QUEM SE APAIXONA POR SI MESMO NÃO TEM RIVAL.
A mudança dos links clicados do azul para o roxo foi introduzida há mais de três décadas no saudoso Mosaic, e permaneceu inofensiva até ser explorada por espiões digitais para bisbilhotar o histórico de navegação sem que os internautas percebessem.
Lá pelos anos 2000, pesquisadores notaram que dava para jogar centenas ou milhares de links invisíveis numa página e usar o JavaScript para detectar quais o navegador já havia visitado. Ou seja: inadvertidamente, os internautas estavam compartilhando parte de seu histórico com qualquer site mal-intencionado que soubesse como explorar a falha.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Eu tinha Sérgio Moro na mais alta conta até ele trocar sua carreira no Judiciário pelo Ministério da Justiça de Bolsonaro. Desde então, o ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba virou maquinista de um trem fantasma e vem deslizando rumo ao fundo do poço. E quando se imagina que o hoje ex-herói nacional já atingiu as profundezas, sempre surge outra assombração para informar que o percurso rumo ao insondável terá novas escalas.
Ao longo dos últimos sete anos, o fundo do poço da bolsonarização foi suplantado pelo fundo do poço da Vaza-Jato, que foi superado pelo fundo do poço da conversão de Moro em juiz suspeito, que foi seguido pelo fundo do poço da anulação das sentenças de Lula, que foi obscurecido pelo fundo do poço do esquartejamento da Lava-Jato, agora ultrapassado pelo fundo do poço da busca e apreensão realizada pela PF, no qual os investigadores recolheram evidências de que o ex-chefe da República de Curitiba, imaginando-se acima da lei antes da Lava-Jato, instrumentalizou um colaborador para grampear autoridades cujo foro estava acima da jurisdição de um magistrado de primeira instância.
No capítulo mais recente dessa patética novela, o ex-delator Tony Garcia voltou do passado como um fantasma que dá ao fundo do poço de Moro uma aparência de poço sem fundo.
Em 2010, veio à tona que alguns sites importantes usavam essa técnica para monitorar os visitantes. Houve processo e eles ganharam, mas o barulho foi suficiente para que os principais navegadores (Firefox, Chrome e Safari) se apressassem a tapar a brecha e limitar o acesso à informação.
Em 2018, um estudo apontou novas formas mais sofisticadas e sorrateiras de identificar links visitados. Algumas afetavam todos os navegadores testados (com exceção do Tor). Desde então, a velha prática da “deduragem roxa” foi ganhando novas roupagens, e o histórico de navegação segue como um dos alvos mais valiosos da web.
Visitas a sites de saúde, política, relacionamentos, pornografia ou apostas, por exemplo, resultam em material suficiente para extorsões, chantagens ou golpes customizados com aquele jeitinho que convence até os mais céticos. Uma instituição de caridade falsa, um novo medicamento milagroso, uma isca emocional bem colocada — e pronto, o peixe morde a isca e engole o anzol.
Empresas de publicidade e análise utilizam cookies e impressões digitais do navegador para rastrear cada movimento online. Somado a essas técnicas, o histórico de navegação funciona como um verdadeiro “supercookie” — uma impressão digital altamente precisa que revela comportamentos e interesses com espantosa eficácia.
A primeira reação mais robusta veio em 2010, com medidas implementadas pelo Google Chrome, pelo Mozilla Firefox e pelo Apple Safari. O Firefox 3.5 chegou até a permitir que o usuário desativasse totalmente a mudança de cor dos links visitados — algo que o Tor Browser adotou por padrão, junto com o bloqueio de histórico, oferecendo uma blindagem decente contra esse tipo de espionagem.
Mais recentemente, a equipe do Chrome introduziu o particionamento de links visitados — disponível a partir da versão 136. A ideia é simples: os links só mudam de cor se forem clicados dentro do mesmo site. E, mesmo assim, o "saber que foi clicado" só se aplica àquele contexto. Ou seja, se você clicar em banco-central.com dentro de um widget em banco.com, esse clique não vale para o mesmo widget se ele aparecer em outro site. É como se cada site vivesse em uma bolha independente.
O Google está tão confiante na solução que já cogita desativar as antigas mitigações de 2010. No entanto, isso só vale somente dentro do ecossistema do Chrome — e o navegador do Google não é exatamente um bastião da privacidade digital.
Se você usa outros navegadores que não o Chrome, evite cair na "ameaça roxa" mantendo o browser sempre atualizado e usando a navegação anônima (ou privada), especialmente em acessos sensíveis. Adicionalmente, limpe os cookies e o histórico de navegação regularmente, desative nas configurações (se disponível) a mudança de cor dos links visitados, instale extensões que bloqueiem rastreadores e spywares e investa em ferramentas como o Kaspersky Premium (ou similares, com boa reputação no mercado).
Segurança no universo virtual é conto da Carochinha. Assim, num mundo em que até a cor de um link pode escancarar nossa privacidade, estar informado — e protegido — não é luxo, e sim necessidade.
Com informações da empresa de cibersegurança russa Kaspersky.





