domingo, 2 de outubro de 2016

A ALMA VIVA MAIS HONESTA DO BRASIL POSA DE VÍTIMA, MAS NADA EXPLICA SOBRE ACUSAÇÕES

Após ter sido apontado pelo MPF como chefe do megaesquema de corrupção, Lula tagarelou por mais de uma hora para a imprensa, mas não emitiu uma explicação sequer para as graves denúncias que pesam contra ele. Como fez no auge do mensalão, repetiu no petrolão e vem fazendo sistematicamente ao longo dos últimos anos, o petralha usou sua (invejável) retórica para distorcer os fatos, posar de vítima e defender a autodeclarada imagem de alma viva mais honesta do Brasil.

Apesar de afirmar que não falava como político, mas como cidadão indignado, o petralha atacou o MP e a imprensa, reafirmou sua intenção de concorrer à presidência em 2018 e, desviando-se da obviedade dos fatos que pavimentaram a acusação, ressaltou os feitos do PT, reforçou o discurso que classifica de golpe o impeachment da ex-grande-chefa-toura-sentada e incitou a militância: “Tenho profundo orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina (...) Cada petista do país tem que começar a andar de camisa vermelha; quem não gostar, coloque de outra cor, esse partido tem que ter orgulho”.

Em suma, Lula foi Lula: chorou, contou histórias, atacou adversários e, numa tentativa de defesa que mais parece ter sido emprestada do dilmês, saiu-se com a seguinte pérola: “As pessoas achincalham muito a política, mas a profissão mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua e pedir voto”. Mas nenhuma frase expôs tanto sua “humildade” quanto esta: “Eu tô falando como cidadão indignado, como pai, como avô, como bisavô, eu tenho uma história pública conhecida. Acho que só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e marcado neste país”.
Acusado de ter comandado não apenas o petrolão, mas também o mensalão, Lula afirmou que o PT é tido como o partido que tem que ser extirpado da história política brasileira, mas não fez menção ao fato de ambos os escândalos terem resultado na prisão de próceres petistas como José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, de asseclas como João Vaccari, Guido Mantega e Antonio Palocci, nem de o partido de tanto se orgulha de ter fundado ser o único que tem três ex-tesoureiros atrás das grades.

Vale destacar que, diferentemente do discurso proferido em março, depois de ter sido conduzido coercitivamente para depor, em que usou a metáfora da jararaca, o petralha baixou o tom, dando a impressão de que a cobra virou minhoca. Ainda assim, Lula escarneceu dos procuradores do Ministério Público e dos investigadores da Lava-Jato e vociferou ofensas e desafios. Mas Lula sabe que o cerco está apertando e que pode, sim, acabar na cadeia (veja mais detalhes neste vídeo) ― aliás, na visão “acurada” de sua cria e sucessora, tudo se resume em inviabilizar a candidatura do “chefe”, e que prendê-lo irá “transformá-lo em herói” (acho que ela quis dizer “mártir”, mas enfim...). “O golpe só se completa com isso”, disse a nefelibata da mandioca, em entrevista à TVE da Bahia.

Observação: Quando deferiu o pedido para que Lula fosse ouvido coercitivamente em vez de preso, o juiz Moro foi mais brando do que a lei lhe permitia ― a mesma medida fora tomada em relação a outros investigados, e para alívio de muitos deles, pois é melhor passar algumas horas depondo do que cinco dias no xilindró. Alguns procuradores acreditam que Moro deveria ter optado pela prisão temporária, e só não o fez devido ao ambiente tenso e polarizado do país.     

A coletiva de imprensa da Lava-Jato deu margem para que prosperasse rapidamente nas redes sociais uma frase falsamente atribuída aos procuradores: “Não temos provas, temos convicções”. Nem Dallagnol nem os demais procuradores proferiram tal disparate, mas sites petistas espalharam a frase como prova de que não havia evidências contra Lula e puxaram o coro de “golpe continuado” contra o PT. O próprio Lula, no dia seguinte à denúncia, usou a frase como se fosse verdadeira, buscando convencer quem não precisava ser convencido ― ou seja, a militância fanática e radical, que acredita piamente na fantasiosa “conspiração liderada pelos Meninos de Curitiba” e em qualquer outra coisa que saia da boca de seu amado chefe.  Todavia, está em curso uma intensa produção de provas contra Lula.

