QUEM DÁ AOS POBRES.... CRIA O
FILHO SOZINHA.
“Não se fazem
mais ... como antigamente”. Você certamente já ouviu e provavelmente já
proferiu essa frase, inserindo na lacuna representada pelas reticências o
nome de um produto qualquer.
Com efeito, não é de
hoje que os fabricantes se valem do conceito
da obsolescência programada para
estimular os consumidores a trocar seus produtos por versões mais recentes, que
não raro trazem apenas umas poucas modificações estéticas.
Essa prática teve
origem nos EUA, durante a Grande Depressão,
quando a ideia de que seria possível reaquecer o consumo reduzindo a validade
dos produtos começou a ser defendida por economistas e empresários, e daí para
a GE e a Philips darem o pontapé inicial reduzindo de 2.500 para 1.000 horas a vida útil das lâmpadas incandescentes foi
um pulo.
Embora inegavelmente
bem mais sofisticados, os “bens duráveis” de hoje em dia duram bem menos que os de antigamente. A título de exemplo, o
refrigerador que havia em casa quando eu nasci, no final dos anos 1950, era um Frigidaire daqueles de trinco, que já
tinha uns 15 anos de estrada e permaneceu em uso por pelo menos mais 12, até
que meu pai resolveu substituí-lo por um modelo de duas portas (lançado no
Brasil pela Brastemp na década 60).
Resultado: em menos de três anos foi preciso trocar a borracha imantada, responsável
por impedir a troca térmica com o ambiente e por manter as portas fechadas
magneticamente, e logo em seguida pipocaram os primeiros (de muitos) pontos de
ferrugem – o aparelho terminou seus dias no apartamento da praia, e embora
continuasse funcionando perfeitamente, não era prudente manuseá-lo sem antes
tomar uma injeção antitetânica.
Voltando à vaca
fria (*), já existem no horizonte alguns sinais de mudanças – pontuais, mas
enfim... Um bom exemplo é a progressiva substituição das lâmpadas
incandescentes – vorazes consumidoras de energia – por LEDs, que duram 25 vezes mais.
Outro exemplo digno
de nota é o smartphone modular do Google,
que vem sendo desenvolvido há dois anos. Como ele é composto por uma peça mãe e
vários módulos facilmente substituíveis (bateria, memória, câmera, etc.), o
usuário pode ter um modelo de última geração sem descartar a versão anterior (em
2014, a quantidade de celulares em uso no mundo ultrapassou o número de
habitantes, e como boa parte dos aparelhos tende a ser descartado depois de
pouco tempo de uso, o volume de resíduos tornou-se uma questão preocupante).
A novidade deve ser
lançada comercialmente no mercado norte-americano no segundo semestre desse ano,
ao preço inicial de US$ dólares.
(*) “Voltar à vaca fria” significa retornar
ao assunto principal em uma conversa ou discussão interrompida por divagações em
temas periféricos. De acordo com o professor Ari Riboldi, ela é a tradução da
expressão “Revenouns à nous moutons”
(voltemos aos nossos carneiros), extraída de uma peça teatral do século XV – considerada
a primeira comédia da literatura francesa – sobre um roubo de carneiros. Em
determinada cena, o advogado do ladrão faz longas divagações que fogem à
questão principal, e o juiz lhe chama a atenção com a frase em questão. Na
tradução para o português, todavia, os carneiros se transformaram em uma vaca
(talvez porque em Portugal, séculos atrás, era costume servir um prato frio,
preparado com carne bovina, antes das refeições).