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quarta-feira, 3 de agosto de 2022

A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE XI)

O VENENO MAIS LETAL É O SENTIMENTO DE REALIZAÇÃO, E O MELHOR ANTÍDOTO É PENSAR, TODOS OS DIAS, EM COMO APRIMORAR O QUE JÁ FOI FEITO.

 

Einstein teorizou tanto os buracos negros — que já foram inclusive fotografados — quanto os buracos de minhoca — cuja existência ainda não foi comprovada através de observações astronômicas. Mais adiante, a Teoria Quântica de Campos demonstrou que flutuações do vácuo quântico podem gerar “túneis” que interligam dois pontos nas dobras do espaço-tempo (do mesmo universo ou de universos diferentes), mas essas passagens seriam tão minúsculas, instáveis e efêmeras que nem uma partícula microscópica de matéria as conseguiria atravessar. 

 

Experimentos combinando elementos da relatividade geral, teoria quântica e eletrodinâmica clássica comprovaram que elétrons e ondas eletromagnéticas conseguem atravessar um buraco de minhoca, mas uma espaçonave tripulada só poderia fazê-lo se esse “atalho” fosse suficientemente grande e permanecesse aberto por mais que alguns milésimos de segundo. É aí que entra o modelo Randall–Sundrum, também conhecido como “geometria deformada em cinco dimensões”, segundo o qual a massa negativa — um tipo de matéria exótica que tem propriedades igualmente exóticas — pode manter os buracos de minhoca abertos e estáveis. 


Observação: Elétrons em movimento colidem com núcleos e outros elétrons, o que resulta em desaceleração. Mas um elétron com massa negativa acelera quando perde energia — para entender melhor, uma hipotética bola de massa negativa chutada para longe se aproximaria de quem a chutou; jogada na água, ao invés de desacelerar (por conta do atrito), ela afundaria cada vez mais depressa. 

 

À luz da física quântica (aquela que “só quem não entende acha que entende), o princípio da incerteza permite que o vácuo do espaço seja preenchido por pares de partículas e antipartículas virtuais. Elas surgem espontaneamente e desaparecem logo em seguida, mas aquelas que têm energia negativa podem viajar pelo espaço entrando por um lugar e emergindo em outro, e a energia gerada por elas é capaz de manter um buraco de minhoca estável.

 

Buracos de minhoca atravessáveis podem existir como resultado da “interação sutil entre a relatividade geral e a física quântica”, mas não necessariamente como uma forma prática de viajar pelo espaço — pelo menos, não da forma como imaginamos. Até porque um hipotético astronauta que atravessasse esse “túnel” no espaço-tempo levaria um segundo para percorrer milhares de anos-luz, mas produziria uma dilatação do tempo — ou seja, uma defasagem na medida de um intervalo de tempo entre dois referenciais cujos relógios foram previamente sincronizados.

 

A dilatação no tempo prevista e explicada por Einstein em suas teorias resulta da alta velocidade e é recíproca para os dois referenciais — quando um olha para o outro, ambos percebem uma passagem mais lenta do tempo. Mas o mesmo não acontece quando essa dilatação é ocasionada pela diferença de campo gravitacional; nesse caso, somente o corpo submetido a um campo gravitacional diferente fica sujeito à dilatação do tempo. 

 

O fenômeno em questão já foi observado na prática em aceleradores de partículas, relógios atômicos, satélites e raios cósmicos. Num desses experimentos, dois relógios atômicos que foram sincronizados e colocados em alturas diferentes (33 cm) mediram intervalos de tempo ligeiramente diferentes (defasagem foi de 90 bilionésimos de segundo em 80 anos de medição).

 

Desde 1895, quando o escritor britânico H. G. Wells lançou o clássico A Máquina do Tempo, é consenso entre os cientistas que a viagem no tempo requer um dispositivo capaz não só de criar uma curva fechada do tipo tempo, mas também de não causar danos a seus ocupantes. Em 1984, o físico Miguel Alcubierre teorizou a possibilidade de contrair o espaço-tempo à frente de uma nave e fazê-lo se expandir atrás dela  nesse caso, a nave ficaria instalada numa bolha e “escorregaria” pelo tecido do Universo. O detalhe (e o diabo mora nos detalhes) é que o propulsor dessa hipotética astronave precisaria gerar energia negativa suficiente para alcançar velocidades próximas à da luz. 


