quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 60ª PARTE

NÃO DÁ QUEM TEM, DÁ QUEM QUER BEM.

À luz da Teoria Geral da Relatividade, a possibilidade de viajar no tempo existe. Para avançar anos, décadas, séculos ou milênios rumo ao futuro, basta viajar a 99,999999999% da velocidade da luz e fruir da dilatação do tempo. Retornar ao passado, no entanto, é um pouco mais complicado.

Como já comentei em outros capítulos, o problema não se limita aos limites da nossa limitada tecnologia atual (se me concedem a redundância). Como se não bastasse o fato de a maior velocidade já alcançada por uma sonda espacial ter sido de 700.000 km/h — míseros 0,064% da velocidade da luz —, voltar ao passado geraria incongruências temporais — como o célebre paradoxo do avô. 

 

Os paradoxos parecem intransponíveis à primeira vista, mas a física quântica oferece algumas saídas elegantes — ainda que mirabolantes. A interpretação de muitos mundos, proposta por Hugh Everett III em 1957, sugere que cada evento quântico cria infinitas ramificações da realidade, cada uma explorando uma possibilidade diferente. Aplicada à viagem no tempo, essa teoria oferece uma solução surpreendentemente simples para o paradoxo retrocitado: se alguém voltasse ao passado e impedisse que seus avós se conhecessem, esse alguém não estaria alterando seu próprio passado, mas criando uma linha temporal alternativa que se desenvolveria sem sua existência.

 

A teoria do multiverso, por sua vez, expande ainda mais essas possibilidades. Se existe um número infinito de universos paralelos, cada qual com suas próprias leis físicas, constantes e histórias, a viagem no tempo poderia ser uma forma de navegação interdimensional. Ao "voltar" a 1955, por exemplo, o viajante do tempo não estaria retornando ao seu 1955, mas saltando para um universo paralelo onde o ano é 1955. Assim, as mudanças que ele promovesse nessa realidade não afetariam sua linha temporal original, eliminando qualquer paradoxo. Seria como editar um livro diferente numa biblioteca infinita.

 

A interpretação transacional da mecânica quântica, desenvolvida por John Cramer, oferece outra perspectiva fascinante. Segundo essa visão, as partículas se comunicam tanto para frente quanto para trás no tempo, criando uma espécie de "negociação" temporal que determina os eventos observados. Aplicando essa ideia à viagem no tempo, tentativas de alterar o passado seriam automaticamente compensadas por ajustes quânticos microscópicos, mantendo a consistência causal — como se o próprio universo "negociasse" internamente para evitar paradoxos. O famoso princípio de autoconsistência de Novikov funcionaria não como uma lei rígida, mas como um processo dinâmico de equilíbrio temporal.

 

Mas talvez a implicação mais fascinante dessas teorias seja a possibilidade de já estarmos fazendo turismo interdimensional sem saber. Cada decisão que tomamos poderia nos deslocar sutilmente entre realidades paralelas quase idênticas. A diferença é que, em vez de grandes saltos temporais dramáticos, estaríamos constantemente deslizando entre variações infinitesimais do presente. Nessa perspectiva, a viagem no tempo tradicional seria apenas um salto consciente e direcionado entre as infinitas possibilidades do multiverso.

 

Por outro lado, se cada ação cria infinitas realidades, pode existir uma versão de nós que salvou o mundo e outra que o destruiu. Mas o que isso significa para o livre-arbítrio e a responsabilidade pessoal? E mais: ainda que essas teorias estejam corretas e consigamos desenvolver a tecnologia necessária para navegar conscientemente entre realidades, como distinguiríamos entre um "verdadeiro" retorno ao passado e um salto para um universo paralelo historicamente anterior?

 

Por enquanto, responder a essas perguntas cabe aos físicos teóricos e aos escritores de ficção científica. Mas é precisamente na fronteira entre o possível e o imaginário que as ideias mais revolucionárias costumam nascer. Quem sabe as viagens no tempo — ou, ao menos, as viagens entre realidades — não sejam apenas uma questão de descobrir a tecnologia certa para surfar nas ondas do multiverso?

 

Até lá, continuamos presos em nossa única linha temporal, observando o tempo fluir inexoravelmente numa única direção. Mas talvez isso não seja uma limitação — talvez seja exatamente onde precisamos estar para apreciar a extraordinária complexidade e beleza do cosmos em que vivemos.

