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sábado, 5 de abril de 2025

SOBRE O "SENTIDO HORÁRIO" DOS PONTEIROS DOS RELÓGIO

NÃO EXISTE TEMPO ABSOLUTO ÚNICO; CADA INDIVÍDUO TEM SUA PRÓPRIA MEDIDA DE TEMPO, QUE DEPENDE DE ONDE ELE SE ENCONTRA E DE COMO ELE ESTÁ SE MOVENDO.

Quando pensamos em tempo, costumamos imaginar uma linha que se estende do passado para o futuro. No entanto, como eu mencionei várias vezes na sequência sobre viagens no tempo, a "flecha do tempo" (ou "seta termodinâmica do tempo") aponta do passado para o futuro porque a tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flua nesse sentido. Mas nem as equações de Einstein definem um sentido único para ela, nem as leis da física embasam tal interpretação.


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A avaliação geral é de que a denúncia da PGR contra Bolsonaro é robusta, embora a divergência de Fux do voto do relator sugira que a condenação possa não ser unânime. Mas mesmo que o STF tenha o entendimento de que decisões das Turmas possam ser levados ao plenário se dois ministros defenderem absolvição, nada indica haja um clima de divergência ou que alguém mais entenda que o processo deva ir ao plenário. O próprio Fux compôs a unanimidade que transformou em ação penal a denúncia da PGR e enalteceu a qualidade do voto ácido de Moraes, que "não deixou pedra sobre pedra". Não são, salvo melhor juízo, palavras de quem pretende inocentar culpados.

Bolsonaro e seus apoiadores continuarão tentando obter apoio popular, constranger o STF, tumultuar a instrução processual, visando procrastinar a sentença condenatória. No entanto, aínda que o acordo de delação de Cid fosse anulado, o prejuízo seria do delator, já que as provas obtidas a partir da colaboração permaneceriam válidas. Além disso, salta aos olhos que, não fossem alguns militares e políticos cientes de seus deveres e tementes à lei, talvez estivéssemos sob um regime de exceção ou em plena guerra civil. 

Reduzir a participação de Débora Santos à pichação da estátua da Justiça é negar óbvio, uma vez que a moça estava ciente do objetivo golpista de seus atos contra o Estado Democrático de Direito — se isso justifica ou não uma pena de 14 anos de prisão é outra conversa. 

O próprio Bolsonaro, encalacrado até o pescoço por provas materiais e testemunhais, o "mito" insiste que tudo não passa de narrativa, de "pesca probatória" dos "ditadores" que o perseguem.

Para desmontar essa falácia, bastaria perguntar ao ex-presidente se ele foi ou não ameaçado de prisão pelo então comandante do Exército, General Marco Antônio Freire Gomes, e se foi, por quê?


Num evento organizado pela revista New Scientist, o físico italiano Carlo Rovelli esticou uma corda de uma ponta a outra do palco, pendurou uma caneta no meio e disse: "É aqui que estamos; à direita fica o futuro e à esquerda, o passado. O tempo é uma sequência de momentos que podemos ordenar, que tem uma direção preferida e que podemos medir com relógios". E acrescentou: "Quase tudo que eu falei está errado. É como se eu dissesse que a Terra é plana."

 

Não se sabe exatamente onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. Os princípios da termodinâmica, formulados no século XIX com base em máquinas a vapor, não se aplicam ao Universo, onde o que define a passagem do tempo é a expansão do cosmos em todas as direções. Mas o assunto deste post não tem a ver com a seta do tempo propriamente dita, e sim com os ponteiros dos relógios, que se movimentam sempre da esquerda para a direita. E a pergunta que se coloca é: por quê? 


A resposta simples é que se trata de uma convenção, e o princípio filosófico conhecido como Navalha de Occam sugere que, em havendo diversas hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, a mais simples deve ser a correta. No entanto, o assim chamado "sentido horário" não é ditado pelas leis da física ou da matemática, nem tampouco pela nossa percepção do tempo. A explicação mais simples é que a origem desse movimento remonta aos antigos relógios de sol. 


Os instrumentos criados pelos antigos egípcios para medir a passagem do tempo eram baseados na sombra produzida pela luz solar em uma haste. Mais adiante, modelos que usavam a água — como as clepsidras — e areia — como as ampulhetas — foram largamente utilizados por diversas civilizações antigas, mas isso é outra conversa.

