habitantes no Brasil, os "orelhões" desapareceram das esquinas e os usuários de linhas fixas minguaram. 

 

Até 2007, os aparelhos encolhiam e a gama de funções crescia a cada lançamento. Com o lançamento do iPhone, a Apple levou a concorrência a lançar seus smartphones, e com isso o que já era bom ficou melhor, só que maior: a a partir do momento em que os telefones móveis se tornaram computadores pessoais ultraportáteis, a miniaturização deixou de fazer sentido. 


Observação: Vale destacar que o primeiro telefone móvel capaz de acessar a Internet não foi o iPhone, mas o Nokia 9000 Communicator — lançado em 1996 —, mas a conexão só era possível na Finlândia.

 

Embora não haja nada como o tempo para passar, o espaço-tempo é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos do Universo, onde o trânsito pelas três dimensões espaciais se dá por "vias de mão dupla". Até não muito tempo atrás, achava-se que a quarta dimensão — a do tempo — fosse uma via de mão única, mas, de novo, não há nada como o tempo para passar. 


Carlo RovelliGuido Tonelli e outros astrofísicos respeitados internacionalmente teorizam que a "seta do tempo" não precisa necessariamente apontar para o futuro. O que entendemos por tempo é na verdade um fluxo de eventos sucessivos; esse fluxo ocorrer numa direção preferencial, o ontem impõe restrições ao hoje, e o amanhã, que transforma o hoje em ontem, novos limites ao "novo presente" (aquele que chamamos de "futuro"). 


Deixando a física e a mecânica quântica de lado, parece que o tempo retrocedeu para a Nokia, que vem promovendo há alguns anos a volta dos "dumbphones" (dumb = burro), como ficaram conhecidos os aparelhos celulares de era "pré-iPhone" com o advento do "smartphone" (smart = inteligente). Sem sistema operacional que lhes capacitasse a rodar aplicativos, os primeiros celulares se limitavam a fazer e receber chamadas e SMS (mensagens de texto curtas). 


É fato que os dumbphones ganharam novos recursos ao longo do tempo (como relógio, despertador, calculadora, calendário, agenda e alguns joguinhos elementares), mas fato é que eles nunca chegaram ao pés de sues irmãos inteligentes. Por outro lado, uma gama de funções tão espartana prolongava significativamente a autonomia da bateria. Meu saudoso Motorola RAZR V3 (cuja imagem ilustra este post) passava quase uma semana longe da tomada. Mas não há nada como o tempo para passar.


A genialidade de Steve Jobs converteu um jegue num puro-sangue árabe, ou seja, um telefone móvel de longo alcance num dispositivo com 1001 utilidades que também serve para fazer e receber chamadas telefônicas. E o excesso de informação, decorrente do uso massivo do smartphone, ensejou a ressureição do dumbphoneAndar com um celular burro em pleno século 21 cheira a saudosismo, mas está de bom tamanho para quem precisa de um telefone móvel, não de um computador de bolso, ou que se "desintoxicar" das redes sociais. 


Os modelos da Nokia, cujo slogan é "dumb phone, smart choice" (telefone burro, escolha inteligente), dispõem de tela colorida, mas de baixa resolução, e teclado numérico analógico. E custam bem menos que seus irmãos espertos (cerca de R$ 300). Quem nunca teve um aparelho com teclado analógico vai estranhar o uso das teclas numéricas para escrever texto, mas, noves fora a tecla 1, cuja função secundária é ligar para o "correio de voz", as demais servem para escrever textos. Se você pressionar a tecla 2 uma vez num campo de texto, você obterá o número 2; pressionado-a duas vezes, a letra "a"; três vezes, a letra "b"; quatro vezes, a letra "c". As demais teclas inserem as demais letras do alfabeto e sinais gráficos que não estão impressos no teclado, como caracteres acentuados, cedilha e pontuação, bem como alternam letras maiúsculas e minúsculas. Caso você precise digitar duas letras iguais em sequência, faça um intervalo de 1 ou 2 segundos entre os toques.

 

A exemplo dos dumbphones antigos, os novos limitam a diversão fica a joguinhos simples  como o "jogo da cobrinha", cujo objetivo é coletar objetos na tela para ir crescendo sem esbarrar nas laterais. Enviar uma foto para um contato, só via Bluetooth. Mas o preço (baixo) e a autonomia (invejável) da bateria faz deles a solução ideal para quem quer ter um celular de backup ou usar viagens para falar o essencial com familiares e amigos. 


Quando compuseram NADA SERÁ COMO ANTES, em 1971, Milton Nascimento e Ronaldo não tinham como prever o advento dos celulares nem (muito menos) o renascimento das cinzas da Phoenix da telefonia móvel. Mas eu jamais trocaria meus Galaxy M23 e Moto g60 por um Nokia 105 NK093 Dual Chip com rádio FM, lanterna e joguinhos pré-instalados (R$ 142,80 na Amazon). Com a devida venia de quem pensa diferente, acho que quem vive de passado é museu. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

MAIS SOBRE BURACOS NEGROS, BRANCOS E DE MINHOCA...