 

Continua...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

WINDOWS 11 — QUICK MACHINE RECOVERY

O PRIMEIRO PASSO PARA RESOLVER UM PROBLEMA É RECONHECER QUE O PROBLEMA EXISTE.

A Microsoft deve liberar até o final deste ano, para todos os PCs domésticos com Windows 11, um novo recurso chamado Quick Machine Recovery (Recuperação Rápida de Máquina), que permite ao sistema corrigir automaticamente eventuais falhas que afetem seu funcionamento — o que, convenhamos, já estava mais que na hora.

Testado desde março, o recurso começou a ser disponibilizado para usuários do programa de testes Windows Insider, por meio do canal Release Preview, a partir da compilação 26100.4762 do Windows 11.

Quando ativada, a Recuperação Rápida de Máquina detecta problemas que impedem ou comprometem a inicialização do sistema e aciona automaticamente o Ambiente de Recuperação do Windows (WinRE). No WinRE, o sistema pode se conectar à internet e consultar os servidores da Microsoft, que analisam os dados da falha em busca da solução mais apropriada — que, até onde se sabe, pode ir desde a simples atualização de um driver problemático até a reversão de uma atualização do Windows responsável pela falha.

O Windows já conta com uma ferramenta para esse fim, o Reparo de Inicialização, mas o novo recurso tende a ser mais eficaz por consultar a Microsoft para identificar o erro e, se necessário, baixar a correção correspondente. Ainda assim, o Reparo de Inicialização continuará disponível por mais algum tempo — até porque ele funciona mesmo quando não há conexão com a internet.

Vale lembrar que esta não é a única novidade da compilação 26100.4762. A atualização também substitui a famigerada BSoD (sigla de Blue Screen of Death — ou Tela Azul da Morte, em português) por uma mensagem de erro escrita com letras brancas sobre fundo preto (mais detalhes na postagem do dia 11).

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

A ORIGEM DO VIDRO AMARELO DA LÍBIA

SE NÃO SABEMOS QUANTO TEMPO NOS RESTA, POR QUE DESPERDIÇÁ-LO LAMENTANDO COISAS QUE NÃO PODEMOS MUDAR?
 
Fragmentos de vidro encontrados no Grande Mar de Areia intrigam os cientistas desde os anos 1930. 

Ao contrário dos vidros formados por processos naturais, como as moldavitas, na Europa, e as tectitas, na Costa do Marfim, esse vidro líbio é pobre em sílica. Devido à cor amarelada, foi usado decorativamente na época de Tutancâmon, como no escaravelho para o peitoral do faraó — que pode ser visto na imagem que ilustra este post.  Curiosamente, além da joia produzida com esse vidro, o Rei Tut possuía também uma adaga feita com ferro meteorítico.

Quanto à origem, a comunidade científica se divide entre vulcões lunares, fulgurite — formação de vidro pela fusão da areia atingida por um raio —, processos sedimentares ou hidrotermais e queda de um meteorito. Mas o mais curioso é que a cor amarelada resulta do óxido de ferro e do titânio, que fazem parte da composição do vidro líbio — embora essas substâncias não existissem no deserto da Líbia há 30 milhões de anos, quando esse vidro teria se formado.

Fragmentos coletados na região de Al Jaouf, no sudeste da Líbia, foram analisados a partir de uma técnica de microscopia eletrônica de transmissão, que permite ver partículas com espessura 20 mil vezes menor que a de uma folha de papel. Mediante esse processo, os pesquisadores identificaram diferentes tipos de óxido de zircônio — mineral que se forma em temperaturas extremas, entre 2.250°C e 2.700°C, e pressão superior a 130 mil atmosferas — e vestígios de reidite — que se forma em alta pressão, mas apenas durante impactos de meteoritos e não em explosões de ar. 

A identificação do reidite permite estimar com maior precisão a frequência com que ocorrem desastres de ondas de choque com NEOs — fenômenos capazes de produzir esse tipo de vidro — mas não basta para solucionar o mistério.

Como disse Hamlet a Horácio, "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia".

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 59ª PARTE

O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE. 

 

Até as equações relativísticas de Einstein demonstrarem que o espaço e o tempo formam uma estrutura inseparável (espaço-tempo) e que o tempo pode se dilatar e se contrair ao sabor da velocidade e da gravidade, achava-se que o fluxo temporal ocorria como um rio corre da nascente para a foz, não obstante a localização e a velocidade do presso. 