 

Acredita-se que o primeiro relógio mecânico foi idealizado pelo Papa Silvestre II, no século IX da nossa era, e que o primeiro "relógio-pulseira" foi encomendado pela irmã do imperador Napoleão Bonaparte ao relojoeiro Abraham-Louis Bréguet (embora alguns historiadores atribuam sua criação a Antoni Patek e Adrien Philippe, fundadores da conceituada marca Patek-Phillipe). Já o primeiro modelo masculino teria sido criado por Louis Cartier a pedido do inventor mineiro Alberto Santos Dumont (na verdade, o que o joalheiro fez foi adaptar uma correia de couro ao maior relógio de pulso feminino de sua coleção). 

 

No final dos anos 1960, o mecanismo da maioria dos relógios de pulso continha uma mola — para gerar energia —, uma espécie de massa oscilatória — para oferecer referência de tempo —, dois ou três ponteiros, um mostrador enumerado e diversas engrenagens. Tempos depois, a Bulova substituiu a roda de balanço por um transistor oscilador que, alimentado por uma bateria, mantinha um diapasão vibrando a algumas centenas de hertz, e mais adiante o cristal de quartzo — cujas propriedades já eram conhecidas e usadas para proporcionar a frequência exata em aparelhos de rádio e computadores — substituiu o diapasão, agregando maior precisão ao mecanismo. Mas isso também é outra conversa.

 

Os ponteiros dos relógios se movem da esquerda para a direita porque foram inspirados nos relógios de sol, e estes foram criados por civilizações que habitavam o hemisfério norte, onde as sombras projetadas pela luz solar se movem da esquerda para a direita ao longo do dia. Em última análise, o sentido dos ponteiros é uma questão cultural — se os relógios tivessem surgido no hemisfério sul, o sentido horário seria o que hoje chamamos de sentido anti-horário. 

 

Com exceção de Vênus e Urano, os planetas do Sistema Solar giram no sentido "anti-horário". O movimento de rotação da Terra se dá de oeste para leste, o que é essencial para a alternância entre dias e noites, além de influenciar marés, circulação dos ventos e diversos outros processos naturais. Cada rotação completa leva aproximadamente 24 horas, e cada translação — volta completa que o planeta dá em torno do Sol —, 365 dias e 6 horas (esse acréscimo gradual de tempo resulta em um dia extra a cada quatro anos, nos assim chamados "anos bissextos").


Observação: Na Roma Antiga, o dia 24 de fevereiro era chamado de "sexto die ante calendas martias" (sexto dia antes das calendas de março). Quando Júlio César reformou o calendário para resolver problemas de desalinhamento com as estações, ficou decidido que a cada quatro anos seria adicionado um dia extra após esse "sexto dia",  ou "bis sexto die" (literalmente "o sexto dia repetido" ou "duas vezes o sexto dia"), daí o termo "bissexto". 

 

A Terra dá uma volta competa em torno do próprio eixo em 23 horas, 56 minutos e 4 segundos, mas também se move em torno do Sol, e a posição do Sol mo céu varia conforme a estação do ano. Assim, estabeleceu-se que a duração dia solar médio em 24 horas. Todavia, as variações que a Terra sofre devido a fatores como a interação gravitacional com a Lua e o Sol e a distribuição de massas no planeta exigem que um ajuste de segundos bissextos seja feito de tempos em tempos, para manter a sincronia entre os relógios atômicos e a rotação real da Terra. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 13ª PARTE

TALVEZ O TEMPO NÃO EXISTA, MAS OS AMANHÃS CERTAMENTE NÃO SÃO INFINITOS.

 

Se o tempo desacelera à medida que a velocidade do observador aumenta (dilatação temporal), viajar para o futuro é uma possiblidade matematicamente plausível, embora seja inexequível com a tecnologia de que dispomos atualmente. 

Avançar dezenas, centenas, milhares de anos exigiria viajar a uma velocidade próxima à da luz (1,08 bilhão de km/h), e o objeto mais veloz construído pelo homem até hoje mal chegou a 700 mil km/h. Isso sem falar que a massa relativística de qualquer objeto — seja uma simples partícula ou um nave espacial — tende ao infinito na velocidade da luz, exigindo energia igualmente infinita para continuar acelerando.