NÃO CONFUNDA A OBRA DO MESTRE PICASSO COM A PICA DE AÇO DO MESTRE DE OBRAS

O primeiro aniversário do atentado terrorista de 8 de janeiro transcorreu sem incidentes, noves fora a ausência (esperada) de governadores e parlamentares alinhados ao bolsonarismo, que, de olho nas eleições de outubro, preferiram não ser vistos num ato político-eleitoreiro articulado pelo ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-etc., que, com voz roufenha, cenho carregado e dedo em riste, trovejou: "todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos". Mas um ano se passou e, a exemplo do mentor intelectual e de quem financiou os atos golpistas, nenhum general ou integrante da alta cúpula das FFAA foi investigado ou responsabilizado.
O ministro da Defesa (que por alguma razão o morubixaba de turno ainda não penabundou) ponderou que os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica “não queriam o golpe, em nenhum momento se falou nisso”, além de chamar os golpistas de "inocentes úteis" e afirmar que o clima no dia do golpe era de "um grande piquenique". Bolsonaro, por sua vez, disse que a depredação das sedes dos Poderes não foi uma tentativa de golpe, que para haver golpe "tinha que ter uma pessoa à frente", que tudo foi apurado e não se levantou nome algum, que as decisões do STF contra os acusados de envolvimento são "absurdas" e que Lula defende a Venezuela e a Nicarágua e não reconhece o Hamas como terrorista. 
É cobra comendo cobra e galera batendo palmas para seu ofídio preferido dançar. Triste Brasil.

Em 1784, o pastor britânico John Michell suscitou pela primeira vez a existência de regiões do espaço com força gravitacional suficiente para "engolir" a própria luz. Em 1904, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein forneceu a base para o entendimento atual dos buracos negros — que só foram batizados como tal em 1967 — mas foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope capturou a imagem de um exemplar localizado no centro da galáxia M87, a cerca de 55 milhões de anos-luz da Terra, tornando real o que até então era uma possibilidade teórica. 
 
Os buracos de minhoca, por sua vez, ainda não foram vistos ao vivo e em cores 
 até porque ficam no interior dos buracos negros —, mas acredita-se que eles funcionem como uma espécie de "túnel" entre dois pontos do espaço-tempo. Assim, uma espaçonave que demoraria milhões anos para ir de um ponto ao outro, mesmo na velocidade de luz (1,08 bilhão km/h) atravessaria esse "túnel" em minutos, mesmo que local de destino fique em outro universo e/ou outro ponto da linha do tempo. 
 
Embora não seja uma unanimidade entre os astrofísicos, a teoria segundo a qual o Universo está dentro de um buraco de minhoca que faz parte de um buraco negro existente num universo muito maior explicaria questões polêmicas envolvendo a gravidade, as forças nucleares fraca e forte, o eletromagnetismo e a expansão acelerada do Universo
Como as equações de Einstein não dão uma direção para a seta do tempo, a possibilidade de um buraco negro surgir de um colapso gravitacional de matéria através de um horizonte de eventos no futuro não só admite o processo inverso como também descreve a matéria emergindo de um horizonte de eventos no passado — como se acredita que ocorreu no Big Bang. Caso essa teoria seja comprovada, todos os buracos negros astrofísicos podem ter buracos de minhoca com um novo universo formado simultaneamente em seu interior. 
 
Observação: A despeito das semelhanças entre buracos negros e buracos de minhoca, é importante não confundir alhos com bugalhos — bulbos comestíveis de textura semelhante à do alho, cujo formato de pênis inspirou um fado que os marinheiros lusitanos cantavam nos tempos de Cabral: "Não confundas alhos com bugalhos / Nem tampouco bugalhos com caralhos".
 
O termo "singularidade gravitacional" designa pontos onde as leis da física tradicional não se aplicam. Uma das singularidades mais conhecidas é a que ocorre no centro de um buraco negro, onde a densidade infinitamente alta distorce o espaço-tempo e atrai os objetos que se aproximam de seu horizonte de eventos. Para escapar, seria preciso superar a velocidade da luz, que, de acordo com Einstein, é a maior velocidade possível no Universo. E não haveria saída do outro lado, já que a singularidade estaria sempre no futuro. 
 
A possibilidade de ultrapassar a velocidade da luz sem violar as leis da física contraria o postulado de Einstein, mas foi apresentada por Gerald Feinberg em 1967. Segundo ele, as partículas taquiônicas surgiriam de um campo quântico com "antimassa" — lembrando que massa e energia são conceitos intrínsecos, e que, para superar a velocidade da luz, seria preciso funcionar "ao contrário". 

Observação: Em termos mais simples, a velocidade da luz é o limite inferior de um táquion, que jamais poderia viajar a menos de 299.792,458 km/s. Assim, um táquion com energia zero teria velocidade infinita e poderia cruzar o universo instantaneamente.
 
Os táquions ainda não foram detectados — até porque é impossível detectar algo tão rápido com os sensores atuais, que operam dentro dos limites da velocidade da luz. Caso sua existência seja comprovada, o Universo pode se deparar com paradoxos tão complexos quanto o do Avô, pois as partículas se moveriam para trás na linha do tempo. 

Explicando melhor: um hipotético táquion emitido por um hipotético piloto de espaçonave para um hipotético receptor na Terra se moveria mais rápido que a luz no referencial deste, mas retrocederia no tempo no referencial daquele. Isso significa que a resposta chegaria antes da pergunta, e se ela fosse "não envie o sinal", o piloto não enviaria a pergunta e o receptor não teria nada para responder, daí a semelhança com o paradoxo retrocitado.
 
Há diversas teorias sobre como esse paradoxo poderia ser evitado 
 como a que nega a existência dos táquion, a que sustenta que os observadores nos diferentes referenciais simplesmente não conseguem dizer a diferença entre a emissão e a absorção dos táquions, e a de que os táquions não são como as demais partículas que conhecemos e tampouco interagem com seja lá o que for, daí eles não poderem ser detectados ou observados. Mas isso é conversa para uma outra vez.