sexta-feira, 14 de novembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 53ª PARTE

QUANDO A SORTE TE BAFEJA, ATÉ UM BOI TE DÁ UM BEZERRO.

Embora o tempo seja uma das únicas certezas da vida, como a morte, os impostos e a incompetência do eleitorado tupiniquim, que faz a cada eleição o que Pandora fez uma única vez, sabe-se muito pouco sobre ele. 


Até Einstein publicar sua famosa teoria, a compreensão do tempo se baseava principalmente na física newtoniana, segundo a qual o tempo fluía de maneira uniforme e constante em todo o universo, independentemente do observador ou das circunstâncias. À luz dessa premissa, tempo e espaço eram dimensões independentes, e o tempo passava sempre na mesma velocidade, sem acelerar ou desacelerar sob nenhuma circunstância. 


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Presenteado por Hugo Motta com o posto de relator do projeto anti-facção de Lula, o deputado Guilherme Derrite apresentou-se como um anjo da tecnicidade a serviço da segurança pública, mas perdeu as asas ao propor que o crime organizado seja blindado contra a Polícia Federal. 

Em 72 horas, Derrite produziu dois textos. Nas duas versões, ele equipara crimes cometidos por facções criminosas e milícias ao terrorismo. No primeiro, proibia a PF de investigar sem a requisição dos governadores; no segundo, permite que a PF atue contra o crime organizado desde que comunique previamente às autoridades estaduais.

A PF não é um canteiro de rosas, mas ainda fornece os melhores espinhos de que o Estado dispõe para espetar as organizações criminosas. Derrite, que é unha e carne com o governador bolsonarista de São Paulo, sabe que as más companhias das polícias estaduais fazem a PF parecer melhor do que é.

Um capitão da PM lotado no Gabinete Militar de Tarcísio foi pilhado pela PF ajudando a lavar dinheiro do PCC em bancos digitais, outro operador de lavanderias da facção foi executado quando delatava o vínculo do PCC com a polícia paulista, pelo menos 15 policiais e um delegado foram indiciados e três PMs foram acusados de disparar os tiros que mataram o delator.

No Rio de Janeiro, a polícia civil de Cláudio Castro passou cinco anos investigando a execução de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. E não esclareceu o crime. Acionada, a PF mostrou que as investigações patinavam porque a vereadora foi emboscada por dois milicianos egressos da PM, a mando de um deputado e um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, sob a proteção de um delegado.

Após críticas do Palácio do Planalto, governadores de direita, parlamentares da base e oposição, além de especialistas em Segurança Pública, Derrite apresentou a quarta versão do texto, mas não houve consenso e a votação foi adiada para próxima terça-feira. Os principais problemas apontados são quanto ao financiamento da PF e à caracterização do crime de “facção criminosa”. Paralelamente, cinco governadores de direita pediram ao presidente da Câmara que consulte o STF para evitar questionamentos judiciais no futuro.

Se a proposta que blinda a criminalidade contra a PF prevalecer no plenário, a Câmara provará ao país que o crime, quando organizado, compensa.


Einstein mostrou que o tempo pode se dilatar ou contrair ao sabor da velocidade e da gravidade, que está intrinsecamente ligado ao espaço (formando o espaço-tempo), e que a simultaneidade é relativa — ou seja, que a velocidade com que o tempo passa para um determinado observador é inversamente proporcional à velocidade com que esse observador se movimenta. Mais adiante, Stephen Hawking explorou o comportamento do tempo em condições extremas, como na proximidade do horizonte de eventos de um buraco negro. 

 

Einstein previu a existência dos buracos negros em suas equações, mas foi o astrônomo norte-americano John Wheeler quem deu esse nome aos corpos celestes resultam de colisões entre estrelas de nêutrons ou se formam quando estrelas supermassivas com pelo menos 10 vezes a massa do Sol explodem como supernovas, dando origem a uma região cósmica densa, compacta, onde a atração gravitacional é tamanha que nem a própria luz consegue escapar.

 

Einstein tampouco foi o primeiro a propor a existência dos buracos negros. Em 1783, o clérigo e cientista inglês John Michell propôs a existência de "estrelas escuras" e sugeriu que seria possível detectá-las se houvesse estrelas luminosas orbitando ao redor por seus efeitos gravitacionais em objetos próximos, e o matemático e astrônomo francês Pierre-Simon de Laplace publicou a mesma conclusão no livro Exposition du Système du Monde, mas foi a famosa teoria do físico alemão que forneceu as bases matemáticas modernas para a existência desse corpos celestes e ajudou a popularizá-los na ficção científica. Ironicamente, ele morreu sem ver sua teoria comprovada: foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope fotografou o buraco negro que fica no centro da galáxia Messier 87, a 53 milhões de anos-luz da Terra. 

