Geddel Vieira Lima
caiu porque pressionou Marcelo Calero,
então ministro da Cultura, a derrubar o veto do Instituto do Patrimônio Histórico à construção de um prédio alto
demais em Salvador, próximo a bens tombados. Geddel, que comprou um apartamento no tal prédio, colocou Michel Temer, Eliseu Padilha e Grace
Mendonça para agir em seu benefício. Indignado com a pressão, Calero pediu demissão e saiu atirando.
Deu entrevista, foi à PF e, sabe-se, gravou diálogos nos quais foi
constrangido.
É um episódio de chanchada: o presidente da República, o
ministro-chefe da Casa Civil e a advogada-geral da União preocupados em
resolver, ao arrepio da lei e dos bons modos, uma questão imobiliária do, até
horas atrás, secretário de Governo.
A chanchada ainda não teve fim. A ordem é tentar
desmoralizar Marcelo Calero. “Não
sei por que esse rapaz agiu dessa forma”, disse Michel Temer. “Isso é inaceitável, é inédito na história do
Brasil”, afirmou Aécio Neves, sobre
o fato de Calero ter gravado os
diálogos indecorosos, em especial com o presidente da República. A esta altura,
devem estar vasculhando a vida do moço, a fim de encontrar algo que possa ser
vazado e, com isso, manchar a sua reputação.
Deixando de lado o direito que um cidadão tem de gravar
conversas das quais ele participa, mesmo sem a anuência dos seus
interlocutores, a atitude de Marcelo
Calero só é inadmissível a quem parece achar um direito natural submeter a
coisa pública a interesses privados.
Nos anos setenta, havia o cacique Juruna. Antes de se tornar o primeiro índio a eleger-se
deputado federal no país, ele usava gravador na sua luta pela demarcação de
terras das tribos. Registrava abertamente tudo o que as autoridades brancas lhe
diziam. Agora podemos gravar tudo por meio de um smartphone no bolso. Marcelo Calero é o novo Juruna.
Precisamos de mais índios nas nossas chanchadas.
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