terça-feira, 1 de abril de 2025

CELULAR PEGA FOGO E QUEIMA USUÁRIO

É MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR.

No início do ano, um celular Motorola explodiu no bolso de uma mulher, enquanto ela fazia compras no município goiano de Anápolis. A vítima, que sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus na mão, antebraço, dorso e nádegas, relatou ter sentido um calor intenso antes de se dar conta de que o aparelho estava pegando fogo. 

Clientes e funcionários do local acionaram os bombeiros, que prestaram os primeiros socorros ainda no estabelecimento e encaminharam a mulher ao Hospital Alfredo Abraão. 

“Histórica” foi uma expressão muito usada nos últimos dias para classificar a decisão unânime da 1a Turma do STF que promoveu a réus por tentativa de golpe de Estado Bolsonaro e outros sete acusados, entre eles os generais e ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno. O termo não é indevido. Em nossa longa história de tentativas e rupturas da ordem democrática, é a primeira vez que oficiais da mais alta patente das FFAA são submetidos ao devido processo legal por conspirarem contra o Estado Democrático de Direito. 
Consumada a condenação e esgotados todos os recursos, não se pode correr o risco de que súplicas por abrandamento de penas estimulem a repetição de atos que tornem o Brasil vulnerável à volta de um autoritarismo que custou muitas vidas anos de atraso institucional. Mas nem tudo são flores nem certezas nesse jardim.
Vinte e quatro horas depois de morder, o procurador-geral soprou Bolsonaro. Alegando não haver elementos que justifiquem uma denúncia, a despeito de Mauro Cid ter forjado certificados de vacinação para o chefe e a filha dele, Laura, no apagar das luzes do mandato, às vésperas da viagem do capetão para a Flórida, o parecer de Gonet foi favorável ao arquivamento do caso. 
No alvorecer do inquérito policial, Lindôra Araújo, braço-direito do então antiprocurador-geral Augusto Aras, sustentou que Cid arquitetara e capitaneara toda a ação criminosa sem o conhecimento de Bolsonaro. Relator do caso, Moraes anotou num despacho que essa versão "não era crível"não ser crível". No auge da pandemia, Bolsonaro implicou com vacinas, receitou cloroquina e desrespeitou regras sanitárias. A irresponsabilidade cresceu junto com o número de cadáveres. "E daí?", disse ele. "Não sou coveiro!". 
Diante disso, causa espécie que Gonet trate a fraude da vacina como uma espécie de crime de somenos, coisa insignificante. Ao afirmar que há apenas a delação de Cid como elemento contra Bolsonaro e, portanto, não poderia denunciar o ex-presidente, o procurador parece ter encarnado seu antecessor. Moraes determinou o arquivamento do inquérito. É uma no crava, outra na ferradura.
 
Por meio de nota, a Motorola disse que orientou a consumidora a encaminhar o celular — que ficou parcialmente derretido — para a análise técnica, e que seus produtos são cuidadosamente projetados e submetidos a testes rigorosos para oferecer um desempenho seguro para os usuários.
 
Essa não é foi primeira vez (e certamente não será a última) que celulares apresentam problemas do tipo. Já houve casos envolvendo modelos da Apple, da Xiaomi e da Nothing, entre outros. Na China, um iPhone 14 Pro Max explodiu na cama de uma mulher; na Bahia, um dispositivo de marca não revelada feriu uma pessoa; e no município cearense de Iguatu, o notebook de uma cantora pegou fogo durante um show. 
 
Evite expor seu aparelho ao sol (na praia, por exemplo), use carregadores e cabos originais ou homologados pela fabricante, não o deixe recarregando sem supervisão, mantenha o software atualizado e verifique regularmente se há rachaduras, vazamentos ou inchaço na carcaça, especialmente na região da bateria
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segunda-feira, 31 de março de 2025

PREVISÕES E MAIS PREVISÕES (CONTINUAÇÃO)

EM TEMPOS SOMBRIOS, ATÉ OS SÁBIOS FICAM INCERTOS.


