NEM TODO RICO
TEM CARRO, NEM TODO RONCO É PIGARRO, NEM TODA TOSSE É CATARRO, NEM TODA MULHER
EU AGARRO
Impossível negar que a crise econômica tenha “esfriado”
os ânimos do consumidor, mas igualmente inegável é o fato de que o “Espírito
do Natal” venha perdendo o brilho a cada ano que passa. Até o comércio, que
é o grande beneficiário do “consumismo natalino”, não vem investindo como antes
em decoração. Com a possível exceção dos shopping centers, hipermercados e
grandes magazines, já não se veem lojas enfeitadas com guirlandas, papais-noéis
e fieiras de luzinhas coloridas. Quando muito, uma arvorezinha anã ao lado do
caixa ― e a tradicional caixa de sapatos embrulhada em papel laminado, onde a
distinta clientela é convidada a deixar uma “caixinha” para os funcionários ―,
e olhe lá.
Nas residências, o fiasco se repete: até
recentemente, bastava chegar novembro para brotarem varandas decoradas com a
tradicionais luzinhas piscantes. Uma aqui, outra ali, elas iam aumentando ao
longo do mês, e atingiam o ápice em meados de dezembro. Hoje, apartamentos enfeitados
são a exceção, não a regra, e contam-se nos dedos os que deixam as luzinhas
piscando durante toda a noite.
Na Avenida Paulista ― tradicional
“cartão postal” de Sampa ―, não há guirlandas nem iluminação nos postes ao
longo do canteiro central. As árvores do Parque Trianon, alegremente
iluminadas nos anos anteriores, estão um breu só. A prefeitura não repassou um
centavo sequer para ser gasto com decoração natalina pela SPTuris, que
tentou preencher a lacuna com dinheiro de patrocinadores, mas só conseguiu
emplacar a árvore de Natal do Parque do Ibirapuera, com patrocínio da
Coca-Cola. Tirando o Conjunto Nacional ― que colocou mandalas de
material reciclado na fachada e montou um presépio parcialmente reaproveitado
do ano passado ― e o Shopping Center 3, do outro lado da avenida ― que
chama a atenção pela árvore de Natal de 10 metros de altura ―, quase ninguém
mais se animou a investir. Nem o Bradesco ou o BankBoston, cuja
exuberância da decoração natalina já foi de parar o trânsito (literalmente).
Com isso, meus caros, o tradicional presente
de Natal virou lembrancinha, e as indefectíveis lembrancinhas
viraram cartões de Natal ― e virtuais, para evitar despesas com selo de
correio. Mas sempre sobra alguém a quem a gente quer presentear “comme il faut”, mesmo que isso
signifique recorrer ao limite do cheque especial ou do cartão de crédito ― e
amargar juros de quase 500% ao ano! Para essas pessoas “especiais” ― ou para
nós mesmos, por que não? ―, seguem algumas sugestões de presentes interessantes:
― Sua namorada sonha com uma bolsa de grife,
mas você não pode bancar um modelito Louis Vuitton ― como a que ilustra
esta postagem e custa inacreditáveis US$ 55 mil! (não me pergunte
quantos HPs ela tem ou quantos idiomas fala para justifica esse preço absurdo ―
a Farm oferece um modelo de palha (vide imagem à direita),
ideal para usar no clima descontraído das férias de verão, que sai por módicos R$
600. Mas vale lembrar que, com esse mesmo valor, você pode comprar óculos
de sol da tradicional marca Ray-ban, por exemplo, que continuam sendo um
must, e não só no verão.
― Se você é “ela” e o presente é para “ele”,
e se esse “ele” gosta de surfar, a prancha Malibu está de bom tamanho (R$ 3,8 mil). Vale
lembrar também que, com esse mesmo valor, você compra um Acer Aspire E5-574-78LR, com tela
de 15.6", processador Intel Core i7 6500U, 8GB de memória (RAM), SSD de
480GB e Windows 10.
― Seu amado aprecia boa vodka? Então a Beluga Gold Line ― feita com
água de poço artesiano e filtrada 5 vezes ― vai agradar (R$ 1,5 mil).
Já para quem prefere um bom vinho, o Silencio, eleito o melhor
cabernet sauvignon do Chile pelo guia Descorchados 2016, sai mais em
conta: R$ 1,1 mil. E se o amado (ou amada) não abre mão de um excelente scotch, a
edição limitada (LSTN Sound Co.) do Chivas Regal 12 anos ― que reverte parte da renda para
uma fundação que ajuda deficientes auditivos ― custa apenas R$ 162.