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Em entrevista à Folha, Bolsonaro reconheceu que a derrota nas urnas o "pegou de surpresa" e que buscou alternativas "dentro das quatro linhas". Chamou a Constituição de "Bíblia", disse que "discutir sobre alternativas" não caracteriza tentativa de golpe, e que a trama, da maneira como foi revelada, "é uma história contada por aquela parte da PF vinculada ao Sr. Alexandre de Moraes", soando como se desejasse reescrever o livro de Gênesis do regime democrático. 
Gleisi Hoffmann postou no X que "na estranha entrevista do réu Jair Bolsonaro, o que ressalta é a confissão de que ele nunca aceitou o resultado das eleições. É espantoso admitir que tentou impor estado de sítio, estado de defesa, aplicação indevida do artigo 142, intervenção militar e outras ‘alternativas’ para não entregar o poder. A entrevista é uma confissão de culpa que deveria ser tomada como agravante em seu julgamento". 
A decisão de não passar a faixa para alguém sem sua imagem e semelhança gerou elucubrações sobre a hipótese do Messias que não miracula proclamar "haja luz" a partir de uma "intervenção" baseada no artigo 142. Mas os comandantes do Exército e da Aeronáutica notaram que a luz não era boa e resolveram passar. 
O "mito" avalia que a ação penal sobre a trama golpista deveria ser extinta — pois não fez senão "discutir dispositivos constitucionais que não saíram do âmbito de palavras"—, e que sua provável prisão será "completamente injusta". 
E Deus viu que eram todos democratas.
 
Mais complicado ainda seria retroceder no tempo. Primeiro, porque seria preciso ultrapassar a velocidade da luz, e reza a física moderna que nada pode se mover mais rápido que a luz — cuja velocidade (denotada pela letra "c") é o limite máximo universal. Segundo, porque inverter a seta do tempo é uma possibilidade meramente teórica, ainda que o "tempo negativo" tenha deixado de ser um conceito especulativo depois qeu pesquisadores da Universidade de Toronto demonstraram sua existência através de experimentos com ondas quânticas. 

 

Voltar ao passado produziria eventos que afrontam a causalidade (gerando paradoxos temporais como o do Avô e o dos Gêmeos, que ocorrem quando uma ação no passado interfere no presente de uma forma que contradiga a linha do tempo original), mas várias soluções para contornar obstáculo foram propostas, como a do Multiverso, sustentada por diversas teorias que descrevem vários cenários possíveis partindo da premissa de que o e espaço-tempo observável não é a única realidade. 

 

A teoria da cosmologia inflacionária sugere que o Big Bang criou universos paralelos com propriedades semelhantes ou diferentes das dos nosso. A Interpretação dos Muitos-Mundos prevê a presença de linhas de tempo ramificadas (ou realidades alternativas) onde as decisões que tomamos produzem resultados diferentes. 

Talvez existam inúmeras versões de cada um de nós vivendo em universos muito semelhantes ou completamente diferentes do nosso, que viram à esquerda quando viramos à direita (ou vice-versa) em algum universo paralelo. 
 
Nem todas as teorias com foco em outros universos sugerem a existência de versões-clones de cada um de nós — até porque as propostas emanam de diferentes correntes científicas —, mas todas apontam para a existência de um multiverso. 

No famoso experimento do gato de Schröedinger, um gato é trancado numa caixa e um único átomo decide se ele vai morrer ou sobreviver. Segundo a interpretação de Copenhague, o felino está em um estado de sobreposição quântica — vivo e morto ao mesmo tempo —, e seu futuro será decidido quando a caixa for aberta. 

Já na interpretação de Everett o universo se separa em dois, num dos quais o gato está vivo e no outro, morto; no Multiverso de Nível 3, tudo que pode acontecer de fato acontece — em vez de entrar em colapso, a partícula quântica ocupa todos os lugares, dando origem a múltiplas realidades diferentes a cada segundo no Espaço Hilbert. 
 
Na visão míope dos céticos, a teoria do multiverso não é empiricamente testável, uma vez que, por definição, os universos paralelos seriam independentes do nosso e impossíveis de acessar. Mas o fato de ainda não termos descoberto o teste certo não significa que não venhamos a descobri-lo mais adiante. 

A existência dos universos paralelos parece menos irreal se levarmos em conta que, diferentemente dos bits da computação tradicional, que assumem apenas um valor por vez (0 ou 1), os qubits (bits quânticos) podem assumir os valores 0, 1 ou 0 e 1 ao mesmo tempo. 

