NÃO EXISTE TEMPO ABSOLUTO ÚNICO; CADA INDIVÍDUO TEM SUA PRÓPRIA MEDIDA DE TEMPO, QUE DEPENDE DE ONDE ELE SE ENCONTRA E DE COMO ELE ESTÁ SE MOVENDO.
Quando pensamos em tempo, costumamos imaginar uma linha que se estende do passado para o futuro. No entanto, como eu mencionei várias vezes na sequência sobre viagens no tempo, a "flecha do tempo" (ou "seta termodinâmica do tempo") aponta do passado para o futuro porque a tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flua nesse sentido. Mas nem as equações de Einstein definem um sentido único para ela, nem as leis da física embasam tal interpretação.
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A avaliação geral é de que a denúncia da PGR contra Bolsonaro é robusta, embora a divergência de Fux do voto do relator sugira que a condenação possa não ser unânime. Mas mesmo que o STF tenha o entendimento de que decisões das Turmas possam ser levados ao plenário se dois ministros defenderem absolvição, nada indica haja um clima de divergência ou que alguém mais entenda que o processo deva ir ao plenário. O próprio Fux compôs a unanimidade que transformou em ação penal a denúncia da PGR e enalteceu a qualidade do voto ácido de Moraes, que "não deixou pedra sobre pedra". Não são, salvo melhor juízo, palavras de quem pretende inocentar culpados.
Bolsonaro e seus apoiadores continuarão tentando obter apoio popular, constranger o STF, tumultuar a instrução processual, visando procrastinar a sentença condenatória. No entanto, aínda que o acordo de delação de Cid fosse anulado, o prejuízo seria do delator, já que as provas obtidas a partir da colaboração permaneceriam válidas. Além disso, salta aos olhos que, não fossem alguns militares e políticos cientes de seus deveres e tementes à lei, talvez estivéssemos sob um regime de exceção ou em plena guerra civil.
Reduzir a participação de Débora Santos à pichação da estátua da Justiça é negar óbvio, uma vez que a moça estava ciente do objetivo golpista de seus atos contra o Estado Democrático de Direito — se isso justifica ou não uma pena de 14 anos de prisão é outra conversa.
O próprio Bolsonaro, encalacrado até o pescoço por provas materiais e testemunhais, o "mito" insiste que tudo não passa de narrativa, de "pesca probatória" dos "ditadores" que o perseguem.
Para desmontar essa falácia, bastaria perguntar ao ex-presidente se ele foi ou não ameaçado de prisão pelo então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, e se foi, por quê?
Num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana."
Não se sabe exatamente onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. Os princípios da termodinâmica, formulados no século XIX com base em máquinas a vapor, não se aplicam ao Universo, onde o que define a passagem do tempo é a expansão do cosmos em todas as direções. Mas o assunto deste post não tem a ver com a seta do tempo propriamente dita, e sim com os ponteiros dos relógios, que se movimentam sempre da esquerda para a direita. E a pergunta que se coloca é: por quê?
A resposta simples é que se trata de uma convenção, e o princípio filosófico conhecido como Navalha de Occam sugere que, em havendo diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, a mais simples deve ser a correta. No entanto, o assim chamado "sentido horário" não é ditado pelas leis da física ou da matemática, nem tampouco pela nossa percepção do tempo. A explicação mais simples é que a origem desse movimento remonta aos antigos relógios de sol.
Os instrumentos criados pelos antigos egípcios para medir a passagem do tempo eram baseados na sombra produzida pela luz solar em uma haste. Mais adiante, modelos que usavam a água — como as clepsidras — e areia — como as ampulhetas — foram largamente utilizados por diversas civilizações antigas, mas isso é outra conversa.
Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi idealizado pelo Papa Silvestre II, no século IX da nossa era, e que o primeiro "relógio-pulseira" foi encomendado pela irmã do imperador Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet (embora alguns historiadores atribuam sua criação a Antoni Patek e Adrien Philippe, fundadores da conceituada marca Patek-Phillipe). Já o primeiro modelo masculino teria sido criado por Louis Cartier a pedido do inventor mineiro Alberto Santos Dumont (na verdade, o que o joalheiro fez foi adaptar uma correia de couro ao maior relógio de pulso feminino de sua coleção).
No final dos anos 1960, o mecanismo da maioria dos relógios de pulso continha uma mola — para gerar energia —, uma espécie de massa oscilatória — para oferecer referência de tempo —, dois ou três ponteiros, um mostrador enumerado e diversas engrenagens. Tempos depois, a Bulova substituiu a roda de balanço por um transistor oscilador que, alimentado por uma bateria, mantinha um diapasão vibrando a algumas centenas de hertz, e mais adiante o cristal de quartzo — cujas propriedades já eram conhecidas e usadas para proporcionar a frequência exata em aparelhos de rádio e computadores — substituiu o diapasão, agregando maior precisão ao mecanismo. Mas isso também é outra conversa.
Os ponteiros dos relógios se movem da esquerda para a direita porque foram inspirados nos relógios de sol, e estes foram criados por civilizações que habitavam o hemisfério norte, onde as sombras projetadas pela luz solar se movem da esquerda para a direita ao longo do dia. Em última análise, o sentido dos ponteiros é uma questão cultural — se os relógios tivessem surgido no hemisfério sul, o sentido horário seria o que hoje chamamos de sentido anti-horário.
Com exceção de Vênus e Urano, os planetas do Sistema Solar giram no sentido "anti-horário". O movimento de rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que é essencial para a alternância entre dias e noites, além de influenciar marés, circulação dos ventos e diversos outros processos naturais. Cada rotação completa leva aproximadamente 24 horas, e cada translação — volta completa que o planeta dá em torno do Sol —, 365 dias e 6 horas (esse acréscimo gradual de tempo resulta em um dia extra a cada quatro anos, nos assim chamados "anos bissextos").
Observação: Na Roma Antiga, o dia 24 de fevereiro era chamado de "sexto die ante calendas martias" (sexto dia antes das calendas de março). Quando Júlio César reformou o calendário para resolver problemas de desalinhamento com as estações, ficou decidido que a cada quatro anos seria adicionado um dia extra após esse "sexto dia", ou "bis sexto die" (literalmente "o sexto dia repetido" ou "duas vezes o sexto dia"), daí o termo "bissexto".
A Terra dá uma volta competa em torno do próprio eixo em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, mas também se move em torno do Sol, e a posição do Sol mo céu varia conforme a estação do ano. Assim, estabeleceu-se que a duração dia solar médio em 24 horas. Todavia, as variações que a Terra sofre devido a fatores como a interação gravitacional com a Lua e o Sol e a distribuição de massas no planeta exigem que um ajuste de segundos bissextos seja feito de tempos em tempos, para manter a sincronia entre os relógios atômicos e a rotação real da Terra.