 

Costuma-se dizer que os buracos negros são como ninjas do universo: invisíveis, misteriosos, capazes de transformar qualquer coisa que se aproxime de seu horizonte de eventos num pontinho infinitesimal de densidade extrema (conhecido como singularidade), mas mantendo sua massa original.  Vale realçar que o termo singularidade não designa o buraco negro em si, mas o elemento essencial dentro dele, o que torna o buraco negro o melhor exemplo de locais onde a singularidade pode existir.

 

O que acontece no horizonte de eventos, que representa o limite a partir do qual qualquer informação sobre o que é engolido deixa de existir para o restante do Universo, é um mistério que a ciência ainda tenta decifrar. Mas sabe-se que a força gravitacional dos buracos negros é tamanha que nem a a própria luz conseguir escapar, o que torna invisíveis, obrigando os cientistas a detectá-los mediante a observação do comportamento de objetos e da radiação a seu redor.

 

Observação: horizonte de eventos não é uma superfície física, mas uma região matemática no espaço-tempo que cresce quando massa é absorvida e encolhe à medida que o buraco negro "evapora" através da radiação de Hawking (um processo quântico fundamentado no princípio da Incerteza de Heisenberg). 


A NASA usou um supercomputador para criar uma simulação baseada em Sagittarius A* levando em conta dois cenários diferentes: no primeiro, a câmera — que representa o astronauta — erra o horizonte de eventos e dispara de volta; no segundo, ela cruza a fronteira e sela seu destino. Vale a pena conferir.

 

Continua...

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

UM POUCO DE HISTÓRIA E O MODO CORRETO DE DESINSTALAR APLICATIVOS

QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER.

Na pré-história da cibernética, os cérebros eletrônicos (como eram chamados os computadores de então) não tinham sistemas operacionais por um motivo muito simples: ainda não existiam sistemas operacionais. Operar aqueles jurássicos mastodontes era um suplício, pois exigia "abastecê-los" manualmente com as informações necessárias a cada tarefa.


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É criminoso o ritmo de toque de caixa adotado pela Câmara na tramitação da proposta sobre o hipotético aperfeiçoamento do combate ao crime organizado. Escolhido como relator do projeto, o deputado Guilherme Derrite, aliado de Tarcísio de Freitas, introduziu alterações no texto original mais ou menos como quem joga merda na parede. Se colar, colou, só que não colou.

Derrite foi anunciado como relator na noite da última sexta-feira. Duas horas depois, apresentou o seu relatório. Cedendo a uma obsessão da direita, equiparou ao terrorismo onze crimes típicos de facções como o PCC e o Comando Vermelho. Numa evidência de que há males que vêm para pior, remou contra a maré da unificação de esforços federativos, privilegiou as polícias estaduais e impôs restrições à atuação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Crivado de críticas, Derrite produziu um segundo relatório — que também não colou. Vieram críticas do diretor-geral da PF, do ministro da Justiça, da Associação Nacional dos Procuradores da República e do promotor Lincoln Gakiya, uma das vozes mais respeitadas do país no enfrentamento do crime organizado. Após reuniões com os líderes partidários e com o ministro da Justiça, o presidente da Câmara adiou a votação que ocorreria na última terça-feira, mas não abriu mão de votar o projeto ainda esta semana. Vem aí o terceiro relatório de Derrite, preservando as prerrogativas da Polícia Federal e do Ministério Público.

O Brasil teve pelo menos dez planos de segurança pública nas últimas duas décadas. Os resultados foram pífios para o Estado, mas exuberantes para o crime, que se tornou ainda mais organizado. Nessa matéria, a pressa mais atrasa do que adianta. Um bom começo seria uma autocrítica coletiva. Algo que evitasse a confusão entre a celeridade necessária e o açodamento indesejável.


Um sistema computacional é formado por dois subsistemas distintos, mas interdependentes: o hardware, que é o conjunto de componentes "físicos" (gabinete, teclado, monitor, placa-mãe, placas de expansão, memórias etc.), e o software, que corresponde à parte lógica (sistema operacional, aplicativos, drivers de dispositivos, BIOS, etc.). Antigamente, usuários iniciantes ouviam dos mais experientes que o hardware era "tudo que se podia chutar", e o software, "o que só dava para xingar".

