O cenário é desolador: de um lado, o testa-de-ferro do
presidiário de Garanhuns se metamorfoseia no próprio para beber de sua escandalosa
popularidade; do outro, um extremado de direita, campeão tanto em intenções de
voto quanto em rejeição, parece ter garantido um lugar no segundo turno (sabe Deus
contra que ele disputará então). É nesse clima de amor e ódio que as eleições
batem à porta — faltam menos de 20 dias para o primeiro turno.
O atentado contra a vida do Capitão Caverna demonstra
claramente a que ponto chegou a intolerância dos brasileiros, que parecem achar
a violência uma alternativa “natural” na solução dos conflitos políticos. O
candidato do PSL, por sua vez, bota mais lenha na fogueira, dizendo, dentre outras
bobagens, que “é necessário metralhar a petralhada, fuzilar uns 30 mil, a começar pelo
ex-presidente FHC”. Não vou fazer
aqui um juízo de valor, mas apenas ponderar que tanta truculência pega mal, sobretudo
vinda de alguém que postula a presidência desta Banânia.
Haddad e o PT apostam na memória curta do povão,
requentando, em seus discursos de campanha, os “bons tempos do governo Lula”, mas se esquecendo, muito
convenientemente, que Dilma quase
quebrou o Brasil — e só não quebrou porque foi apeada do cargo antes de
terminar sua obra. Curiosamente, numa entrevista concedida ontem ao G1, o "laranjão" passou a negar que, se eleito, concederia um indulto presidencial ao comandante da ORCRIM (veja aqui).
Dos demais postulantes ao Planalto, Ciro, Marina e Alckmin fazem de tudo para granjear votos entre os indecisos. O tucano, insípido a mais não poder (daí seu apelido de “picolé de chuchu”), acreditava — ou dizia acreditar — que sua campanha decolaria com a propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na TV. Não foi o que aconteceu, e agora, bombardeado até mesmo por colegas de partido, trabalha com uma nova data para o “arranque”: 20 de setembro. E, dizem, torce para que Haddad cresça ainda mais nas pesquisas, apostando que o medo do PT (e de Bolsonaro não ser capaz de vencer o laranja do presidiário) levará o levará [Alckmin] ao segundo turno. Resta combinar com os eleitores.
Voltando aos líderes das pesquisas: Merval Pereira lembrou em sua coluna da última terça-feira que os
fantasmas de Lula e Bolsonaro assombram o segmento
razoavelmente esclarecido da população. Fantasmas, diz ele, porque, ainda que
por razões diferentes, ambos estão afastados da campanha; o primeiro por estar
cumprindo pena, o segundo por estar num leito da unidade de tratamento
semi-intensivo do Hospital Albert Einstein, sem previsão de alta e muito menos
de voltar às atividades de campanha. Pondera ainda o jornalista que um fantasma
da história recente deste país, que foi a
escolha dos vices, aterroriza ainda mais os cidadãos de bem: supondo Bolsonaro fosse eleito e não estivesse
em condições de assumir a presidência em janeiro, quem governaria seria o polêmico
General Mourão, que fala de
autogolpe como se falasse que vai ali na esquina e já volta.
Seria uma repetição como farsa da tragédia de Tancredo. E o que dizer de Haddad, que tem como vice a Manuela d’Ávila, política inexperiente
do radical PCdoB? Outros fantasmas
assombram, como a possibilidade de um autogolpe, seja por parte de Bolsonaro, que já tem militares da
reserva defendendo abertamente a intervenção “em caso de caos”, seja por
parte do PT, cujos dirigentes já
anunciam que a prioridade é inocentar Lula,
mas não através de recursos ao Judiciário, e sim pela iniciativa do novo
presidente de indultá-lo, o que seria um golpe contra o Estado de Direito. Não
à toa os dois falam em golpe. Primeiro foi o PT, que dizia que “eleição sem Lula
é golpe”. Agora é Bolsonaro, que põe
em dúvida a lisura do pleito, sugerindo que as urnas eletrônicas não são
confiáveis. Triste Brasil!