CONTO DEPOIS DA POLÍTICA


O primogênito de Bolsonaro abriu a porta do hospício. Sabendo-se inviável, Flávio se autoproclamou presidenciável predileto do pai na sexta-feira. No sábado, já tinha virado uma piada. No domingo tornou-se uma chantagem: "Eu tenho um preço."

No mercado da política, quem não tem valores sempre tem um preço. A questão é sabe se tem quem compre. O Datafolha sinaliza que a maioria do eleitorado acha que a anistia cobrada por Flávio Bolsonaro para desistir de sua pseudocandidatura presidencial é uma mercadoria cara demais.

Para 54% dos eleitores, a prisão de Bolsonaro é justa. Pode-se intuir que a maioria do eleitorado considera injusta uma anistia que abra a cela do chefe da organização criminosa do golpe. Metade dos brasileiros diz que jamais votaria em alguém indicado pelo condenado. E apenas 8% acham que Flávio é o melhor nome para ser apoiado pelo pai.

Ou seja: Bolsonaro deve continuar preso. Mas seu primogênito abriu a porta do hospício. Sabendo-se inviável, Flávio se autoproclamou presidenciável predileto do pai na sexta-feira. No sábado, já tinha virado uma piada. No domingo tornou-se uma chantagem: "Eu tenho um preço."

No mercado da política, quem não tem valores sempre tem um preço. A questão é sabe se tem quem compre. O Datafolha sinaliza que a maioria do eleitorado acha que a anistia cobrada por Flávio Bolsonaro para desistir de sua pseudocandidatura presidencial é uma mercadoria cara dera 54% dos eleitores, a prisão de Bolsonaro é justata.

 

Devido à dilatação do tempo — ilustrada magistralmente pelo Paradoxo dos Gêmeos e comprovada experimentalmente pelos relógios atômicos dos satélites — o tempo passa mais devagar conforme a velocidade do observador aumenta, mas esse efeito só é significativo em velocidades próximas à da luz. Se ele parece passar mais rápido quando estamos ocupados, é porque nossa percepção da realidade é influenciada pelo que estamos fazendo e por nossa concentração na tarefa. Se estivermos prestes a borrar as calças e ouvirmos de quem está no banheiro o inevitável "só um minutinho!", esse minuto nos parecerá uma eternidade. 

 

A ideia de que a seta do tempo é unidirecional surgiu no século XIX, com base nas leis da termodinâmica e no princípio da entropia. Em 1927, o astrofísico Arthur Eddington observou que a maioria dos processos físicos no nível macroscópico parecem ter uma direção preferencial, e concluiu que a seta do tempo aponta sempre para o futuro. À luz desse pressuposto, os eventos ocorrem de forma irreversível, mas o que define a passagem do tempo no Universo não é o aumento da entropia, e sim a expansão do tecido do cosmos em todas as direções.

 

A Teoria da Relatividade dá azo à possibilidade de deformar o espaço-tempo e viajar ao passado, mas Stephen Hawking pondera que essa deformação poderia causar um raio de radiação capaz de destruir a espaçonave e o próprio espaço-tempo. No livro Uma Breve História do Tempo (1988), ele anotou que a seta do tempo pode ser entendida de diferentes maneiras em diferentes áreas, e que as leis da física não proíbem sua inversão em determinados contextos — no nível quântico, alguns fenômenos subatômicos exibem simetria temporal, sugerindo que os processos podem ocorrer em ambas as direções temporais. Ademais — e isso sou eu quem está dizendo —, o tempo negativo já deixou de ser um conceito eminentemente teórico (clique aqui para mais detalhes).

 

Em 2009, Hawking deu uma festa na Universidade de Cambridge, pendurou um grande banner com os dizeres "bem-vindos, viajantes no tempo", enviou os convites no dia seguinte e ficou esperando os viajantes do futuro. No capítulo Viagem no tempo da série Into the Universe with Stephen Hawking, ele comentou: "Que lástima! Eu gosto de experiências simples e... champanhe. Então, combinei duas das minhas coisas favoritas para ver se a viagem do futuro para o passado é possível, mas ninguém apareceu". 

