CARPE DIEM, QUAM MINIMUM
CREDULA POSTERO
Sobre o debate promovido pela Globo na noite de ontem, prefiro não
comentar. Debate envolve projetos, e o que os “presidenciáveis” discutiram não passou nem
perto disso. A quem interessar possa, a Lupa acompanhou o encontro, conferindo em tempo real
as frases ditas pelos participantes. Os resultados foram publicadas no Twitter, em @agencialupa.
“Quando eu
assumir a Presidência, a primeira semana será de cara a semana da adoração.
Vamos adorar a Deus. No oitavo dia vai ter uma auditoria pública, e os mais de
14 milhões de desempregados da nação vão ser abraçados pelo presidente da
República. Assim como outras nações, nós temos problemas na nossa, com saúde,
educação, segurança, infraestrutura, transporte. Mas isso tudo é simples de ser
resolvido”. Palavras do candidato Cabo Daciolo, que deveria
aparecer em público vestindo uma elegante camisa-de-força verde-amarela, para
mostrar que, além dos presidiários, também há doidos de pedra disputando a
presidência da Banânia.
Imaginava-se a princípio que o processo eleitoral solucionaria
a mais grave crise política da história republicana do país, mas tudo indica
que as mudanças no Legislativo serão
meramente nominais, e os parlamentares continuarão priorizando seus interesses
nada republicanos em detrimento dos interesses nacionais.
No âmbito do Executivo,
o cenário é ainda mais desolador. Por incompetência (ou conivência) da Justiça,
Lula transformou sua cela em comitê
de campanha, onde recebe emissários dia sim outro também e de onde manipula a sucessão presidencial e comanda o PT
— nada muito diferente do que fazem os chefões do PCC, Comando Vermelho e outras fações do crime organizado, de suas celas nos presídios de segurança máxima. Já a direita liberal, sem um candidato para
chamar de seu, orbita a extrema direita, cuja proposta de governo se resume ao tal
Posto Ipiranga.
No Judiciário, ministros
supremos se dividem em garantistas e punitivistas e desautorizam-se uns aos
outros, desrespeitando a jurisprudência nas decisões monocráticas e promovendo
bate-bocas e guerras de liminares. Veja o caso do guerrilheiro de araque José Dirceu, que perambula pelo país a
pretexto de divulgar o livro de memórias que escreveu na prisão — de onde saiu
pela porta da frente graças a um habeas
corpus concedido pela 2ª Turma do Supremo,
do qual fazia parte o atual presidente da Corte.
Como bem salientou José
Nêumanne em artigo publicado no Estadão,
além de votar a favor da soltura do guerrilheiro de festim, Toffoli passou um “pito” no juiz Sérgio Moro, que quis impor o uso de
uma tornozeleira ao condenado. Em qualquer vara mequetrefe da zona do baixo
meretrício, o habeas corpus não poderia ter sido assinado, pois à Justiça
deveria importar a “suspeição” pelo fato de o ministro supremo ter sido funcionário
do réu na época em que advogou para o PT.
Mas no Brasil o Direito Romano e suas filigranas, tais como a igualdade de
todos perante a lei, só têm valor quando exercidos contra desafetos e inimigos
jurados.
O fato é que a soltura de Dirceu foi orquestrada por Toffoli
e apoiada automática e entusiasticamente por seus companheiros do “trio Solta
Gatuno”. Assim, o criminoso que fundou, dirigiu, comandou e unificou o PT em torno do presidiário de Curitiba vem
gozando das delícias do sol da zona cacaueira e outros locais aprazíveis. Recentemente,
em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, perguntado
sobre a possibilidade de o PT ganhar
as eleições e “não levar” por causa da oposição da direita, o Dirceu saiu-se com a seguinte pérola:
“Acho improvável que o Brasil caminhe para um desastre total. Na comunidade
internacional isso não vai ser aceito. E dentro do país é uma questão de tempo
pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar
uma eleição”.
Ainda em seu périplo pelo país para lançar lembranças de
atos heroicos e amantes inesquecíveis, o petralha disparou contra os
procuradores federais que o denunciaram. Disse, literalmente, que “o Supremo, em 2016, deu poder de
investigação ao Ministério Público.
Qual é o resultado? Agora há investigações sigilosas. Inclusive o ministro Gilmar Mendes tem criticado isso. Tem
que tirar o poder de investigação do MPF,
que é só para acusar, mas virou uma polícia política sem controle nenhum. E
mais: uma corporação com os maiores privilégios do Brasil”.