Para concluir, segue um texto (brilhante como sempre) do
jornalista J.R. Guzzo:
O cidadão é alarmado,
de cinco em cinco minutos, por bulas de advertência que afirmam que a eleição,
a democracia e a Constituição estão sendo ameaçadas. Mas, por trás das notas
oficiais e das outras mentiras prontas que são normalmente utilizadas para
enganar o brasileiro comum, quem está realmente querendo destruir as eleições
de outubro? Uma coisa é certa, segundo se pode verificar pelos fatos à vista do
público: não são os generais do Exército, sejam eles da reserva ou da ativa, ou
os oficiais de quaisquer das três Armas. A turma que quer virar a mesa, hoje, está
exatamente do outro lado. Eles gritam “cuidado com o golpe”, com a “pregação do
ódio”, com o “discurso totalitário” etc. etc. Mas parecem cada vez mais com o
batedor de carteira que, para disfarçar o que fez, sai gritando “pega ladrão”.
É impossível cometer
uma violência tão espetacular numa campanha eleitoral quanto a tentativa de
assassinato praticada contra o candidato Bolsonaro
— mais que isso, só matando. O homem perdeu quase metade do sangue depois que a
faca do criminoso rasgou seus intestinos, o cólon e artérias vitais. Sofreu
cirurgia extensa, demorada e altamente arriscada — e passará por outras. Só
está vivo por um capricho da fortuna, mas foi posto para fora da campanha
eleitoral justamente no momento mais decisivo. Poderia haver alguma agressão
maior ou pior do que essa contra um candidato? É claro que não.
O fato é que a
tentativa de homicídio, cometida por um cidadão que foi militante durante sete
anos da extrema esquerda, como membro do PSOL,
desarrumou todo o programa contra a boa ordem da eleição presidencial. O
roteiro, desde sempre, prevê que a esquerda fique no papel de vítima e Lula no de mártir, “proibido” de se
candidatar e “perseguido” pela Justiça. Deu o contrário: a vítima acabou sendo
justamente quem estava escalado para o papel de carrasco.
A opção da esquerda
para enfrentar a nova realidade parece estar sendo “dobrar a meta”. Nada
representa com tanta clareza essa radicalização quanto o esforço para fazer com
que as pessoas acreditem que a tentativa de matar Bolsonaro foi apenas um incidente de campanha, “um atentado a
mais”, coisa de um doidão que podia fazer o mesmo com “qualquer um” — na
verdade uma coisa até natural, diante da “pregação da violência” na campanha.
Ninguém foi tão longe nessa trilha quanto a responsável por uma “Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão”, repartição pública que você sustenta na
Procuradoria-Geral da República. Depois de demorar quatro dias inteiros para
abrir a boca sobre o crime, a procuradora Deborah
Duprat soltou uma nota encampando a história de que houve “mais um ataque”.
E quais foram os outros? Segundo a procuradora, o “tiro” que teria sido
disparado meses atrás na lataria inferior de um ônibus no qual Lula circulava tentando fazer campanha
no Paraná, escorraçado de um lado para outro pelos paranaenses.
Que tiro foi esse?
Tudo o que se tem até agora a respeito, em termos de provas materiais, é um
buraco na carroceria do ônibus — não há arma, não há autor, não há testemunha,
não há nada. Mas a procuradora acha que isso é a mesma coisa que a agressão que
quase matou Jair Bolsonaro. Acha
também que a história se “conecta” com o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco — vítima,
possivelmente, de um acerto de contas entre criminosos. Enfim, joga a culpa da
facada no próprio Bolsonaro, por
elogiar “o passado ditatorial” do Brasil e ser contra as “políticas de
direitos humanos”. Não chega nem a ser uma boa mentira — é apenas má-fé, como a
“ordem da ONU” para o Brasil deixar Lula ser candidato, ressuscitada mais
uma vez.
Se há um país que está
em dia com as suas obrigações junto à ONU,
esse país é o Brasil. Acaba de cumprir, entre 2004 e 2017, treze anos de missão
de paz no Haiti, em que participaram 38 000 militares brasileiros — dos quais
25 morreram. Seu desempenho foi aplaudido como exemplar; não houve um único
caso de violência ou desrespeito aos direitos humanos de ninguém, do começo ao
fim da operação. Mas o Complexo
Lula-PT-esquerda prega que o Brasil é um país “fora da lei” internacional,
por não obedecer a dois consultores de um comitê da ONU que decidiram anular a Lei da Ficha-Limpa. Estão, realmente,
apostando tudo na desordem.
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