Isso sem mencionar a questão dos “paradoxos”. No célebre Paradoxo do Avô, por exemplo, alguém viaja ao passado e mata o próprio avô, inviabilizando o nascimento de um de seus pais, o próprio nascimento e, consequentemente, o futuro assassinato de seu ancestral). Alguns físicos argumentam que o “viajante“ nasceria em um universo paralelo — haveria um para cada decisão tomada (como virar à esquerda ou à direita, esperar o próximo ônibus em vez de se espremer no que já está lotado, e por aí afora) — e outros, que a viagem ao passado é factível, mas pode resultar no efeito borboleta, que levaria os eventos a se ajustarem para evitar os paradoxos temporais e, consequentemente, promoveria mudanças drásticas no curso da história. 


Continua... 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 25ª PARTE

TEM MUITA TESTA OLEOSA POR AÍ SE ACHANDO MENTE BRILHANTE.
 

Enquanto as religiões se apegam a dogmas milenares, a ciência parte do possível para explorar o impossível e, por meio de experimentos, converte dúvidas em descobertas.


À medida que a fronteira entre o imaginado e o comprovado se expande, incertezas viram convicções, e o que era verdade ontem pode deixar de sê-lo amanhã.


Einstein demonstrou que o impossível é apenas uma questão de tempo; Carl Sagan, que a ausência de evidências não é evidência de ausência; e Arthur C. Clarke, que desafiar limites é o único caminho para superá-los. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Sob uma ótica estritamente política, o país virou uma espécie de centro terapêutico para tratar as neuroses de Bolsonaro.

Bolsonaro teve alta hospitalar no domingo, mas continua na UTI da política. Em casa, ele evolui da dieta líquida para a alimentação pastosa; no Congresso e no Supremo, continua mastigando o pão que o diabo amassou. 

Segundo os médicos, o paciente logo voltará à "vida normal"; politicamente, até os aliados avaliam que ele será condenado à prisão antes do final do ano.

Numa entrevista de porta de hospital, o capetão atacou Alexandre de Moraes e convocou os devotos para mais uma manifestação pró-anistia, desta vez em Brasília. Mas o ataque se torna um esporte inútil para quem não dispõe de defesa. 

Já não há ato em favor da anistia capaz de deter no Congresso o avanço do projeto de lei que abre a cela da multidão do 8 de janeiro sem retirar o ex-presidente golpista e seus cúmplices do rumo da tranca.

Curiosamente, a saúde de Bolsonaro interessa aos aliados, que o querem como cabo eleitoral, e aos rivais, que o querem saudável para que seja preso. 

Viagens no tempo são um tema recorrente na ficção desde 1895, quando H.G. Wells publicou A Máquina do Tempo. Durante décadas, a ideia foi rejeitada pelos cientistas, mas bastaram 104 anos para a Apollo 11 transformar em realidade o que Júlio Verne teorizou (profetizou?) em 1865, em Da Terra à Lua. E a história está repleta de casos semelhantes.

Apesar de toda a evolução tecnológica havida nos últimos séculos, ainda não foi possível transformar uma espaçonave em uma máquina do tempo, pois isso exigiria alcançar a velocidade da luz — que, segundo a teoria da relatividade e a física moderna, é o limite máximo permitido no Universo. A possibilidade de viajar para o futuro é aceita há décadas pela maioria dos físicos teóricos, mas nem tudo que é matematicamente possível pode ser realizado na prática.

Antes da relatividade (especial e geral), o tempo era considerado absoluto e universal. Mas Einstein demonstrou que a duração entre dois eventos depende do movimento do observador — o que é ilustrado magistralmente pelo famoso "paradoxo dos gêmeos".

Nos voos comerciais, essa dilatação do tempo é da ordem de nanossegundos, mas os relógios atômicos confirmam experimentalmente que o movimento tem, de fato, um impacto mensurável na passagem do tempo. Em grandes aceleradores de partículas, múons podem ser acelerados a velocidades próximas à da luz, e seus decaimentos ocorrem em "câmera lenta", ratificando as previsões de Einstein. Em outras palavras, viajar para o futuro — ainda que em frações ínfimas — é um fato comprovado.

