Ex-presidente e seus
advogados decidiram simplesmente denunciar o sistema judicial brasileiro, como
se aqui vigorasse a mais grossa ditadura.
O ex-presidente Lula
se considera um perseguido político. Essa será sua linha de argumentação no
processo em que é acusado de auferir vantagens do esquema do petrolão, flagrado
pela Lava-Jato. Isso significa que, agora transformado em réu pelo juiz federal
Sergio Moro, o petista exercerá seu direito de defesa além da mera
formalidade, uma vez que atende às exigências do devido processo legal e ao
mesmo tempo nega sua validade, pois considera o processo ilegítimo e vê o
tribunal e os promotores como integrantes de um complô para impedir sua volta à
Presidência da República.
Assim, Lula e
seus advogados decidiram simplesmente denunciar o sistema judicial brasileiro,
como se aqui vigorasse a mais grossa ditadura. Para Lula, o processo nem
deveria existir, dado que sua inocência, clara como a luz do dia, só é
questionada por quem tem má-fé. Por esse raciocínio, a Justiça só provará sua
isenção se absolver Lula e se lhe pedir desculpas ― algo que o
ex-presidente, aliás, já cobrou.
Tal estratégia mal
esconde a aflição de Lula com o risco de vir a ser preso. A denúncia que
Moro aceitou já é a segunda relativa ao petrolão ― na primeira, que
corre na Justiça Federal de Brasília, ele é acusado de obstrução de Justiça. No
caso que está na 13.ª Vara Federal de Curitiba, Lula é acusado de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de assalto à Petrobrás, do
qual, segundo o Ministério Público Federal, o ex-presidente é o “comandante
supremo”.
A acusação afirma
que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em propina da empreiteira OAS entre 2006
e 2012. Moro considerou haver “indícios razoáveis” de que um tríplex no
Guarujá foi dado pela OAS a Lula, embora a empresa tenha se
mantido como proprietária formal. A empreiteira realizou melhorias no
apartamento sob orientação da mulher de Lula, Marisa Letícia, que
também foi denunciada. Ademais, a empreiteira custeou o armazenamento do acervo
que o ex-presidente alega ser seu, acomodado em 14 contêineres. O presidente do
Instituto Lula, Paulo Okamotto ― outro denunciado ―, reconheceu esse
pagamento, mas insistiu que não se trata de crime, embora não deixe claro qual
foi a contrapartida para tanta generosidade.
A acusação de que Lula
chefiou o petrolão não consta do processo, embora tenha sido enfatizada pelos
procuradores na apresentação da denúncia. Moro entendeu que essa omissão
se justifica porque a acusação de associação criminosa consta de processo que,
por envolver agentes com foro privilegiado, corre no STF. Mesmo assim,
considerou que a acusação dos promotores sobre o papel proeminente de Lula
no esquema é relevante, uma vez que as vantagens materiais recebidas da OAS
só se justificariam no contexto do petrolão.
Moro também
deixou claro que este ainda não é o momento de fazer um exame das provas, mas
apenas de analisar se a denúncia tem justa causa. Isso significa que a
aceitação da denúncia não representa qualquer julgamento sobre a culpa do réu,
que “poderá exercer livremente sua defesa”. Mas o direito à ampla defesa não
parece interessar a Lula. Confrontado com tão evidentes sinais de que
não é a “viva alma mais honesta deste país”, como certa vez se jactou,
ele parece intuir que virá a ser irremediavelmente condenado caso se submeta
apenas ao devido processo legal, e assim desencadeou uma campanha mundial para
caracterizar o processo como político.
No Brasil, Lula
mandou que os candidatos petistas nas eleições municipais, que já enfrentam
enormes dificuldades para superar a hostilidade do eleitor, usem a campanha
para defendê-lo, atrelando seu destino e o do partido no que pode ser o abraço
dos afogados. No exterior, a tigrada deflagrou uma campanha constrangedora
intitulada “Stand with Lula” (“Estamos com Lula”), que pede apoio
internacional ao ex-presidente, caracterizado como “pai do Brasil moderno”.
Mudando de pato para ganso: a uma semana das eleições municipais, Russomanno vê sua liderança ameaçada por Dória e Marta, e a troca de acusações entre os candidatos à prefeitura de Sampa ganha novas e emocionantes nuances.