 

Atualmente, qualquer computador — seja de grande porte, de mesa, portátil ou ultraportátil — é controlado por um "software-mãe" conhecido como sistema operacional, sem o qual a máquina seria como um corpo sem vida. Os vetustos mainframes dos anos 1950/60 operavam com dois tipos de linguagem: a linguagem de máquina, a partir do qual toda a programação era feita, e a lógica digital, a partir da qual os programas eram efetivamente executados. Até que, um belo dia, alguém teve a ideia de criar um "interpretador" — software que lê código-fonte a partir de uma linguagem de programação interpretada e o converte em código executável.

 

Observação: Os compiladores, que traduzem o código-fonte inteiro da execução, foram particularmente importantes para a eficiência computacional da época, pois permitiram que o hardware passasse a executar somente um conjunto de microinstruções. Com isso, a quantidade de circuitos e, consequentemente, o tamanho dos aparelhos diminuiu, e o trabalho dos operadores/programadores ficou menos penoso.

 

Dentre outras funções essenciais ao funcionamento do computador, cabe ao sistema operacional gerenciar o hardware, atuar como elemento de ligação entre os componentes físicos e o software, prover a interface usuário/máquina, servir de base para a execução dos aplicativos e por aí afora. Por outro lado, em que pese sua relevância, ele é um programa como outro qualquer, e por mais "eclético" que seja, não é capaz de suprir todas as necessidades do usuário nas tarefas do dia a dia. Isso nos leva aos aplicativos — como são chamados os programas destinados à execução de tarefas específicas.

 

No âmbito da informática, um "programa" é um conjunto de instruções em linguagem de máquina que descreve uma tarefa a ser realizada pelo computador; "instrução" é cada operação executada pelo processador — que pode ser qualquer representação de um elemento num programa executável, tal como um bytecode —; e "conjunto de instruções", a representação do código de máquina em mnemônicos

 

Se um computador sem sistema operacional é como um corpo sem vida, um sistema sem aplicativos é um ser vivo sem alma — ou quase isso, já que diversos recursos introduzidos nas novas versões do Windows, macOS, Android, iOS e das distros Linux tornaram os sistemas capazes de realizar várias tarefas que até então dependiam de apps de terceiros.

 

Por falar em aplicativos, a quantidade de programas instalados em nossos dispositivos cresceu tanto que a maioria de nós nem sabe para que servem. É como se cada novo app fosse a solução para um problema que a gente nem sabia que tinha — se é que tinha. A questão é que instalar é fácil; difícil é se livrar do "bloatware" — e é aí que mora o perigo.

 

Continua...

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O TEMPO DE TRÁS PARA FRENTE

O PROBLEMA DO MUNDO DE HOJE É QUE AS PESSOAS INTELIGENTES ESTÃO CHEIAS DE DÚVIDAS E AS IDIOTAS, CHEIAS DE CERTEZAS. 

Por que nos lembramos do passado, mas não do futuro? Por que um ovo quebrado nunca volta a ser inteiro? Essas perguntas intrigaram o astrônomo britânico Arthur Eddington, que foi buscar a explicação no conceito de entropia — previsto na Segunda Lei da Termodinâmica — que mede a desordem ou aleatoriedade de um sistema. Em um sistema isolado (como o Universo), a desordem permanece a mesma ou aumenta, mas jamais diminui espontaneamente. 


Um vaso de porcelana, por exemplo, é uma estrutura altamente ordenada até cair e se espatifar em centenas de cacos, quando então ele se move de um estado de baixa entropia (ordem) para um estado de alta entropia (desordem). Como o processo inverso jamais acontece sozinho, ou seja, os cacos não se juntam espontaneamente, a "seta termodinâmica do tempo" é a seta da entropia e, portanto, unidirecional.


O "passado" é o estado em que as coisas eram mais ordenadas e o "futuro", a direção para onde a desordem é maior. Como o universo está preso nessa jornada inevitável da ordem para a desordem, o tempo como o conhecemos só pode avançar, e assim o passado molda o presente e o presente constrói o futuro.