Outra forma de alterar a passagem do tempo é por meio da gravidade: quanto mais intensa ela é, mais devagar o tempo flui. No nível do mar, a força gravitacional é maior do que no cume do Everest e, portanto, os relógios andam ligeiramente mais devagar. A diferença é mínima, mas já foi medida em experimentos nos quais pesquisadores posicionaram relógios atômicos extremamente precisos em diferentes altitudes. O mesmo princípio se aplica ao sistema GPS, cujos satélites precisam corrigir constantemente os efeitos da dilatação temporal para manter a precisão.

Na superfície de uma estrela de nêutrons, a força gravitacional é extrema, e o tempo flui cerca de 30% mais lentamente em relação à Terra. Já em um buraco negro, o tempo praticamente congela em relação a um observador externo.

Voltar ao passado, no entanto, é um desafio muito maior. Em 1948, o matemático e físico Kurt Gödel apresentou uma solução para as equações da relatividade geral que descrevia um universo em rotação, onde se poderia viajar ao passado — e, consequentemente, no tempo, já que espaço e tempo são indissociáveis — percorrendo um caminho fechado no espaço.

Essa ideia é considerada apenas uma curiosidade matemática, já que não há evidências de que nosso Universo esteja girando. Ainda assim, ela mostrou que a relatividade geral, por si só, não proíbe explicitamente a viagem ao passado. O problema está em encontrar um meio prático de fazer isso acontecer, a despeito dos efeitos relativísticos que impactam o tempo, o espaço e a massa — sem falar nos paradoxos temporais.

A existência dos buracos de minhoca foi teorizada por Einstein, mas ainda não foi comprovada experimentalmente. Acredita-se que eles funcionem como atalhos, encurtando a distância entre dois pontos, neste ou em outro universo, no presente ou em outro momento da linha do tempo. O problema é que a rapidez com que eles aparecem e desaparecem os torna inatravessáveis. Alguns cientistas acreditam ser possível estabilizá-los com uma infusão de energia negativa produzida por meios quânticos — como o chamado Efeito Casimir —, já que, em tese, a energia negativa os impediria de atingir densidade infinita, ou quase infinita, e se transformarem em buracos negros.

Em 1974, o físico, matemático e cosmólogo Frank Tipler calculou que um cilindro maciço e infinitamente comprido, girando em torno de si mesmo a velocidades próximas à da luz, permitiria vislumbrar o passado — puxada em torno dele, a luz descreveria trajetórias fechadas no espaço-tempo.

Em meados dos anos 1980, surgiu um dos cenários mais plausíveis para a existência de uma máquina do tempo, baseado no conceito dos buracos de minhoca — e em conformidade com a teoria da relatividade geral, que estabelece que a gravidade distorce tanto o espaço quanto o tempo. Esses atalhos no tecido do espaço-tempo poderiam — ao menos em teoria — conectar dois pontos distantes no espaço e no tempo. A proposta ganhou destaque com os trabalhos do físico Kip Thorne e colaboradores, que demonstraram a possibilidade de estabilizar um buraco de minhoca utilizando matéria exótica com energia negativa, tornando viável, em princípio, a criação de um percurso temporal fechado.

Em 1991, o escritor e astrofísico Richard Gott sugeriu que cordas cósmicas — estruturas extremamente finas e densas que teriam se formado nos primeiros instantes após o Big Bang — também poderiam criar distorções significativas no espaço-tempo. Se essas cordas se movessem a velocidades próximas à da luz e passassem uma pela outra em ângulos específicos, poderiam teoricamente gerar uma configuração que permitisse voltar no tempo. Embora altamente especulativa, essa hipótese também se apoia na relatividade geral e contribui para o campo das possíveis soluções matemáticas para as chamadas curvas fechadas de tipo tempo — trajetórias que retornam ao próprio passado.