― A donzela curte acessórios de grife? Então
a caneta-tinteiro Montblanc Great Characters é
sopa no mel (R$ 17,8 mil). Mas você pode economizar R$ 2,5 mil se
comprar para ela um relógio de pulso Seleto, da consagrada marca Baume & Mercier,
que tem pulseira de couro preta, calendário duplo e cronógrafo. E se for para
você, nada melhor do que o melhor: O novo Oyster Perpetual Explorer, da Rolex,
está realmente de babar, e custa só R$ 24,8 mil. Achou caro? Então saiba
que um Rolex 6100 “Caravelle” Oyster Perpetual em ouro amarelo de
18 quilates ― modelo que teve a sua primeira
criação em 1952 ― foi vendido em 2009 por €43.905,30 em um leilão no Antiquorum.
Resolvida a questão do presente, é hora de
escolher o champanhe para o brinde. E se um Magnun Moet Imperial Golden (1,5l)
lhe parece caro demais (R$ 800) ― o mesmo preço de um notebook Positivo
Stilo One (XC3550) ―, a PROTESTE testou dezenas de espumantes
nacionais (vale lembrar que só podemos chamar de champanhe a bebida produzida
na região francesa de mesmo nome) e escolheu o Cave de Amadeu Brut como o
melhor do teste ― ele sai por menos de R$ 50 ― e o Saint Germain Brut como a “escolha
certa” (até porque tem qualidade equivalente e pode ser encontrado por menos de
R$ 20).
Confira mais detalhes sobre espumantes na minha comunidade de gastronomia e minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/.
CADÊ MEU BAGULHO?
CADÊ MEU BAGULHO?
Por duas vezes numa semana já marcada pelo choque das delações da Odebrecht sobre vestais do Executivo, as togas do STF rodaram como as baianas na Sapucaí e, como estas, atraíram todos os holofotes. Em ambas, as coincidências foram muitas; e deverão crescer, diante da enorme possibilidade de destino comum após a apreciação do mérito da última delas pelo plenário da Corte.
As polêmicas liminares dos ministros Marco Aurélio Mello e Luiz Fux foram idênticas na forma (decisões monocráticas), na dimensão (impondo-se a outro Poder), no apoio popular (quem de boa índole não quer Renan no ostracismo e a implementação das Dez Medidas Contra a Corrupção?), na repercussão política (a tal “crise institucional” vem sendo comparada ao fim do mundo) e no impacto sobre a Corte (obrigada a malabarismos oratórios para fazer crer que legal e justo são valores idênticos).
Outros eventos provam a natureza univitelina dos episódios. Por exemplo: o ministro Gilmar Mendes, que fora dos autos padece de incontinência verbal mais própria a salões de beleza, atacou pela imprensa de forma pouco protocolar, para dizer o mínimo, as decisões daqueles seus pares na Corte. A Mello, chamou de maluco; a Fux, de surtado. Não, não… me desculpem. Não foram essas suas palavras exatas. Mas, em se tratando do referido autor e de tal estilo, certamente Sua Excelência não se ofenderá com a livre interpretação das críticas que, de público, quis fazer.
Mas a mais significativa identidade entre os dois casos se dará no seu destino: ambos resultarão em nada. Vejam só: no primeiro evento, Renan deixou a linha sucessória do Planalto, como se a hipótese de sua unção à cadeira de Temer, noves fora salamaleques, figurasse no horizonte real do país. Na mesma “sentença”, reforçando a profusão de bolhas de sabão, o imbatível cacique alagoano foi solenemente mantido no comando do Congresso – mas por efêmera quinzena, já que seu mandato na função expira antes do Natal.
No segundo evento, mesmo que não seja cassada, a liminar de Fux devolveu à origem projeto que a Câmara já havia votado e sacramentado. Ora, recebendo de volta o filho feio, bastará aos deputados, caso desejem, engavetar a matéria por milênios, deixando que, como tantas outras, morra de mofo. Enfim, há algo de alucinógeno em todo esse carnaval das mais altas autoridades do país. O chato é perceber que a onda deve ser boa, pois duradoura, mas inacessível aos mortais que pagam pela festa.
Com Ricardo Boechat em IstoÉ #2454