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Moraes rejeitou o pedido de avaliação médica feito pelo governo do DF para determinar se Bolsonaro tem condições de cumprir pena no complexo prisional da Papuda, onde José Dirceu, Sérgio Cabral e Valdemar Costa Neto, entre outros políticos famosos, já estiveram presos. A expectativa é que o pedido volte a ser analisado depois que o cumprimento da pena for decretado.

Outros seis réus condenados no mesmo processo também podem ter o cumprimento de pena decretado em breve, inclusive três ex-generais do Exército que foram ministros no governo Bolsonaro: Augusto Heleno, Walter Braga Netto, e Paulo Sérgio Nogueira. Como benefício do acordo de colaboração premiada, Mauro Cid foi condenado a apenas dois anos de reclusão em regime aberto. Os demais devem ficar detidos em presídios comuns, como o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, ou em salas especiais dentro de quartéis do Exército e da Marinha em Brasília e no Rio de Janeiro.


Diz o ditado que o diabo mora nos detalhes, e o detalhe é que o mundo que vemos — o microcosmo — obedece às regras da física clássica (como as leis de Newton e a relatividade de Einstein). Nesse universo, tudo é intuitivo e determinístico, mas basta mergulhar no microuniverso das partículas subatômicas para essas regras deixarem de funcionar. Nos domínios da física quântica, regidos por leis completamente diferentes e anti-intuitivas, lida-se com possibilidades, não com certezas.


Uma partícula pode existir em múltiplos estados ao mesmo tempo (ou seja, estar em vários lugares simultaneamente) até o momento em que a medimos. Além disso, duas partículas podem estar conectadas de forma que, ao medir uma, sabemos o estado da outra, não importa a distância que as separa. Essa divisão entre o mundo clássico e o quântico é um dos maiores mistérios da física moderna, e a busca por uma Teoria de Tudo é, em essência, a tentativa de encontrar um conjunto único de leis que unifique essas duas realidades.


Segundo o físico Yakir Aharonov, da Universidade de Chapman, na Califórnia, há indícios de que as escolhas feitas agora (ou seja, no presente) podem influenciar o estado de uma partícula no passado. Conhecida como retrocausalidade quântica, essa hipótese sustenta que a relação tradicional de causa e efeito pode se inverter em certas condições, o que desafia o senso comum sobre o fluxo do tempo.


Para compreender isso, é preciso revisitar a dualidade onda-partícula — conceito segundo o qual elétrons e fótons podem se comportar ora como ondas, espalhando-se em várias direções ao mesmo tempo, ora como partículas, seguindo um caminho definido. Note, porém, que esse comportamento não depende apenas da partícula em si, mas da forma como ela é observada — em outras palavras, é o ato de medição que decide se veremos um padrão de interferência (onda) ou um ponto localizado (partícula). 


Essa curiosa dependência entre observação e realidade levou os físicos a questionarem até onde vai a relação entre causa e efeito. Na década de 1970, o físico John Wheeler propôs o Experimento da Escolha Atrasada, sugerindo que a decisão do observador — feita após a partícula atravessar um aparato — pode influenciar como ela havia se comportado antes. Décadas depois, o Apagador Quântico de Escolha Retardada reforçou essa ideia ao mostrar que, no caso de duas partículas entrelaçadas, mesmo separadas por grandes distâncias, a medição de uma parece definir instantaneamente o estado da outra, como se a “ligação” entre as duas transcendesse o espaço e o tempo.


Por estar restrita ao mundo subatômico, onde as leis da natureza parecem seguir uma lógica própria — ou talvez várias lógicas simultâneas — essa “retrocausalidade” não significa necessariamente que seja possível viajar no tempo, reencontrar o passado e alterar grandes eventos, apenas que o estado de uma partícula depende não só das condições iniciais, mas também do resultado final da medição. Em outras palavras, o passado e o futuro estariam entrelaçados em uma mesma estrutura, e a realidade surgiria desse elo duplo.


Alguns físicos consideram essa hipótese uma alternativa elegante às interpretações mais ousadas da mecânica quântica, como a dos “muitos mundos” ou do “colapso aleatório da função de onda”. Se a retrocausalidade estiver correta, talvez não haja necessidade de múltiplos universos se ramificando — basta uma teia quântica onde causas e efeitos se estendem em duas direções temporais.


Sob a lente da filosofia, se o futuro pode influenciar o passado, o que dizer do livre-arbítrio? E se nossas escolhas já estivessem “escritas” nas condições futuras que ainda não aconteceram? Seríamos autores de nossas decisões ou apenas personagens de uma história que se ajusta em ambas as pontas do tempo?