Videntes, profetas e assemelhados borrifam a conjuntura com seus vaticínios apocalípticos desde que o mundo é mundo. No início da era cristã, respaldados no Apocalipse de João — que descreve visões com a vitória do bem sobre o mal e o dia do juízo final —, vates delirantes trombetearam que a humanidade não sobreviveria ao ano 1000. Quando a previsão furou, reagendaram o julgamento celestial para 1033 e, mais adiante, para 1666.  

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em São Paulo, a avaliação negativa do governo Lula é de 55%, contra apenas 16% de aprovação. Na Bahia, o escore é de 38% a 30%; em Goiás, de 58% a 18%; no Rio Grande do Sul, de 52% a 19%; em Minas Gerais, de 51% a 22%; no Paraná, de 59% a 20%; em Pernambuco, de 37% a 33%; e no No Rio de Janeiro, de 50% e a aprovação, de 19%. Mesmo assim, o macróbio prefere se refugiar em narrativas que não convencem sequer os convertidos. 
Enquanto o mercado financeiro projeta uma inflação bem acima do teto de 4,5% e paciência da população com discursos fantasiosos se esgota, Lula se envolve em brigas desnecessárias no cenário internacional e tenta maquiar a realidade despejando R$ 3,5 bilhões em propaganda. Propaganda enganosa é crime previsto no artigo 67 do Código de Defesa do Consumidor e punível com detenção de três meses a um ano e multa. Se não fizer a lição de casa, Lula não voltará para a prisão, mas entrará para a História como o presidente que demoliu os ganhos do Plano Real e trouxe de volta o fantasma da inflação. E se tem algo que o brasileiro não quer é ver a inflação ressurgir como uma Fênix maldita. 
Vade retro!

 

Botticelli foi um grande pintor, mas sua previsão de que Jesus voltaria em 1503 para julgar os vivos e os mortos revelou que, como artista, ele era um profeta de merda. Stifel aprazou o Armagedom com precisão suíça, mas o mundo não acabou às 8h do dia 19 de outubro de 1536. 

Colombo (o mesmo que descobriu a América) anotou em seus apontamentos que o apocalipse aconteceria entre 1656 e 1658. Lutero chutou na trave ao prever que o fim do mundo se daria no século 17 — ainda que a Peste Negra e o Grande Incêndio tenham matado mais de 100 mil londrinos, o mundo seguiu adiante.

 

Em 1806, uma galinha que punha ovos com a inscrição Christ is coming espalhou pânico nas Ilhas Britânicas até que se descobriu que a falsa vidente Mary Bateman escrevia a mensagem na casca dos ovos e os enfiava de volta na cloaca da adivinha. Um pregador chamado William Miller previu que o apocalipse ocorreria entre 21 de março de 1843 e 21 de março do ano seguinte — a profecia não se confirmou, mas resultou no Grande Desapontamento e ensejou a fundação da Igreja Adventista do Sétimo Dia

A Igreja Católica Apostólica Brasileira, criada em 1836, anunciou que Jesus voltaria após a morte de seus 12 fundadores — o último bateu as botas em 1901, mas o filho do Pai não deu as caras, e as Testemunhas de Jeová dizem desde a fundação da seita, em 1870, que o juízo final virá "em breve".

 

Os cometas sempre foram vistos (literalmente) como arautos de más notícias. Em 1910, alardeou-se que o Halley contaminaria a atmosfera terrestre com um gás letal. A cauda dos cometas realmente libera vapor d'água, detritos e outros compostos voláteis, incluindo gases tóxicos, mas a concentração é insuficiente para pôr em risco a vida na Terra. 

Em 1997, arautos da desgraça da seita Heaven's Gate anunciaram que um OVNI vinha a reboque do cometa Hale-Bopp, que a Nasa havia ocultado a informação para evitar o pânico e que o mundo acabaria "em breve". E acabou mesmo — mas para dezenas de membros do culto, que se suicidaram achando que suas almas seriam levadas pelos alienígenas.

 

Interpretações distorcidas de Nostradamus levaram alguns a crer que o mundo acabaria em julho de 1999. Como não acabou, Richard W. Noone trombeteou que o alinhamento dos planetas produziria uma espessa camada de gelo que congelaria a Terra. Como não produziu, alarmistas proclamaram que o Grande Colisor de Hádrons criaria buracos negros que destruiriam o mundo. Como não criou, o pregador Harold Camping avisou que terremotos devastadores ocorreriam em 21 de maio de 2009, e apenas 3% da população mundial iria para o Céu. Como não ocorreram, o despirocado os reagendou para 21 de outubro. E deu no que deu. 

