A situação caótica
em que se encontra a segundo estado mais importante da Federação vem sendo
usada como exemplo para justificar o ajuste fiscal e outras medidas emergências
que o governo federal precisa aprovar para “evitar que o país siga o exemplo
do Rio de Janeiro” ― que já não consegue sequer honrar o pagamento do
funcionalismo e dos aposentados. Daí a analogia feita por Osmar Terra,
ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, que logo passou a ser utilizada
pela mídia em geral. Vale lembrar, todavia, que o Rio não é o único
estado sem dinheiro e sem saber se pagará ou não o 13º salário aos servidores: Goiás,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio
Grande do Sul e o próprio Distrito Federal já vêm pagando salários
com atraso ou em parcelas.
Enfim, o plano do
governador Pezão (ou “pacote de maldades”, como vem sendo chamado)
prevê, dentre outras medidas esdrúxulas, descontar 30% de Previdência dos
isentos dos servidores aposentados, o que explica ― embora não justifique ―
protestos como a vandalismo na ALERJ (assunto sobre
o qual eu não vou descer a detalhes porque mereceu ampla cobertura da imprensa). Já o Planalto vem envidando esforços para
implementar medidas impopulares ― mas absolutamente necessárias ― com vistas a evitar
que o Brasil se torne um Rio de
Janeiro de dimensões continentais, embora o Legislativo continue aprovando
alegremente excrescências como o aumento
salarial para auditores fiscais da Receita ― projeto que, até 2019,
impactará em quase R$ 9 bilhões as
contas públicas. Demais disso, quase R$30
milhões foram gastos entre julho e novembro com cartão corporativo (dos
quais R$12 milhões foram torrados
pela Presidência da República) e o
uso irregular de aviões da FAB
campeia solto no “ministério de notáveis”: entre 12 de maio e 31 de outubro, Alexandre de Moraes, ministro da
Justiça, utilizou jatinhos em 85 viagens, 64 das quais para a cidade onde
reside e 48 sem qualquer justificativa plausível (José Serra, das Relações Internacionais, e Gilberto Kassab, de Ciência, Tecnologia, inovações e comunicações,
ocupam o segundo e o terceiro lugar nesse ranking, com 43 e 21 viagens
indevidamente justificadas, respectivamente).
Votando ao Rio,
dois ex-governadores foram presos na última semana. O primeiro, Anthony Garotinho, começou a vida
política no PT, passou pelo PDT, PSB, PMDB e PR, governou o estado de 1998 a 2002 e
apoiou Crivella nas eleições
municipais de outubro passado, de olho na Secretaria
de Obras do município, cujo orçamento (de R$2,7 bilhões) só perde para a Saúde
e a Educação. Presbiteriano e considerado uma das maiores
lideranças evangélicas do Rio, ele ganhou o prêmio de “melhor
prefeito” em 1998 e chegou a ser candidato à presidência da República em 2006, mas seu
currículo é abrilhantado por uma série de escândalos. Sua prisão, na última
quarta-feira, na esfera da Operação Chequinho, decorreu de suspeita de crimes eleitorais
em Campos dos Goytacazes, município do qual é secretário de
governo na administração da prefeita Rosinha Garotinho, além de “líder
de organização criminosa” ― na avaliação do delegado Paulo Cassiano,
responsável pela operação que resultou em sua prisão. E isso porque é “garotinho”;
imagine se fosse adulto...
O segundo ex-governador
a ser preso (menos de 24 horas depois) foi o peemedebista Sérgio Cabral, acusado de comandar um
esquema de propinas que teria movimentado mais de R$224 milhões. De acordo com procuradores do MPF e delegados da PF,
ele cobrava 5% sobre o valor das obras e 1% de “taxa de oxigenação”. Só na construção Polo Petroquímico da COMPERJ, o peemedebista teria embolsado R$2,7 milhões, mas fala-se ainda numa
mesada milionária (de R$ 200 mil a R$
500 mil mensais) paga pela Carioca
Engenharia e pela Andrade Gutierrez,
e que a cota-parte do butim que lhe coube chega a inacreditáveis R$40 milhões! Deputado estadual por três vezes e senador por um mandato, Cabral foi popular em sua primeira
gestão à frente do governo do estado ― chegando também a ser cogitado para a
presidência da República. Mas o quadro mudou no segundo mandato, levando-o a
renunciar em abril de 2014. Agora, preso na Operação Calicute ― coordenada entre as forças-tarefas da Lava-Jato do Rio e do Paraná ― sua
excelência divide uma cela em Bangu 8
com cinco velhos conhecidos e, segundo o MPF,
integrantes do mesmo esquema de corrupção.
Essas prisões demonstram claramente a ausência de fundamento
na tese de que a Lava-Jato persegue Lula e só foca políticos do PT. Aliás, isso não passa de falácia
dos desprezíveis defensores da ORCRIM
petista, para os quais Dirceu e Vaccari são “pobres injustiçados”, Lula é a alma viva mais honesta do
Brasil, Dilma foi uma grande
presidente ― deposta por um golpe de
estado, e por aí afora. Isso além de culpar o atual governo pelos 12 milhões de desempregados, pelo descontrole
da inflação e por toda a desgraceira que se abateu sobre o país nos últimos anos.
Hello, cambada: Temer assumiu a presidência
há menos de 6 meses, e só deixou de ser interino há pouco mais de dois.
Não quero dizer com isso que o atual governo venha fazendo
um trabalho primoroso, longe disso. Mas essa discussão fica para uma próxima
vez. Para encerrar, se o Brasil precisa
mesmo imitar o Rio em alguma coisa, que seja em governantes presos. Afinal,
já está mais que na hora de Lula “Lá”.
E com Dilma a reboque.
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