Para tentar responder a essas perguntas, é preciso ter em mente que a retrocausalidade não viola a causalidade clássica nem permite enviar informações instantaneamente. O fenômeno respeita as restrições da relatividade e não contradiz o fato de que, no mundo macroscópico, o tempo segue sua marcha adiante. Por outro lado, ele demonstra que o tempo, no nível quântico, não é tão rígido quanto costumamos imaginar.


Talvez o universo funcione como um roteirista que escreve o enredo, assiste ao desfecho e, insatisfeito com o resultado, reescreve as cenas iniciais para que tudo faça sentido. A diferença é que, nesse caso, nós somos os personagens — e o roteiro, por mais estranho que pareça, ainda está sendo editado em tempo real… ou quase.


No fim das contas, talvez o tempo não seja uma estrada que percorremos, mas uma tapeçaria tecida em duas direções, com o futuro puxando os fios do passado enquanto o presente tenta dar sentido ao desenho. Se for assim, cada escolha nossa seria não o início de algo novo, mas o eco de um resultado que já estava lá, esperando para acontecer.


Um pensamento desconfortável, é verdade… mas quem disse que o universo está preocupado com nosso conforto?


terça-feira, 11 de novembro de 2025

ANDROID OU iOS? A ESCOLHA É SUA (CONTINUAÇÃO)

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO.

Os primeiros "cérebros eletrônicos" surgiram nos anos 1940. No final da década seguinte, a IBM lançou os primeiros computadores totalmente transistorizados. 


Mais adiante, a TEXAS INSTRUMENTS revolucionou o mundo da tecnologia com os circuitos integrados (conjuntos de transistores, resistores e capacitores), que a Big Blue usou com total sucesso no IBM 360, lançado em 1964. 


Anos depois, a INTEL agrupou múltiplos CIs numa única peça, dando origem os microchips, e dali até o advento dos computadores de pequeno porte foi um pulo. Nas pegadas do ALTAIR 8800, vendido sob a forma de kit, o PET 2001, lançado em 1977, entrou para a história como o primeiro computador pessoal.


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Conhecido por ter a língua mais frouxa que o esfíncter, Lula condenou-se no último domingo à meia palavra, ao discursar num evento esvaziado — dos 60 chefes de estado convidados, apenas nove compareceram — na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a Celac, na Colômbia.

Tendo a presença militar dos EUA nos mares do Caribe e na costa da Venezuela como pano de fundo, o petista recorreu à sugestão, às entrelinhas, ao subentendido, como se temesse uma reação de Trump. Afirmou que "velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais", mas não dedicou um mísero garrancho verbal às embarcações venezuelanas afundadas, às execuções extrajudiciais e à alegação não comprovada de que transportavam drogas.

As meias palavras de Lula contrastaram com o discurso de palavras inteiras do anfitrião colombiano Gustavo Petro. Ele chamou de "barbárie" e "assassinatos" os ataques americanos. Vê-lo medir as palavras e o chanceler Mauro Vieira enfiar a régua da diplomacia em local incerto e não sabido — ao dizer que a Celac daria "um apoio, uma solidariedade regional à Venezuela” — gerou o receio de o Sun-Tzu de Atibaia fazer um bate-volta à Colômbia e produzir improvisos de indignação com o propósito de alisar o pelo da esquerda latino-americana.

A melhor maneira de exorcizar um demônio é falar nele. A reticência a que recorreu Lula para suprimir o nome de Trump se explica pela prudência, mas aí é preciso explicar a prudência: Lula manteve a língua no cabresto para não correr o risco de contaminar as negociações para rever o tarifaço, algo prioritário para o interesse nacional, mas, se estava condenado pelas circunstâncias a fazer um discurso de meias palavras, por que decidiu na última hora voar para a Colômbia se a prudência recomendava a ausência? 

Ou ele dizia tudo ou não dizia nada. Ao dizer apenas a metade, reforçou a noção de que o demônio laranja dá as cartas.


Depois que Apple revolucionou o mercado de celulares com seu icônico iPhone (2007), os fabricantes concorrentes se viram forçados a promover seus dumbphones a smartphones; depois que os smartphones se tornaram verdadeiros microcomputadores de bolso, cada vez menos pessoas usam desktops e notebooks — salvo quando a tarefa requer tela de grandes dimensões, teclado e mouse físicos e mais poder de processamento, memória e armazenamento que os "pequenos notáveis" são capazes de proporcionar.

