Não se nega o
presidente herdou um monumental “abacaxi”, mas já está mais que na hora de ele
mostrar a que veio. Afinal, se os 100 dias de interinidade foram o treino, o
jogo começou para valer depois que a petista foi devidamente penabundada, em
dia 31 de agosto passado. E os que se vê é um mandatário pusilânime e uma
equipe ministerial que, em vez dos “notáveis” prometidos, foi composta de onze
integrantes que já haviam ocupado pelo menos uma pasta nos governos de Dilma,
de Lula e de FHC ― e se viu obrigado a substituir três deles em
menos de 10 dias, devido à praticas, digamos, pouco republicanas que
abrilhantavam seus currículos.
No Roda
Viva da última segunda-feira, Temer
reafirmou que se dará por feliz se, ao final de seu governo, o povo se referir
a ele como “o presidente que colocou o Brasil nos trilhos; não transformou
na segunda economia do mundo, mas colocou nos trilhos”. No entanto, as tão
necessárias reformas continuam patinando ― a da Previdência, por
exemplo, que ele insiste em dizer que já está formatada, ninguém sabe, ninguém
viu. E se os indicadores econômicos mostram luz no fim do túnel, as constates
recaídas tornam as perspectivas bem pouco alvissareiras: esperava-se que 2016
fechasse com uma melhora significativa (mesmo que longe da ideal) nos números
do desemprego, da inflação e do crescimento do PIB, mas o governo já projeta
para o próximo ano a tão sonhada saída do “fundo do poço” (se é que realmente
já chegamos lá).
Numa postagem recente, eu comentei que a “turminha do quanto
pior melhor” vem bombardeando sistematicamente toda e qualquer ação capaz
ameninar a crise, como a controversa e impopular ― mas necessária ― PEC do
teto dos gastos.
Observação: Tem muita gente contra essa PEC, inclusive alguns estudantes
secundaristas ― que recentemente invadiram
escolas e tumultuaram a realização do ENEM, prejudicando quase
200 mil colegas ―, mas é público e notório que a maioria sequer tem noção de
contra o que está protestando.
O governo tem
se esforçado para aprovar essa proposta de emenda constitucional medida a toque
de caixa, visando, como disse recentemente o ministro do Desenvolvimento Social
e Agrário, evitar que o país
fique igual ao Rio de Janeiro, que já não tem caixa sequer para
honrar a folha de pagamento dos servidores e busca aprovar um “pacote de maldades”
que, dentre outras aberrações, prevê um desconto mensal de 30% de Previdência para
os isentos e para os servidores aposentados, o que explica ― mas não justifica
― a ocupação da ALERJ por manifestantes
(ou vândalos, melhor dizendo). A propósito, vale lembrar que não é só o Rio que está nessa situação, pois pelo
menos mais sete estados (aí incluídos o Distrito Federal) vêm pagando os
salários dos servidores com atraso ou em parcelas.
Observação: Também como eu disse na postagem anterior, se é
para o Brasil “imitar” o Rio ― que,
na última semana e em menos de 24 horas viu dois de seus ex-governadores serem
encarcerados no Bangu 8 ―, que o
faça colocando atrás das grades seus dois últimos ex-presidentes, coisa que
também já está mais do que na hora de acontecer.
Outra declaração lamentável de Temer durante a entrevista foi a de que a (tão esperada) prisão de Lula possa vir a gerar manifestações
populares, instabilidades, e coisa e tal. Sua fala soou como a de um refém da banda podre da política, e
deixou a indelével impressão de que seu apoio à Lava-Jato é da boca para fora. Se continuar assim, seu governo ―
que, além de curto, terá que lidar com graves tormentas que por ora apenas se
anunciam ― pode não acabar bem.