A colisão do planeta X com a Terra, prevista para maio de 2003, foi reagendada para dezembro de 2012 e para Setembro de 2017. Considerando que estamos em 2025, a conclusão é óbvia. Mas cientistas de todo o mundo (o que não significa "todos os cientistas do mundo") sugerem a possibilidade de a Terra ser extinta daqui a 250 milhões de anos — se isso se confirmar, será a primeira extinção em massa desde a aniquilação dos dinossauros, há 66 milhões de anos.
 
Uma previsão catastrófica mais preocupante envolve um asteroide batizado de 2024 YR4Num primeiro momento, estimava-se a probabilidade de impacto em 1,2%. Embora ela tenha chegado a 3,1% — o maior índice registrado desde a detecção do objeto — observações mais recentes reduziram-na para algo próximo de zero.

Esse pedregulho de 55 metros de diâmetro viaja pelo espaço a 48 mil km/h. Se ele colidisse com a Terra, o impacto liberaria energia equivalente à de 500 bombas atômicas. E ainda que isso não fosse suficiente para causar um evento global, a destruição seria catastrófica para qualquer grande cidade atingida. 
 
Continua...

domingo, 30 de março de 2025

MEDALHÕES DE FILÉ COM MOLHO DE GORGONZOLA

A POBREZA, A COLONIZAÇÃO, O MODERNISMO E A IGNORÂNCIA TRANSFORMARAM O FEIJÃO EM SÍMBOLO CULINÁRIO DA NAÇÃO.

Andam dizendo que o preço da carne baixou, mas ninguém avisou a gerência dos mercados que eu frequento, já que cortes como filé mignon, picanha e maminha — assim como o café, o ovo e o azeite — estão pela hora da morte. Mas só se vive um vez, e caixão não tem gaveta. A má notícia é que o filé e o queijo gorgonzola, estrelas da receita de hoje, estão custando os olhos da cara, mas a boa é que o resultado vale cada centavo. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Alexandre de Moraes votou por condenar a cabeleireira Debora Rodrigues dos Santos — que de santa só tem o nome — a 14 anos de prisão e pagamento de multa de R$ 50 mil. Flavio Dino acompanhou seu voto, mas Luiz Fux interrompeu o julgamento com um pedido de vista. É importante deixar claro que Débora participou do acampamento golpista defronte ao Quartel General do Exército, estava alinhada à dinâmica criminosa e apagou dados do celular referentes ao período das manifestações antidemocráticas. Assim, além da pichação da estátua da Justiça com a frase "perdeu Mané" (referindo-se a uma fala do ministro Luis Roberto Barroso para manifestantes numa rua de Nova York), ela responde por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito (pena de quatro anos e seis meses de reclusão); golpe de Estado (pena de cinco anos); dano qualificado, (pena de um ano e seis meses, além do pagamento de multa); e associação criminosa armada (pena de um ano e seis meses), cuja gravidade as penas mínimas relacionadas não condizem com a formalização de Acordo de Não Persecução Penal.

Entendeu, mané?


Anote aí os ingredientes:
 
—  500g de filé mignon em medalhões;
 
250 g de queijo gorgonzola picado;
 
— 1 caixinha de creme de leite (o verdadeiro, não a famigerada "mistura láctea" que lhe faz as vezes);
— 100 ml de leite integral;
 
— Azeite/manteiga para untar a frigideira;                                                                  
O preparo é bem simples:                             
 
1) Despeje o creme de leite, o leite e o gorgonzola numa panela, leve ao fogo baixo e mexa até que o queijo derreta completamente e o molho atinja a consistência de maionese (se necessário, ajuste o sal, lembrando que o gorgonzola já é salgado).
 
2) Tempere os medalhões com sal e pimenta do reino a gosto e reserve.
 
3) Aqueça uma frigideira antiaderente em fogo médio e unte com um fio de azeite misturado com um pouco de manteiga e grelhe os medalhões de todos os lados (cerca de 2 a 3 minutos de cada lado, dependendo da altura do corte). 
 
