Após ter sido
apontado pelo MPF como chefe
do megaesquema de corrupção, Lula tagarelou por mais de uma hora para a imprensa, mas não
emitiu uma explicação sequer para as graves denúncias que pesam contra ele. Como
fez no auge do mensalão, repetiu no petrolão e vem fazendo sistematicamente ao
longo dos últimos anos, o petralha usou sua (invejável) retórica para distorcer os fatos,
posar de vítima e defender a autodeclarada imagem de alma viva mais honesta
do Brasil.
Apesar de afirmar que
não falava como político, mas como cidadão indignado, o petralha atacou o MP
e a imprensa, reafirmou sua intenção de concorrer à presidência em 2018
e, desviando-se da obviedade dos fatos que pavimentaram a acusação, ressaltou
os feitos do PT, reforçou o discurso que classifica de golpe o impeachment
da ex-grande-chefa-toura-sentada e
incitou a militância: “Tenho profundo orgulho de ter criado o mais
importante partido de esquerda da América Latina (...) Cada petista do país tem
que começar a andar de camisa vermelha; quem não gostar, coloque de outra cor,
esse partido tem que ter orgulho”.
Em suma,
Lula foi Lula: chorou, contou histórias, atacou adversários e, numa
tentativa de defesa que mais parece ter sido emprestada do dilmês, saiu-se com
a seguinte pérola: “As pessoas achincalham muito a política, mas a
profissão mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que
ele seja, ele tem que ir pra rua e pedir voto”. Mas nenhuma frase expôs
tanto sua “humildade” quanto esta: “Eu tô falando como cidadão indignado,
como pai, como avô, como bisavô, eu tenho uma história pública conhecida. Acho
que só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e
marcado neste país”.
Acusado de ter comandado
não apenas o petrolão, mas também o mensalão, Lula afirmou que o PT
é tido como o partido que tem que ser extirpado da história política
brasileira, mas não fez menção ao fato de ambos os escândalos terem resultado
na prisão de próceres petistas como José Dirceu, José Genoíno
e Delúbio Soares, de asseclas como João Vaccari, Guido Mantega e Antonio Palocci, nem de o partido de tanto se orgulha
de ter fundado ser o único que tem três ex-tesoureiros atrás das grades.
Vale destacar que,
diferentemente do discurso proferido em março, depois de ter sido conduzido
coercitivamente para depor, em que usou a metáfora
da jararaca, o petralha baixou
o tom, dando a impressão de que a cobra virou minhoca. Ainda assim, Lula
escarneceu dos procuradores do Ministério Público e dos investigadores
da Lava-Jato e vociferou ofensas e desafios. Mas Lula sabe que o
cerco está apertando e que pode, sim, acabar na cadeia (veja mais detalhes
neste vídeo) ― aliás, na visão “acurada” de sua cria e
sucessora, tudo se resume em inviabilizar a candidatura do “chefe”, e que
prendê-lo irá “transformá-lo em herói” (acho que ela quis dizer “mártir”,
mas enfim...). “O golpe só se completa com isso”, disse a nefelibata da
mandioca, em entrevista à TVE da Bahia.
Observação: Quando deferiu o pedido para que Lula
fosse ouvido coercitivamente em vez de preso, o juiz Moro foi mais brando
do que a lei lhe permitia ― a mesma medida fora tomada em relação a outros
investigados, e para alívio de muitos deles, pois é melhor passar algumas horas
depondo do que cinco dias no xilindró. Alguns procuradores acreditam que Moro
deveria ter optado pela prisão temporária, e só não o fez devido ao ambiente
tenso e polarizado do país.
A coletiva de imprensa
da Lava-Jato deu margem para que prosperasse rapidamente nas redes sociais uma
frase falsamente atribuída aos procuradores: “Não temos provas, temos
convicções”. Nem Dallagnol nem os demais procuradores proferiram tal
disparate, mas sites petistas espalharam a frase como prova de que não havia
evidências contra Lula e puxaram o coro de “golpe continuado” contra o PT.