Um buraco de minhoca foi usado por Carl Sagan no romance Contato, publicado em 1985 (o filme baseado no livro também é muito bom). Incentivados por Sagan, Thorne e seus colegas do Instituto de Tecnologia da Califórnia buscaram verificar se esses atalhos cósmicos poderiam existir sem violar as leis da física, e concluíram que eles poderiam se comportar como buracos negros em certos aspectos — só que, em vez de aprisionar a matéria, permitiriam um trajeto entre diferentes regiões do espaço-tempo.

Continua...

terça-feira, 5 de setembro de 2023

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM...

O TEMPO PERGUNTOU PRO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM, E O TEMPO RESPONDEU PRO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER PRO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

 

A diferença na passagem do tempo para objetos que se deslocam em velocidades diferentes é um dos aspectos mais discutidos e menos compreendidos da Teoria da Relatividade. Seus efeitos fazem parte do nosso dia a dia, mas poucos professores de física conseguem explicá-los aos alunos de modo satisfatório, até porque as "dimensões sobre-humanas" envolvidas, foguetes e gêmeos que viajam em naves espaciais dificultam a compreensão do fenômeno. 

A mudança na velocidade do tempo entre a superfície da Terra e o espaço não é perceptível em aviões, mas requer ajustes constantes nos relógios internos dos satélites artificiais, que atrasam 7 milionésimos de segundo por dia enquanto orbitam o planeta a 14.000 km/h. A dilatação do tempo, teorizada por Eistein, foi comprovada por cientistas do NIST, que colocaram dois minúsculos relógios atômicos extremamente precisos em alturas diferentes (33cm) e eles marcaram o tempo em taxas diferentes, comprovando que o tempo passa mais lentamente quanto mais próximo se está de um campo gravitacional (como o da Terra, nesse exemplo). 

Outro experimento comprovou que o tempo passa mais devagar para quem está em movimento que para quem está parado. Os cientistas moveram o íon de alumínio — que fica praticamente parado no interior do relógio atômico — para trás e para adiante, numa velocidade equivalente à de alguns metros por segundo, e o resultado foi exatamente o previsto pela relatividade. Aliás, o célebre "paradoxo dos gêmeos" ilustra bem esse fenômeno (como vimos em outras postagens, o gêmeo que volta à Terra após viajar pelo cosmos em altíssima velocidade envelhece menos que irmão). 
 
Os relógios atômicos de alumínio conseguem detectar os pequenos efeitos da relatividade devido a sua extrema precisão e a um elevado "fator Q", que reflete de forma confiável como o íon absorve e retém a energia óptica ao passar de um nível de energia para outro (como o tempo que um diapasão leva para perder a energia armazenada em sua estrutura ressonante). 
Os pesquisadores colocaram o íon de alumínio em sincronia com a frequência do laser por cerca de 400 trilhões de ciclos, mas esperam que, no futuro, relógios atômicos ópticos permitam criar padrões de medição do tempo 100 vezes mais precisos que os atuais (mais detalhes em Batido recorde mundial do menor tempo já medido).
 
Fonte: 
Inovação Tecnológica

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O TEMPO, A CAUSALIDADE E A CIGANA

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM, E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

 

O fruto mais cobiçado — e ainda inalcançado — da “árvore Relatividade” são as viagens no tempo, e um dos aspectos mais intrigantes do tempo é a diferença com que ele passa para observadores que se deslocam a velocidades distintas. Quando observarmos o relógio, vemos o ponteiro dos segundos avançar num ritmo constante, como um rio que corre para o mar, mas a velocidade desse "rio do tempo" é inversamente proporcional à nossa. 

 

Se não nos demos conta disso, é porque as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas. Num carro a 180 km/h, por exemplo, 1 minuto corresponde a 59,999999999999904 segundos. Por outro lado, os relógios atômicos dos satélites que orbitam a Terra adiantam 0,00447 segundos por dia — devido à velocidade de 28 mil km/h e à gravidade, que é menor a  20 mil km de altitude. Sem as devidas correções, os sistemas de GPS apresentariam erros de até 10 km por dia. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Sujos e mal lavados se uniram para organizar uma fila de votações onde a sem-vergonhice, encabeçada pela PEC da blindagem, foi acomodada adiante do interesse público. O texto realiza os sonhos de parlamentares encrencados condicionando prisões em flagrante e abertura de ações penais no STF ao aval da Câmara e do Senado. Se forem presos em flagrante por algum crime inafiançável, poderão ser soltos pelo próprio Congresso em 24 horas, e seus benfeitores ficarão protegidos da opinião pública, já que a votação é secreta. 