4) Acomode os filés em um prato de servir e deixe descansar por três minutos. Nesse entretempo, aqueça o molho gorgonzola.
 
5) Regue a carne com o molho e sirva ainda quente, para garantir o melhor sabor e textura. 
 
Para acompanhar, sugiro batata rústica ou purê de batatas.
 
Bom apetite!

sábado, 29 de março de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 12ª PARTE

O SOL QUE DESPONTA TEM QUE ANOITECER.

A possibilidade de o tempo não ser uma linha reta é uma das questões mais debatidas e desafiadoras da física teórica e da filosofia. Várias teorias exploram essa ideia, algumas baseadas na relatividade de Einstein e outras na existência de dimensões extras e universos paralelos.
 
Einstein demonstrou como a gravidade pode "curvar" o espaço-tempo, afetando a passagem em regiões sujeitas à uma intensa atração gravitacional — como o horizonte de eventos de um buraco negro, onde o tempo se desacelera em relação a áreas mais afastadas. Isso, por si só, não atesta a reversibilidade do tempo, mas confirma que ele não é absoluto e pode ser influenciado por massas e energias extremas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Nesta quarta-feira, Bolsonaro e outros 7 denunciados por tentativa de golpe de Estado foram convertidos em réus pela 1ª Turma do STF, a despeito dos esforços de seus advogados, todos criminalistas experientes, conhecidos por atuar em casos como o do mensalão e da Lava-Jato.
Demóstenes Torres, que defende o ex-comandante da Marinha, é procurador aposentado do Ministério Público de Goiás. Ele teve o mandato de senador cassado em 2012, suspeito de ter recebido R$ 3,1 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira.  
Celso Sanchez Vilardi, que coordena a equipe jurídica de Bolsonaro desde janeiro, atuou nas defesas de empresários investigados em operações como Lava-Jato e Castelo de Areia e defendeu o empresário Eike Batista e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
José Luis Oliveira Lima, advogado do general Braga Netto, defendeu o petista José Dirceu no caso do mensalão. 
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres, foi secretário da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha e secretário-executivo do Ministério da Agricultura na gestão Michel Temer. 
Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que defende Alexandre Ramagem, foi advogado do PRD, atuou na Assessoria Jurídica Eleitoral do MPF e nas campanhas eleitorais do PT.
Andrew Fernandes Farias, que defende o general Paulo Sérgio Nogueira, é especialista em ações envolvendo a Justiça Militar e presidiu Comissão de Direito Militar da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal.
Sem comentários.
 
A Teoria das Cordas (sobre a qual já falamos em outras oportunidades) propõe que, além das três dimensões espaciais e uma temporal que percebemos, existem dimensões extras onde o tempo pode ser manipulado de maneiras que ainda não compreendemos. Isso levanta a possibilidade de curvaturas ou acessos não-lineares ao tempo em certos pontos do universo.
 
A Teoria do Big Bounce sugere que o Universo passa por ciclos de expansão e contração, tornando o tempo uma sucessão de "recomeços" após cada colapso cósmico, em vez de uma linha contínua. Dessa forma, a história cósmica seria cíclica, e o tempo, uma sequência de eventos recorrentes em escalas cosmológicas.
 
Um dos desafios para a viagem no tempo é a manipulação da entropia (sobre a qual também já falamos), que tende a aumentar, estabelecendo a "seta do tempo" do passado (baixa entropia) para o futuro (alta entropia). Para reverter esse fluxo, seria necessário encontrar uma forma de reduzir localmente a entropia, um conceito fundamental na criação de buracos de minhoca — atalhos cósmicos que supostamente conectam diferentes épocas ou regiões do espaço-tempo, mas exigem condições extremas, como a existência de matéria exótica.
 
Diversos cientistas têm contestado a noção há muito aceita pela ciência de que a seta do tempo seja uma parte elementar da natureza. Entre teorias e experimentos, há propostas para todos os gostos, da confirmação da seta do tempo até a demonstração de que o futuro afeta o passado. Há inclusive quem sustente que o Universo não dá marcha-a-ré e que a causalidade não se aplica no reino quântico.
 