Tal mistura de alhos com bugalhos não pode ser tratada
apenas como queixa de um réu pilhado em delito na tentativa de desqualificar
seus acusadores. Ela representa os lamentos comuns de outros chefões de
organizações criminosas que dilapidaram e dilapidam o Erário em nome de
benemerências a desassistidos e de justiça social, enriquecendo pessoal e ilicitamente
e enchendo as burras de suas legendas com dinheiro furtado do povo. E não
flagra apenas o exercício do célebre jus sperniandi — expressão
jocosa, em falso latim vulgar, que significa “direito de espernear” —, mas
traduz a disposição de poderosos mandatários nos três Poderes de garantir a
impunidade a si mesmos e à própria grei, além de prejudicar e, se possível,
apenar os agentes do Estado que tenham investigado e processado seus delitos
contra o patrimônio do cidadão.
Quando a entrevista ao El País foi
publicada, a primeira lembrança que veio à mente de qualquer brasileiro com
mais de 60 anos foi a da frase atribuída a Luiz
Carlos Prestes, em 1963, época em que era secretário-geral do Partido
Comunista Brasileiro. Sob João Goulart,
os comunistas ocupavam cargos importantes no governo federal, mas não se
consideravam ainda suficientemente poderosos. A constatação foi expressa pelo
“cavaleiro da esperança” (apud Jorge
Amado) na sentença: “Estamos no governo, mas ainda não estamos no poder”. O
uso da expressão autoritária “tomar o poder” aproxima a frase de Dirceu da de Prestes, que, como os livros de história registram, deu com os
burros n’água: um ano depois, os militares derrubaram o governo constitucional
de Jango e o PCB, com Prestes, teve de se esconder na
clandestinidade.
Hoje, as condições para uma ruptura institucional desse
gênero parecem distantes. E o próprio pretendente a profeta o reconhece na
entrevista. No entanto, na crítica feita ao MPF, Dirceu foi menos
candidato a Cassandra do apocalipse
e mais cronista de uma situação que ele, como factótum de Lula no partido e no governo, domina como participante do “acordão”
que, sem dúvida, está sendo urdido para influenciar de forma direta a disputa
eleitoral de vários cargos poderosos na política, principalmente o mais alto de
todos.
Ao site piauiense AZ, Dirceu
misturou o trabalho de investigação da polícia e de denúncia do MPF e o comparou aos processos de
perseguição aos adversários de Estado e do regime executados pelos órgãos
repressivos de ditaduras como as de Adolf
Hitler, seu herói Josef Stalin e
seu ídolo Fidel Castro. No site 180,
também do Piauí governado por um petista, Wellington
Dias, ele acionou sua metralhadora giratória contra o STF, do qual disse que um governo petista reduzirá os poderes,
mudando até o nome, que passaria de Supremo para “Corte de Justiça”. Nem os
amigos protetores escaparam de suas rajadas erráticas.
Na verdade, o Supremo
jamais deu permissão ao MPF para
conduzir investigações criminais. Os procuradores até pressionam a Corte a
reconhecer que quem pode o mais pode o menos, mas a pressão tem sido rechaçada
pela PF, e nada de novo foi dado. A
militância de Dirceu é contra a
delação premiada, incorporada à Justiça brasileira por leis assinadas por FHC e, mais adiante, por Dilma Rousseff. Sem esse instrumento,
dificilmente a Lava-Jato e seus
filhotes teriam produzido os feitos de que se orgulham e que tanto agradam à
sociedade cansada da impunidade.
As críticas tornam-se confissões e o hábil perito dos lances
magistrais do PT é equiparado a sua
sucessora na chefia da Casa Civil, cuja inabilidade é notória. Como a nota
oficial em que Dilma, tentando se defender,
confessou sua participação na decisão que levou à compra da onerosa da
refinaria da Astra Oil, em Pasadena, que foi considerada sincericídio de rara
estultice, as declarações de Dirceu
revelam que ele está trilhando a mesma vereda. Seu “sincericídio” preocupa
muito a “companheirada”, conforme publicou Vera
Magalhães no BR18, pois o PT
acha que seu “bucho furado” pode tirar votos de quem não quer Bolsonaro, mas hesita em votar em Luladdad. Aliás, quem, na situação
descrita, cair nas torpes fantasias do “guerrilheiro” da Odebrecht não poderá mais dizer que não foi avisado.
Pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta
semana apontaram claramente que o ritmo de crescimento do alter ego do demiurgo de Garanhuns decaiu, enquanto o de seu oponente de extrema direita subiu, até mesmo no nordeste (tradicional reduto eleitoral do lulopetismo) e entre o eleitorado feminino (onde a rejeição ao capitão é maior). Vejamos o que Merval Pereira tem a nos dizer sobre essa questão:
O fato é que os números do Ibope e do Datafolha botaram água no chope da petralhada, a despeito de a revista Veja ter publicado uma extensa matéria de capa sobre o divórcio litigioso de Bolsonaro, e das manifestações com o mote #Elenão ocorridas no domingo passado. Enquanto isso, a transferência de votos do prisioneiro de Curitiba para sua marionete pode ter chegado ao limite.
Bolsonaro declarou que “falta muito pouco” para ele vencer a disputa já no primeiro turno. Conforme os últimos números do Ibope, ele tem 32% do total das intenções de voto na disputa, que passa a 38% considerando apenas os votos válidos — para ganhar no primeiro turno, um candidato deve receber mais da metade dos votos válidos, isto é, descontados os votos brancos e nulos. O segundo colocado é Luladdad, que aparece com 23% da preferência total e 28% dos votos válidos.
A grande dúvida é como os adversários que estão virtualmente fora do páreo vão se comportar. Ciro Gomes vem sendo cada vez mais crítico ao PT e, vez por outra, se despe da estratégia de paz e amor. Marina, que já bebeu do mesmo pote do PT, também vem tentando desconstruir seus ex-aliados e igualá-los à campanha de Bolsonaro. O Centrão, antes trunfo de Alckmin, caminha célere para a dispersão, e a história mostra que, mesmo dispersos, os políticos desse bloco tendem a ser atraídos pelo polo em crescimento maior. A conferir.
E FALANDO EM PESQUISAS:
Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e
são tão variadas que o PT não sabe para
onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente
anunciando que o PT não apenas
ganharia a eleição, mas tomaria o poder. Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci, teve sua delação
premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em
que esteve no poder. A confirmação de que Lula
era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo
financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um
partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder,
encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.
A passeata #Elenão
acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma
crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro.
Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres, e nas redes sociais, está
explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless,
para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam
mais educadas e respeitadoras.
Como o candidato oficial do PT, Luladdad, não existe
por si só — e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula ao consultá-lo pessoalmente toda
semana —, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas, nem pelo
aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos
20%. Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a
outra, levando o candidato do PT a
estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro
eleições presidenciais. O marco de 25% a 30%, insuficiente para vencer, só
ampliado quando Lula foi para o centro,
abandonando os radicalismos das propostas partidárias.
Disputas internas no PT
sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das
campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto (...) e
à medida que a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente vai sendo
revelada e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição,
alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula, ou, dizendo obedecê-las, criam
situações de constrangimento para Haddad.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann,
diz que fazer acordos para o segundo turno e amenizar o tom na campanha seria
trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente e dá margem ao crescimento dos
adversários.
O fato é que os números do Ibope e do Datafolha botaram água no chope da petralhada, a despeito de a revista Veja ter publicado uma extensa matéria de capa sobre o divórcio litigioso de Bolsonaro, e das manifestações com o mote #Elenão ocorridas no domingo passado. Enquanto isso, a transferência de votos do prisioneiro de Curitiba para sua marionete pode ter chegado ao limite.
Bolsonaro declarou que “falta muito pouco” para ele vencer a disputa já no primeiro turno. Conforme os últimos números do Ibope, ele tem 32% do total das intenções de voto na disputa, que passa a 38% considerando apenas os votos válidos — para ganhar no primeiro turno, um candidato deve receber mais da metade dos votos válidos, isto é, descontados os votos brancos e nulos. O segundo colocado é Luladdad, que aparece com 23% da preferência total e 28% dos votos válidos.
A grande dúvida é como os adversários que estão virtualmente fora do páreo vão se comportar. Ciro Gomes vem sendo cada vez mais crítico ao PT e, vez por outra, se despe da estratégia de paz e amor. Marina, que já bebeu do mesmo pote do PT, também vem tentando desconstruir seus ex-aliados e igualá-los à campanha de Bolsonaro. O Centrão, antes trunfo de Alckmin, caminha célere para a dispersão, e a história mostra que, mesmo dispersos, os políticos desse bloco tendem a ser atraídos pelo polo em crescimento maior. A conferir.
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