Em última análise, tudo que observamos é esquisito e confuso, mas Richard Feynman não disse que ninguém realmente compreende a mecânica quântica?
 
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sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

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Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
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segunda-feira, 24 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 11ª PARTE

É O INSTINTO DO ABUSO DO PODER QUE DESPERTA TANTA PAIXÃO PELO PODER.

Publicadas na obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1667, as leis da dinâmica de Newton explicam por que as maçãs caem das árvores e a Terra gira em torno do Sol, e, por não distinguirem passado ou futuro, funcionam tão bem de trás para a frente quanto de frente para trás, sugerindo que, teoricamente, qualquer evento poderia ser revertido. No entanto, o cotidiano não reflete essa reversibilidade, como evidencia um vaso quebrado que não se reconstrói. 

A chave para entender por que o futuro é diferente do passado foi abordada por Ludwig Boltzmann no século XIX, quando a ciência ainda engatinhava e a teoria segundo a qual tudo é feito de minúsculas partículas (átomos) ainda estava sendo discutida. Segundo o físico austríaco, o conceito de entropia (detalhes nesta postagem) descreve a tendência do universo de se mover de um estado de baixa entropia (organizado) para alta entropia (desordenado), o que explicaria a irreversibilidade dos processos.

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A primeira turma do STF começa a decidir amanhã se promove Bolsonaro a réu. Para tentar se livrar da prisão, o ex-presidente promoveu uma manifestação na praia de Copacabana — que reuniu menos de 2% do público previsto — e seu filho Eduardo se licenciou da Câmara Federal para denunciar nos EUA os "abusos" cometidos pelo STF. Nos bastidores, porém, o que se fala não é se o capetão será condenado, mas a quantos anos e quando ele começará a cumprir a pena. 
A exemplo do que o PT fez em 2018, quando Lula foi preso pela Lava-Jato, o "mito" tenta emplacar a narrativa de que  será um preso político. O plano é semelhante ao ataque às urnas em 2022, com a diferença de que o objetivo atual é convencer o Brasil e o mundo que seu julgamento é um jogo de cartas marcadas. 
Enquanto o filho do pai busca apoio de congressistas trumpistas para "revelar ao mundo” o que considera um estado de exceção no Brasil, aliados do clã buscam organizar visitas de integrantes de organismos internacionais e acionar o Tribunal Penal Internacional contra os supostos abusos do STF. O efeito prático é nulo, pois a corte internacional não tem poder de reverter uma decisão do judiciário tupiniquim. 
Num ambiente altamente polarizado — 51% dos brasileiros declara ser contra anistiar os presos pelo vandalismo do 8 de janeiro — a estratégia deixa os ministros numa situação pouco confortável.  
Bolsonaro sabe que dificilmente escapará de uma condenação, independentemente do número de convertidos que trotarão até a Avenida Paulista no próximo dia 6, para ver seu mito, já então convertido em réu, criticar o STF por, entre outras coisas, manter o caso na  Turma para acelerar os trâmites. 
No processo do mensalão — que envolveu 40 autoridades —, foram cerca de 5 anos entre o recebimento da denúncia e o julgamento que a corte usou praticamente todo o segundo semestre de 2012 para concluir. A defesa deve insistir que a decisão fique a cargo dos 11 ministros, mas o relator da encrenca e o atual presidente so tribunal são contra, e os ministros com mais tempo de casa ainda se recordam quão árduo foi julgar o mensalão em plenário.
 
Boltzmann sugeriu que o Universo experimentou inicialmente um estado de baixa entropia, mas não conseguiu explicar como isso teria sido possível. Segundo a teoria do Big Bang, tudo que existe hoje se formou a partir de uma partícula incrivelmente quente e densa, que se expandiu rapidamente. Esse conceito evoluiu, e teorias modernas, como a de Sean Carroll sobre "universos bebês" emergindo de um "universo-mãe", sugerem que a entropia é globalmente alta, mesmo que partes do Universo possam ter baixa entropia. De acordo com a teoria das cordas, existem múltiplos universos, cada qual regido por leis físicas próprias.
 
A premissa de que a seta do tempo que aponta do passado para o futuro não é uma certeza universal. Experimentos demonstraram que a reversibilidade do tempo pode ocorrer 
em escalas microscópicas, ainda que a interação entre partículas tenda a criar uma irreversibilidade em escalas mais complexas, nas quais a experiência do tempo irreversível se deve à tendência do Universo à desordem (aumento da entropia).
 
