Gleisi Hoffmann, a abilolada, viajou
à Venezuela para prestigiar a posse de Nicolás
Maduro, reeleito em maio do ano passado num pleito boicotado pela oposição, com alta abstenção e denúncias de fraude, sem mencionar que o novo mandato do tiranete não
é reconhecido pela Assembleia Nacional e por dezenas de países. Para a presidente nacional do PT, porém, o
venezuelano foi eleito dentro do marco constitucional. À imprensa, ela disse que “não entraria no mérito” sobre a
ditadura instalada naquele país, e que compareceu à posse para "marcar posição contra grosseira relação do
governo Bolsonaro com a Venezuela".
Relembro que o PT e seus satélites não compareceram à
cerimônia de posse de Jair Bolsonaro. Gleisi alegou que a "lisura" do processo eleitoral deste ano foi "descaracterizada pelo golpe do impeachment,
pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação
criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando
Haddad", deixando claro que só reconhece a legitimidade de uma eleição
quando o vitorioso teve o apoio do partido chefiado por um presidiário. O PSOL, através de comunicado assinado por
sua executiva nacional, informou que os parlamentares da sigla não compareceriam
à solenidade de Bolsonaro porque
"não havia nada a comemorar". Eis aí a mentalidade da esquerda brasileira.
Mudando de pato pra ganso, Dias Toffoli revogou a decisão monocrática do ministro Marco
Aurélio e manteve o voto secreto na eleição da mesa diretora do Senado — a
exemplo do que havia feito antes em relação à da presidência da Câmara. Para quem não leu minha postagem da última sexta-feira, isso foi sopa no mel para Renan
Calheiros, que é um exemplo pronto e acabado de tudo o que não presta na
política tupiniquim e estava propenso a
renunciar à candidatura no caso de o voto secreto não ser mantido, dada a
possibilidade de seus pares não votarem abertamente nele. Quando mais não seja, porque o cara já foi alvo de 18 inquéritos no STF
(9 deles arquivados), é “arroz de festa” em delações premiadas da Lava-Jato e exibe um currículo recheado de casos suspeitos. Eis aí um resumo da velha política, que boa parte do Congresso continua defendendo.
“Já tentaram me matar
muitas vezes, mas eu não sou morredor”, costuma dizer o cangaceiro das Alagoas. Relembrando: em 1989, Renan articulou a eleição de Collor a presidente e no ano seguinte rompeu com o governo e chegou a
depor contra o caçador de marajás fajuto na CPI que investigou o esquema PC Farias. Em 2002, o nobre senador apostou em José Serra contra Lula, mas acabou apoiando a adesão do então PMDB ao governo petista, acumulando poder para se eleger presidente
do Senado em 2005. Renan foi um aliado do PT
até a véspera do impeachment de Dilma,
quando pulou para o barco de Michel
Temer — com quem romperia no ano seguinte para se aliar ao PT em prol de sua reeleição nas Alagoas, estado
afinado com o lulismo. Passada a campanha, o camaleão do nordeste reatou com Temer e agora tenta se
realinhar ao novo eixo de poder para se aproximar de Bolsonaro.
“O sentimento do MDB
é de ajudar o governo e fazer as mudanças de que o país precisa. Eu só posso
ser produto da indicação da minha bancada se concordar com isso”, diz o sanfoneiro sem sanfona, que passou a usar as redes sociais para se adaptar aos
novos tempos, fez ataques a indicações políticas para cargos públicos (compromisso
de campanha de Bolsonaro) e até
flexibilizou sua visão sobre pautas sociais: “Quando a sociedade muda os costumes, o Parlamento tem que atualizar as
leis. Muitos itens da pauta de costumes do Bolsonaro eu vou ajudar”,
afirmou sua excelência.
O velho Renan
Calheiros, lulista, foi desautorizado pelo novo Renan Calheiros, bolsonarista. Ele disse para O
Globo: “Não estou dando entrevista porque as pessoas querem perguntar ao velho
Renan o que o novo senador Renan, que será empossado no dia primeiro, vai
fazer. E o velho está se sentindo sem legitimidade para responder.” É
uma das guinadas mais extraordinárias jamais vistas na política brasileira. O
novo Renan se oferece a Bolsonaro exatamente da mesma maneira
que o velho Renan se oferecia a Lula:
“Tem
que conversar e tentar, na complexidade que vivemos, construir convergências
para o Brasil. Converso com ele (Bolsonaro) qualquer hora que for convidado.
Jamais se pode ser presidente de um Poder sem conversar com o presidente da
República. Isso é elementar. A hora que ele me chamar, eu vou.”
Ao contrário de Rodrigo Maia, que conseguiu a adesão do PSL à sua candidatura a presidente da Câmara, Renan não é bem visto por integrantes do governo, mas vem se
esforçando para derrubar essas resistências e, principalmente, convencer seus
pares de que não será um elemento de conflito com o Planalto caso seja eleito
para comandar o Senado. Não vai ser fácil: o grupo de Bolsonaro demonstra hostilidade aberta ao alagoano, já que ele
simboliza a “velha política” rejeitada na eleição.
A conferir.