Mesmo que não se
interessa por política ou não sabe diferenciar conversa de palanque do
que realmente pode ser feito pelo futuro prefeito desconfia do verborrágico blábláblá
entoado por essa seleta confraria. Todos parecem ter uma varinha de condão
capaz de resolver os problemas da cidade da noite para o dia.
A macróbia Erundina
assegura que pode gerar as filas nas creches municipais; o midiático Russomano
fala em criar um cartão eletrônico reunindo dados dos munícipes que usam o sistema
de saúde pública da capital; o administrador Dória pretende criar um “mutirão”
para que os médicos atendam a população carente durante as madrugadas; o imPresTável
Haddad (que detém a maior taxa de rejeição) jura que vai criar 100 mil
empregos diretos na construção civil e entregar os hospitais que prometeu
construir na atual gestão; a ex-sexóloga Marta promete concluir as obras
inacabadas de 28 hospitais que o atual prefeito não conseguiu entregar e
realizar 64 que nem foram começadas, e por aí segue a lamentável procissão,
onde os “santos” são vistos pela parcela pensante da população como milagreiros
de araque, fazedores de promessas que jamais poderão cumprir (isso sem
mencionar as promessas dos candidatos “paraquedistas”, que mal pontuam nas
pesquisas e não têm a menor chance de se eleger).
No primeiro debate
entre eles na TV, na última segunda-feira, choveram críticas à gestão
petista no governo federal ― visando atingir Fernando Haddad ―, nas
quais o PT foi acusado de “destruir a economia” e chegou a ser
chamado de “quadrilha” (até aí, nenhuma novidade).
Luiza Erundina
― que (des)governou Sampa de 1989 a 1993, quando era filiada ao PT
― montou um palanque diante da TV Bandeirantes, semanas atrás, para protestar
contra sua exclusão do debate realizado por aquela emissora. Uma vez petista...
Observação: Vale lembrar que a lei eleitoral impede de participar dos
debates candidatos de legendas com menos de nove representantes na Câmara
Federal, a não ser que dois terços dos demais concorrentes avalizem sua
inclusão no programa ― e o PSOL,
atual partido da macróbia, tem apenas seis.
Já Marta
Suplicy, também ex-petista e hoje candidata pelo PMDB, criticou o governo da qual foi ministra, apontando
construções interrompidas que viu durante a pré-campanha em São Paulo. João
Doria (PDSB), perguntado sobre o que faria para gerar empregos,
disse que os 13 de lulopetismo destruíram a economia, e que é preciso rezar
para a coisa melhorar ― até aí eu concordo, mas, convenhamos, não é bem esse
o tipo de resposta que se espera de quem pretende administrar a maior metrópole
da América Latina.
Ao também criticar o atual prefeito, o candidato Major Olímpio, do
Solidariedade, comparou o PT a uma agremiação criminosa, “uma
quadrilha que se implantou no governo federal e que tem uma metástase em São
Paulo. Também concordo com ele, mas até aí...
Celso Russomanno (PRB) ― que vinha sendo poupado de ataques enquanto mantinha a
liderança e também evitava criticar abertamente o governo federal ―, agora tem
seu nome associado ao despejo
do Bar do Alemão, em Brasília,
por falta de pagamento de aluguel e salário de funcionários (num total que chega
a R$ 2 milhões).
Observação: Segundo a assessoria
do candidato, o grupo de administradores ― do qual fazem parte Luna Mirah Gomes, filha do ex-deputado
tucano Eduardo Gomes, o empresário Geraldo Vagner de Oliveira, falecido em
junho em um acidente aéreo em Jundiaí, as empresas Yellowwood Consultoria, Unialimentar
Comercio e Serviços Alimentares Ltda., e Augusto Mendonça Neto, um dos delatores na Operação Lava-Jato e ex-executivo da empresa Toyo Setal ― resolveu fechar o estabelecimento e demitir os
funcionários, que “terão os direitos trabalhistas pago”.
Russomanno enfatizou que trabalha há 26 anos defendendo direitos do
consumidor, que já devolveu mais de R$ 1
milhão em verba de gabinete como deputado, que quer dar educação e saúde de
qualidade, e se compromete a trabalhar 16 horas por dia. Então tá.
Por essas e outras
que a política brasileira é como a merda: quanto mais mexe, mais fede.
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