Inúmeras evidências sugerem que a reversibilidade do tempo é possível em sistemas quânticos. A reversão poderia ocorrer em condições extremas, como em universos paralelos, ou por manipulação de partículas subatômicas. Tanto a teoria das cordas quanto experimentos de partículas admitem viagens no tempo para o passado, desde que haja condições adequadas para reverter a entropia ou manipular as leis que regulam a passagem do tempo.
 
Entre os experimentos quânticos que exploram a reversibilidade, o entrelaçamento quântico é um dos mais fascinantes. Trata-se de 
um estado em que as partículas se tornam intrinsecamente conectadas, e o estado de uma não pode ser descrito independentemente do estado da outra, inobstante a distância que as separa. Descrito por Einstein como "ação fantasmagórica à distância", esse fenômeno parecia violar o princípio segundo o qual a velocidade da luz é o limite máximo universal.

ObservaçãoPesquisadores do Caltech demonstraram o entrelaçamento quântico entre dois diamantes macroscópicos distantes um quilômetro um do outro, conforme artigo publicado na prestigiada revista Physical Review Letters. A possibilidade de objetos macroscópicos exibirem comportamento quântico desafia nossa intuição sobre o mundo físico e atenua a linha divisória entre o mundo quântico e o clássico, mas ainda há desafios significativos a superar antes que estas aplicações se tornem realidade.
 
O Teorema de Bell (1964) foi fundamental para testar a validade da mecânica quântica. Nele, o físico irlandês desenvolveu desigualdades matemáticas que permitiram a experimentação de fenômenos que, de outra forma, seriam inacessíveis. Experimentos subsequentes, como os do físico francês Alain Aspect, demonstraram que o entrelaçamento quântico realmente ocorre, e que a informação poderia ser transmitida de maneira não-local e instantânea.
 
Em 1993, o físico americano Charles Bennett e outros cientistas propuseram uma forma de teletransporte quântico utilizando entrelaçamento. Não se trata do teletransporte que se vê nos filmes de ficção, e sim da transferência de informações de estado quântico entre partículas. Mas esse fenômeno tem implicações diretas na reversibilidade, já que a informação que "viaja" instantaneamente pode ser vista como um tipo de reversibilidade de estados quânticos.
 
Vale destacar que, em nível quântico, a reversibilidade não significa "voltar no tempo" como vemos na ficção, mas à capacidade de recuperar informações perdidas em um sistema fechado. A possibilidade de, sob determinadas condições, os sistemas quânticos poderem ser manipulados para retornar a um estado anterior levanta questões sobre como o universo funciona e até onde a reversibilidade é possível — uma linha de pesquisa que se conecta diretamente com teorias de viagens no tempo.
 
Continua... 

terça-feira, 11 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 8ª PARTE

EM TERRA DE MALUCO, QUE NÃO É MALUCO É ANORMAL. 

Como dito no capítulo anterior, a velocidade da luz (representada pela letra 'c' e equivalente a 1,08 bilhão km/h) é o limite máximo universal. No entanto, novas teorias sugerem que, em determinados contextos, velocidades superluminais podem não ser apenas uma quimera explorada pela ficção sobre viagens no tempo — inclusive para o passado, já que o conceito de tempo negativo deixou de ser mera ficção quando pesquisadores da Universidade de Toronto demonstraram sua existência física tangível.

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Viralizou na Web que Janja torrou R$ 63 milhões desde a posse do marido. O cálculo foi feito pelo Janjômetro, que atribui à primeira-dama gastos com eventos patrocinados pelo governo, viagens oficiais, compra de móveis, reforma do Palácio do Planalto e até com uma gravata que ela comprou para o marido. 
O Estadão argumentou que a maior parte desses gastos não pode ser atribuída integralmente a ela (clique aqui para acessar a contestação), mas o criador do site sustenta que despesas "indiretas, como despesas com comitivas, também são de responsabilidade de Janja.
Os R$ 63 milhões seriam compostos de R$ 33,5 milhões para o evento apelidado de “Janjapalooza”, uma viagem ao Catar, a ida de Janja à Olimpíada de Paris, gastos com reformas e compras de móveis; hospedagem para o primeiro-casal em um hotel em Brasília, uma hospedagem em um hotel de luxo na Índia e a compra de uma gravata para Lula, em Portugal (por R$ 1.093). 
Exageros a parte, o TCU deveria prestar mais atenção em despesas como essas. Mas como esperar que isso aconteça se o gasto com tribunais de Justiça no Brasil é quatro vezes a média internacional?