 

A possibilidade de viajantes do tempo terem estado entre nós levou dois físicos americanos a vasculhar a Web em busca de conteúdos que só poderiam ter sido publicados por quem tivesse conhecimento prévio de eventos ainda não ocorridos. Segundo os pesquisadores, referencias inequívocas não foram encontradas devido à amplitude limitada da busca, à impossibilidade de os viajantes deixarem rastros duradouros — inclusive digitais — ou de leis da física ainda desconhecidas impedirem qualquer forma de comunicação entre diferentes linhas temporais.

 

No romance Contato, o astrofísico e cosmólogo Carl Sagan ensinou que "ausência de evidência não é evidência de ausência" — referindo-se à possibilidade de existir vida alienígena. "Se formos só nós, um universo que se estende por todos os lados por 46,5 bilhões de anos-luz (cerca de 440 sextilhões de quilômetros) é um imenso desperdício de espaço", ponderou o astrofísico. A propósito, o filme baseado no livro também é excelente.

 

Lá pela virada do século, alguém com o nickname "TimeTravel_0" escreveu em um chat IRC (sistema de bate-papo baseado em texto) que viera de 2036 a 1975 para conseguir um IBM 5100 — necessário, segundo ele, para depurar programas antigos e evitar o Efeito 2038, que causa falhas em sistemas que usam contagem de tempo em segundos a partir de 1970. Em outras postagens, ele detalhou seus deslocamentos temporais, postou desenhos esquemáticos do projeto e uma foto de sua "unidade de deslocamento no tempo de massa estacionária alimentada por duas singularidades positivas girando no topo", além de revelar que o CERN descobriria como viajar no tempo em 2001, e que máquinas do tempo criadas para transportar pequenos objetos seriam adaptadas para coisas grandes e seres humanos. 

 

A guerra civil que profetizou para 2004 não aconteceu, a exemplo da Terceira Guerra Mundial — que teria início em 2015 e dividiria EUA em cinco países —, mas a "doença da vaca louca" aporrinhou pecuaristas nos anos seguintes, e a China realmente mandou um homem ao espaço em 2003. Ele desapareceu dos fóruns em março de 2001, deixando uma frase misteriosa ("traga uma lata de gasolina com você quando seu carro morrer na estrada"). O IBM 5100 foi lançado em 1975 e retirado do mercado em 1982, mas causa espécie o desaparecimento misterioso de uma unidade rara, dotada de uma interface que permitia acessar todos os códigos da empresa, que foi reconhecido pela própria Big Blue.

 

Em 2009, o jornal britânico Daily Telegraph publicou que o tal viajante do tempo era uma ficção criada pelos irmãos Larry e John Haber. Um detetive norte-americano encontrou um registro de marca com o nome de "John Titor Foundation", onde Larry era registrado como presidente, mas cuja sede não passava de uma caixa postal no estado da Flórida. Para os teóricos da conspiração, as previsões não falharam, apenas deram a abertura temporal para que o viajante conseguisse corrigi-las antes que ocorressem. 

 

O próprio Titor avisou que alguns eventos poderiam não acontecer, já que o "modelo Everett-Wheeler da física quântica" estava certo: sua viagem ao passado criaria duas linhas do tempo — a original (vivida por ele) e outra, paralela, surgida após sua viagem ao passado (lembrando que, segundo a Interpretação de Muitos Mundos, cada vez que ocorre um evento quântico que pode ter múltiplos resultados, o universo se divide em tantos universos quantos forem os resultados possíveis. 

Observação: Talvez tudo isso não passe de uma fraude, mas, se for, quem a criou sabia muito bem do que estava falando. Além disso, ninguém jamais reivindicou a autoria da brincadeira, e muitas questões levantadas pelo suposto viajante permanecem sem resposta. A quem interessar possa, nos sites John Titor TimesJohn Titor’s Story e Anomalies é possível ler todas as postagens na íntegra. 

domingo, 7 de dezembro de 2025

FRITAR/ASSAR LINGUIÇAS COMO MANDA O FIGURINO

TUDO É FÁCIL PARA QUEM SABE.

Criada no Brasil pelos imigrantes italianos da região da Calábria, no sul da Itália, a linguiça calabresa tem como base carne suína e gordura, além de condimentos como pimenta-calabresa, que confere a picância e é marca registrada desse embutido.


Muito presente na cozinha do dia a dia, esse embutido versátil pode ser servido como complemento do feijão, como petisco, usado no preparo de molhos, no recheio de pães, massas e tortas, na cobertura de pizzas, etc. Mas existem diferenças entre a linguiça calabresa e a linguiça tipo calabresa.