No melhor estilo uma mão suja a outra, a facção bolsonarista do Legislativo concordou com a prioridade do Centrão mediante o compromisso de que, na sequência, seja votado um pedido de urgência para uma vergonhosa PEC da anistia que inclua o ex-presidente golpista. Para fechar o ciclo de desfaçatez, o PL indicou o lesa-pátria filho do pai como líder da minoria na Câmara. Homiziado na cueca de Trump desde fevereiro, Dudu Bananinha simularia o exercício da liderança à distância, livrando-se da cassação do mandato por excesso de faltas. 

De acinte em acinte, suas insolências transformam a política num outro ramo do crime organizado. Mas é importante lembrar que a culpa é de quem repete nas urnas a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. A quem tem ao menos dois neurônicos funcionais, fica a recomendação: Vote nas putas; votar nos filhos delas não funcionou.

 

Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. Segundo o princípio da causalidade (não confundir com “casualidade”), as causas sempre precedem as consequências. O que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia o que acontecerá amanhã. Ainda assim, nossa percepção da passagem do tempo depende de diversas variáveis. Para quem está a ponto de borrar as calças e ouve de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto parecerá a antessala da eternidade.

 

À medida em que envelhecemos, nossas experiências se tornam mais previsíveis. Isso nos dá a sensação de que o tempo está passado cada vez mais depressa, a despeito de os ponteiros do relógio avançar com a mesma velocidade com que avançava na nossa infância. No entanto, mesmo que os dias e as noites se sucedem a cada doze horas, o tempo não é o mesmo em todos os lugares.

 

Numa hipotética espaçonave a 99,9999999% da velocidade da luz, a dilatação temporal reduziria milhares de anos terrestres a poucos segundos. Já a dilatação gravitacional do tempo faz com que o tempo passe mais devagar ao nível do mar do que no topo do Everest (fato comprovado por relógios atômicos posicionados a alturas diferentes, mesmo quando diferença é de apenas alguns milímetros).

 

Para entender como os ciclos de sono, alimentação e produtividade são afetados pela referência das horas, o pesquisador francês Michel Siffre passou dois meses numa caverna escura, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz disponível era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal. 


No livro Beyond Time, lançado em 1964, ele relatou que tomava o próprio pulso e contava os segundos até 120 sempre que se comunicava por rádio com a equipe de apoio, mas o tempo real cronometrado por seu staff era de quase 5 minutos. Sem os indicadores naturais (como nascer e pôr-do-sol), seu ciclo circadiano  passou de 24 para 48 horas, e o tempo psicológico foi reduzido à metade do cronológico. O experimento se estendeu por dois meses, que para ele pareceram menos de um.

 

Estudos recentes apontam que até o idioma e o sistema de escrita (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. Na maioria das línguas, o passado é descrito como algo que ficou para trás, e o futuro, como algo que está sempre mais adiante, mas no idioma falado pelos índios Aimarás ocorre o contrário. No inglês, as distâncias percorridas são usadas para explicar a duração dos eventos; no grego, o fluxo temporal é percebido como um volume crescente, não como distância física. 
 

Uma vez que o idioma pode se infiltrar em nossas emoções e percepção visual, aprender uma nova língua nos "sintoniza" com dimensões sensoriais até então desconhecidas. De acordo com um estudo publicado pela Nature Reviews Neuroscience, o hipotálamo dos "atrasados crônicos" funciona de modo a fazê-los subestimar o tempo necessário para chegar ao local do compromisso, uma vez que as estimativas são baseadas no tempo gasto para realizar a mesma tarefa no passado, e essas memórias nem sempre são precisas. 


O estado emocional também contribui: o negativo nos dá a sensação de que o tempo está passando mais devagar, e o positivo, a sensação oposta. No auge da pandemia da Covid, muitas pessoas queriam "acelerar o tempo" para retomarem a "vida normal". Como emoção e motivação estão interligadas, o tempo pareceu passar ainda mais devagar. Quanto maior a motivação, mais acentuada a mudança na percepção de tempo, e tanto a percepção de aceleração quanto de desaceleração temporal atuam sobre a maneira como alcançamos determinados objetivos.