 

Também como já foi dito, os táquions são partículas hipotéticas que "nascem" superluminais e se movem no sentido inverso ao da seta do tempo. Sua existência ainda não foi comprovada (nossa tecnologia não consegue detectar algo que se move tão rápido), mas se os pesquisadores da Universidade de Varsóvia obtiverem êxito em "encaixá-los" na Teoria da Relatividade, a Transformação de Lorentzo Princípio da causalidade e paradoxos temporais como o do Avô e o dos gêmeos terão de ser repensados.
 
Observação: Uma das implicações mais intrigantes dos táquions seria a possibilidade de eventos futuros influenciarem o passado, gerando paradoxos temporais. Um táquion emitido pelo piloto de uma nave para o receptor na Terra, por exemplo, se moveria mais rápido que a luz no referencial do receptor e retrocederia no tempo no referencial do piloto. Isso significa que a resposta chegaria antes da pergunta. Se a resposta fosse "não envie o sinal", o piloto não enviaria a pergunta e o receptor não teria nada para responder.


O engenheiro David Burns, do MSFC da NASA, está trabalhando num motor que usa íons e eletroímãs para acelerar partículas em loop helicoidal e gerar empuxo suficiente para impulsionar uma nave espacial a 99% da velocidade da luz. A ideia viola o princípio da conservação do momento linear, e ele próprio reconhece os desafios que tem pela frente, mas, se tiver êxito, sua invenção pode mudar o futuro das viagens espaciais, pois uma viagem da Terra a Marte poderia ser feita e 13 minutos, e uma esticada até Netuno, em cerca de 4 horas.

 

Outras possibilidades promissoras são "dobrar" o espaço-tempo, comprimindo-o à frente e expandindo-o atrás da nave — de modo a permitir que ela atinja a velocidade da luz sem violar a relatividade — e o uso de feixes de laser para impulsionar velas ultraleves a impressionantes 20% da velocidade da luz — o que, se der certo, encurtaria a viagem até Alpha Centauri para meros 20 anos. Há também a ideia de utilizar antimatéria como combustível, bem como reatores como o ITER e o SPARC, que replicam o funcionamento das estrelas para gerar energia limpa e praticamente ilimitada. 
 
Muitos desses projetos esbarram nos limites da física conhecida, como é o caso dos motores de dobra, e na escassez de recursos — construir uma Esfera de Dyson exigiria materiais de planetas inteiros. Mas Arthur C. Clarke não disse que "a única maneira de descobrir os limites do possível é ir além deles, rumo ao impossível"?

ObservaçãoEm atenção a um velho amigo, leitor assíduo destas despretensiosas postagens e, supostamente, fã de Star Trek, os hipotéticos motores de dobra espacial "dobram" o espaço-tempo ao redor de uma nave, criando uma "bolha" que se move mais rápido do que a luz sem violar as leis da física (porque não é a nave não se move dentro da bolha, e sim o espaço ao redor dela). A ideia encontra respaldo na física teórica, mas colocá-la em prática exigiria energia negativa e/ou matéria exótica, cuja existência carece de confirmação experimental direta. Até agora.

 
Continua...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 4ª PARTE

A TRAGÉDIA DA VIDA É QUE FICAMOS VELHOS CEDO DEMAIS E SÁBIOS TARDE DEMAIS
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Entropia significa "desordem em um sistema físico". Um vaso sobre a mesa é um exemplo de baixa entropia; se ele cai e se espatifa, a entropia cresce de maneira irreversível, pois os cacos não se juntam espontaneamente. 

Uma vez que a entropia de um sistema só aumenta, conclui-se que a seta do tempo só aponta para o futuro. Mas os princípios da termodinâmica foram estabelecidos estabelecidos no século XIX com base em máquinas a vapor, e não se aplicam ao Universo infinito, onde o que define a passagem do tempo não é o aumento da entropia, mas a expansão do cosmos em todas as direções.