Por outro lado, algumas teorias contestam a ideia de que a seta do tempo seja uma propriedade fundamental da natureza. Considerar que o futuro surge do presente implica aceitar um presente "fixo", ao menos no momento específico chamado presente, mas a professora Joan Vaccaro, da Universidade Griffith, sustenta que suas equações demonstram que nunca há "fixidez", só fluxo que empurra o passado para o futuro, impulsionado pela "agitação" intrínseca do mundo subatômico. 
 
Ela argumenta que a assimetria do tempo pode ter origem no comportamento sutil das partículas subatômicas, e que o tempo não é apenas um fluxo unidirecional, mas um fenômeno emergente impulsionado pela "agitação" quântica. Se confirmadas, suas equações poderiam redefinir nossa compreensão sobre a dinâmica temporal e abrir novas perspectivas para o estudo das viagens no tempo. 
 
O futuro pode ser mais maleável do que imaginamos, mas as chaves para essa compreensão ainda estão escondidas nos mistérios da física quântica.
 
Continua...

sexta-feira, 28 de março de 2025

A SEGUIR, CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

A MONARQUIA DEGENERA EM TIRANIA, A ARISTOCRACIA, EM OLIGARQUIA, E A DEMOCRACIA, EM ANARQUIA.

 

A péssima governança do Brasil no período pós-ditadura militar — não que as coisas fossem melhores antes do golpe de 64 — deve-se principalmente ao tipo de gente que o Criador, acusado de nepotismo e protecionismo, escalou para povoar o futuro país do futuro que nunca chega. 


Em Ensaio sobre a cegueira, o Nobel de Literatura José Saramago anotou que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito". E com efeito: algumas pessoas não enxergam o óbvio nem que ele lhes morda a bunda, e outras parecem viver no mundo da Lua. 


No universo paralelo onde vivem Lula, Alckmin e Gleisi, o culpado pela inflação dos alimentos é um ladrão de ovos imaginário, e a solução é a população "não comprar produtos quando desconfiar que eles estão caros". Mais brilhante que essa ideia, só mesmo o Plano Cruzado, que Sarney pôs em marcha em fevereiro de 1986, acreditando que fosse possível zerar a hiperinflação por decreto.


Recém-promovida a ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi acusou o "mercado especulativo" de conspirar contra o Brasil". Alckmin — que em passado recente comparou a reeleição de Lula à "recondução do criminoso à cena do crime” — assumiu a patética liderança do “cordão dos puxa-sacos" do chefe. Dias atrás, após dizer que luta sindical deu ao Brasil seu maior líder popular, o vice-presidente bradou: "Viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil!"


Talvez uma troca de ideias com o Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry tenha revelado ao ex-tucano que, para baixar a inflação, bastaria retirar da conta o que está caro. Assim, com um simples estalar de dedos, o dinheiro do trabalhador, que hoje não dá para nada, continuaria não dando para nada. Mas o mais espantoso é que nenhum economista desvairado tenha pensado nisso antes. 


Lula é uma caricatura de si mesmo, uma foto amarelada que permanece pendurada na parede do PT porque ele e o PT são uma coisa só. Tirado da cadeia e reabilitado politicamente para impedir que o verdugo do Planalto de continuasse no comando da Nau dos Insensatos, o "descondenado" conquistou seu terceiro mandato graças a um eleitorado que insiste em fazer a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. 


Sem plano de governo, política de Estado ou metas para o país, Lula 3 se resume a um punhado de medidas paliativas, populistas e eleitoreiras que visam pavimentar a reeleição que, durante a campanha de 2022, ele prometeu que não iria disputar.

 

Bolsonaro iniciou sua trajetória militar em 1973. Treze anos depois, um artigo publicado pela revista Veja lhe rendeu 15 dias de prisão. No ano seguinte, depois que Veja revelou seu plano de explodir bombas em instalações militares como forma de pressionar o comando por melhores salários e condições, ele e seu comparsa foram condenados por unanimidade, mas o STM os absolveu por 9 votos a 4 (a quem interessar possa, a carreira militar do “mito” é detalhada no livro O Cadete e o Capitão: A Vida de Jair Bolsonaro no Quartel, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho).

Depois de deixar a caserna pela porta lateral, Bolsonaro foi eleito vereador e sete vezes deputado federal. Ao longo de sua obscura trajetória política, passou por nove partidos (todos do Centrão) e acabou no PL do ex-mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, onde disse “estar se sentindo em casa”. 