 

Curiosamente, Thomas Watson — que presidia a IMB em meados do século passado — profetizou que "haveria mercado para talvez cinco computadores", referindo-se aos gigantescos e caríssimos mainframes de então. Nas décadas seguintes, as previsões continuaram equivocadas. Ken Olsen, presidente e fundador da Digital Equipment Corp., vaticinou em 1977 que "não havia razão para alguém querer um computador em casa" — e viveu por tempo suficiente para se arrepender de sua falta de previsão, mas isso é outra conversa.

 

Até a virada do século, muita gente torcia o nariz para os microcomputadores, achando que não fazia sentido pagar caro por um mero substituto digital da máquina de escrever, da calculadora e do baralho de cartas. Mas não há nada como o tempo para passar. Nos anos seguintes, os PCs venderam feito pão quente. Escolas de informática e cursos de montagem e manutenção de "micros" se reproduziram como coelhos. Revistas sobre TI vendiam mais que o jornal do dia, sobretudo quando traziam disquetes (e, mais adiante, CDs) com os arquivos de instalação de programinhas demo ou freeware. 

 

Observação: Embora esses arquivos pudessem ser "baixados" por qualquer pessoa que dispusesse de um PC e de um modem analógico, a conexão discada era lenta e encarecia consideravelmente a conta do telefone — a não ser nos feriados e finais de semana, quando as operadoras cobravam um pulso por chamada, independentemente do tempo de ligação. 

 

Meu primeiro desktop foi um AT 286, presenteado por um primo que trabalhava na IBM. Por vias tortas, o presente deu azo ao primeiro artigo que publiquei sobre vírus de computador. A matéria não rendeu muito dinheiro, mas me estimulou a continuar escrevendo sobre TI — na sequência, publiquei meus ensaios em revistas como In-Hardware, Curso Dinâmico de Hardware, INFO, PC WORLD, PC Magazine e PC&Cia. Mais adiante, a parceria com um amigo e editor gráfico resultou em dezenas de livrinhos da saudosa Coleção Guia Fácil Informática. 

 

Observação: Foi justamente para embasar a edição Blogs & Websites que criei este espaço em 2006. A ideia era tirá-lo do ar assim que o livrinho chegasse às bancas, mas o carinho dos leitores (que o viam como um canal de comunicação para tirar dúvidas e fazer consultas) me levou a seguir adiante. E cá estamos nós, 19 anos e 7.394 postagens depois.

 

Se você está se perguntando o que isso tem a ver com assunto em pauta, a resposta é: nada. Fi-lo porque qui-lo (como teria dito Jânio Quadros quando lhe perguntaram por que renunciou à Presidência em 1961 — lembrando que o correto é "fi-lo porque o quis". Ou talvez por mero saudosismo; afinal, a idade torna as pessoas nostálgicas — daí eu ter dedicado nove parágrafos (sem contar o atual) a estas divagações. Dito isso, passemos ao que interessa.

 

A exemplo dos PCs do final da década de 1990, os primeiros celulares traziam manuais com centenas de páginas. O uso básico dos telefoninhos era mais intuitivo que o dos PCs, já que a maioria servia para fazer e receber ligações de voz e SMS. Mas para usar a agenda, a calculadora e o cronômetro, programar o despertador e jogar os games rudimentares que eles ofereciam, era necessário consultar o manual do usuário — que quase ninguém se dava ao trabalho de ler e, consequentemente, acabava subutilizando o dispositivo. Isso sem falar que quem trocava um aparelho da Ericsson por um modelo da Motorola, por exemplo, passava semanas reaprendendo a usar o celular.

 

Atualmente, quem migra de um smartphone Samsung para um Motorola — também por exemplo — não enfrenta maiores dificuldades, pois ambas as fabricantes utilizam o sistema operacional Android, desenvolvido pelo Google. Mesmo que cada uma crie sua própria UI (interface de usuário), e que ícones, botões, menus, layouts e informações na tela possam variar, a adaptação é bem mais rápida e intuitiva do que na era dos dumbphones, já que a maioria dos recursos não é fornecida pelo aparelho em si, mas pelo sistema operacional. Mas isso não significa que cada UI não tenha suas peculiaridades. 