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A condenação de Bolsonaro já não é uma questão de "se", mas de "quando". O capetão e seus advogados recorrem ao jus sperniandi. É função dos causídicos defender seus clientes, mas daí a insultar a inteligência alheia vai uma longa distância. Diante do calhamaço de provas coletadas pela PF, alegar que o indiciamento e a denúncia se basearam unicamente na delação de Mauro Cid é pura ficção. 
O argumento segundo o qual o golpe não passou dos atos preparatórios não faz sentido. Como bem anotou Paulo Gonet, "quando um presidente reúne a cúpula das Forças Armadas para expor planejamento minuciosamente concebido para romper com a ordem constitucional, tem-se ato de insurreição em curso". Mais próximo da cadeia que da urna e sem perspectivas no Judiciário, Bolsonaro se agarra à proposta da anistia — que subiu no telhado com a denúncia — como um náufrago que abraça um jacaré imaginando tratar-se de um tronco.
A capacidade de se iludir tornou-se vital para o ex-presidente, que, mimetizando o comportamento adotado por Trump e Lula na época em que fizeram suas excursões pelos nove círculos do inferno, alega ser vítima de perseguição política. A um passo do banco dos réus, age como se estivesse prestes a repetir seu ídolo retomando o trono, mas a legislação americana permitiria que Trump governasse de dentro da cadeia, ao passo que a inelegibilidade proibiria o "mito" de pedir votos mesmo que ainda estivesse solto em 2026. Para não ser trocado por um Plano B da direita, ele tenciona repetir tudo o que condenou no arquirrival petista em 2018 — Lula só autorizou o PT a substituir seu nome pelo de Haddad quando o TSE finalmente negou o registro de sua candidatura, e o capetão, marchando rumo à prisão, diz que levará sua candidatura ao TSE em 2026. Se colocassem a cara na vitrine, as alternativas do conservadorismo inibiriam a manobra. Ficando na encolha, os devotos atribuem ao "mito" a mística de um messias, abençoando com suas orações a futura ascensão à cabeça de chapa de um vice extraído do bolso do colete ou da árvore genealógica da Famíglia Bolsonaro.
O sigilo da delação de Muro Cid foi levantado na quarta-feira, comprovando que a higidez da denúncia contra o alto-comando do golpe não se escora somente no suor de um dedo, mas também em testemunhos de ex-comandantes militares, áudios, vídeos, mensagens, documentos e o diabo a quatro. Cid pediu perdão judicial em troca da delação e a extensão dos benefícios ao pai, à mulher e à filha. O tamanho do prêmio, que será definido no final do julgamento, depende do peso que os ministros da 1ª Turma do STF atribuírem à colaboração. 
A PF já indiciou Cid nos inquéritos da falsificação de cartões de vacinas, do roubo das joias e da tentativa de golpe. Conforme o avanço das apurações, os investigadores se deram conta de que ele revelava mais do que gostaria e muito menos do que sabia. A PF chegou a pedir a revogação do acordo, mas a PGR o avalizou, e o colaborador virou fornecedor de material para a construção de questões processuais da defesa do ex-chefe. Mas já está entendido que ele se tornou um delator menos premiado do que ele próprio gostaria.

O conceito de seta do tempo surgiu da diferença de entropia entre o passado e o futuro. Ainda não se sabe exatamente como ela emerge das interações entre partículas. Na escala microscópica, onde tudo é muito "fluido", o tempo pode ser um conceito relativo, e diversos experimentos já demonstraram a reversão do fluxo temporal. Já na escala humana, nem um vaso quebrado "se desquebra", nem uma pedra jogada no lago pula de volta para a mão de quem a jogou.

A tendência do Universo para a entropia sugere que o tempo flui do passado para o futuro, mas as leis da física não embasam essa interpretação, as equações de Einstein não definem um sentido único para a "seta do tempo" e tampouco se sabe onde fica a fronteira entre um tempo que não tem preferência de rumo e um tempo que nunca flui para o passado. 

Dada a possibilidade de o tempo avançar ou retroceder de forma não linear, a manipulação do fluxo temporal tem implicações diretas sobre a compreensão dos buracos de minhoca e outras estruturas cósmicas que, permitindo, em tese, as tão sonhadas viagens no tempo e fortalecendo teorias como as do multiverso e dos múltiplos mundos, onde realidades alternativas podem coexistir.

À luz da relatividade, voltar ao passado é matematicamente admissível (mesmo que em circunstâncias muito específicas), e a teoria dos universos paralelos oferece uma possível solução para os paradoxos temporaisMas a pergunta que se coloca é: será que o tempo existe realmente ou não passa de uma convenção criada para facilitar a compreensão da realidade?  

Continua...