Concebida para financiar a etapa mineira da caravana dos
pecadores sem remédio, a vaquinha em louvor de Lula foi um portentoso fiasco: arrecadou pouco mais que 36 mil
reais ― uma quantia bisonha para quem, há três, anos embolsava meio milhão pelo
que chamava de “palestra” (codinome da discurseira que, durante uma hora,
louvava o palestrante por ter acabado com a pobreza que continua por aí).
Se a Lava-Jato secou as cataratas de donativos
multimilionários alimentadas por empresários amigos, se nem os devotos
irredutíveis da seita da missa negra conseguem bancar uma procissão tão
mequetrefe, onde o corrupto condenado arranjará verbas para a manutenção do Instituto Lula e dos apartamentos que
ganhou de presente?
Confrontado com as sombras do futuro, é compreensível que o
palanque ambulante saia zanzando pelo Brasil ao som da lira do delírio. Neste
fim de semana, por exemplo, o ex-presidente que já incorporou Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, Abraham Lincoln, Nelson
Mandela, Tiradentes e Jesus Cristo apresentou-se em Belo
Horizonte como uma reencarnação piorada do Bom
Ladrão, e, num único palavrório, perdoou o atual governo pelos estragos
feitos por Lula e Dilma, cobrou provas da existência do
Petrolão que chefiou, prometeu enquadrar a imprensa para restaurar a democracia
já restaurada e garantiu que tanto ele quanto Marisa Letícia não nasceram para roubar (dispensou-se de explicar
se foi no dia do casamento ou na festa de posse no Planalto que decidiram
atirar ao lixo a virtuosa marca de nascença).
Se o dinheiro continuar sumido e os surtos retóricos
continuarem flutuando na estratosfera, Lula
ainda vai declarar-se muito agradecido a Sérgio
Moro por ter decidido hospedá-lo de graça em Curitiba (o demiurgo
incorrigível bem que anda precisando de descanso).
Com Augusto Nunes