Parafraseando Abraham Lincoln; “pode-se enganar uma pessoa por muito tempo, alguns por algum tempo, mas nunca todos por todo o tempo”. 

A história do operário pobre e trabalhador que se elegeu presidente para combater a corrupção e defender o trato da coisa pública ― e que dizia que “ser honesto é mais do que apenas não roubar, é não deixar roubar” ― já não convence ninguém, com a possível exceção da militância fanática e divorciada da realidade que ainda o defende. 

Mas não há nada como o tempo para passar, e hoje se sabe que o discurso com que o petista defendia seu projeto de governo não passava de um espúrio projeto de poder que visava sequestrar o Brasil e mantê-lo sob o jugo do partido por pelo menos 20 anos. Durou 13 anos ― ironicamente, o número do PT. Treze anos, quatro meses e doze dias transcorreram da posse de Lula, em 2003, até o afastamento de Dilma, em maio deste ano, convertido em deposição 111 dias depois, embora o julgamento tenha sido maculado por uma maracutaia ― que contou com o apoio do presidente do Senado e o aval do então presidente do Supremo ― para evitar a inabilitação da imprestável ao exercício de funções públicas, em flagrante desrespeito à Constituição.

Lula e o PT nunca tiveram um plano de governo, mas sim plano de poder que se valeu de práticas espúrias para enriquecer o petralha e abastecer a conta do partido, visando a sua perpetuação no comando do país. A desfaçatez de seu governo veio à tona com o escândalo do mensalão ― do qual Lula afirmou que nada sabia, que fora traído, e cuja existência teve a desfaçatez de negar mais adiante, afirmando que “o mensalão nunca existiu, que tudo não passou de uma tentativa de golpe”. 

Mas a canalhice não só existiu, como também deu origem a outra ― que ficou conhecida como escândalo do petrolão ―, na qual empreiteiras que possuíam contrato com a Petrobras eram cooptadas por um esquema criminoso a repassar dinheiro de corrupção para os partidos da base aliada. Ao puxar o “fio do novelo”, a PF e o Ministério Público demonstraram que o ex-presidente era, na definição do procurador Deltan Dallagnol, o “maestro da grande orquestra da Propinocracia”, sob cuja batuta os desvios de recursos públicos não serviram apenas para abastecer o PT e partidos da base aliada do governo, mas também para enriquecer o Clã Lula da Silva.

Assim, o maior expoente da política brasileira, que até pouco tempo atrás era ovacionado por onde passava, agora é vaiado em público, embora continue teimosamente negando ser o dono do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, a despeito da clareza meridiana dos fatos que o colocam no centro de um esquema de corrupção nunca antes visto na história deste país. Visando impedir as investigações, o petralha chegou mesmo a ser nomeado ministro por Dilma, mas teve as asas podadas pelo STF, por conta do desvio de finalidade do ato administrativo que resultou em sua nomeação. 

Até o momento, Lula é réu em dois inquéritos e investigado em pelo menos mais três. Seu nome aflora alegremente nas delações de Delcídio do Amaral, Pedro Corrêa, Nestor Cerveró, Fernando Baiano, José Carlos Bumlai e Leo Pinheiro, apenas para citar as mais significativas, bem como em diversas ramificações da Lava-Jato que nem vou enumerar, já que tratei desse assunto em diversas postagens.

Por essas e outras, fica difícil entender como ainda tem gente que defende o petralha e a corja de malfeitores que o apoiaram em seu intento. Uma das razões talvez seja o fato de o salafrário ainda ser bom de palanque. Mas a questão é seu destino não será definido pelas urnas, mas pelos Tribunais. E não há João Santana que ludibrie os “meninos de Curitiba”, o juiz Sergio Moro e as demais instâncias do Judiciário ― que trabalham com fatos, e não com política, como parece crer o ex-presidente. E os fatos depõem fortemente contra ele.