 

A One UI da Samsung oferece a suíte de aplicativos Good Lock, que permite alterar a aparência do painel de notificações, o gerenciador de tarefas, a tela de bloqueio e muito mais. A Pasta Segura oferece um espaço privado para armazenar aplicativos, arquivos e dados sensíveis, protegidos por senha ou biometria. O Dual Audio possibilita a reprodução de áudio em dois fones de ouvido simultaneamente — ideal para compartilhar música ou vídeos com outra pessoa —, além de captura de tela por gestos, de fotos por comando de voz, e filtros para videochamadas.

 

A Hello UI da Motorola conta com o Moto Display, que exibe informações importantes na tela bloqueada de forma discreta e permite interações rápidas, como visualizar notificações e controlar a reprodução de músicas. O Gestos Moto oferece atalhos práticos para ações como abrir a câmera, lanterna, capturar a tela e acessar outras funções do celular por meio de gestos com as mãos ou movimentos. A Bateria Adaptável otimiza o uso da bateria com base no perfil do usuário, visando prolongar a autonomia do aparelho, e o Moto Actions permite personalizar gestos para ações rápidas, como abrir a câmera girando o pulso ou ligar a lanterna balançando o celular. 

 

A Motorola se destaca pela interface mais próxima da versão pura do Android, com menos modificações e personalizações, o que pode agradar usuários que preferem uma experiência mais clean e leve. Mas alguns recursos estão presentes em aparelhos de ambas as marcas, ainda com implementações diferentes, enquanto outros podem ser exclusivos de modelos específicos de cada marca. 

 

O resto fica para o próximo capítulo. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

ANDROID OU iOS? A ESCOLHA É SUA

O ÓTIMO É INIMIGO DO BOM.

Melhor e pior são conceitos relativos — o que é bom para mim pode não ser para você, e vice-versa —, mas pode-se dizer que o melhor produto é aquele que melhor satisfaz nossas expectativas por um preço que podemos pagar.

Em números redondos, o Android controla 70% dos smartphones e tablets, e o iOS, que só roda no hardware da Apple, cerca de 30%. KaiOS, HarmonyOS, LineageOS, GrapheneOS e outros sistemas baseados no Linux também disputam um lugar ao sol, mas sua participação é inexpressiva.

 

A Apple é reconhecida pela excelência de seus produtos, mas a arquitetura fechada, o software proprietário e o preço estratosférico os tornam um sonho de consumo que poucos conseguem realizar. Já o código aberto do Android amplia as possibilidades de customização, mas seus mais de 3 bilhões de usuários fazem dele o alvo preferido dos cibercriminosos.


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Depois que a Primeira Turma do STF rejeitou os embargos de declaração, os advogados de Bolsonaro analisam a conveniência de apresentar embargos infringentes. 

Isso porque a jurisprudência da Corte é no sentido de que esse tipo de recurso contra a decisão de uma turma só é recebido quando e se há pelo menos dois juízos absolutórios em sentido próprio, ou seja, pela absolvição no mérito do processo, não em questões preliminares, e isso não se verifica no caso do ex-presidente. 

Outra opção da defesa seria protocolar novos embargos de declaração como tentativa de atrasar a conclusão do processo e procrastinar o início do cumprimento da pena. Luiz Fux, de quem Bolsonaro esperava um voto favorável, pediu transferência para a Segunda Turma e não pediu para participar do julgamento dos embargos. Vale ressaltar que o julgamento só terminará oficialmente na próxima sexta-feira, 14, de maneira que, pelo menos em tese, os ministros ainda podem mudar seus votos.

Há incerteza sobre o momento exato da prisão de Bolsonaro. A jurisprudência do Supremo segue o princípio da unirrecorribilidade, segundo o qual as partes de um processo só podem apresentar um recurso contra decisão judicial, mas a Corte vem aplicando desde o Mensalão o entendimento de que o processo só encerrado após a rejeição do segundo recurso apresentado pela defesa. Nesse caso, o refugo da escória da humanidade só começaria a cumprir a pena depois da negativa do segundo embargo de declaração — que seria levado a julgamento somente em janeiro.

Pelo andar da carruagem, Moraes pode decretar o fim do processo e o início do cumprimento da pena ainda em novembro.


