terça-feira, 2 de setembro de 2025

SOBRE CHATBOTS DE IA

ARMAS NÃO MATAM PESSOAS. PESSOAS MATAM PESSOAS.

Nelson Rodrigues dizia que "toda unanimidade é burra", mas tudo que é demais enche, e a dicotomia não é exceção. A exemplo da polarização na política, opiniões antagônicas sobre IA pululam como baratas no esgoto — e quem mais fala é justamente quem menos deveria falar.

 

O termo "inteligência artificial" foi cunhado em 1956 por John McCarthy, que o usou pela primeira vez nos convites para um evento no Dartmouth College, sobre a capacidade das máquinas de realizar tarefas humanas. Já a IA propriamente dita tem como um de seus pais Alan Turing — tido também como pai da computação —, e hoje está presente nos mais diversos setores, embora ainda enfrente inúmeros desafios, da interpretabilidade e do viés algorítmico às questões éticas.


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Começa hoje o julgamento mais emblemático dos últimos tempos, em que os cinco ministros que compõem a Primeira Turma do STF decidirão a sorte de Jair Bolsonaro e de sete comparsas do chamado "núcleo crítico do golpe". Na definição de Tocqueville, a história é uma galeria de quadros onde há poucos originais e muitas cópias. O golpe falhado de Bolsonaro foi uma tentativa canhestra de reviver o Brasil pós-64. O que será pendurado na historiografia nacional como um quadro original é o julgamento dos golpistas pelo Supremo Tribunal Federal.

A história da tentativa de golpe é, na verdade, o registro dos crimes e das loucuras que levaram um capitão destrambelhado e sua tropa de degenerados — as "minhas Forças Armadas" — a tramar a desgraça da democracia. Registra-se também a maneira qualificada como a democracia lida com gente que tão desqualificada-

Na Presidência e fora dela, os maiores excessos a que o “mito” foi submetido sempre foram os de moderação, mas a condescendência diminuiu na proporção direta da aproximação do julgamento — que pode lhe render mais de 40 anos de prisão. 

Enquanto a Justiça aperta o cerco em torno do réu mais famoso desde Lula, outro espetáculo se desenrola na conjuntura política desta banânia. Como nos circos de antigamente, em que palhaços entretinham o público enquanto os verdadeiros artistas se preparavam para o picadeiro, uma disputa eleitoreira conseguiu ofuscar o que deveria ser celebrado: o cerco histórico às finanças do PCC. 

A queda de braço entre Tarcísio de Freitas, os ministros Lewandowski e Haddad, e o chefe da PF, Andrei Passos, é tão constrangedora quanto previsível: "É a maior operação da história", proclamou Lewandowski. Atingiu "o andar de cima" do PCC, ecoou Haddad. Tarcísio, incomodado com o esforço federal para capitalizar os dividendos políticos, postou um vídeo eleitoreiro reivindicando o protagonismo da inteligência paulista, enquanto Passos envenenou a atmosfera sugerindo vazamentos de informações sigilosas e lamentando que apenas seis das 14 ordens de prisão foram cumpridas.

A disputa é ironicamente contradita por uma frase em que Haddad quase acerta: "Espero que nossa coordenação com os estados se intensifique. Que deixemos as disputas menores para combater o crime em uníssono, como política de Estado." 

Faltou definir "uníssono", pois o que se vê é uma algaravia eleitoreira que ameaça desperdiçar o excelente trabalho conjunto de servidores federais e estaduais dos dez estados envolvidos na megaoperação.

 

Novidades sempre geraram incertezas, e incertezas sempre geraram insegurança. No tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos naturais eram atribuídos a forças sobrenaturais. Isso levou ao misticismo e, deste, às religiões. Na Idade Média, a Igreja receava que a prensa de Gutemberg propiciasse a proliferação de ideias "heréticas e subversivas", ameaçando seu controle sobre a ordem social, política e religiosa.

 

No século XVIII, a Revolução Industrial deu azo ao "Ludismo", que se caracterizou pela destruição de teares mecanizados; no século passado, a energia atômica gerou preocupações quanto a seu potencial uso para fins destrutivos; e neste, a IA se tornou a bola da vez. Mas receio e preocupação são uma coisa; fobia e pavor (medos patológicos), outra bem diferente. E, parafraseando Martin Luther King, "nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância"

 

Num primeiro momento, os teares mecanizados geraram desemprego, mas o aumento da produtividade criou novos empregos e melhorou a qualidade de vida da população. Assim, além de se adaptarem às novas tecnologias, as pessoas minimamente racionais não demoraram a percebem os benefícios que as novidades proporcionam. Por outro lado, não se pode esquecer o que Einstein disse sobre a estupidez humana.