 

Enquanto a sensação de aceleração tende a facilitar as conquistas, a desaceleração costuma evitar que demoremos muito em situações potencialmente prejudiciais — quanto mais o tempo "demora a passar" numa situação de medo, por exemplo, mais rapidamente agimos para nos livrarmos do perigo. Mas vale destacar que “ganhar tempo” ou “perder tempo” é um erro de perspectiva: o tempo não é uma moeda que podemos guardar ou desperdiçar, ele simplesmente passa, e tentar “economizá-lo” fazendo várias coisas simultaneamente (multitasking) nos leva a “perder” mais tempo do que se realizarmos uma atividade por vez. 

 

Observação: Traçar um paralelo entre o cérebro humano e a CPU (sigla de Central Processing Unity, que designa o processador principal do computador, embora muita gente a utilize equivocadamente para se referir ao “case” — ou gabinete — dos desktops) faz sentido, mas os computadores são “multitarefa” e nós, não. Dizem que as mulheres até conseguem, mas eu acho que isso não passa de folclore.

 

Pensamos no tempo como algo externo, mas ele é um conceito profundamente enraizado em nossa mente. Todos temos um "relógio interno" que regula o sono, a fome e a energia ao longo do dia. Ou seja, nosso relógio biológico é regulado pelo tempo, e alterá-lo — trabalhando à noite ou dormindo em horários irregulares — afeta nossa saúde e compromete nosso bem-estar.

 

Até a invenção da escrita, o tempo era medido com base em fenômenos naturais sazonais. Mais adiante, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias e os egípcios criaram um calendário lunar baseado na estrela Sirius. No final do século XVI, o calendário Juliano foi substituído pelo modelo Gregoriano, que atualmente é adotado pela maioria dos países. Mas não é o tempo que passa; nós é que passamos por ele como areia entre as câmaras de uma ampulheta. 

 

Atribuir um número de série a cada ano é como tentar aprisionar o tempo num calendário de parede, e sempre haverá um ministro do STF disposto a soltá-lo. Por falar nisso, consta que Bolsonaro consultou uma cartomante para saber se sua tentativa de golpe daria certo, e foi instruído a cortar o baralho, dividir em cinco montes e virar uma carta de cada. O resultado foi uma sequência de reis: KKKKK (para entender melhor, observe a figurinha que ilustra esta postagem).  

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 41ª PARTE

O TEMPO NÃO PARA NO PORTO, NÃO APITA NA CURVA, NÃO ESPERA NINGUÉM. 

Colher o "fruto mais cobiçado da árvore da relatividade" exige saber o que é e como funciona o "tempo" — que os dicionaristas definem como "período sem interrupções no qual os acontecimentos ocorrem". Assim, se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se as causas precedem as consequências, então o que aconteceu dita as regras do que acontecerá. 


É certo que avançamos para o futuro do momento em que nascemos até nosso último suspiro — se continuamos avançando nas vidas futuras, como sustentam os que acreditam em reencarnação, ou ao longo de toda a eternidade, como dizem os que creem em vida eterna, ninguém ainda voltou para contar. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Na política, a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Eduardo Bolsonaro não sofre de insanidade; apaixonou-se por ela, aproveita cada segundo desse convívio e é plenamente correspondido: segundo a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Xandão usurpou o poder ditatorial ao ameaçar desafetos e seus familiares com prisão e outras penalidades. 

"Para quem ainda não entendeu”, explica o filho do pai, “os Estados Unidos estão dispostos a ir às últimas consequências para destruir todos os obstáculos ao resgate da harmonia entre os Poderes." Faltou definir "ultimas consequências", mas o que o rebento do refugo da escória da humanidade quis dizer foi mais ou menos o seguinte: "a iminente condenação de papai atiçará a fúria Trump, que não hesitará em decretar o Juízo Final para o bem do Brasil".