Cavalgando o antipetismo e prometendo sepultar a "velha política do toma lá, dá cá", o mix de mau militar e parlamentar medíocre conquistou a Presidência porque a alternativa era o bonifrate do então presidiário mais famoso desta banânia. Mas a emenda saiu pior que o soneto. Para se escudar de mais de 140 pedidos de impeachment — um recorde, considerando que Collor foi alvo de 29; Itamar, de 4, FHC, de 24; Lula, de 37; Dilma, de 68; e Temer, de 31 —, ele implementou o "orçamento secreto", que lhe assegurou a conivência de dois presidentes da Câmara (Rodrigo Maia e Arthur Lira); para se imunizar contra investigações por crimes comuns, entregou o comando da PGR ao antiprocurador Augusto Aras, que manteve sob rédea curta com a promessa (jamais cumprida) de indicá-lo para uma poltrona no STF.


Como a fruta não cai muito longo do pé, os filhos seguiram os passos do pai na política: 01, o devoto das rachadinhas, se elegeu deputado estadual pelo Rio de Janeiro em 2002 e foi reeleito três vezes antes de conquistar uma cadeira de senador; 02, o pitbull da Famiglia, se elegeu vereador pelo Rio de Janeiro em 2020 e continua abrilhantando a Câmara Municipal carioca; 03, o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador e hoje conspira contra o STF homiziado na cueca de Donald Trump, se elegeu deputado estadual por São Paulo em 2014 e foi reeleito nos dois pleitos seguintes; 04, o caçula entre dos varões, foi o vereador mais votado em Balneário Camboriú (SC) em 2024.


Vários bolsonaristas de primeira hora que abandonaram o barco — como Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Gustavo Bebianno, General Santos Cruz e Sergio Moro — foram prontamente rifados, atacados e tratados como comunistas, antipatriotas e traidores por milhões de convertidos que, acometidos de cegueira mental, rezam pela cartilha do Messias que não miracula e acreditam piamente que "Xandão" persegue injustamente um ex-presidente de vitrine, talvez o melhor mandatário desde Tomé de Souza.

 

Argumentar com esse tipo de gente é tão inútil quanto dar remédio a um defunto, mas o mundo é a melhor escola e a vida, a melhor professora. Que o diga Carla Zambelli, a deputada cassada e recém-promovida a ré pelo STF (por ter sacado uma pistola e perseguido um homem negro pelas ruas de São Paulo às vésperas das eleições de 2022). Mesmo acusada por seu "Bolsodeus" pela perda de mais de 2 milhões de votos em São Paulo, pela derrocada bolsonarista e pela persecução penal em curso contra os golpistas aloprados, ela disse em entrevista à CNN que "enfrentar o julgamento dos inimigos é até suportável, difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo". 


Como a esperança é a última que morre e falta de amor-próprio é uma questão de foro íntimo, Zambelli aposta que o pedido de vista do ministro bolsonarista Nunes Marques mude os votos de Moraes, Cármen Lúcia, Dino, Zanin e Toffoli, que acompanharam o volto do relator. 


Na última terça-feira, Bolsonaro entrou empertigado no STF e assistiu da primeira fila o início da definição de seu destino. Impossível não traçar um paralelo com Fernando Collor, que, impichado em 1992, deixou o Planalto de nariz empinado rumo ao ostracismo. Por outro lado, para surpresa geral, o "mito" resolveu acompanhar do gabinete do filho senador o prosseguimento da sessão, quando então ele e sete comparsas foram promovidos a réus por 5 votos a 0.


Findo o julgamento, Bolsonaro convocou os repórteres e transformou a entrevista em monólogo, numa reedição dos piores momentos do cercadinho e das lives do Alvorada, com direito à ressurreição do fantasma das urnas fraudadas, defesa do voto impresso e o lero-lero segundo o qual a Justiça Eleitoral "jogou pesado contra ele e a favor do Lula". Disse ainda que se limitou a "discutir hipóteses de dispositivos constitucionais", como a decretação do estado de sítio — o que, em sua visão, não é crime. Mas o voto de Moraes conferiu importância capital a sua manifestação: "Não é normal um presidente que acabou de perder uma eleição se reunir com o comandante do Exército, o comandante da Marinha e ministro da Defesa para tratar de uma minuta de golpe". 