Escolher um iPhone ou um smartphone Android é uma questão de preferência pessoal (e de bolso). Quem migra de um iPhone antigo para um novo se adapta mais facilmente do que quem troca um dispositivo da Motorola por um da Samsung, por exemplo. Por outro lado, se o código proprietário do iOS torna as configurações gerais mais homogêneas e intuitivas, o código aberto do Android permite que os fabricantes (e, em menor medida, os próprios usuários) promovam alterações na interface, nos aplicativos pré-instalados e por aí afora. No entanto, isso não significa que um sistema seja melhor que o outro; cada qual tem suas qualidades, defeitos, vantagens e desvantagens.

 

Encontrar aparelhos Android com desempenho superior ao dos modelos da Apple pode parecer uma tarefa desafiadora, sobretudo por causa dos processadores de alto desempenho da marca da maçã e do "casamento" entre hardware e software. Mas tanto a coreana Samsung quanto a americana Motorola — que lideram o mercado brasileiro com 36% e 20% de participação, respectivamente — e as chinesas Xiaomi e Realme têm investido pesado em tecnologia e oferecem smartphones com desempenho equivalente (ou até superior) ao dos iPhones.

 

Quando a tecnologia celular desembarcou no Brasil — nos idos anos 1980 —, os aparelhos custavam caríssimo, a habilitação era demorada e problemática, a cobertura era restrita às capitais e algumas grandes metrópoles, a escassez de células (antenas) prejudicava o alcance e a intensidade do sinal, o minuto de ligação custava os olhos da cara, e até as chamadas recebidas eram cobradas. Isso mudou com a privatização das Teles, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique. Mais adiante, o lançamento do iPhone (2007) forçou a concorrência a promover seus dumbphones a smartphones — que se tornaram verdadeiros microcomputadores de bolso.

 

Meu primeiro celular foi um Motorola D160, comprado em 1999. Depois dele, tive aparelhos da Ericsson, da Nokia e da Sony, mas os dumbphones de que mais gostei foram os Motorola Razr V3 e Krzr K1. Já na era dos smartphones, alternei entre modelos da Samsung e da Motorola. Quando meu Galaxy M23 "estacionou" no Android 14, comprei um Moto G75, que vem me prestando bons serviços desde então.

 

Já vimos o que devemos considerar na hora de escolher um celular, mas nunca é demais lembrar que os fabricantes costumam enfatizar alguns recursos que chamam a atenção, mas que, na prática, não justificam pagar mais caro por um modelo os ofereça. O melhor a fazer é priorizar o processador (modelos recentes costumam ser mais eficientes que verões mais antigas mais "parrudas"), investir em memoria e armazenamento (sugiro 8 GB e 256 GB, respectivamente) e assegurar-se de que a capacidade da bateria seja de 4.500 mAh ou superior, que o componente suporte carregamento rápido e que o carregador adequado acompanhe o aparelho.

 

As especificações da tela (resolução, taxa de atualização, etc.) são importantes, mas não fazem muita diferença no uso diário — ao menos para a maioria dos "usuários comuns". Em contrapartida, a classificação IP68 faz toda a diferença quando o aparelho cai no vaso sanitário, por exemplo. E não deixe de conferir a versão do Android que vem pré-instalando, quantas atualizações do sistema estão previstas e por quantos anos o dispositivo continuará recebendo patches de segurança.  

 

Voltando ao que eu dizia sobre smartphones Android que rivalizam com os icônicos iPhones, o problema não é encontra-los, mas o preço cobrado por eles. Na pesquisa que fiz em julho para embasar este post, o Redmagic 10 Pro partia de R$ 5.111, e o Galaxy S25 Ultra, o Realme GT7 Pro, o Poco F7 Ultra e o Xiaomi 15 Ultra, de R$ 7.198, R$ 7.260, R$ 7.999 e R$ 9.993, respectivamente — lembrando que o tarifaço de Trump não havia entrado em vigor.

 

Celulares da Motorola saem de fábrica com diversas funções que melhoram o desempenho e personalizam o aparelho, mas que são subtilizadas por simples desconhecimento. Tornar o dispositivo multitarefa ativando a divisão da tela com um simples toque, bloquear notificações e evitar outras distrações são bons exemplos. E ainda que que fotografar e gravar vídeos não sejam prioridades para você, habilitar o smartphone para tirar fotos automaticamente ou fazer uma captura de tela por gestos pode ser interessante. O mesmo vale para o Smart Connect, que facilita o compartilhamento de arquivos entre aparelhos, o acesso a aplicativos móveis em PCs e o gerenciamento de notificações — tudo de forma prática, eficiente e segura. 

 

Para não encompridar ainda mais este post, os detalhes ficarão para os próximos capítulos.