Segundo o Datafolha, 89% dos brasileiros avaliam que o tarifaço de Trump trará prejuízos para a economia, 77% acham que suas finanças pessoais serão afetadas, e 57% condenam a interferência dos EUA na Justiça brasileira. Traduzindo o que diz a pesquisa, "se a estupidez matasse, os políticos que defendem as sanções de Trump deveriam colocar pontes de safena no cérebro, e os que se acorrentam a Bolsonaro — como o governador paulista Tarcísio de Freitas — deveriam cagar ou sair da moita." 

A esta altura, matar o tempo equivale a cometer suicídio.


O romance A Máquina do Tempo — publicado por H.G. Wells em 1895 — inaugurou o conceito de uma tecnologia capaz de nos levar a outros pontos da linha temporal. A ideia, revolucionária para a época, já suscitava dilemas filosóficos e sociais, como as implicações morais de alterar o curso dos acontecimentos e a alienação do ser humano diante de um futuro incontrolável.


Supõe-se que um retorno ao passado produza mudanças que criariam um "novo presente" — como explica o célebre paradoxo do avô. Em última análise, o simples desembarque de um hipotético viajante no passado já alteraria o fluxo dos acontecimentos. Ou não.


Kip Thorne — laureado com o Nobel de Física em 2017 por seus estudos sobre ondas gravitacionais — e outros astrofísicos renomados acreditam ser possível viajar para o passado sem criar paradoxos. Não ao "nosso passado", mas a um passado alternativo de um universo paralelo. Segundo eles, se o espaço-tempo pode ser curvado, distorcido e expandido, então pode se desdobrar em múltiplas versões coexistentes. Nesse cenário, em vez de inviabilizar o próprio nascimento matando o avô, o viajante do tempo criaria uma nova ramificação da realidade para acomodar aquele evento — ideia que se alinha à interpretação dos muitos mundos.

 

Já o Princípio da Autoconsistência, formulado pelo físico russo Igor Novikov em 1980, sustenta que eventos causados por viagens no tempo devem ser consistentes com o passado já existente, preservando a lógica e a história tal como conhecemos. Se alguém tentasse matar o próprio avô, algo impediria o ato, pois o passado desse alguém está "selado", ou seja, escrito de maneira consistente com o presente do qual esse alguém partiu.

 

Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial. Segundo Julian Barbour, o Universo tem dois lados, e o tempo corre simultaneamente nos dois sentidos. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, pois tempo é mudança. Mas se o que vemos acontecer não é o tempo, e sim a mudança, então o tempo não existe. E ainda existisse, o Universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido ele fluir numa única direção. Ademais, o que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, e sim o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço.

 

Roger Penrose, conhecido por suas contribuições à cosmologia e à compreensão da gravidade, afirma que Big Bang criou um "universo espelho", onde o tempo e a matéria se movem em direções opostas, retrocedendo em direção ao "momento zero". Carlo Rovelli, que se notabilizou por seus estudos sobre a gravidade quântica em loop, sustenta que a hipótese de o espaço ser um recipiente amorfo das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. E se o espaço não é um "recipiente que contém as coisas", então o tempo não é uma linha reta pela qual as coisas fluem como uma sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro. 

 

Observação: Em 2012, Rovelli iniciou uma palestra dizendo que o tempo não existe. Em sua visão, ao invés de ser uma medida cronológica como a usada nos calendários, o tempo é na verdade uma variável resultante da crescente entropia do cosmo ao longo de seus quase 14 bilhões de anos de existência. Em A Ordem do Tempo, ele explora as concepções que a humanidade já teve acerca desse elemento crucial da realidade, de Newton, que teorizava duas formas de tempo, e Einstein, para quem o espaço-tempo resultaria de deformações do campo gravitacional até o atual estágio das pesquisas.

 

Para entender a teoria da gravidade quântica em loop, é preciso renunciar à ideia de espaço e tempo como estruturas gerais para enquadrar o mundo, mas compreender o mundo exige contrariar a nossa própria intuição: se realmente existe um limite para o espaço e o tempo, então a relatividade geral e a mecânica quântica deixam de brigar uma com a outra. 

 

A exemplo da Teoria das Cordas, a gravidade quântica em loop carece de comprovação experimental. Mas vale lembrar que tanto as ondas gravitacionais quanto o bóson de Higgs e as ondas eletromagnéticas permaneceram décadas no campo das teorias até sua existência ser provada.