 

Confundindo os estúdios de Hollywood com o Oráculo de Delfos e inspirando-se em filmes de ficção como 2001: Uma Odisseia no EspaçoExterminador do Futuro e Superinteligência, os palpiteiros de plantão veem na IA uma força hostil que fatalmente dominará a humanidade. Portanto, é imperativo desmistificar mitos e garantir ela seja desenvolvida de forma responsável, utilizada com bom senso pelas pessoas e regulamentadas com vistas a sua aplicação ética e responsável.

 

Chatbots como ChatGPT, Gemini, Copilot, Meta AI e afins podem reduzir o tempo gasto em tarefas repetitivas e demoradas, como transcrição de áudios, elaboração de resumos, busca de referências e formatação de textos. A transcrição de áudio está disponível somente para assinantes das versões pagas do GPT e do Gemini, mas é possível usar ferramentas gratuitas como o Google Pinpoint e o NotebookLM para obter a transcrição de arquivos, tanto no computador como no celular. 

 

Essas ferramentas podem ainda processar e resumir textos, buscar referências, apontar fontes, links, citações, autores, datas, e por aí afora, mas é importante ter em mente que, dependendo do assunto e do uso que será feito das informações, é fundamental checar as respostas, pois sempre existe a possibilidade de erros e "alucinações". A maioria das versões gratuitas oferece recursos para formatar textos, redigir emails, relatórios, roteiros e resumos, gerar gráficos e tabelas, organizar agendas, planejar rotinas, distribuir tarefas, planejar horários, dividir atividades em etapas e criar cronogramas diários, semanais ou mensais — seja de forma integrada a aplicativos de calendário, seja como suporte autônomo. 

 

Resumo da ópera: a IA é uma aliada, não uma concorrente. Longe de substituir talentos humanos, essas ferramentas ampliam possibilidades e aceleram processos, mas deixam o julgamento estético e ético para as pessoas de carne e osso. Nunca é demais lembrar que armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas. O problema não está na ferramenta em si, mas no uso que se faz dela. 


No fim das contas, a IA não é mocinha nem vilã, apenas mais um reflexo de quem a cria e de quem a usa. O que nos deve preocupar não são as máquinas, mas as mentes que as desenvolvem e as mãos que as operam.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

WINDOWS SANDBOX — FINAL

QUEM DANÇA EM TODOS OS CASAMENTOS CHORA EM TODOS OS FUNERAIS. 

 

Por ser extremamente popular (72% de participação no mercado mundial), o Windows é mais suscetível a pragas e mais visado pelos cibercriminosos do que os concorrentes, mas conta com antimalware e firewall nativos tão eficientes quanto as melhores soluções de varejo.

Guardadas as devidas diferenças, o mesmo raciocínio se aplica ao Android (70%) e ao iOS (28%). No sistema do Google, o Play Protect checa automaticamente a segurança dos aplicativos no momento da instalação, mas pode ser convocado a qualquer momento, bastando acessar a Play Store, tocar em sua foto de perfil, selecionar a opção Play Protect e pressionar o botão Verificar. 


A Apple não oferece nada parecido para o iOS, e tampouco recomenda soluções de terceiros, mas dificulta a instalação de aplicativos fora da App Store e submete os programas criados por desenvolvedores parceiros a uma rigorosa revisão — que não é infalível, mas reduz os riscos de malware. 


Observação: Os softwares disponibilizados pela Google Play Store também são verificados, mas não com o mesmo rigor, e os usuários podem instalar APKs de fontes pouco confiáveis.


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A Receita Federal revelou na quinta-feira 28 que uma organização criminosa ligada ao PCC movimentou R$ 52 bilhões em postos de combustíveis entre 2020 e 2024. A sofisticação do esquema chamou atenção dos investigadores, que identificaram o envolvimento de pelo menos 40 fundos de investimentos no maior centro financeiro do país, utilizando fintechs para inserir os valores no sistema financeiro formal.

