segunda-feira, 7 de outubro de 2019

NOSSO INTRÉPIDO CAPITÃO E OTRAS COSITAS MÁS



Bolsonaro quer “ir atrás dos mandantes” da tentativa de homicídio praticada por Adélio Bispo, o inimputável. “Nós queremos que seja investigado o material”, disse, referindo-se aos documentos apreendidos no escritório de Zanone Manuel de Oliveira Júnior, advogado do esfaqueador. O TRF-1 já formou maioria para levar ao STF a decisão sobre o pedido da PF e do MP para analisar os arquivos, visando descobrir se quem pagou o advogado também mandou matar o capitão.

Essa história de "lobo solitário" é mera cantilena para dormitar bovinos, a exemplo do "patriotismo" de Vermelho e seu bando (falo de eles terem municiado graciosamente Verdevaldo das Couves, o patriota dos patriotas). Anjos, só aqueles que tocam harpa sentados em nuvens.

Com tanto inocente morrendo de bala perdida na cidade que um dia foi maravilhosa, é lamentável ver que criminosos notórios e maugistrados que lhes homenageiam continuem perambulando pelo mundo dos vivos, violando a Constituição de maneira aberta, repetida e perigosa, deturpando o espírito da lei, baixando decretos, inventando normas de Direito e usurpando funções do Congresso. Chegamos a tal ponto de absurdez que nossa mais alta Corte se tornou a maior ameaça à democracia tupiniquim!

Não nego que Bolsonaro tem lá suas virtudes, embora nenhuma me ocorra neste momento. Por outro lado, seu nefando hábito de não perder uma oportunidade de perder oportunidades chega às raias do absurdo. Cito o exemplo do ministro do Turismo. O sujeito está enrolado até os gorgomilos no caso do Laranjal do PSL, mas continua desafiando a lei da gravidade. No aniversário da facada, Bolsonaro revelou a amigos que não o demitiu por gratidão: “Me ajudou muito lá em Juiz de Fora”.

Ainda sobre Marcelo Álvaro Antônio, escreveu Josias de Souza:

Quando Marcelo apareceu no noticiário como responsável pelo laranjal de candidaturas femininas fakes, Bolsonaro alegou que não o afastaria com base em notícia de jornal. Quando a PF abriu investigação, disse que inquérito não era sentença. Agora vieram o indiciamento da PF e a denúncia do MP à Justiça. O ministro foi formalmente acusado de falsidade ideológica, apropriação indébita e associação criminosa, mas o presidente alega que é preciso aguardar o desfecho do processo.

Em política, quem escolhe o momento exato economiza muito tempo. Nesse escândalo do Laranjal do PSL, Bolsonaro dormiu no ponto. O tempo de que dispunha para afastar o ministro não existe mais. Agora só existe o passar do tempo. E quanto mais o tempo passa, quanto maior for a sobrevida concedida ao ministro, maior será também o processo de apodrecimento do próprio governo.

Eu costumo dizer que, nas questões éticas, Bolsonaro opera em duas velocidades, ambas insultuosas. Ele é intelectualmente lento e moralmente ligeiro. A lentidão intelectual faz com que demore a perceber que sua inação faz do discurso de campanha um estelionato eleitoral. A ligeireza moral o leva a tratar os auxiliares em litígio com a lei com a mesma condescendência que dispensa ao filho Flávio Bolsonaro, encrencado num caso de peculato e lavagem de dinheiro.

Nesse contexto, o ministro Sergio Moro, que funcionaria como filtro moral do governo, ganha um novo sentido para permanecer no Ministério da Justiça. O ministro se incorpora à paisagem de Brasília como uma espécie de atração turística. Ministros encrencados, como o do Turismo — que não é o único, diga-se —, frequentam as reuniões ministeriais ao lado de Moro como se estivessem no mirante das cataratas do Iguaçu. Sabem que é perigoso. Mas o perigo é apenas presumido.