A linguiça calabresa é feita com carne suína e pimenta-calabresa e passa por um processo de cocção e defumação (a defumação não é obrigatória, mas a maioria das linguiças calabresas disponíveis no mercado é defumada). A linguiça tipo calabresa também tem carne suína como base, mas pode conter na formulação carne obtidas a partir da moagem e separação de ossos, além de até 2,5% de soja ou outra proteína vegetal.


Observação: De acordo com o caderno de gastronomia do Estadão, as melhores linguiças calabresas industrializadas são Sadia, Prieto, Perdigão e Aurora.


Pré-cozer a linguiça em água fervente por cerca de 10 minutos antes de fritar ou assar na churrasqueira garante um cozimento uniforme, mantém a suculência, elimina o excesso de sal e evita que a tripa estoure. Usar um pegador de salada ou similar em vez do garfo evita que a gordura saia rapidamente pelos furos e deixe a linguiça ressecada. Evite também temperaturas muito altas, que estouram a pele e deixam a carne dura — na churrasqueira, use primeiro a grelha média e depois a alta, virando aos poucos, até que a linguiça fique assada por igual.


Como acompanhamento, que tal uma geleia de pimenta? É só bater no liquidificador 250ml de suco de laranja, 50ml de suco de limão, 100g de pimenta dedo-de-moça, 500g de açúcar refinado e cozinhar em fogo baixo por cerca de 40 minutos — ou até o ponto de geleia.


Outra sugestão é abrir pães franceses ao meio, colocar dois gomos de linguiça grelhada na churrasqueira (ou numa chapa de ferro) e cobrir com um molho feito com 1 cebola, 2 tomates (sem sementes), 2 pimentas dedo-de-moça e folhas de salsa picadas e temperado com sal, azeite e o suco de 1 limão.


Bom apetite.

sábado, 6 de dezembro de 2025

DE VOLTA AO SPAM

O CORPO DE UM VELHO NÃO PASSA DE UM SACO ONDE ELE CARREGA DORES E INDIGNIDADES.

Não há provas de que Bill Gates tenha dito que 540K de memória bastariam para qualquer computador, mas há registros de que, em 2004, ele profetizou que o problema do spam estaria resolvido em dois anos. Pois bem: passaram-se 21, e os spammers e scammers continuam a nos importunar por e-mail, SMS, WhatsApp e chamadas telefônicas.

O termo spam, originalmente usado para designar um presunto condimentado enlatado da marca Hormel Foods, virou sinônimo de mensagem indesejada graças ao humor nonsense dos britânicos do Monty Python. Antes do Gmail, esse “junk mail” não apenas entupia a internet, como também ocupava o espaço miserável das caixas postais que os provedores de e-mail gratuito ofereciam aos usuários. Do spam para o scam (ou phishing) foi um pulo. Com o passar do tempo, o famoso “príncipe nigeriano” virou gerente de banco, funcionário da Receita, dos Correios — e por aí segue a procissão.

Mesmo em 2025, filantropos do mundo todo continuam fazendo fila para doar montes de dinheiro a desconhecidos. A origem da “riqueza inesperada” varia, mas, para que o dinheiro chegue à conta da vítima, esta precisa fornecer seus dados bancários e pagar uma “taxa de transferência” que, por alguma razão, o suposto benfeitor não tem como arcar. 

Em muitos casos, o spam vem de endereços de email falsos de bancos, órgãos públicos, lojas online ou até floriculturas, invariavelmente acompanhados de um link que a vítima deve acessar para fornecer dados ou efetuar o pagamento de um falso frete ou outra taxa qualquer — supostamente para receber uma encomenda, uma herança, ou então regularizar seu CPF, CNH, título de eleitor ou outro documento qualquer.

A maioria dessas mensagens é filtrada pelos provedores e encaminhada à caixa de spam, mas algumas escapam do crivo e acabam na caixa de entrada. Cabe ao destinatário examiná-las cuidadosamente em busca de erros de ortografia, gramática ou qualquer outra inconsistência. O simples fato de a pessoa não ter encomendado produto algum, nem participado de sorteios ou concursos, já é um sinal evidente de que se trata de fraude.