Diante dos números bilionários, Fernando Haddad apresentou sua receita: "secar a fonte dos recursos para impedir que a atividade criminosa seja abastecida". A lógica é simples e, à primeira vista, irrefutável: “Se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à disposição do crime, essa pessoa é substituída por outra. Estamos falando de operações que bloquearam mais de 100 imóveis, veículos e patrimônios que podem chegar aos bilhões. Assim você efetivamente estrangula o crime”, ensinou o ministro da Fazenda.

A proposta de intervenção estatal para "secar" recursos no sistema financeiro desperta ecos incômodos na memória econômica brasileira. Em 1985, José Sarney tentou uma fórmula mágica — o "canetaço" — para controlar a inflação galopante herdada dos desgovernos militares. Não funcionou. Fernando Collor foi ainda mais radical: congelou ativos financeiros, incluindo valores em contas-correntes e cadernetas de poupança, como forma de "enxugar a liquidez" e exterminar o "Dragão da Inflação". As consequências foram desastrosas: quebra de contratos, paralisia da economia e um trauma coletivo que marcou uma geração de brasileiros. Em outras palavras, a emenda ficou pior que o soneto.

O bloqueio de patrimônio criminoso é ferramenta jurídica estabelecida, respaldada pelo devido processo legal, e não se compara aos confiscos indiscriminados do passado, que atingiram poupadores honestos. Ainda assim, a história nos ensina cautela. Quando o Estado promete soluções simples para problemas complexos — sejam eles a inflação descontrolada ou o crime organizado —, convém lembrar que a linha entre a intervenção cirúrgica e o remédio que mata o paciente pode ser mais tênue do que imaginamos.

 

Tecnicamente, a distribuição de aplicativos para o iPhone fica restrita à App Store, mas a possibilidade de baixá-los dos sites dos respectivos desenvolvedores e de lojas alternativas (marketplaces) existe na União Européia desde a versão 17.5. Como os apps rodam em sandboxes, "tudo que acontece numa sandbox fica na sandbox", mas somente uma boa suíte de segurança — ainda que com acesso limitado ao sistema — protege o usuário de ataques de rede, links de phishing, softwares com acesso não autorizado a dados, sites falsos, spyware e ameaças que exploram vulnerabilidades em browsers e aplicações web. 


Falando em sandbox, a Microsoft finalmente integrou ao Windows um ambiente virtual onde é possível executar aplicativos ou arquivos suspeitos sem pôr em risco o sistema como um todo. Quando essa sandbox é fechada, tudo que foi feito lá desaparece como se nunca tivesse existido: arquivos, alterações no sistema, programas instalados, nada é salvo ou mantido após o encerramento. Se um arquivo tentar instalar um vírus, por exemplo, esse vírus ficará restrito ao ambiente virtual, e desaparecerá junto com ele sem deixar rastros. É como se houvesse um computador separado dentro do próprio PC, pronto para ser usado e descartado sem consequências. 


Windows Sandbox requer Windows 10 Pro, Enterprise ou Windows 11 com pelo menos 4 GB de RAM — a quantidade recomendável é 8 GB ou mais — e suporte à virtualização ativado no BIOS ou na UEFI, conforme o caso (saiba mais sobre virtualização nesta postagem). Para habilitar o recurso, vá ao Painel de Controle > Programas > Ativar ou desativar recursos do Windows, marque a opção Windows Sandbox, reinicie o computador (note que a sandbox só aparece na lista de recursos do Windows em computadores que atendem aos aos requisitos retrocitados). 


Para usar a ferramenta, basta clicar no ícone do Windows Sandbox, no menu Iniciar, copiar o arquivo do sistema principal, colar dentro da janela da sandbox e executá-lo normalmente, como se estivesse em outro computador. Isso inclui instaladores, aplicativos portáteis, arquivos compactados com programas internos e até documentos que pareçam estranhos. Mas é importante não transferir arquivos de dentro da sandbox de volta para o seu PC real sem ter certeza de que eles estão limpos.

 

A despeito das semelhanças com uma máquina virtual tradicional, o Windows Sandbox é mais simples e rápido, pois não exige configuração prévia, instalação de sistema ou alocação de recursos, além de ocupar menos espaço na memória. É só abrir e usar, lembrando que, embora seja uma forma prática de evitar problemas, especialmente com ameaças como ransomware, trojans e spywares, ele não substitui antivírus e firewall, nem tampouco dispensa cuidados com emails suspeitos e downloads desconhecidos. 


