domingo, 26 de janeiro de 2020

CULTURA INÚTIL



Os símbolos da advocacia existem desde as mais priscas eras, mas alguns ilustram o exercício da profissão de maneira mais próxima da que conhecemos hoje. É o caso da balança, que representa o equilíbrio, a nivelação das partes envolvidas em um processo e a equivalência entre o castigo e a culpa. Segundo a mitologia egípcia, o deus Osíris pesava o coração dos mortos para que Maat, a deusa da justiça, decidisse sobre seu destino. A prática de medir as ações terrenas também esteve presente nos julgamentos dos antigos persas e na Grécia, onde Zeus usava a balança para definir o destino da humanidade.

O martelo de madeira também simboliza o Direito e a Justiça, sendo usado pelo magistrado para impor respeito e ordenar silêncio. Há também quem o relacione ao deus grego Hefesto, o ferreiro dos deuses, e quem faça referência a uma espécie de cajado usado pelos sacerdotes judeus e cristãos para chamar a atenção da assembleia.

A venda simboliza a imparcialidade, o abandono ao destino e o desprezo pelo mundo exterior. Na antiga Grécia, adivinhos e poetas eram representados como cegos, pois acreditava-se que a ausência de visão lhes permitia ver segredos reservados aos deuses. Fortuna, a deusa da sorte, era representada com os olhos vendados, assim como a deusa da Justiça, o que torna as decisões em julgamentos supostamente impessoais.
Dentro da configuração dos símbolos da advocacia ou para além deles, a espada simboliza o poder — tanto de destruição (no caso do direito e da advocacia, posicionando-se contra a injustiça e a ignorância) quanto de construção (por ser uma ferramenta usada para estabelecer e manter a paz e a justiça). Quando associada à Themis, deusa grega da Justiça, ela representa a separação entre o bem e o mal, protegendo o primeiro e punindo o segundo.

Observação: Na mitologia grega, Themis, representada por uma figura de mulher, personifica a Justiça. Filha de Urano (o Céu) e de Gaia (a Terra), a deusa empunha uma espada e uma balança — a primeira expressa o bom senso e o equilíbrio e a segunda, a força e a potência de suas decisões. Geralmente, Themis é retratada com os olhos vendados, numa alusão à objetividade nas decisões e ao tratamento igualitário às partes envolvidas nos processos. Quando é retratada sem a venda, ela representa a necessidade de não se perder nenhum detalhe para que o julgamento ocorra de forma justa e ponderada.

A beca — veste talar que vai do pescoço aos pés — remonta aos trajes sacerdotais da antiga Roma. Geralmente na cor preta, ela se assemelha a uma capa e representa o sacerdócio dos defensores do direito e da justiça. Assim como a toga, a beca alude à tradição e ao prestígio da profissão, servindo para lembrar aos advogados do juramento e do compromisso assumido com a Justiça.

A presença do crucifixo é criticada no Brasil por este ser um país laico, mas sua simbologia vai além do significado religioso. Ele representa um erro judiciário cometido há milênios por Pôncio Pilatos, que, para não se envolver em assuntos que não eram de sua conveniência, simplesmente “lavou as mãos”, permitindo que Jesus fosse crucificado sem provas ou vislumbres de qualquer culpa. O simbolismo alerta magistrados e jurados de que devem balizar suas decisões e ponderações na lei, de maneira que o julgamento seja tão justo quanto possível.

A coruja simboliza a sabedoria e a inteligência. Era a ave preferida de Palas Atena, a deusa grega da sabedoria de da guerra — que na Roma antiga era conhecida pelo nome de Minerva. Diante do empate no julgamento de Orestes, filho do Rei Agamenon e da Rainha Clitemnestra, a deusa decidiu a favor do réu, daí a expressão “voto de Minerva”, usada até hoje como referência ao voto de desempate. Na mitologia romana, a coruja sempre esteve relacionada à figura de Minerva, tornando-se um símbolo da sabedoria que até hoje está associado aos magistrados (pena quem nem todos os julgadores façam jus a essa associação, como atestam algumas decisões estapafúrdias de membros da nossa mais alta Corte de Injustiça, mas isso já é outra história).

Fonte: BLOG DA AURUM