O mesmo vale para mensagens de WhatsApp e SMS semelhantes, com as quais os vigaristas tentam obter dados pessoais e bancários de vítimas em potencial. Jamais responda a essas mensagens, clique em links ou forneça seus dados. Se possível, bloqueie e denuncie os remetentes.

No fim das contas, o spam é só mais um lembrete de que a ingenuidade humana continua sendo um recurso inesgotável. E a tecnologia, por mais avançada que seja, ainda tropeça onde o velho golpe encontra o velho otário. Portanto, desconfie de tudo. Até de quem promete resolver o spam em dois anos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

DE VOLTA AOS CARTÕES DE MEMÓRIA

MUITO SABE QUEM CONHECE A PRÓPRIA IGNORÂNCIA.

Os primeiros PCs não tinham disco rígido — e nem sistema operacional, mas isso é outra conversa. Mais adiante, o DOS e os primeiros HDs facilitaram a vida dos usuários, ainda que o espaço oferecido fosse pífio (naquela época, 1 MB de armazenamento custava cerca de US$ 200). Mas não há nada como o tempo para passar: os fabricantes levaram décadas para quebrar a barreira do gigabyte, mas, a partir daí, dobraram a capacidade dos dispositivos em intervalos cada vez menores.

 

Em 2005, desktops de entrada de linha já vinham com HDs de 20 GB — suficientes para a maioria dos usuários comuns, considerando que o Windows e os aplicativos da época eram bem menos "volumosos" e não havia tantos arquivos multimídia para armazenar. Em 2007, com o lançamento do iPhone, a Apple obrigou a concorrência a promover seus celulares a smartphones. Ao longo dos anos seguintes, os pequenos notáveis se tornaram verdadeiros microcomputadores de bolso, capazes de realizar tarefas complexas, como edição de vídeo e fotografia profissional, jogos de alta performance e muito mais.

 

Atualmente, a quantidade de memória RAM dos smartphones ombreia com a dos desktops e notebooks: de 6 a 8 GB nos modelos intermediários e de 16 a 24 GB nos aparelhos top de linha. Já o armazenamento interno — equivalente ao HDD/SSD dos PCs de mesa e portáteis — varia de 128 a 256 GB nos modelos medianos, e de 500 GB a 1 TB nas versões premium. Embora aparelhos com 4 GB de RAM e 32 ou 64 GB de armazenamento ainda sejam vendidos, não se deixe seduzir pelo preço: diferentemente dos desktops e notebooks, que permitem a troca dos módulos de memória e drives de HD/SSD, celulares nascem e morrem com a configuração definida por seus fabricantes. 

 

Até poucos anos atrás, a maioria dos smartphones de entrada e medianos suportava cartões de memória, permitindo economizar um bom dinheiro na compra do aparelho e usar um cartão microSD como extensão do armazenamento interno. A partir do Android 6.0, passou a ser possível inclusive instalar e rodar aplicativos diretamente do cartão (nem todos os fabricantes ativaram esse recurso), mas a dificuldade em proteger aparelhos com slot extra contra água e poeira, somada às limitações impostas pelas versões mais recentes do robozinho verde — que ainda permitem armazenar arquivos, mas não rodar a maioria dos aplicativos diretamente da mídia removível — deve diminuir ainda mais a oferta de modelos com suporte a cartões. 

 

Vale lembrar que os padrões eMMC mais recentes — a tecnologia mais lenta usada em memória interna, presente apenas em celulares de baixo custo — ainda são muito mais rápidos do que os cartões SD mais velozes. Além disso, a memória de qualquer celular Android comercializado é criptografada, enquanto os cartões SD geralmente não possuem essa camada de proteção nem atendem aos requisitos necessários para isso — embora alguns aparelhos permitam criptografar cartões SD manualmente, isso é exceção, e não regra.

 

Alguns fabricantes ainda oferecem suporte a cartões em seus modelos de entrada, e apps simples — como Telegram, Instagram e alguns jogos — permitem que parte dos dados seja armazenada no cartão, que também pode ser usado para armazenar arquivos multimídia (notórios consumidores de espaço), que não são afetados pelas limitações de velocidade e estabilidade dos cartões. Mas a tendência é que eles desapareçam, como aconteceu com outras portas e conexões. Então, se você ainda os usa, aproveite enquanto pode. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 58ª PARTE

NÃO CONTE SEUS PROBLEMAS A QUEM NÃO PODE RESOLVÊ-LOS. 