Divirta-se.

domingo, 31 de agosto de 2025

BIFE À MILANESA SEM FORNO NEM GLÚTEN

DITA POR UM SUJEITO DE PALETÓ, A MENTIRA PASSA A SE CHAMAR "MÁ INFORMAÇÃO".

Sempre tem gente brigando com a balança, gente intolerante ao glúten e gente intolerante ao glúten brigando com a balança. A receita de hoje é sopa no mel para essa gente.


Sem a fritura por imersão, o bife à milanesa fica menos calórico; sem a farinha de trigo, fica livre do glúten, que mesmo em pequenas quantidades pode causar reações adversas em pessoas com doença celíaca ou alergia ao trigo e seus derivados. 


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O Brasil teve pelo menos dez planos de segurança pública nas últimas duas décadas. Os resultados foram pífios para o Estado, mas exuberantes para o crime. A megaoperação deflagrada nesta quinta-feira contra o PCC mostra o quanto a esculhambação estatal contribuiu para a organização da criminalidade. 

Estima-se que foram movimentados mais de R$ 30 bilhões de origem criminosa. O PCC controla postos de abastecimento, transaciona imóveis e aplica em fundos de investimento de fintechs próprias. O tráfico de drogas vai virando um ramo secundário do empreendimento. 

Alheias ao tiroteio da campanha eleitoral fora de época, PF e policiais estaduais, Receita Federal, Secretaria de Fazenda de São Paulo, Ministério Público federal e estadual juntaram-se harmoniosamente na força-tarefa anti-PCC. Ficou entendido que, se os governantes trocarem a artilharia pela colaboração republicana, talvez passem a desfrutar de aparatos tão organizados quanto o crime. 

Valorizando o que tem de bom, o Estado terá um caminho árduo, mas chegará a algum lugar. Apostando em planos cenográficos, rodopiarão a esmo.

 

Para servir dois comensais, você vai precisar de:

 

— 400 g de filé mignon ou alcatra fatiados em bifes (2 unidades por pessoa);


— 1/2 de xícara (chá) de farinha de mandioca branca, crua e fina; 


— 1/2 xícara (chá) de farinha de mandioca comum;


— 1 ovo;


— 1 pitada de colorau;


— Sal e pimenta-do-reino a gosto;


— Óleo (de canola ou girassol). 

 

Enquanto espera o forno aquecer a 220ºC, coloque os bifes sobre uma tábua de carne, cubra com filme plástico e bata até deixá-los finos (a espessura deve ser uniforme). Tempere com o sal e a pimenta e reserve.

 

Coloque a farinha de mandioca branca (crua e fina) em uma tigela, quebre o ovo em outra, adicione um pouco de água filtrada, uma pitada de sal, outra de pimenta, e bata até misturar bem. Em outra tigela, misture a farinha de mandioca comum com o colorau.

 

Passe os bifes primeiro na farinha de mandioca branca, depois no ovo batido e finalmente na farinha de mandioca comum misturada com o colorau — apertando bem para que a farinha adira perfeitamente — acomode-os numa assadeira untada, grande o suficiente para evitar sobreposições (use duas assadeiras se necessário).

 

Pingue o óleo sobre cada bife (em zigue-zague e em movimentos rápidos), leve ao forno e deixe assar por  25 minutos. Findo esse tempo, vire os bifes, gire a assadeira e deixe assar por mais 15 minutos (ou até eles ficarem bem dourados).

 

Seque com papel absorvente e sirva com fritas, salada verde, arroz ou outro acompanhamento, a seu critério (lembrando que rodelas ou gomos de limão não podem faltar).

 

Bom apetite e até o mês que vem.

sábado, 30 de agosto de 2025

O ÚLTIMO REFÚGIO DOS CANALHAS

BRONCOS, MAS CAPAZES DE DIVIDIR O POVO AINDA MAIS BRONCO EM FACÇÕES EXTREMISTAS FANÁTICAS

Se o patriotismo é “o último refúgio dos canalhas”, como diz o escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784), então esse refúgio está lotado no Brasil, onde lulopetistas e bolsonaristas se esmeram em transformar esse sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional em arma política para fins eleitorais.

Dias atrás, Lula e seus ministros participaram de uma reunião usando bonés azuis onde se lia “O Brasil é dos brasileiros”, um constrangedor contraponto governista aos bonés vermelhos Make America Great Again  — o movimento político nacionalista liderado por um lunático chamando Donald Trump. Ainda estamos a mais de um ano da eleição presidencial, mas já é possível antever que essa patacoada será o grande mote do lulopetismo na campanha.