Na avaliação de Rodrigo
Constantino, o que vale em uma República é o império das leis, que devem se
aplicar a todos os cidadãos. Não importa quem cometeu o crime, e sim o
que foi feito. Se Lula é culpado
pelos crimes investigados, como tudo indica, então que pague logo por eles. A
demora em sua prisão levanta suspeitas, enfraquece a República em construção
que temos hoje no país. A crise institucional vem de não cumprir as
leis, independentemente de quem é seu alvo. Marcelo Odebrecht, um dos empresários mais ricos e poderosos do
Brasil, está preso há mais de ano, e isso foi bom para o país. Se Lula for preso, a mensagem também será positiva:
ninguém está acima da lei. Eis a marca de uma República que honra esse nome. O
que essa fala de Temer e o próprio
receio de crise institucional com a eventual prisão do deus pai da petelândia
demonstram é como o Brasil está longe de ser uma República. Talvez seja até uma
república
sindical ou, quem sabe, uma república
das bananas, mas não uma “república de verdade”.
É incontestável que
a Lava-Jato preocupa o governo. Mesmo que não seja atingido diretamente
pela “delação do fim do mundo” da Odebrecht, Temer será obrigado
a lidar com o incômodo de ver ministros e assessores do alto escalão envolvidos
nas denúncias, e por não ter respaldo popular, ele acaba refém do Congresso ―
comandado por por Renan Calheiros, que é alvo de 12 inquéritos no STF e está em via de se tornar réu em um deles,
o que pode implicar no seu afastamento do cargo e, consequentemente, da linha sucessória da presidência da Banânia
Observação: Vale relembrar que Temer não é um
presidente ilegítimo, ao contrário do que alegam os defensores
incondicionais de Dilma e da podridão lulopetista que veio antes dela e
continuou a campear solta em seu desditoso governo. Até porque quem votou na
anta petista também votou no peemedebista, que era vice na chapa pela qual
ambos se elegeram (tanto em 2010 quanto em 2014), e que corre sério risco de
ser cassada pelo TSE, coisa que, aí sim, resultaria numa instabilidade
para ninguém botar defeito.
Como bem salientou o Blog do Josias, sempre que uma
determinada decisão judicial irrita a cúpula do crime organizado, os chefões
ordenam, de dentro das cadeias, que seus asseclas promovam manifestações como
queima de ônibus e ataques a policiais. Nem por isso o Estado tem o direito de
se acovardar. Mal comparando, o caso de Lula
segue a mesma lógica. O que deve nortear a sentença é o conteúdo dos autos. Se
cometeu crimes, o Pajé do PT deve
ser condenado, e dependendo da dosagem da pena, sua hospedagem compulsória no
xadrez estará condicionada apenas à confirmação da sentença num julgamento de
segunda instância. Quem abriu mão de algumas horinhas de sono para assistir à
entrevista [ao Roda Viva] merecia
ouvir do presidente que não há movimento social ou instabilidade política que
justifique o aviltamento do princípio segundo o qual todos são iguais perante a
lei. No tempo em que era vice de Dilma,
ele se queixava de ser meramente figurativo. Agora que pode exercer em sua plenitude
o papel de protagonista, prefere morrer atropelado como um transeunte a entrar
na briga do lado certo. Aliás, os supostos protagonistas de 2018 o tratam como
uma espécie de interlúdio, cuja missão seria divertir o público enquanto o
elenco principal troca de roupa. Mas a palavra do presidente é o seu atestado. Ou
a plateia confia no que ele diz, ou se desespera.
A suspeita de que as boas intenções de Temer não passem de um disfarce de alguém que não tem condições de
se dissociar da banda podre leva ao ceticismo terminal. No desespero, um pedaço
minoritário da sociedade acreditou que o país estivesse de volta aos trilhos.
Houve mesmo quem enxergasse uma luz no fim do túnel. Mas entrevistas como a da
última segunda-feira revelam que talvez seja a luz da locomotiva da Lava-Jato vindo na contramão.
Resumo da Ópera: Temer declarou que tem medo da prisão
de Lula, e o aspecto mais paradoxal
dessa declaração é que, nas planilhas da Odebrecht,
seu codinome era justamente "Sem
Medo". O que é isso, Presidente?