Desde o final de 2007 que eu venho reservando as sextas-feiras para anedotas ou postagens “mais descontraídas”, e nesta semana, quando comemoramos o 187º aniversário da Independência do Brasil (e o 3º do Blog - sem querer aqui comparar em importância esses dois eventos), achei por bem fazer algumas elucubrações interessantes - que me ocorreram a partir da leitura de um texto do livro “DE COLOMBO A KUBITSCHEK – Histórias do Brasil”, de Eduardo Almeida Reis, publicado pelo “Círculo do Livro S.A.”.
Primeiramente, vale lembrar que estudar História é essencial, porque somente conhecendo o passado é que podemos compreender o presente (ou pelo menos é o que dizem). Então, para aqueles que “estranharam” a eleição do Presidente Lula e sua permanência no poder desde janeiro de 2003 (sem mencionar a perspectiva de um terceiro mandato, que ainda não está totalmente descartada, a despeito de esbarrar em impedimentos constitucionais cuja análise agora não vem ao caso), vale a pena ler o excerto a seguir:
Nascido em Lisboa, D. João exerceu a regência de 1792 a 1816 e reinou como D. João VI, o Clemente, até morrer em 1826, sendo uma das figuras mais discutidas da história luso-brasileira (e os quase dois séculos transcorridos desde então não dão ainda uma dimensão exata de suas qualidades e defeitos).
Observação: Portugal perdeu sua rainha em 1792, e a França ganhou um imperador em 1804; no curto período de onze ou doze anos, uma demente foi afastada de um trono e um desequilibrado ascendeu a um trono quase vizinho! Aliás, em 1789, o então segundo tenente da Academia Militar de Paris Napoleão Bonaparte teria se candidatado a uma vaga na expedição exploratória comandada pelo almirante de La Pérouse, e a despeito de seu nome constar da lista preliminar, o jovem corso jamais embarcou (esse fato trouxe sérias consequências para a França, já que os dois navios naufragaram a nordeste da Austrália e nenhum dos 400 homens à bordo sobreviveu para contar a história).
Há quem diga horrores do filho de Dona Maria I, e a crítica historiográfica descamba, não raro, para o sórdido linguajar da sentina, perdendo a serenidade e a lógica por que se deveria pautar. Nessa hora, com a taramelagem reles dos mais abjetos pasquineiros, atiram-se para a figura honrada e robusta do 27º rei de Portugal objurgatórias de leviandade inadmissível, acusações vulgares em que a realidade do fato cede lugar à imoralidade fantasiosa do chiste. E o embrião da impostura, encontrando terreno fértil na mente sombria dos inescrupulosos e dos devassos, avulta monstruosa e desmesuradamente, pisando com o talão imundo o cerne cristalino da verdade histórica.
Não é correto dizer-se, por exemplo, que o príncipe jamais tomou um banho em toda a sua vida. É certo que odiava a água doce, sentindo uma aversão insopitável por esta combinação de hidrogênio com oxigênio, mas cabe aqui um parêntese: que pretende a crítica? O historiador consciente pode e deve ter noções de higiene corporal, mas noções próprias, muito elogiáveis e muito particulares, às quais não faltarão, decerto, eventuais banhos mensais.
Contudo, os banhos de D. João VI deviam ser de interesse e competência de sua excelentíssima esposa, pois o ônus da aproximação conjugal cabia à ambiciosa e irrequieta filha de Carlos IV, e ela, só ela, estava em condições de opinar sobre o limpamento conveniente ao seu ilustre marido e senhor.
Além do mais, Tobias Monteiro esclarece que o real personagem teria sido visto algumas vezes tomando banhos de mar, metido num gamelão de madeira, na sua quinta do Caju – banhos salgados, mas banhos!
Certos desavisados vêem nessas abluções marítimas a causa da poluição das águas do Caju, mas tarde convertidas em depósito de lixo do Estado. Não existem provas do que afirma levianamente. É certo que o honrado príncipe era inimigo de banhos; daí a ter poluído toda uma parte da baía de Guanabara vai uma longa distância.
Por outro lado, alguns dos seus contemporâneos acusavam o príncipe de não “procurar” a princesa Carlota Joaquina, mas vale notar que D. João deixou nove filhos – e cabe a lembrança: imaginem se tivesse “procurado”!
Teimoso, doente, apático, tímido, covarde e comilão, o príncipe regente – que a cada dia piorava da cabeça, segundo sua mulher, e que pouco faltava para ser declarado alienado, segundo o Marquês de Ponte de Lima – realizou no Brasil um governo razoabilíssimo, provando por “a” mais “b” que a Terra de Santa Cruz não é lá muito exigente em matéria de administradores.
Costuma-se dizer que uma das qualidades do provo brasileiro é a capacidade de rir da própria desgraça. Enfim, o texto está aí; cada um que tire suas próprias conclusões.
Bom final de semana a todos.