 

O patriotismo fajuto que o xamã petista abraçou não tem qualquer relação com os reais interesses e necessidades da Pátria. Ao presidente e seus marqueteiros só interessa explorar eleitoralmente o elo afetivo dos brasileiros entre si e deles com o lugar em que nasceram ou escolheram viver, no momento em que o Brasil é agredido pelos EUA de Trump. 


No limite, Lula quer se confundir com a própria ideia de pátria, e não à toa, na reunião ministerial, a título de reafirmar sua disposição para defender o Brasil contra os EUA, leu um discurso de Getúlio Vargas, o autocrata que quis inventar uma identidade brasileira moldada conforme seus propósitos autoritários. 

 

Nesse discurso, Vargas denunciava “forças internacionais” que se uniram aos “eternos inimigos do povo humilde”, que “procurarão, atingindo minha pessoa e o meu governo, evitar a libertação nacional e prejudicar a organização do nosso povo”.

 

Como se percebe, Lula se vê como Vargas, isto é, como a própria personificação do Brasil e de seu povo — donde se conclui que qualquer ataque a ele equivale a crime de lesa-pátria cometido por traidores do Brasil. Não é à toa que o slogan do governo, apresentado na reunião, passará a ser “Do lado do povo brasileiro”, que substituirá o “União e reconstrução”. Em vez de união, o lulopetismo agora quer que se escolha um lado — o do “povo brasileiro”, obviamente encarnado em Lula.

 

Enquanto isso, “patriotas” bolsonaristas, que há anos prejudicam o País, esmeram-se em criar uma crise nacional sem precedentes a título de livrar da cadeia o “mito” que, a exemplo de Lula, também se considera a própria encarnação do Brasil. Nesse contexto, mobilizar uma força estrangeira para pressionar magistrados tidos como inimigos do ex-presidente seria, na verdade, um gesto para salvar o País e a democracia brasileira. 

 

O brado retumbante de Jair Bolsonaro — “Brasil acima de tudo” — é tão verdadeiro quanto uma nota de três dólares. Dono de um próspero empreendimento familiar, dedicado a fazer dinheiro com rachadinhas e afins sob a proteção de mandatos políticos, o ex-presidente golpista nunca se importou com partidos, com o decoro parlamentar, com a Constituição ou com o Brasil. Seu propósito sempre foi e continua a ser a exploração do ressentimento de eleitores insatisfeitos com a política para acumular patrimônio pessoal. 


Bolsonaro, que jamais respeitou a farda que um dia vestiu e que foi capaz de conspurcar seguidamente o 7 de Setembro, invoca o patriotismo não no sentido de inspirar união e orgulho, e sim com o objetivo de semear o antagonismo, do qual extrai votos e poder. Nessa guerra entre patriotas de fancaria, perdemos todos. 


De um lado, temos um entreguista que, com a expectativa de safar-se da cadeia, pôs-se a serviço de um governante estrangeiro que humilha o Brasil como quem dá um peteleco numa mosca. De outro, temos um contumaz oportunista, convencido de ter encontrado a fórmula para ganhar mais um mandato presidencial sem a necessidade de apresentar programas de governo e soluções efetivas para os reais problemas brasileiros. 


No meio dos dois ficam os brasileiros (fodidos e mal pagos) que amam seu país e só querem um governo decente.


Com Estadão

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

WINDOWS SANDBOX — CONTINUAÇÃO

ATÉ OS CHEFES TÊM CHEFE.


Antes de 2015, a Microsoft criava novas versões do Windows a cada três ou quatro anos e sanava falhas críticas e de segurança através de Service Packs — “pacotes” que englobavam as correções implementadas desde o lançamento da versão ou de seu último SP, conforme o caso. 


Com o lançamento do Windows 10 como serviço, updates semestrais de conteúdo e atualizações mensais de qualidade dispensaram os usuários de adquirir novas mídias de instalação. Para estimular a adoção da “versão definitiva” do sistema — e alcançar um bilhão de instalações em três anos —, a empresa concedeu 12 meses de prazo para usuários de máquinas elegíveis e que rodassem o Windows 7 ou o 8.1 fazerem o upgrade gratuitamente. 