O próprio Lula, no dia seguinte à denúncia, usou a frase como se fosse
verdadeira, buscando convencer quem não precisava ser convencido ― ou seja, a
militância fanática e radical, que acredita piamente na fantasiosa “conspiração
liderada pelos Meninos de Curitiba” e em qualquer outra coisa que saia da
boca de seu amado chefe. Todavia, está
em curso uma intensa produção de provas contra Lula.
Parafraseando Abraham
Lincoln; “pode-se enganar uma pessoa
por muito tempo, alguns por algum tempo, mas nunca todos por todo o tempo”.
A história do operário
pobre e trabalhador que se elegeu presidente para combater a corrupção e
defender o trato da coisa pública ― e que dizia que “ser honesto é mais do
que apenas não roubar, é não deixar roubar” ― já não convence ninguém, com
a possível exceção da militância fanática e divorciada da realidade que ainda o
defende.
Mas não há nada como o tempo para passar, e hoje se sabe que o
discurso com que o petista defendia seu projeto de governo não passava de um
espúrio projeto de poder que visava sequestrar o Brasil e mantê-lo sob o jugo
do partido por pelo menos 20 anos. Durou 13 anos ― ironicamente, o número do PT. Treze anos, quatro
meses e doze dias transcorreram da posse de Lula, em 2003, até o afastamento
de Dilma, em maio deste ano, convertido em deposição 111 dias depois,
embora o julgamento tenha sido maculado por uma maracutaia ― que contou com o
apoio do presidente do Senado e o aval do então presidente do Supremo ― para
evitar a inabilitação da imprestável ao exercício de funções públicas, em
flagrante desrespeito à Constituição.
Lula e o PT
nunca tiveram um plano de governo, mas sim plano de poder que se valeu de
práticas espúrias para enriquecer o petralha e abastecer a conta do partido,
visando a sua perpetuação no comando do país. A desfaçatez de seu governo veio à
tona com o escândalo do mensalão ― do qual Lula afirmou que nada sabia,
que fora traído, e cuja existência teve a desfaçatez de negar mais adiante,
afirmando que “o mensalão nunca existiu, que tudo não passou de uma tentativa
de golpe”.
Mas a canalhice não só existiu, como também deu origem a outra ―
que ficou conhecida como escândalo do petrolão ―, na qual
empreiteiras que possuíam contrato com a Petrobras eram cooptadas por um
esquema criminoso a repassar dinheiro de corrupção para os partidos da base
aliada. Ao puxar o “fio do novelo”, a PF e o Ministério Público
demonstraram que o ex-presidente era, na definição do procurador Deltan
Dallagnol, o “maestro da grande orquestra da Propinocracia”, sob
cuja batuta os desvios de recursos públicos não serviram apenas para abastecer
o PT e partidos da base aliada do governo, mas também para enriquecer o Clã
Lula da Silva.
Assim, o maior expoente da política brasileira, que até pouco tempo atrás era
ovacionado por onde passava, agora é vaiado em público, embora continue teimosamente
negando ser o dono do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, a
despeito da clareza meridiana dos fatos que o colocam no centro de um esquema
de corrupção nunca antes visto na história deste país. Visando impedir as investigações,
o petralha chegou mesmo a ser nomeado ministro por Dilma, mas teve as
asas podadas pelo STF, por conta do desvio de finalidade do ato
administrativo que resultou em sua nomeação.
Até o momento, Lula é réu em
dois inquéritos e investigado em pelo menos mais três. Seu nome aflora
alegremente nas delações de Delcídio do Amaral, Pedro Corrêa, Nestor
Cerveró, Fernando Baiano, José Carlos Bumlai e Leo
Pinheiro, apenas para citar as mais significativas, bem como em diversas
ramificações da Lava-Jato que nem vou enumerar, já que tratei desse
assunto em diversas postagens.
Por essas e outras,
fica difícil entender como ainda tem gente que defende o petralha e a corja de
malfeitores que o apoiaram em seu intento. Uma das razões talvez seja o fato de
o salafrário ainda ser bom de palanque. Mas a questão é seu destino não será
definido pelas urnas, mas pelos Tribunais. E não há João Santana que
ludibrie os “meninos de Curitiba”, o juiz Sergio Moro e as demais
instâncias do Judiciário ― que trabalham com fatos, e não com política, como
parece crer o ex-presidente. E os fatos depõem fortemente contra ele.