 

Ao propor que alterações no passado feitas por um viajante do tempo não modificam a linha temporal original, já que criam uma nova realidade, a Teoria do Multiverso oferece uma solução elegante para os paradoxos temporais


Ainda que a chegada de um viajante do tempo fosse, por si só, uma alteração no passado, nada do que ele fizesse modificaria seu passado — apenas daria origem a um universo alternativo, no qual os eventos se desenrolariam de forma diferente. 


Essa premissa resolveria o célebre paradoxo do avô, já que o crononauta parricida criaria uma nova linha temporal na qual ele jamais nasceria, preservando, intacta, a linha original de onde partiu.

 

Convém não confundir a teoria do multiverso com a Interpretação de Muitos Mundos, que é específica da mecânica quântica e postula o surgimento de universos ramificados a cada evento quântico. O multiverso abarca diversas teorias e hipóteses sobre a existência de outros universos além do nosso, que podem ser semelhantes ou seguir leis físicas distintas, além de interagir ou não entre si. 

 

Para facilitar o entendimento, imagine um experimento em que uma partícula quântica pode passar por duas fendas. Na mecânica quântica padrão, ela passa por ambas simultaneamente, como uma onda, mas na Interpretação de Muitos Mundos o universo se divide em dois: em um deles, a partícula passa pela fenda 1; no outro, pela fenda 2. Em outras palavras, a Teoria do Multiverso é um conceito geral de múltiplos universos, enquanto a Interpretação de Muitos Mundos é uma teoria específica que sugere como esses universos poderiam surgir, dentro do contexto da mecânica quântica.

 

Outra abordagem interessante é a hipótese das curvas temporais fechadas autoconsistentes, proposta pelo físico russo Igor Novikov. Ela sugere que os eventos em uma viagem no tempo já estariam "pré-determinados" de modo a evitar paradoxos. Assim, qualquer tentativa de alterar o passado falharia — não por limitações tecnológicas, mas por exigência lógica. A arma emperraria no momento crucial, ou circunstâncias imprevistas impediriam a mudança. Nessa visão, o Universo disporia de um mecanismo de autocorreção causal — um tipo de "filtro temporal" que assegura a coerência dos acontecimentos, permitindo viagens no tempo sem violar as leis da causalidade.

 

A hipótese defendida por Novikov foi retomada por pensadores contemporâneos como David Deutsch, físico da Universidade de Oxford. Ele propõe que, se as viagens no tempo forem possíveis, elas só poderiam ocorrer em um multiverso — mais especificamente, sob a lógica da Interpretação de Muitos Mundos. Nessa perspectiva, um viajante que voltasse ao passado e alterasse algo relevante não afetaria o seu próprio passado, mas criaria ou acessaria outra ramificação do universo, onde suas consequências seriam absorvidas.

 

Segundo Deutsch, isso resolveria os paradoxos clássicos sem exigir nenhum "ajuste mágico" do Universo. A consistência se manteria porque o viajante jamais conseguiria interferir no seu próprio ponto de origem temporal — apenas navegaria por realidades alternativas geradas pelas suas ações. Assim, as curvas temporais fechadas passariam de armadilhas lógicas a atalhos navegáveis entre diferentes versões de uma mesma realidade.

 

Esse tipo de raciocínio, que mistura lógica quântica com metafísica aplicada, serve de pano de fundo para inúmeros experimentos mentais — e roteiros de ficção. Imagine, por exemplo, uma máquina do tempo que só funciona se o usuário aceitar que nada poderá mudar. Ou que sua existência dependa do fato de nenhuma tentativa de uso ter causado uma inconsistência fatal no passado. Nesse cenário, a própria estabilidade da linha temporal validaria, retroativamente, a possibilidade de sua existência.

 

Essas especulações reacendem um debate antigo, mas sempre atual: o tempo é fixo ou fluido? Se o Universo é autoconsistente, como defendem Novikov e Deutsch, talvez o livre-arbítrio seja uma ilusão conveniente, e todas as nossas decisões já estejam inscritas em uma narrativa rígida. Por outro lado, se vivemos num multiverso em expansão ramificada, então cada escolha pode, literalmente, dar origem a um novo mundo — com consequências que jamais saberemos.

 

Na dúvida, seguimos com os pés bem fincados no presente e a cabeça viajando por aí, saltando entre teorias como quem troca de vagão num trem imaginário que percorre a eternidade.

 

Continua...