O cronograma de atualizações foi cumprido, mas arquivos “bugados” continuam dando dor de cabeça a milhões de usuários, e a bilionésima instalação só aconteceu em fevereiro de 2020 — a menos de dois anos do lançamento oficial do Windows 11 e do anúncio do fim do suporte à suposta "versão definitiva", previsto para 14 de outubro de 2025.

 

Observação: “Bug” significa “inseto”, mas entrou para o léxico da informática com o sentido de “defeito” depois que um operador da marinha americana anotou em seu diário de bordo que uma falha em seu Mark II fora causada por uma mariposa, que havia ficado presa entre os fios. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Depois de várias reuniões ao longo do dia e sem alcançar um consenso entre as lideranças partidárias, a “Camarilha” dos Deputados adiou a votação da abjeta PEC da Blindagem, que prevê que apenas os parlamentares podem autorizar a abertura de investigação sobre seus pares (ou comparsas, como preferir). O impasse se deveu a dois pontos do texto, e a confusão foi tão grande quanto a cara de pau dessa caterva, já que eventual aprovação da PEC tornará impossível abrir inquéritos contra deputados e senadores, sem falar que o crime organizado despejará todos os recursos que puder, na campanha de 2026, para colocar seus integrantes no Congresso. 

A extrema direita, que se diz pela democracia e enche a boca para acusar Lula de ladrão, finge que não vê, e os parlamentares de esquerda, que chamam o pacote de salvo-conduto para golpistas, admitem nos bastidores que podem ajudar a aprová-lo.

Se tivesse um pingo de vergonha na cara, o Congresso deveria submeter projetos tóxicos ao teste do ponto de ônibus e sepultar ideias mal recebidas pelo trabalhador na fila da condução. Hugo Motta, disse que é "um direito do Congresso" discutir e votar o que chama de "PEC das Prerrogativas”, mas seria xingado se defendesse esse escárnio no ponto de ônibus. 

A regra que condiciona a abertura de investigações contra congressistas ao aval do Congresso, que vigeu entre 1988 e 2001, foi revogada por pressão social depois que a corporação barrou a abertura de mais de 200 pedidos para investigar parlamentares. Hoje, há nos escaninhos do Supremo cerca de 80 inquéritos sobre malversação de verbas federais liberadas por meio de emendas parlamentares. No final de semana, Flávio Dino mandou investigar suspeitas no manuseio de mais R$ 694 milhões.

Num ambiente assim, o Congresso deveria considerar a hipótese de substituir todo o texto constitucional pela Constituição enxuta proposta pelo historiador Capistrano de Abreu, morto em 1927, que teria apenas dois artigos: 1) "Todo brasileiro deve ter vergonha na cara”; 2) "Revogam-se as disposições em contrário". 

Essa passaria facilmente no teste do ponto de ônibus.


Os pioneiros são reconhecidos pela flecha espetada no peito. Adotar novas versões de softwares assim que são lançadas é procurar sarna para se coçar — que o digam os usuários do Windows 11 que passaram a ter problemas com seus HDDs e SSDs depois que instalaram o KB5063878 via Patch Tuesday deste mês. 


Visando eliminar todos os bugs antes do lançamento oficial dos programas — até porque correções posteriores geram custos adicionais e comprometem a imagem dos produtos —, os desenvolvedores criam versões Alfa, Beta (fechada e aberta) e Release Candidate. Mas é comum a descoberta de novas falhas a posteriori, e ainda que nem todas tenham a ver com segurança, muitas delas abrem portas para malwares e invasões. 

 

Todos sabemos (ou deveríamos saber) que arquivos que chegam por email e links recebidos por SMS, aplicativos de mensagens ou via redes sociais são perigosos; que milhões de malwares circulam pela Internet; que suítes de segurança responsáveis ajudam, mas não nos protegem do phishing — técnica mediante a qual os cibervigaristas utilizam engenharia social com o objetivo de obter informações sigilosas e dados sensíveis das vítimas. 

 

O que muitos não sabem é que smartphones são microcomputadores de bolso, controlados por um sistema operacional e capazes de acessar a Internet e de rodar aplicativos. O Android é mais visado pelos cibercriminosos por estar presente em 70% dos ultraportáteis (contra 15,5% do iOS, que só roda no hardware da Apple). Mas isso não significa que o iPhone seja uma fortaleza indevassável a ponto de dispensar a proteção de uma boa suíte de segurança.

 

Conclui no próximo capítulo.