 

Para atestar a irrealidade do tempo usando o pensamento lógico e um baralho, o matemático britânico J.M.E. McTaggart dividiu as cartas em duas pilhas, ordenou-as cronologicamente na primeira e aleatoriamente na segunda, e concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que sem a ordem temporal (na segunda pilha) eles ainda existem, embora não haja "antes" nem "depois". Num segundo experimento, ele introduziu uma terceira pilha cartas para demonstrar que, mesmo que se tente classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) independe dessa categorização. 


Se o tempo é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo. E se essa circularidade viola a lógica, então o tempo não existe de verdade. Mas possibilidade de o tempo não existir tornaria a vida muito sem graça — não teríamos aniversários nem réveillons para celebrar, nem datas como o Natal, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, entre outras que se repetem ano após ano. Também seria difícil compreender o processo de envelhecimento. 


Sem o tempo, os eventos não teriam uma ordem definida, e tudo pareceria acontecer ao mesmo tempo — ou talvez nada acontecesse de fato, já que causa e efeito perderiam o sentido. Como perceberíamos mudanças, conquistas, amadurecimento? Como distinguiríamos passado, presente e futuro? Nossa memória e nossas expectativas deixariam de ter propósito, e até a própria noção de história se desfaria.


No livro Tempo: O Sonho de Matar Chronos, o físico italiano Guido Tonelli explica que o tempo é um elemento material que "ocupa o universo inteiro, que vibra, oscila e se deforma". Se dois astronautas viajassem em direção a um buraco negro supermassivo, um deles mantivesse a nave a uma distância segura do fenômeno e o outro cruzasse o "horizonte de eventos", o tempo pareceria continuar passando normalmente para este, mas um sinal de rádio que ele enviasse para o colega fora buraco negro levaria uma eternidade para ser recebida. Em outras palavras, o tempo flui diferente em diferentes regiões do Universo, e apenas tecnicidades nos impedem de dobrá-lo a nosso favor.

 

Voltando à questão dos paradoxos temporais, um evento capaz de alterar o passado e provocar uma inconsistência no Universo tem zero chance de ocorrer. De acordo com a conjectura da proteção cronológica — proposta por Stephen Hawking em 1992 — as leis da física obstam o surgimento de curvas fechadas do tipo tempo, impedindo que algo volte a um ponto do passado e continue se movendo até chegar novamente ao ponto de partida. Um dos mecanismos sugeridos para essa "conspiração" é a necessidade de energia negativa para estabilizar os buracos de minhoca. 

 

Na trilogia De Volta para o Futuro, o paradoxo do avô é o motor dramático da trama; em Dark, o tempo é apresentado como um ciclo fechado, onde causas e consequências se retroalimentam, alinhando-se à ideia de autoconsistência; em Interestelar vemos como a dilatação temporal pode tornar décadas num planeta em meros minutos dentro de uma nave; e obras como Rick and Morty e Tudo em todo lugar ao mesmo tempo exploram — com humor ou caos —,a ideia de múltiplos mundos e realidades paralelas coexistentes com a nossa.

 

Segundo a física teórica Lisa Randall, não se consegue provar definitivamente uma teoria; o que se consegue é validá-la empiricamente e excluir as alternativas que não se sustentam. Essa natureza provisória do conhecimento científico nos conduz a uma reflexão fascinante: quanto mais desvendamos o mundo, mais descobrimos que ainda muito por desvendar. Como bem observou Rovelli, "a única coisa realmente infinita no Universo é nossa ignorância".


Talvez nenhum de nós ainda caminhe entre os vivos quando a primeira máquina do tempo for finalmente construída, mas a ideia nos leva a questionar o que é real, o que é possível e até onde vai o poder das leis físicas. Se o tempo for apenas uma construção mental, então nossa noção de destino, memória e identidade pode estar baseada em algo ilusório, e o verdadeiro "viajante do tempo" pode ser o próprio pensamento humano, que se move livremente entre passado, presente e futuro — mesmo quando o corpo permanece inexoravelmente preso ao agora.


Continua...