Quanto mais se firma a evidência de uma condenação que acrescente anos de inelegibilidade aos oito aplicados pelo TSE e sabe-se lá quantos de prisão em regime inicialmente fechado, maior é a desenvoltura dos ainda aliados no engajamento da substituição do capetão. No espaço de dois dias, Gilberto Kassab, Ricardo Nunes e André do Prado, três fidelíssimos integrantes do entorno de Tarcísio de Freitas, admitiram concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2026, caso o governador decida disputar a Presidência.


Em via de desidratação desde o fim do mandato e na bica de ver seus malfeitos esmiuçados ao longo da instrução processual penal, Bolsonaro já não tem o mesmo valor como pontifex maximus da extrema-direita, e valerá ainda menos no final do ano se sua condenação, tida como líquida e certa, realmente se concretizar. E de nada adianta querer repetir a estratégia de Lula em 2018, até porque, solto ou preso, ele não tem o mesmo capital político do ex-presidiário, não domina sozinho o campo da direita emergente e tampouco conta com a contrapartida da lealdade, na medida em que jogava os seus ao mar sempre que pressentia a aproximação dos tubarões.


A denuncia aceita na última quarta-feira é um verdadeiro manual de traição à reconstrução de uma democracia que completa 40 anos. Se comprovadas as acusações que constam do libelo acusatório, não há falar em punições excessivas e muito menos em anistia. O cunho jurídico, o sentido político, a natureza simbólica, o caráter histórico, o contexto tenebroso, tudo é inédito: um ex-presidente e um magote de civis e militares da alta cúpula de seu governo passarão pelo escrutínio de um tribunal cuja casa eles e outros acusados pretenderam destruir, juntamente com as sedes dos outros Poderes. 


Enquanto começam a ser julgados os mentores e organizadores do golpe, seguem em exame as ações dos executores, cujas penas suscitam debates sobre excessos e desproporcionalidades como se ali houvesse inocentes e todos tivessem sido condenados a 17 anos de prisão. Houve modulações, sentenças muito menores, absolvições, fugas em descumprimento da lei e centenas de acordos de não persecução penal aos quais não aderiu quem não quis. 


Consumada a condenação e esgotados todos os recursos possíveis e imagináveis, não se pode correr o risco de que súplicas por abrandamento de penas estimulem a repetição de atos que tornem o Brasil vulnerável à volta de um autoritarismo que custou muitas vidas anos de atraso institucional.


Moído pela unanimidade da 1ª Turma, Bolsonaro prioriza a anistia. Atentos aos sinais de fumaça, os ministros se equipam para apagar o fogo do réu: quem admite ou não a anistia é a Constituição, e quem interpreta a Constituição é o Supremo. Nos bastidores, dá-se de barato que uma lei para perdoar condenados por crimes contra a democracia seria declarada inconstitucional por 9 votos a 2, vencidos os ministros bolsonaristas Nunes Marques e André Mendonça. 


Ciente de que a condenação pode sair em seis meses, o presidiário-to-be planeja corrigir o fiasco de Copacabana lotando a Paulista em 6 de abril, às vésperas do julgamento da denúncia contra o núcleo tático da trama golpista, que inclui 11 militares e um policial federal. Em sua prancheta, a hipotética pressão das ruas ganhará as redes sociais, dividirá o noticiário e forçará Hugo Motta a pautar a votação do projeto de anistia. Entrementes, aliados tentam fazê-lo considerar a hipótese de apoiar antes do Natal um presidenciável que se disponha a lhe conceder um indulto. Mas a estratégia subestima as dificuldades. 


Inseridos na comitiva de Lula ao Japão, os chefes e ex-chefes do Congresso parecem ter outras prioridades. Sem falar que, assim como a anistia, a recuperação dos direitos políticos e um eventual indulto também seriam submetidos ao filtro do STF, e ainda está fresca na memória das togas a decisão que derrubou, por inconstitucional, o indulto concedido por Bolsonaro ao condenado Daniel Silveira.

Enfim, quem viver verá.