quinta-feira, 31 de maio de 2018

CAMINHONEIROS ― NO FIM TUDO DÁ CERTO, MAS AINDA NÃO CHEGOU NO FIM



 A paralisação dos caminhoneiros completou dez dias nesta quarta-feira, véspera do feriadão de Corpus Christi. Na tarde anterior, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos afirmou em nota que a greve foi “extraordinária”, mas que começava a sofrer um desgaste desnecessário, dado que a pauta de reivindicações fora plenamente atendida. Assim, a retomada do abastecimento e a redução dos pontos de bloqueio vêm ocorrendo de maneira gradual, embora já se vislumbre no horizonte uma paralisação dos petroleiros, que o Tribunal Superior do Trabalho já classificou como ilegal ― e estipulou multa diária de 500.000 reais em caso de descumprimento da decisão.

É preocupante o fato de a greve ter paralisado o país. Claro que contribuíram para isso a insatisfação popular com um governo flibusteiro e desmoralizado, que houve infiltrados tirando a castanha com a mão do gato, que a “comissão de gerenciamento de crise” tenha sido inepta nas negociações, enfim... Mas isso nos leva a imaginar o que devemos esperar das próximas eleições: como se já não bastasse um criminoso condenado liderar as pesquisas de intenção de voto para a presidência da Banânia, Dilma e Aécio são os candidatos mais cotados para o Senado no segundo maior colégio eleitoral do país ― e como são duas as cadeiras a preencher, há espaço para os dois.

A greve dos caminhoneiros foi uma bomba de efeito retardado. Sua construção teve início ainda em 2008, quando o criminoso de Garanhuns resolveu estimular a economia oferecendo juros baixíssimos aos compradores de caminhões. Só que a frota cresceu 40% nos últimos 10 anos, e a economia, 11% no mesmo período. Resultado: o excesso de caminhões derrubou o valor dos fretes.

Mais adiante, a anta vermelha represou artificialmente o preço dos combustíveis ― medida que, combinada com os efeitos nefastos do Petrolão, levou a Petrobras à bancarrota. Aliás, justamente quando a estatal se recuperava desse malogro monumental, as negociações do governo para pôr fim à paralisação fez com que a estatal perdesse mais de 100 bilhões de reais em valor de mercado.

A bomba explodiu no colo de Michel Temer, que encarregou Pedro Parente de reverter os monstruosos prejuízos advindos das más gestões anteriores. E como uma das medidas saneadoras do novo presidente da Petrobras foi precificar os combustíveis fósseis de acordo com a variação do preço do petróleo no mercado internacional, o diesel aumentou de três em três dias durante o último ano, perfazendo uma elevação de 30% ― contra uma inflação oficial de míseros 2%. 

Diesel caro e frete barato sufocaram os caminhoneiros, mas o governo só se sensibilizou com o problema depois que a categoria paralisou o país. Culpar a Petrobras pelo valor alto cobrado nas bombas é ignorar a existência dos outros fatores, como os impostos, que representam dois terços do preço da gasolina e metade do preço do diesel. E baixar impostos, só sob pressão.

Resumo da ópera: Um presidente assessorado por Moreira Franco, Eunício Oliveira e Carlos Marun não pode saber o que fazer. O problema é que os caminhoneiros também não têm líderes. E se os dois lados não têm líderes, como chegar a um acordo? 

Josias de Souza, repórter respeitado, diz que um auxiliar de Temer, em conversa telefônica com um congressista, disse na última segunda-feira que o presidente tem dado sinais de desânimo. O principal troféu de Temer é a recuperação da economia ― que, convenhamos, já não era grande coisa, mas, com os atuais problemas, a previsão de crescimento deve ser revista para baixo. E Temer tem outro problema com que se preocupar: quando deixar o Planalto, será alvo de diversos inquéritos e estará sujeito aos juízes de primeira instância. 

Visite minhas comunidades na Rede .Link: